No número anterior analisamos os hábitos que prejudicam o obreiro. Esclarecemos, porém, que os hábitos corretos facilitam o trabalho pastoral. Além disso, certos hábitos são indispensáveis para o êxito. Nosso Senhor Jesus Cristo cultivou o hábito da oração, o hábito de refutar os argumentos dos inimigos com afirmações bíblicas e o hábito de trabalhar denodadamente pelo bem da humanidade.
Consideremos agora os hábitos positivos que o pastor deve adquirir e repetir constantemente.
Hábitos devocionais. O pastor é um homem de Deus. Representa a nosso Senhor Jesus Cristo. Sendo sua tarefa de índole espiritual, deve estar constantemente unido à fonte do poder espiritual. O alvo é a santidade, da qual explica Ellen G. White: “Santidade … é inteira entrega da vontade a Deus; é viver por toda a palavra que sai da boca de Deus; é fazer a vontade de nosso Pai celestial; é confiar em Deus na provação, tanto nas trevas como na luz; é andar pela fé e não pela vista; é apoiar-se em Deus com indiscutível confiança, descansando em Seu amor.” — Serviço Cristão, pág. 235.
Os hábitos devocionais têm suas colunas principais no estudo sistemático da Bíblia, na oração, na meditação e na entrega diária da vida ao Senhor. Estas práticas piedosas serão diárias, pois “o tempo demanda maior eficiência e mais profunda consagração.” — Idem, pág. 223.
Hábitos de estudo. Os reclamos do trabalho pastoral no tocante à pregação, ao evangelismo, ao trato com os membros e com os inconversos requerem alto grau de preparação. “Fato lamentável é que o progresso da Causa seja prejudicado pela falta de obreiros instruídos. … Um ministro nunca deve julgar que já aprendeu bastante, podendo agora afrouxar os esforços. Sua educação deve continuar por toda a vida, cada dia ele deve estar aprendendo, e pondo em prática os conhecimentos adquiridos.” — Obreiros Evangélicos, págs. 93 e 94.
Hábitos de trabalho e constância. Para ter êxito no ministério não há substituto para o trabalho árduo e constante. Jamais um ministro terá pouco trabalho. Sempre há coisas para atender, promover, resolver e impelir. Por isso, ele deve estar habituado a trabalhar. “O verdadeiro cristão trabalha para Deus, não por impulso, mas por princípio; não por um dia ou um mês, mas por toda a vida. … O homem que ama a Deus não mede o trabalho pelo sistema das oito horas. Trabalha a todas as horas, e nunca se acha fora de seu posto de dever.” — Serviço Cristão, pág. 232.
Hábitos de organização, ordem e previsão. O rendimento máximo é fruto da organização, da ordem e da previsão. Convém fazer planos cuidadosos. Vale a pena manter as coisas em ordem. Paga dividendos ser previdente. “É o dever de todo cristão adotar hábitos de ordem, perfeição e presteza. . .. Com tino e método alguns conseguirão em cinco horas o mesmo trabalho que outros em dez.” — Idem, pág. 237.
Hábitos de progresso. O obreiro que ama a Causa não pode conformar-se com pouco. Anela progredir. Cada ano traça planos de melhoramento, de avanço, de penetração, de vitórias, de desenvolvimento. Deixar tudo como está não é digno de um obreiro dinâmico. Sua aspiração deve ser aumentar, melhorar, ir para a frente e para cima.
Atitude positiva. Haverá problemas, lutas e perplexidades. Mas é mister manter uma atitude positiva. “Alguns dos que se empenham em serviço missionário são fracos, faltos de nervos, frouxos, facilmente desanimados. Falta-lhes estímulo. … Os que desejam obter êxito, precisam ser corajosos e cheios de esperança. Devem cultivar, não somente as virtudes passivas, mas também as ativas.” — Idem, pág 228.
Seriedade e dignidade. O pastor representa a Cristo, a igreja e a verdade, desempenhando portanto uma tarefa séria e digna. “A falta da verdadeira dignidade e cultura cristãs … é-nos desfavorável. ” — Idem, pág. 226. “Estai certos de manter a dignidade da obra mediante uma vida bem ordenada e uma piedosa conversação. ” — Ibidem.
Hábitos de lealdade. “O Senhor aborrece a indiferença e a deslealdade num tempo de crise em Sua obra.” — Idem, pág. 236. O ministro, como soldado de Cristo, deve ser leal em toda prova — leal a Deus, à doutrina, à organização, a seus companheiros de trabalho, a sua igreja.
Hábitos de economia. Tanto nas finanças pessoais como nas da igreja, nunca haverá abundância. É necessário, portanto, cultivar o hábito da economia, obtendo o maior rendimento com o menor gasto.
Hábitos de temperança. “Oxalá todo filho de Deus tivesse a impressão da necessidade de ser sóbrio na comida, no vestuário, no trabalho, de modo que faça a melhor obra para a Causa de Deus. … O mau uso de nossas forças físicas abrevia o período de tempo em que nossa vida pode ser usada para a glória de Deus. … Os que assim, desconsiderando as leis naturais, encurtam a vida e se desqualificam para a obra, são culpados de roubo para com Deus.” — Idem, págs. 247 e 248.
