Alimentar nossos inimigos capturados ao invés de deixá-los morrer de fome constitui procedimento incomum, não em harmonia com o coração humano, que diz: “Se teu inimigo tiver fome, deixa-o morrer à míngua. É a prática em tempo de guerra. Aparentes vitórias têm sido ganhas desta maneira, mas o fato é que nenhuma vitória permanente em tempo algum se obteve pelo método de deixar morrer de fome.
É humano amarmos nossos amigos e detestar os inimigos. O ódio, porém, gera ódio. Disse Jesus: “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” (S. Mat. 5:44). Êste é o método de Deus.
A maior vitória jamais ganha neste mundo foi conquistada no dia da crucifixão de Cristo, quando Êle proferiu a oração: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (S. Luc. 23:34). A morte de Cristo parecia ser uma derrota, mas de fato não o era, porque por meio de Sua morte Êle destruiu “o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” (Heb. 2:14). Satanás, aquêle que inspirou homens ímpios a matarem o Filho de Deus, selou sua própria sorte naquele dia. E virá o tempo em que todos os sêres criados reconhecerão que o que parecia ser uma derrota na causa de Deus foi na realidade uma vitória.
Quando os exércitos da Síria guerreavam contra Israel, foram feridos de cegueira, e conduzidos pela mão de Deus a Samaria. O rei de Israel, vendo que êles estavam em seu poder, disse a Eliseu: “Feri-los-ei, feri-los-ei, meu pai?”. Era a coisa mais natural sob aquelas circunstâncias, pois eram inimigos de Israel. O profeta, porém, dissera: “Não os ferirás. . . . Põe-lhes diante pão e água, para que comam e bebam, e se vão para seu senhor.” O rei de Israel fêz conforme lhe foi ordenado. “E apresentou-lhes um grande banquete, e comeram e beberam; e os despediu e foram para seu senhor.” Esta foi uma verdadeira vitória, pois teve o efeito de subjugar os exércitos da Síria, e a respeito lemos: “E não entraram mais tropas de sírios na terra de Israel” (II Reis 6:8-23). Alimentaram os inimigos capturados.
Quando Davi foi escolhido por Deus para ser rei de Israel, Saul, que lhe tinha inveja, perseguiu-o por anos, intentando matá-lo. No decorrer dêsse tempo, por duas vêzes Saul caíra às mãos de Davi. Seus homens consideravam isto como um ato da Providência e insistiam com Davi para que o matasse. Davi, porém, somos informados, demonstrou bondade para com Saul, recusando-se feri-lo porque era êle o ungido de Deus. Quando Davi teve notícia da morte de Saul no campo de batalha, não manifestou nenhum prazer pela eliminação do inimigo. Dizem as Escrituras: “E prantearam, e choraram, e jejuaram até à tarde por Saul, e por Jônatas” (II Sam. 1:12).
Depois da morte de Saul, prosseguiu a guer-ra e Davi tomou a defensiva. “E houve uma longa guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi; porém Davi se ia fortalecendo, mas os da casa de Saul se iam enfraquecendo” (II Sam. 3:1). O Deus de Israel estava com Davi e lhe deu a vitória. Depois que a casa de Saul tinha quase desaparecido, Davi disse: “Não há ainda algum da casa de Saul para que use com êle de beneficência de Deus?” (II Sam. 9:3). Encontrou-se um a quem Davi disse: “Não temas, porque de certo usarei contigo de beneficência. … e te restituirei tôdas as terras de Saul, teu pai” (versículo 7). Quando Davi prostrado pela dor e descalço, fugia de Jerusalém, perseguido por seus inimigos, “um homem da linhagem da casa de Saul, cujo nome era Simei . . . saindo, ia amaldiçoando enquanto saía. E apedrejava com pedras a Davi, e a todos os servos do rei Davi. .. . E, amaldiçoando-o Simei, assim dizia: Sai, sai, homem de sangue, e homem de Belial” (II Sam. 16:5-7). Abisai, um dos servos de Davi, disse: “Deixa-me passar, e lhe tirarei a cabeça. Disse, porém, o rei: Que tenho eu convosco, filho de Zeruia? Ora, deixa-o amaldiçoar. . . . Porventura … o Senhor me pagará com bem a sua maldição dêste dia” (ver-sos 9-12).
Quando o reino foi totalmente restaurado a Davi, êste homem, Simei, foi o primeiro de seus inimigos a prostrar-se diante dêle reconhecendo seu pecado. Disse: “Não me impute meu senhor a minha culpa, e não te lembres do que tão perversamente fêz teu servo, no dia em que o rei meu senhor saiu de Jerusalém; não conserve o rei isso no coração. Porque teu servo deveras confessa que eu pequei; porém eis que eu sou o primeiro que de tôda a casa de José desci a encontrar-me com o rei meu senhor” (II Sam. 19:19 e 20).
Disse Abisai: “Não morreria, pois, Simei por isto, havendo amaldiçoado ao ungido do Senhor? … E disse o rei a Simei: Não morrerás” (versos 21-23). Não houve ódio no coração de Davi. Amou seu mais rancoroso inimigo. Venceu o mal com a bondade. Nisto foi um representante dAquele cujas palavras proferidas ao morrer a respeito de Seus inimigos foram: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”
Podemos nós, os que vivemos nos últimos dias da história terrestre, fazer menos? Se temos inimigos, amemo-los agora durante a proclamação da mensagem e finalmente no aprisco de Deus.