A Igreja de Jesus Cristo não é um fim em si mesma. Ela não existe para ficar rica ou popular, ou para funcionar só para seus membros. Nem mesmo existe para preservar sua própria existência, e, sim, para consumir-se em incansável sacrifício para que outros possam viver. Sua essência é o epítome do altruísmo, e quando o mundo encara o propósito da Igreja de outro modo, ê causado grande dano à Causa de Cristo. A Igreja é a presença de Cristo no ministério ao mundo. Os cristãos são Suas mãos em serviço. Seus pés em missão, e Sua voz em misericórdia para com as pessoas do mundo. O que Jesus disse de Sua própria vida também é aplicável à Igreja: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto.” S. João 12:24.
A liderança da Igreja de Deus reconhece no documento sobre os Mil Dias de Colheita que, besta hora da noite do mundo, nós como um povo devemos dar “incontestável prioridade ao evangelismo”. Conquanto a Igreja tenha tomado grandes decisões, em ocasiões passadas, acerca da necessidade de reavivamento e crescente intensidade de penetração que resgata, é emocionante que dirigentes solícitos, no documento do Concilio Anual de 1981, volveram mais uma vez o centro da atenção da Igreja para renovada prioridade ao evangelismo!
Há quatro razões muito especiais por que a Igreja deve dar inaudita prioridade ao evangelismo neste tempo.
1. A Igreja deve dar incontestável prioridade ao evangelismo porque sua existência não tem outra finalidade. Ellen White escreveu que a Igreja “foi organizada para servir, e sua missão é levar o evangelho ao mundo” (Atos dos Apóstolos. pág. 9), e que a obra dos pastores é “rogar, a homens e mulheres, da parte de Cristo, que se reconciliem com Deus” (Obreiros Evangélicos, pág. 13). Deus confere à Igreja, tanto a seu ministério como aos membros, um trabalho que é inspirador e solene. II Coríntios 5:17-21 contém os elementos dessa obra essencial em forma abreviada.
“Se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” V. 17. O milagre do novo nascimento é a dádiva fundamental que a Igreja oferece ao mundo! Vida! Não vida comum, da maneira como a conhecemos, mas vida profunda, vida espiritual, com suas raízes em Deus. Vida eterna é o produto que oferecemos ao mundo! Isto constitui a mais valiosa coisa imaginável, e a Igreja é sua depositária! O mundo necessita mais disso do que de sua próxima refeição. Compete-nos conhecer seu poder, e sentir quão apropriada é a dádiva que oferecemos ao mundo!
“Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo.” V. 19. Se procuramos uma definição de evangelismo, ei-la: “Deus em Cristo, reconciliando o mundo”! O processo reconciliador da parte de Deus, oriundo do milagre do Espírito, é o evangelismo! E a Igreja, oferecendo o que há de mais grandioso no mundo, está automaticamente fazendo evangelismo.
“E nos confiou a palavra da reconciliação.” V. 19. Maravilha das Maravilhas! Deus nos deu um ministério a ser realizado em Seu favor — o maravilhoso serviço de transmitir aos outros o conhecimento dessa vida miraculosa! E a verdade realçada por essa passagem é que essa incumbência divina não é só para o clero, e, sim, para os cristãos! O evangelismo é o dom de participação com Deus a todos os componentes da casa do Senhor!
“De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo.” V. 20. Como se finalmente fosse atingido o auge de uma excitação progressiva, vemos aí uma investidura do cristão numa autoridade equivalente ao cargo de embaixador! Há algum ministro que não sentiu essa autoridade? E algum cristão esclarecido que também não a tenha experimentado? Mesmo que apenas sejamos ‘‘carregadores de água” para Deus, há um portfólio de autoridade para o ganhador de almas que supera qualquer investidura pelo maior governo terrestre ou pelo monarca mais poderoso. Não admira que os magnatas das riquezas, os potentados do mundo e pessoas muito prósperas amiúde se detêm para tornar a descobrir suas próprias raízes espirituais quando um ponderado homem de Deus se dirige a eles com a autoridade do evangelho! Talvez Jesus pensasse nisso ao dizer: “O que ligares na Terra, terá sido ligado nos Céus; e o que desligares na Terra, terá sido desligado nos Céus.” S. Mat. 16:19.
Note como a palpitação dessa autoridade pode ser sentida nos grandes episódios dos encontros evangelísticos relatados no Novo Testamento — Cristo e Nicodemos (S. João 3); a mulher junto ao poço de Jacó (S. João 4); o derramamento da bênção pentecostal (Atos 1 e 2); Filipe e o tesoureiro etíope (Atos 8); a conversão de Saulo na estrada de Damasco (Atos 9); Pedro e Cornélio (Atos 10); e Paulo e o carcereiro de Filipos (Atos 16).
