As histórias dos “pais” do Antigo Testamento “foram escritas para advertência nossa, de nós outros sôbre quem os fins dos séculos têm chegado” (I Cor. 10:1 e 11). Entretanto, não devemos deduzir que os pastôres modernos que recusam fazer a obra de um evangelista, serão engolidos por um grande peixe, como sucedeu com Jonas. Alguns pastôres iniciam, porém, a série de conferências com tanta ansiedade, nervosismo e receio, que os espectadores pensem talvez que êles estão sendo arrebatados por alguma coisa. De modo paradoxal, tais evangelistas relutantes estão labutando mais por senso de dever do que por amor.
Parece que a campanha evangelística de Nínive encerra várias lições para o preparo pessoal dos evangelistas modernos, e existe real valor na psicologia do método de aproximação usado por Jonas.
Análise do Fracasso de Jonas
Quando lhe foi dada, a ordem: “Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até Mim” (Jon. 1:2), Jonas começou a “pensar nas dificuldades e aparentes impossibilidades desta comissão, [e] foi tentado a pôr em dúvida a sabedoria do chamado. Do ponto de vista humano, parecia que nada se poderia ganhar em proclamar tal mensagem nessa cidade tão orgulhosa. Êle esqueceu. .. que. . . Deus… era todo sábio e todo poderoso. Enquanto hesitava, duvidando ainda, Satanás sobrecarregou-o com o desencorajamento. O profeta foi tomado de grande temor, e ‘se levantou para fugir.’” — Profetas e Reis, pág. 266.
Os homens muitas vêzes ambicionam honra e posição, mas raramente estão dispostos a suportar o pêso da responsabilidade. Ela traz consigo certas conseqüências e riscos, se as coisas não correrem bem. O evangelismo é assim. Se os ninivitas são um grupo hostil, o evangelista pode ter autênticos motivos para preocupar-se com sua segurança física. Mas não foi por essa razão que Jonas fugiu. Êle abrigou-se nalguma coisa mais sutil do que o temor de danos corporais. Se o evangelista não produz resultados que os seus contemporâneos considerem meritórios, êle não colhe louvores pelo que fêz. Foi nesse ponto que Jonas fracassou, pois estava “cioso de sua reputação” (Idem, pág. 271). Preocupava-se mais com o seu prestígio como profeta, do que com as almas que precisavam ser salvas da ruína e perdição.
Quem Estava em Maior Necessidade de Salvação?
Nas entranhas do peixe Jonas teve uma concepção diferente. Êle precisava de salvação tanto quanto a cidade de Nínive. Agora mostrava-se tão submisso como antes havia sido obstinado e inflexível. Estar no ventre do peixe era melhor do que ser açoitado por um mar enfurecido. Êle estava vivo. E quando o peixe vomitou a Jonas em terra sêca, não restou sequer um resquício de dúvida, relutância ou hesitação naquele evangelista. Êle estava disposto a entrar na luta. “O Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo filho a quem recebe.” Heb. 12:6. Os que suportam o açoite tornam-se submissos ao “Pai dos espíritos.” Todo Jonas que tem uma Nínive a sua frente deve arremessar-se sem reservas no mar da oração, e esquadrinhar a alma até ser removido todo vestígio de estima por si próprio e restar apenas submissão e dedicação ao Evangelista celestial.
Nenhuma Equipe de Auxiliares
Hoje em dia, o homem que compreende o chamado de Deus para ir e evangelizar, e que conhece a cidade a ser atingida, começa em geral a formular uma exaustiva série de planos, antes do início das reuniões. Ficamos maravilhados com o êxito que Jonas alcançou naquela grande metrópole do mundo antigo, sem ter inundado a região com literatura, para lançar a semente da verdade presente; sem haver organizado uma série de preleções sôbre saúde, a fim de preparar a mente de uma população depravada, para a recepção da verdade genuína; ou pelo menos sem empregar algum método fundamental de aproximação, que apelasse para o anelo de uma existência mais elevada. Ora, êle nem sequer organizou uma equipe de auxiliares para manejar as partes mais necessárias: diretor de música, acomodadores, recepcionista, vendedora de livros, organizador da plataforma, administrador financeiro, equipes de visitação, operador cinematográfico etc. Até o homem de visão mais acanhada teria predito acerba derrota para Jonas.
Começou com uma Verdade Probante
Jonas não organizou nada, a não ser os seus pensamentos, e partiu sem vacilar, em obediência à ordem divina (Jonas 3:3). Também não houve organização alguma no local da campanha evangelística. “Entrando na cidade, Jonas começou a pregar ‘contra ela’ a mensagem: ‘Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida.’” — Idem, pág. 270.
Êle não pregou durante duas semanas para conquistar-lhes a confiança e apresentar então as “verdades probantes.” Submeteu-os à prova na primeira vez que abriu a bôca. “Ouvi ou perecei! Apenas quarenta dias até que termine o tempo de graça! Preparai-vos para o dia do juízo!” “De rua em rua ia êle fazendo soar a nota de advertência.” Era uma espécie de aproximação de porta em porta, destinada a levar-lhes a mensagem ao invés de esperar que viessem ouvi-la. Tudo indica que Jonas trabalhou com afinco, sem poupar a si mesmo, a fim de assegurar a transmissão completa da advertência. Por suas próprias fôrças, sem a ajuda divina, é provável que mesmo então êle não conseguisse alcançar as 120.000 pessoas mencionadas em Jonas 4:11.
