Parte IV

LUÍSA C. KLEUSER

(Secretária Adjunta da Associação Ministerial da Associação Geral)

CONTINUANDO esta série sôbre várias organizações religiosas com que nossos obreiros tomarão contato em seu evangelismo, chamamos novamente a atenção para o nosso livro de escolha em 1956, A Guide to the Religions of America. Trataremos no presente número de um grupo muito interessante de denominações — o Congregacionalismo e outras poucas crenças cujas raízes foram encontradas nessa corporação. Eram êles originalmente de herança protestante inglêsa.

Congregacionalismo

Os congregacionalistas foram um dos vários grupos da Igreja da Inglaterra durante os dias agitados do princípio do século dezessete. Havia, então, uma considerável coincidência de idéias entre puritanos, separatistas, presbiterianos, congregacionalistas e não-conformistas. Resultou isso em medidas que culminaram em emigrações da Inglaterra. Entretanto, a ligação com a Igreja da Inglaterra se desfêz quando Carlos II exigiu estrita conformação com o Livro de Orações Comuns. A Nova Inglaterra ofecereu, então, um refúgio, uma oportunidade para permanência na igreja mas fora das perseguições dos bispos inglêses em luta.

O reconhecido fundador do Congregacionalismo foi Robert Browne, jovem estudante de Cambridge, que havia aprendido os pontos de vista Anabatistas na Holanda. Em 1580, dirigiu êle um grupo que se tornou independente da Igreja Anglicana. Não lhes sendo possível manter na Inglaterra uma igreja democrática, êsses crentes fugiram para a Holanda durante a primeira década do século dezessete. Mais tarde, temendo que seus filhos viessem a perder sua identidade nacional e de língua, grande parte da congregação de John Robinson embarcou para a América no Mayflower. Foi êsse o comêço do congregacionalismo americano.

Os congregacionalistas têm figurado entre os maiores criadores de credo na História. Cada determinado grupo de igrejas pode escrever seu próprio credo e declarações de ética. Consideram-se êles católicos, mas não no sentido do reconhecimento da soberania do papa. O congregacionalismo floresceu bem no solo americano. Seu acidentado passado e os rigores da Nova Inglaterra logo evidenciaram entre êles a necessidade de ajustamento cívico e reforma religiosa. Foi durante o Grande Despertamento na Nova Inglaterra, sob a chefia de Edwards e Whitefield, que foi adquirida nova fôrça, que inflluenciou a organização da igreja. Também os princípios da separação da Igreja do Estado haviam estado germinando. Mais tarde foram estas as bases de discussões que findaram na Revolução Americana.

Do reavivamento oriundo do Grande Despertamento surgiu uma dissatisfação com o mero tradicionalismo. Os elementos zelosos reconheceram haver chegado o tempo do derramamento do Espírito — e isso nas fileiras cogregacionalistas! Talvez algumas das demonstrações fanáticas da hora declarassem o dia da liberdade e da democracia na religião. As pessoas livre-pensadoras puderam sentir-se na liberdade de seguir os seus próprios conceitos religiosos. Isto pode explicar a razão de ser de algumas dessas “novas religiões” no solo americano. Também nos ajudam a compreender por que em nossos dias alguns dêsses vários grupos religiosos estão agora buscando fusões que, no que concerne ao congregacionalismo, deverá ter-se fundido em 1957 com a Igreja Unida de Cristo.

Os congregacionalistas não são dogmáticos quanto à doutrina. Insistem na irmandade do homem, bem como na instrução e na religião ética. Nem a geografia nem a certeza nem a espécie do inferno suscita conflitos num congregacionalista. Os métodos científicos são aplicados à Bíblia, mas a Palavra é reverênciada. São êles freqüentemente citados como sendo um grupo interdenominacional. Opõem-se ao isolacionismo religioso e à exclusividade denominacional. Um rabino judeu e um ministro congregacionalista trocarão de púlpitos.

