Os hábitos podem ser extraordinários auxílios ou prejudicar o êxito e a utilidade de um ministro. Os bons hábitos simplificam o trabalho, tomam mais exatas as ações e diminuem o cansaço. Os maus hábitos forjam uma imagem negativa, ofendem os outros e prejudicam o bom nome e a qualidade da ocupação ministerial.
Os hábitos são adquiridos mediante um processo semelhante à aprendizagem. A repetição ocasiona um sulco através do sistema nervoso até que a ação se repita automaticamente ao apresentar-se o sinal desencadeante. Quanto mais se repete uma ação, tanto mais forte se torna o hábito. Dizia o Dr. Johnson: “As diminutas cadeias dos hábitos são geralmente demasiado pequenas para serem sentidas, até se tomarem demasiado fortes para serem rompidas. ”
Onde os ministros adquirem seus hábitos? De quatro fontes: 1) No lar, o ensino e a formação recebida causarão hábitos bons ou prejudiciais, segundo a qualidade do ensino e do exemplo recebidos. 2) Na igreja, cujos costumes e práticas aumentarão seu acervo de hábitos. 3) No colégio, que deveria ser a melhor fonte de bons hábitos para o futuro ministro, visto que é o lugar designado para sua correta formação profissional. Mas nem sempre é assim, se a qualidade do professorado, o ensino e os requisitos não são convenientes. 4) Os primeiros anos na Obra, são determinantes na formação de bons hábitos ou na aquisição de hábitos incorretos e prejudiciais. Muito dependerá do trabalho consciencioso dos administradores e departamentais que se preocupam em formar corretamente o novo ministro. Por isso é recomendável que os aspirantes passem um tempo razoável sob a supervisão de um pastor de experiência que possa ajudá-los a desenvolver hábitos corretos. O presidente do Campo tem o dever de vigiar a formação de hábitos corretos nos obreiros novos.
Hábitos Prejudiciais
O pastor cuja produção é deficiente e cujas relações com sua igreja, seus administradores e seus companheiros são pobres, mui provavelmente desenvolveu hábitos perniciosos que alteram sua personalidade, projetando uma imagem adversa e desagradável Façamos um inventário dos hábitos ministeriais prejudiciais mais comuns.
1. Desorganização. É a carência de planos e propósitos corretos. Corre-se dum lado para o outro, procurando fazer muito, mas conseguindo pouco. A conseqüência é o cansaço e a frustração, que conduzem ao fracasso. “Vivemos num tempo em que são indispensáveis a ordem, o sistema e a unidade de ação. ” — Ellen G. White, Testemunhos Para Ministros, pág. 228.
2. Deixar as Coisas Para o Último Momento. É a seqüela do mau hábito anterior. O programa do culto sabático é deixado para o último minuto, o tanque batismal começa a ser enchido quando faltam poucos minutos para a cerimônia, o templo ainda está sendo construído no dia anterior a sua inauguração. O pastor está agitado, o nervosismo propaga-se entre todos, e as coisas saem mal e se tornam inoportunas.
3. Impontualidade. Os dois maus hábitos precedentes produzem o molesto e imperdoável hábito da impontualidade, que ocasiona demoras, momentos desagradáveis, desgostos, sendo um insulto aos que perdem seu tempo esperando. A feita de pontualidade se agrava com o descuido, com a perda de apontamentos e assumindo vários compromissos para a mesma hora. A impontualidade não é digna de um embaixador de Cristo. Todos têm o direito de esperar que o pastor cumpra seus compromissos a tempo.
4. Descuido. Este hábito causado pela falta de previsão e pela tendência do menor esforço se manifesta num lar desmazelado, num automóvel em más condições, num templo desordenado, sujo e em precárias condições. Amiúde, a pessoa do ministro revela descuido na maneira de vestir e na higiene pessoal. “É o dever de todo cristão adotar hábitos de ordem, perfeição e destreza. Não há desculpa para a morosidade e imperfeição em trabalho de qualquer natureza.” — Serviço Cristão, pág. 237.
5. Preparar o Sermão na Sexta-feira à Noite. Este arraigado hábito ministerial atenta contra a saúde espiritual da igreja, que só recebe uma mensa-gem raquítica, tresnoitada e sem poder; o resultado é que “muitos dos que ficam no púlpito fazem com que os mensageiros celestiais que estão no auditório deles se envergonhem. O precioso evangelho que tanto tem custado para ser levado ao mundo, é injuriado.” — Testemunhos Para Ministros, pág. 339.
6. Irresponsabilidade. Este defeito de caráter pode anular a utilidade do obreiro. O irresponsável deixa de cumprir tarefas indispensáveis que lhe são confiadas, ou só as cumpre pela metade. Não se pode confiar nele. Está incapacitado para desempenhar tarefas de responsabilidade.