A advertência dada não foi proclamada em vão. Despertou a cidade tôda. Era o assunto da conversa em tôda parte. Passava de lábio em lábio, “até que todos os habitantes houvessem ouvido o assustador anúncio” (Idem). Pecadores pregavam a pecadores, e “o Espírito de Deus imprimiu a mensagem em cada coração. .. . Levou multidões a tremerem por causa de seus pecados, e a se arrependerem em profunda humilhação.
“‘E os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior, até o menor.’ . .. ‘Deus viu as obras dêles, como se converteram do seu mau caminho.’. .. Sua condenação foi evitada; o Deus de Israel fôra exaltado e honrado através do mundo pagão.” — Idem, págs. 270 e 271.
Contraste Entre Cristo e Jonas
Assim, a campanha evangelística que recebeu talvez o menor preparo e planejamento que tenha ocorrido na História, tomou-se uma das mais bem sucedidas. Acaso não podemos deduzir que, se Jonas, sòzinho, advertiu uma cidade do tamanho de Nínive, nossos métodos modernos constituem em grande parte um gasto desnecessário? Penso que não. Os tempos mudam, e as pessoas também. “Assim como a pregação de Jonas fôra um sinal para os ninivitas, a pregação de Cristo era um sinal para a Sua geração. Mas que contraste na recepção da palavra! Embora em face de indiferença e de escárnio, o Salvador trabalhou sempre, até que concluiu Sua missão.” — Idem, pág. 274.
Uma Coisa Nunca Sofre Alteração
Jonas não pregava melhor do que o Senhor Jesus. As parábolas e as comparações alegóricas de Cristo eram necessárias para enfrentar os preconceitos de Seu tempo. Da mesma forma, a época atual requer métodos novos e diferentes, por causa de maiores obstáculos estabelecidos por Satanás para desviar os homens da mensagem, e a depravação quase universal a que os obreiros “são chamados a enfrentar enquanto procuram proclamar as alegres novas da salvação” (Idem, pág. 277). Em vista dessa inevitável adaptação para enfrentar as necessidades do grande número de ouvintes, há um aspecto do evangelismo que nunca sofre alteração. “Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto Eu estou contigo.” Atos 18:9 e 10. Essa pregação sempre deve incluir o princípio exposto nestas palavras: “Por isso ficai também vós apercebidos; porque, à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá.” S. Mat. 24: 44. A responsabilidade de transmitir essa mensagem de escape da ira futura deve pesar sôbre os ombros dos que compreendem o que significa ser salvo, dos que discernem em Cristo a “Salvação do Senhor,” e dos que colocam a vida aos Seus cuidados, confiando em Seu poder para levarem a outros a mesma mensagem de esperança e certeza.
É Essencial Haver Convicção
Na obra perante o público é de suprema importância que haja forte convicção por parte do evangelista e seus colaboradores. Jonas possuía essa espécie de convicção. Nós também devemos possuí-la, mas mesmo a convicção não pode suprimir o conselho dado pelo Senhor através de Sua mensageira. No livro Evangelismo, a Sr.a E. G. White menciona alguns métodos e procedimentos que devem ser empregados nas grandes cidades do tempo atual. Deus disse a Jonas: “Prega. . . a pregação que Eu te disse.” Jonas 3:2 — Versão de Almeida, antiga.
Neste tempo do fim, ao ouvirmos a comissão divina para realizar a obra de um evangelista, e de acôrdo com a instrução contida nas Escrituras e no Espírito de Profecia, examinemos cada aspecto de nossa obra para ter certeza de que êle se harmoniza com o plano do Servo, Soberano e Salvador de tôdas as almas. Quando os nossos caminhos coincidirem com os Seus, o evangelismo se tornará um êxito eminente e iminente. Quer êle seja um cheiro “de morte para morte” ou “de vida para vida,” sempre triunfaremos em Cristo e manifestaremos “em todo lugar a fragrância do Seu conhecimento.” (II Cor. 2:14-17.)
Dez Pontos que Custam Pouco, mas Valem Muito
- 1. Não se pode promover prosperidade desencorajando o resultado.
- 2. Não se pode restabelecer os fracos enfraquecendo os fortes.
- 3. Não se pode ajudar o pequeno destruindo o grande.
- 4. Não se pode ajudar os pobres destruindo os ricos.
- 5. Não se pode elevar o assalariado arrasando aquele que o paga.
- 6. Não se pode evitar embaraços gastando-se mais do que a receita.
- 7. Não se pode promover a fraternidade entre os homens incitando-se o ódio de classes.
- 8. Não se pode estabelecer segurança perfeita com dinheiro emprestado.
- 9. Não se pode criar coragem e caráter tirando ao homem a iniciativa e a independência.
- 10. Não se pode ajudar permanentemente os homens fazendo aquilo que êles podem e devem fazer por si mesmos.
O difícil fazemos imediatamente, o impossível leva um pouco mais de tempo.
(De “Land O’ Lake News.”‘)