Outro ponto de interêsse é o fato de que os congregacionalistas possuem a mais longa his-tória de atividade missionária entre as igrejas americanas. Sociedades bíblicas e missionárias que trabalham entre os índios, esquimós e eslavos, são empreendimentos louváveis.

Admitindo que os congregacionalistas tenham uma boa origem, reconhecemos, não obstante, que seus ensinos de ética precisam abranger importantes reformas para nossos dias. E, se bem que apoiemos o estabelecimento da justiça e da irmandade humana, é êle utópico. De fato, tôda prova aponta para o colapso dêste mundo. Um reino de paz e eqüidade não será estabelecido senão depois da volta de Cristo. A profecia bíblica esclarece bem isto. Também revela que Sua vinda está iminente. Também deve ser lembrado que o congregacionalismo do início não é o de nosso tempo. Existe uma mistura de calvinismo e arminianismo que, em alguns sentidos exige um testemunho direto quanto à perpetuidade da lei de Deus. Nossos amigos congregacionalistas necessitam da certeza de todo o evangelho.

Unitarismo

O unitário crê na liberdade de pesquisar a verdade por si mesmo. Considera todos os credos negativos e dedica-se ao amelhoramento por meio da religião. Tipicamente unitarista é salientar a irmandade universal, indivisível por nacionalidade, raça ou credo, e o apêgo à comunidade unida mundial. O no-me unitarista não é facilmente descoberto na História, mas foi aplicado na Transilvânia quando um grupo defendeu a não perseguição de uma pessoa por outra. Mais tarde os unitaristas distinguiram-se dos trinitaristas.

Livres para crer o que quer que os persuada, os unitaristas têm de Deus um con-ceito místico. Jesus é um grande profeta. Seu proveitoso ministério terrestre torna-se um modêlo para o homem, e não um sacrifício expiatório. A Bíblia é uma fonte de revelação. Sua inspiração é comparável à declaração de Gettysburg. O unitarista pode crer o que se coadune com seu conceito referente à vida após a morte. O castigo eterno, entretanto, é rejeitado. Tem êle em alto conceito a Ciência e a Bíblia. Crê que deva haver honestidade estrita para chegar à verdade. Não é necessária a profissão de ser cristão quando alguém se torna unitarista. Os unitaristas estão excluídos do Conselho Nacional de Igrejas, e isto pode explicar alguns pontos neste sentido.

Êticamente e espiritualmente, o unitarismo é igual ao judaísmo. Seus ministros trocam púlpitos com os rabinos judeus. Existe, também, muito terreno comum com os quáqueres. Observam-se cultos especiais, mas não os sacramentos. Um grande líder unitarista do século dezenove, William Ellery Channing, declarou: “Eu sou um membro vivente da grande família de tôdas as almas.” Sustinha êle que êsse era o elo da “Igreja Universal” e que nada poderia destruir essa irmandade, senão “a morte da divindade em seu próprio peito.” Outro princípio unitarista se refere à oração: A oração é para o proveito de quem ora; ela não modifica o coração de Deus.

Reconhecendo a forma congregacional de govêrno da igreja, insiste-se em que cada membro se governa a si mesmo. Conquanto haja oficiais na igreja, a idéia de uma hierarquia é desaconselhada. A democracia conduz à segurança espiritual e social. Crêem os unitaristas na instrução, mas as crianças não devem ser “doutrinadas”; devem elas aprender por si mesmas. Devotada à verdade “a todo custo”, a igreja não é intolerante para com as opiniões religiosas divergentes. Conquanto não sejam evangelistas ativos, de bom grado recebem em seu seio todos quantos aceitam um princípio liberal. Os unitaristas não vêem a necessidades de converter os ateus. Conquanto as missões sejam consideradas um imperialismo eclesiástico, sua Comissão de Serviço é exemplarmente zelosa no auxílio aos refugiados e em prestar ajuda substancial em tôda espécie de desastre. Em alguns territórios os unitaristas crescem rapidamente.