Toda reconciliação do coração pecaminoso é efetuada, não por mãos humanas, mas pelo Espírito de Deus. O Pastor H. M. S. Richards declarou certa vez: “Nenhuma pessoa pode ir ter com Cristo, a não ser e até que Deus a chame.” Embora a autoridade seja conferida ao homem, ela é dirigida pelo Espírito Santo. O Espírito dirige todo o testemunho cristão. Portanto não devemos traçar nossos próprios planos evangelísticos! Como não podemos programar o novo nascimento, também não podemos programar o evangelismo. Como podemos saber quando determinada localidade está pronta para uma invasão do Espírito Santo da maneira requerida para que haja experiências de conversão e novo nascimento? Na realidade, isso não é possível, a menos que busquemos tal sabedoria em oração, e nos seja concedido esse dom. Em nenhum outro empreendimento terrestre a direção do Espírito Santo é mais necessária do que em nossas tentativas de evangelização.
“Àquele [Cristo] que não conheceu pecado, Ele [Deus] O fez pecado por nós; para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus.” V. 21. Isto constitui o âmago do evangelho! A única base bem sucedida para o evangelismo é a pregação e o ensino da expiação sacrifical e da soberania de Jesus Cristo no engaste da verdade presente. A reconciliação da vida pecaminosa com Cristo precisa ser efetuada numa base aceitável para Deus. Portanto, o evangelismo precisa lidar com essa questão. À questão do pecado é enfrentada na arena do sacrifício pelo pecado designado por Deus — “o Cordeiro que foi morto, desde a fundação do mundo”. A salvação ocorre na vida quando Cristo é contemplado e aceito, e quando a pessoa se entrega a Ele. Quando Cristo é encontrado, e a âncora da vida passa a ser a esperança da vida eterna, o evangelismo cinge essa experiência com as doutrinas da Bíblia e da Igreja — conceitos de verdade que possibilitam que o “bebê recém-nascido” cresça na graça. E assim é erigida uma superestrutura espiritual sobre aquele fundamento “que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (I Cor. 3:11).
A Igreja, portanto, deve dar ao evangelismo uma prioridade sem precedente, pela mesma razão que as pessoas vivas precisam dar prioridade à respiração! Não podemos viver sem respirar; e a Igreja não pode viver sem o evangelismo! O grau em que a vida de um cristão, o ministério de um pastor, o programa de uma igreja ou a filosofia da liderança de uma associação se tornam confusos no tocante à importância do evangelismo, é o grau em que meramente podem estar marcando passo nalguma boa atividade, e, à luz do plano da redenção, ser completamente mornos! Será que isso é laodiceanismo?
2. A Igreja deve dar incontestável prioridade ao evangelismo a fim de ser semelhante a Cristo. O cristão não pode ser cristão sem ser semelhante a Cristo; e ser semelhante a Cristo significa ser impelido pessoalmente a atingir outra vida com o milagre da redenção, pois a mais evidente característica de Cristo era Seu amor pelas almas: “Jesus… compadeceu-Se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor.” S. Mar. 6:34.
O cristão que entra e sai, participando da vida da igreja, mas nunca sentindo a irresistível emoção do “vai e anuncia”, será finalmente obrigado a atracar-se com esse paradoxo basilar. Se o reavivamento se apoderar de sua alma com a presença e o poder do Espírito, seu esforço para ganhar almas será o primeiro aspecto de seu caráter e personalidade a demonstrá-lo. Os verdadeiros cristãos não podem absolutamente deixar de empenhar-se na obra da redenção!
3. A Igreja deve dar incontestável prioridade a seu ministério reconciliador porque ele é o segredo de seu bem-estar e prosperidade. O evangelismo não custa; ele paga. Isto é verdade mesmo sob o aspecto financeiro. Em geral, o afluxo de dinheiro da Igreja provém dos resultados do evangelismo. A evangelização bem sucedida provê abundante dinheiro como um dos frutos da fidelidade.
Alguns têm cometido o erro de encarar a Igreja como a fonte do evangelismo, dizendo ser ele uma função da Igreja. Isto é um engano fatal. Se fosse verdade, a Igreja poderia manipular o evangelismo sem prejudicar a si mesma. Biblicamente, o componente terrestre do plano da redenção é o evangelismo, não a Igreja! Um banco pode ser o depositário da fortuna de um Estado, mas jamais é seu proprietário ou criador. A Igreja é a depositária do evangelismo, mas o evangelismo existia antes que houvesse uma igreja. Ele tem demonstrado sua capacidade para viver sem a Igreja; mas a Igreja não pode viver sem o evangelismo. Se a Igreja morrer, o evangelismo ainda continuará vivendo. Se o evangelismo morrer, a Igreja também morrerá!