Hábitos de tato. O pastor tem de tratar com situações difíceis e complicadas, tanto com membros de igreja como com inconversos. É fácil ferir e repelir. “Grande tato e sabedoria são necessários no trabalho de ganhar almas.” — Idem, pág. 231.
Fé e coragem. Na vida do pastor, muitas vezes tudo parece ser desfavorável, as portas cerradas, as perspectivas negativas; e pode haver escassez de fundos e abundância de oposição e suspeita. Mas o obreiro avança apesar dos obstáculos, pondo sua fé no poder de Deus. Com indomável coragem enfrenta o impossível. “O obreiro de Deus precisa de uma fé robusta. As aparências podem ser adversas; mas na hora mais sombria, a luz fulgura além. … A fim de efetuarmos serviço perfeito para Deus, são necessários esperança e ânimo, os quais são frutos da fé. O desânimo é pecaminoso e irrazoável. Coragem, energia e perseverança devem eles possuir. Embora lhes obstruam o caminho aparentes impossibilidades, devem avançar mediante Sua graça. Em lugar de deplorar as dificuldades, são chamados a sobrepor-se às mesmas.” — Idem, págs. 234 e 235.
Jesus, Modelo de Bons Hábitos
A vida de Cristo é o paradigma dos hábitos dignos e convenientes para o ministro.
Devocionais: “Como uma pessoa identificada conosco, participante de nossas necessidades e fraquezas, dependia inteiramente de Deus e, no lugar oculto de oração, buscava força divina. … Em comunhão com Deus, podia aliviar as dores que O esmagavam. Ali encontrava conforto e alegria. — O Desejado de Todas as Nações, ed. popular, págs. 346 e 347.
Trabalho: Nenhuma outra vida já foi tão assoberbada de trabalho e responsabilidade como a de Jesus.” — Idem, pág. 346. “O Salvador era um obreiro incansável.” — Serviço Cristão, pág. 232.
Tato: “Em Suas relações com outros, exercia o máximo tato, e era sempre bondoso e cheio de cuidado. Nunca foi rude, nunca proferiu desnecessariamente uma palavra severa, não ocasionou jamais uma dor desnecessária a uma alma sensível.” — Idem, pág. 231.
Dignidade: “Conduzia-Se com divina dignidade; inclinava-Se, todavia, com a mais terna compaixão e respeito para todo membro da família de Deus.” — Ibidem.
Atitude positiva: “Muitas vezes, por ser voluntário e não Se queixar, Seu trabalho era tomado desnecessariamente penoso. No entanto, não fracassava nem ficava desanimado. Vivia acima dessas dificuldades, como à luz da face de Deus. ” — O Desejado de Todas as Nações, ed. popular, pág. 78.
Progresso: “Através de Sua existência terrestre, Jesus foi um ativo e constante trabalhador. Esperava muito resultado; muito empreendia, portanto.” — Idem, pág. 62.
Amor: “Mas o amor de Cristo não se restringe a nenhuma classe. Ele Se identifica com todo filho da raça humana. ” — Idem, pág. 614.
Como Adquirir Bons Hábitos
Uma vez erradicados os hábitos perniciosos, é necessário adquirir e arraigar os positivos. William James, grande psicólogo, estabeleceu que na formação de todo novo hábito há quatro leis: 1) Lei da iniciativa, ou seja: aplicar toda a energia e o entusiasmo na aquisição do novo hábito. 2) Lei da constância: repetição infatigável até que o sistema nervoso e a vontade se acostumem. 3) Lei da oportunidade: aproveitar todas as oportunidades para exercitar o novo hábito. 4) Lei da manutenção: manter vivo o desejo e a prática do hábito.
Notemos este resumo de qualidades e hábitos desejáveis num obreiro: “O que labuta por almas, necessita de consagração, integridade, inteligência, operosidade, energia e tato. Possuindo esses requisitos, homem algum pode ser inferior; ao contrário, possuirá uma dominadora influência para o bem. … A vida coerente, a santa conversação, a inabalável integridade, o espirito ativo e beneficente, o piedoso exemplo — eis os condutos pelos quais a luz é comunicada ao mundo.” — Serviço Cristão, págs. 227 e 228.
Como obter essas qualidades e hábitos? “Deus toma os homens como eles são, e educa-os para o Seu serviço, se eles estiverem dispostos a se submeterem a Ele. O Espírito de Deus, recebido na alma, aviva-lhe todas as faculdades. Sob a direção do Espírito Santo a mente que se consagra sem reservas a Deus, desenvolve-se harmonicamente, e é fortalecida para compreender e cumprir os Seus reclamos. O caráter fraco, vacilante, transforma-se noutro, vigoroso e firme. A contínua devoção estabelece uma relação tão íntima entre Jesus e Seus discípulos, que o cristão se torna como seu Mestre, no caráter. Ele tem uma visão mais nítida e vasta. Seu discernimento é mais penetrante, seu juízo mais equilibrado.” — Obreiros Evangélicos, págs. 285 e 286.
Permitamos que o Senhor forme em nós hábitos dignos e positivos.
Os hábitos devocionais têm suas colunas principais no estudo sistemático da Bíblia, na oração, na meditação e na entrega diária da vida ao Senhor.
Para ter êxito no ministério não há substituto para o trabalho árduo e constante. Jamais um ministro terá pouco trabalho.
Carlos E. Aeschlimann, Secretário Ministerial da Divisão Interamericana