Os cristãos cônscios da grande comissão de Cristo experimentariam um decidido conflito com o pensar dos unitários. Existe uma falta de certeza bíblica e da eficácia do sangue propiciatório de Cristo. Para êles a salvação humana, e não a divina, é o meio de alcançar a melhora do mundo. A filantropia de um homem tal como o Dr. Albert Schweitzer, recente vencedor do Prêmio Nobel, é tipicamente unitária. Os unitários têm interêsse casual nas profecias. Mas é importante que êle venha, não apenas a reconhecer o Cristo histórico, mas também aceitar Seu divino propósito para com os homens e em sua própria vida. A redenção do pecado precisa ser bem salientada. A perspectiva de levar os unitários a conhecerem a verdadeira doutrina cristã não é muito lisonjeira. O raciocínio humano substitui a fé cristã fundamental.

(Deverá notar-se que a unidade como religião é muito diversa do unitarismo. As raízes da unidade estão na metafísica, ao passo que o unitarismo surgiu do pensar congregacionalista. A unidade será apresentada mais tarde, juntamente com a Ciência Cristã.)

Universalismo

O Universalismo não deve ser confundido com o unitarismo. Sem dúvida, porém, ambos têm muita coisa em comum. Os universalistas insistem em que o homem, criado à imagem de Deus, pode chegar a viver retamente. Conquanto não pretendam haver sido a primeira igreja, sustentam haver boa prova de que muitos cristãos primitivos mantinham crenças universalistas. Pretendem êles ter o espírito aberto para a recepção da verdade, em vez de mantê-lo confinado às capas de um único livro — a Bíblia. As doutrinas cristãs fundamentais, tais como a encarnação, não despertam interêsse especial. Têm para êles grande valor a reforma social e o humanitarismo! É uma religião liberal e a ortodoxia não é ponderada. A queda do homem no pecado é-lhes uma “idéia espantosa”. Mantêm êles confiança na capacidade inerente e inata do homem. Sustentam que as crenças não existem por meio da revelação. Crêem os universalistas que Cristo viveu e morreu para estabelecer um reino de justiça. A fé no amor de Deus produzirá tudo isso.

O ano 1779 assinalou a primeira igreja universalista organizada em Gloucester, Estado de Massachussetts. Seus membros chegaram à América, vindos da Inglaterra, em 1770. O gênio dêste grupo é a sua liberdade. A completa emancipação do sofrimento e o melhoramento moral, são os seus ideais. “A igreja universalista é uma instituição muito humana, criada exclusivamente com o propósito de enriquecer, dilatar e cumprir a vida do homem.” Para êsse fim crê num ministério instruído. Foi líder na discussão das questões de impostos na América e mais tarde se opôs vigorosamente à escravidão.

Têm os universalistas confiança explícita em que os bons traços inerentemente humanos os capacitarão afinal para um mundo melhor e que, a despeito de seu ambiente atual, o homem será vitorioso naquilo em que estiver agora sofrendo passageira derrota.

Em conclusão, podemos reconhecer muito do que de bom e ético há no universalismo, mas também mais daquilo para o que não há doutrina e é até herético. O obreiro evangelista teria necessidade de começar a alicerçar a absoluta confiança no Deus de uma revelação inspirada. Jesus é mais do que uma vida ideal; Êle tem que ser o nosso Salvador pessoal do pecado. Não pode o homem salvar-se por meio de boas obras; seu Criador proveu o plano e o meio para a sua existência nesta vida e para a eternidade. O Livro ensina que se perderão mais pessoas do que o universalismo afirma. Mas certamente precisamos fazer tudo quanto nos é possível para salvar os universalistas. Poderá não ser uma tarefa fácil, mas a esperança do advento já tocou a vida dos universalistas e continuará a atraí-los para um Salvador ressur-reto e prestes a vir.