7. Indolência. A obra do ministério requer trabalho árduo, por isso disse Ellen G. White: “Deus não tem emprego para os homens preguiçosos em Sua Causa.” — Obreiros Evangélicos, pág. 277. Acrescenta que muitos “nunca alcançarão uma posição superior… devido… à frouxidão dos hábitos contraídos na mocidade.” — Idem, pág. 278. “Muitos têm fracassado. … Não sentiram a responsabilidade da Obra; têm levado as coisas tão comodamente, como se tivessem um milênio em que trabalhar pela salvação das almas. … A Causa de Deus não tem tanta necessidade de pregadores, como de obreiros diligentes e perseverantes, para o Mestre.” — Idem, pág. 279.
8. Leviandade. É o perigoso hábito de ser leviano nas palavras e no trato com o sexo oposto. Muitas das mais irremediáveis derrotas que têm trazido opróbrio à Causa do Mestre tiveram sua raiz em hábitos de leviandade que degeneraram em atos desonestos e impuros.
9. Queixas e Críticas. Alguns obreiros vivem amargurados e envenenam o ambiente que os rodeia com o hábito de queixar-se. Outros desenvolvem a tendência de criticar toda decisão ou método usado pelos outros. Diz o Espírito de Profecia a esse respeito: “Tudo quanto incite a crítica menos generosa, a disposição para notar e expor todo defeito ou erro, é mau. Isso fomenta desconfiança e suspeita, as quais são contrárias ao caráter de Cristo, e prejudiciais ao espírito que nelas se exercita” — Idem, pág. 334.
10. Mediocridade. É o hábito de conformar-se com pouco no âmbito do conhecimento e das realizações. “Uma razão disto é o pouco valor que se dão a si mesmos. ” — Serviço Cristão, pág. 238. “Podiam ter feito, inteligentemente, trabalho dez vezes maior, se se tivessem preocupado em tornar-se gigantes intelectuais. Toda a experiência deles em sua elevada vocação é ames-quinhada porque se contentam em permanecer onde estão.” — Testemunhos Para Ministros, pág. 194. “Mui-tos que possuem qualidade para reali-zar uma obra excelente, pouco fazem, porque tentam pouco. Milhares de pessoas passam pela vida como se não tivessem nenhum grande objetivo pe-lo qual viver, nenhuma norma elevada a atingir.” — Serviço Cristão, pág. 238. “Pouca ambição tem havido de pôr à prova suas faculdades.” — Testemunhos Para Ministros, pág. 194. Essa funesta falta de propósito de realizar uma grande obra malogrou valores que nas mãos do Senhor poderiam haver relizado uma obra gigantesca para a terminação da tarefa.
Como Vencer os Maus Hábitos
Estimado pastor, pergunte a si mesmo com toda a honestidade: “Ter-se-á enquistado em minha personalidade algum desses hábitos perniciosos?” Não resta dúvida de que eles estão prejudicando seu ministério. Qual é a única atitude corajosa e correta? Lutar contra eles até desarraigá-los.
Como vencer os maus hábitos? Vejamos algumas regras simples mas eficazes: 1) Reconhecer que somos vítima do mau hábito. Não procurar justificá-lo, explicá-lo ou minimizá-lo. 2) Plena convicção do dano que nos causa. 3) Sincero desejo de romper definitivamente com o mau hábito. 4) Luta corajosa e perseverante contra o mau hábito, que incluirá o processo de desabituação — romper a cadeia de atos ou atitudes que o hábito implica, e a substituição dos hábitos perniciosos pelos que são corretos e benéficos.
Por certo, a força impelente deve ser nosso desejo de prestar um serviço aceitável a Deus. “Procura apresentar-se a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar.” II Tim. 2:15. Jamais devemos comparar-nos com seres humanos, mas nossa referência deve ser o Senhor Jesus Cristo, O qual é o “Príncipe dos pastores” e cujos passos devemos seguir.
A luta é difícil? É compreensível. A vida cristã, e mais ainda o exercício do ministério, é uma luta permanente. São Paulo dizia: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.” Rom. 7:19. É possível a vitória? Sem dúvida alguma! Pedro venceu seus hábitos de petulância, Tomé venceu a dúvida, os filhos do trovão venceram seus ímpetos de violência, os discípulos venceram sua tendência para a desunião e covardia. Como o conseguiram? Por meio da oração, do esquadrinhamento próprio, da confissão, da conversão e do poder habilitador do Espírito Santo em sua vida.
Continuaremos sendo escravos de maus hábitos? De maneira alguma! Devemos enfrentá-los e vencê-los, levando em conta que “tudo posso nAquele que me fortalece” (Filip. 4:13). “O seguidor de Cristo deve-se aperfeiçoar constantemente em maneiras, hábitos, espírito e trabalho. Isso se opera conservando o olhar, não somente nas consecuções exteriores e superficiais, mas em Jesus. Opera-se uma transformação na mente, no espírito e no caráter.” — Obreiros Evangélicos, pág. 283.
(Continuará no próximo número.)
“As diminutas cadeias dos hábitos são geralmente demasiado pequenas para serem sentidas, até se tornarem demasiado fortes para serem rompidas. ”
“Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar.” II Tim. 2:15.
Carlos E. Aeschlimann, Secretário Ministerial da Divisão Interamericana