(Conclusão)
Portanto, tendo em Cristo o Autor da Lei, a Justiça Personificada, e sendo por Êle justificados, já não nos submetemos como servos a um código, mas praticamos os princípios nêle contidos como uma demonstração de amor voluntário e espontâneo ao Autor da justiça codificada, feito JUSTIÇA NOSSA. Guardamos a Lei, não para operar a nossa justificação e salvação, mas para demonstrar o nosso amor a quem nos justificou e salvou — Cristo.
Logo, a obediência à Lei é a evidência de nossa justificação. Não a praticamos para nos justificar; praticamo-la porque somos justos. Usando um argumento ilustrativo, o Pastor Jerônimo G. Garcia esclareceu: a laranjeira produz laranjas não para provar que é laranjeira, mas porque é laranjeira.
“Assim se dá com o homem verdadeiramente justo. Êle anda inconsciente de sua bondade e piedade. O princípio religioso tornou-se o motivo de sua vida e conduta, e é tão natural para êle produzir frutos do Espírito como para a figueira produzir figos ou para a roseira carregar-se de rosas. Sua natureza está tão inteiramente imbuída do amor a Deus e ao próximo, que faz as obras de Cristo com espírito voluntário.” — Santificação, pág. 14.
“Os que são justificados pela fé devem ter no coração o desejo de andar nos caminhos do Senhor. É uma prova de não estar o homem justificado pela fé, não corresponderem suas obras a sua profissão. . . .
“A fé que não produz boas obras não justifica a alma …” — Mensagens Escolhidas, Vol. 1, pág. 397.
A JUSTIFICAÇÃO NO RITUAL JUDAICO — Os judeus aprenderam que transgredindo a Lei Moral, deviam trazer um sacrifício, apresentando-o perante o sacerdote para cumprir certos ritos e dêste modo expiar a transgressão. Êste é o claro ensino contido na lei de Moisés e assim o povo de Israel procedia. “Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quando alguém pecar . . . contra qualquer dos mandamentos do Senhor, . . . oferecerá pelo pecado . . . Assim o sacerdote por essa pessoa fará expiação do seu pecado que cometeu, e lhe será perdoado.” (Lev. 4:2, 3 e 35.) Quando o israelita pecava contra qualquer preceito da Lei Moral, compreendia que a própria Lei o condenava declarando-o injusto. O pecador não buscava justificação praticando à risca, os preceitos da Lei Moral. Praticava-os sim, para não agravar a sua condição de pecador, mas o pecado cometido sempre lhe estava presente. Para obter o perdão e ser declarado justo recorria ao sacrifício de inocente animal acompanhado dos ritos cerimoniais. Cumprido o ritual, tornava para seu lar jubiloso, sentindo-se reconciliado com Deus, a quem ofendera pela transgressão da Lei.
Êste método tanto se arraigou com o passar do tempo, que o povo perdeu de vista o verdadeiro meio justificador, que não eram o sangue do nédio animal nem os ritos, e sim, o sangue de Cristo a ser derramado sôbre a cruz. Contudo estavam certos na aplicação do princípio básico de justificação. Não buscavam justificação na observância da Lei quebrada, mas no pronunciamento do sacerdote mediante a apresentação e sacrifício de um substituto —o cordeiro.
Todavia, quando Jesus veio, os judeus não reconheceram nÊle o Cordeiro de Deus. A visão espiritual estava completamente obscurecida e não percebiam nem compreendiam as grandes verdades ensinadas pelo cerimonialismo. O formalismo religioso vedara-lhes os olhos da fé. Não houvera isto acontecido e a vinda do Messias teria sido recebida na mais indescritível explosão de alegria.
Com a passagem dos séculos, fizeram da lei de Moisés o grande justificador, e disto temos evidências claras. Notemos o argumento de Paulo em Atos 13:39: “. . . não pudestes ser justificados pela lei de Moisés.” Porque o cerimonialismo com todos os seus ritos nunca justificou alguém. A justificação era obtida pela fé na vinda dAquele para quem todo o ritualismo apontava. Paulo arremata: “E por meio dÊle todo o que crê é justificado.”
Na oração do fariseu, segundo a narrativa do médico Lucas em seu evangelho capítulo 18: 9-14, o espírito de justiça própria alcançada através das práticas rituais, atinge o climax da presunção. Todavia, Jesus assevera que justificado desceu para seu lar aquêle que inteiramente confiou na misericórdia divina.