O evangelismo merece ter prioridade sobre todas as outras questões na Igreja. Historicamente, a Igreja Adventista do Sétimo Dia especializou-se tanto em sua missão que as argumentações teológicas do mundo religioso ao seu redor jamais afetaram sua unidade. Esteve sempre demasiado ocupada e preocupada com sua missão para perder tempo em teorias controvertidas e de pouco valor. A Igreja sempre tem voltado a atenção para as crises. Os verdadeiros cristãos julgam estar empenhados numa grande peleja — numa grande emergência. A Igreja não deve permitir, portanto, que suas prioridades e sua obra sejam decididas por este ou aquele significado que uma palavra obscura tenha em determinado texto, e, sim, pelo fato de que pessoas estão se perdendo no desespero da noite de pecado deste mundo. Os cristãos que sentiram a importância do poder que transforma a vida não podem ser atraídos por abstratas suposições teológicas a respeito de certas coisas que Deus preferiu não revelar clara-mente, uma vez por todas. Embora vejamos “como em espelho, obscuramente”, o cristão desenvolve a paciência pelo exercício diário de sua fé. O valor prioritário do evan-gelismo ê evidenciado quando uma prostituta, um toxicômano, um jovem que pensa em suicidar-se ou um pecador enfatuado e respeitável é dominado pelo poder redentor e se transforma num santo cheio de reverência e fé!
4. Devemos dar prioridade ao evangelismo porque o Espírito Santo é enviado para ativar a Igreja nalguma coisa especial — a procura de pessoas perdidas. O Espírito foi dado no Pentecostes por motivos evangelísticos, e é muito improvável que a Igreja receba novamente a plenitude e o poder do Espírito, a não ser para sua importantíssima obra de evangelização. Quando a Igreja dá toda a prioridade ao evangelismo, nós nos colocamos na única posição na qual estaremos em condições de reivindicar a promessa de um segundo Pentecostes. Esta experiência não devia ter ocorrido há muito tempo?
Nunca esquecerei a ocasião em que registrei minha entrada num motel nos arrabaldes de Washington, D.C., e fui a um shopping Center a fim de comprar algumas coisas que estava precisando. Quando saí de meu automóvel, fui interpelado por um jovem budista. De maneira cortês, ele disse: “Senhor, quero convidá-lo para assistir a uma reunião, hoje à noite, sobre o assunto do Budismo Nichiren Shoshu.” Enquanto falava, entregou-me diversos folhetos e discorreu sobre os milagres do budismo e sobre as numerosas pessoas que encontraram uma nova vida por intermédio dessa filosofia.
Como bom cristão, também comecei a testemunhar. Eu conhecia o suficiente a respeito de algumas de suas crenças para compará-las com a “verdade” e dar testemunho de meu Salvador. Dentro em pouco eu estava rodeado por onze desses jovens, todos estudantes na Universidade de Marilândia. Quando parecia que o primeiro jovem estava entregando os pontos, fui interpelado por um rapaz muito zeloso, que obviamente era o líder. Ele chegou bem perto de mim, lançou-me um olhar penetrante e falou com grande fervor: “Senhor, desejo contar-lhe o que aconteceu comigo! Eu era um toxicômano incorrigível. Estava muito doente por causa desse vício, e dormia dezoito horas por dia. As seis horas restantes eram passadas roubando a fim de manter meu hábito. Pretendia suicidar-me, quando estes amigos do Budismo Nichiren Shoshu me encontraram. Ensinaram-me a cantar, deram-me esperança, e em breve eu estava livre e levando uma nova vida.” Seus gestos e seu olhar denotavam vitória, e não pude deixar de ficar impressionado.
O encontro logo terminou. Mas quando saí da área de estacionamento, parei num semáforo na pista à direita de uma rua com três pistas. Bem à esquerda, um carro pequeno parou também, e notei que pertencia a um daqueles jovens. Entre nós deteve-se uma caminhonete. Enquanto a luz era vermelha, o jovem budista fez um sinal com a mão para que o motorista do veículo ao lado baixasse o vidro, e ele o fez. O rapaz entregou-lhe um pacote de literatura, e o motorista agradeceu. Nesse momento a luz tornou-se verde. Os três carros partiram, e provavelmente nunca mais tornarão a encontrar-se. Mas eu segui adiante, com admiração. Esses jovens me haviam declarado que nos arrabaldes de Washington, aquela noite, seriam realizadas trinta reuniões, em apartamentos e casas. De doze a cinqüenta pessoas assistiram a cada uma dessas reuniões, sentando-se no soalho para ouvir a preleção e debater esses assuntos religiosos. Pensei comigo mesmo: “Na região de Washington há uns onze mil adventistas. Será que alguns de nós estamos efetuando tal espécie de trabalho evangelístico? Se não, por que não?
Lembrei-me do versículo da Escritura que diz: “Os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz.” S. Luc. 16:8.
W. B. Quigley, secretário associados da Ass. Ministerial e de Mordomia da Associação Geral