Dois grandes e perigosos artifícios são usados pelo diabo em nossos dias, para enganar o pecador em busca dá reconciliação com Deus. Um à semelhança dos israelitas, porém, totalmente desvirtuado, faz-nos crer que a justificação é obtida pela observância da Lei Moral. Contudo, a Lei Moral, sendo um código não justifica ninguém. Apenas aponta o pecado. Outro engano, não menos perigoso, é o de que sendo justificados pela fé na graça de Deus revelada em Cristo, nada mais temos a fazer. Em verdade, no processo da justificação o homem em nada participa a não ser em uma atitude: ACEITAR ou REJEITAR a oferta de Deus. Isto envolve uma decisão importantíssima: ACEITAR a oferta de Deus implica em submetermos inteiramente a nossa vontade à vontade divina. Paulo expressa isto de maneira inconfundível: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.” Gál. 2:19 e 20.
SANTIFICAÇÃO — Uma vez justificados, inicia-se o processo da santificação, e dêste o homem participa. Como? Vivendo em harmonia com a Justiça —a Lei —DEUS, e frutificando em boas obras.
“Há condições para recebermos a justificação e santificação, e a justiça de Cristo. . . . Conquanto as boas obras não salvem alma alguma, é impossível que uma única alma se salve sem boas obras.” — Mensagens Escolhidas, Vol. 1, pág. 377.
“Não existe tal coisa como seja, santificação instantânea. A verdadeira santificação é obra diária, continuando por tanto tempo quanto dure a vida.” — Santificação, pág. 11.
Na justificação, a justiça de Cristo nos é imputada. Nada temos a apresentar a Deus, senão o nosso substituto — Cristo, e em sua justiça somos envolvidos. Na santificação a justiça de Cristo é comunicada. É uma transformação diária em nosso viver; vencendo o mal e promovendo o bem.
“A verdadeira santificação é uma inteira conformidade com a vontade de Deus. Pensamentos e sentimentos de rebelião são vencidos, e a voz de Jesus suscita uma nova vida, que penetra todo o ser.
“Renúncia própria, sacrifício pessoal, benevolência, bondade, amor, paciência, magnanimidade e confiança cristã são os frutos diários produzidos por aquêles que estão verdadeiramente ligados com Deus.” — Santificação, págs. 9 e 12.
Uma importante pergunta: onde está a glória do homem de participação no processo da santificação? Atentemos a esta declaração de Jesus: “Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em Mim, e Eu, nêle, êsse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer.” S. João 15:5.
“Sem Mim, nada podeis fazer. Isto é significativo. Pelo processo da justificação somos enxertados em Cristo. Não porque tenhamos méritos a apresentar, mas porque o amor de Deus nos atraiu e pela fé rendemos nossa vontade à vontade divina e por graça somos aceitos. Há uma inversão de valôres neste processo em relação ao que conhecemos comumente. No processo comum de enxertos o cavalo normalmente é de frutificação imprestável e o enxêrto de frutificação boa. No processo divino, a raiz é de frutificação excelente e o enxêrto é mau. Vêde como o declara o apóstolo Paulo: “Sc, porém, alguns ramos foram quebrados, e tu, sendo oliveira brava, foste enxertado em meio dêles, e te tornaste participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; porém se te gloriares, sabes que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.” Rom. 11:17 e 18.
Na santificação frutificamos em boas obras, contudo mediante a seiva vivificadora de Cristo. “Porque sem Mim nada podeis fazer.” Portanto, a quem pertence a glória de nossas boas obras? a Cristo. “Sou completo nAquele que introduz a justiça eterna. Êle me apresenta a Deus nas vestes imaculadas das quais nenhum fio foi tecido por qualquer instrumento humano. Tudo é de Cristo, e tôda a glória, honra e majestade devem ser dadas ao Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo.” — Mensagens Escolhidas, Vol. 1, pág. 396. Grifo Nosso.
“. . . Cristo e o crente tornam-se um, e Sua formosura de caráter se revela naqueles que se acham vitalmente ligados com a Fonte de poder e amor. Cristo é o grande depositário da justificadora justiça e da graça santificante.” — Idem, pág. 398.
Não somos aceitos diante da cruz por ali depositarmos um carregamento de boas obras. Mas devemos partir da cruz, depois de aceitos, produzindo boas obras numa vida nova mediante Cristo, em harmonia com a justiça, a Lei.
A suma de tudo que dissemos temos retrato na parábola do filho pródigo. O amor do pai atraiu o filho; sem nada trazer, rendeu inteiramente a sua vontade à do pai; envolvido por vestes novas foi aceito como filho. Novamente feito filho, não mais continuou a agir como o pródigo rebelde, mas como filho que ama voluntariamente, em inteira e submissa obediência ao pai. Tudo o que podia fazer para agradar o pai, tinha sua origem no amor profundo revelado pelo pai.
Sim, “sem Mim nada podeis fazer”; todo o bem que praticamos é a frutificação de um poder estranho, poderoso dentro de nós — a seiva do amor de Cristo.
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual o mundo está crucificado para mim, e eu paru o mundo.” Gál. 6:14.