“Pastor, quando ouvíamos o seu sermão no sábado, era como se estivesse falando na sala de nossa casa”, disse alvoroçada uma irmã ao pregador na manhã da segunda-feira. A mesma impressão ficou na mente de muitos dos adoradores. Aquele pregador tinha a virtude de falar a pessoas e não a multidões, mesmo que se estivesse dirigindo a centenas ou a milhares de ouvintes.

A responsabilidade que o pregador assume ao ocupar o púlpito é tremenda. Cada ouvinte é um mundo em si mesmo, com suas preocupações, problemas, alegrias e necessidades. Assim como não há numa congregação duas pessoas com impressões digitais iguais, .tampouco há duas exatamente iguais em personalidade. Ali está um jovem. Suas necessidades são as mesmas que de um adulto ou mesmo de um ancião, mas o caminho para alcançar a satisfação dessas necessidades talvez seja diferente nos respectivos casos. O problema ou a necessidade do profissional ou do artesão, também poderá ser o mesmo, mas o enfoque dado ao sermão pode vir a motivar a um, deixando o outro totalmente fora. O esposo feliz reagirá de modo diferente daquele que porventura tenha uma esposa não convertida, infiel ou doente. A expressão “lar”, significará uma coisa para um jovem abandonado pela família, e pode ter sentido totalmente diferente para outro jovem que desfruta a companhia unida de pais e irmãos. O que tem a consciência tranqüila terá um impacto bem diferente em relação ao sermão com sua mensagem do que o que tem a consciência culpada. Realmente não há duas consciências iguais em toda a congregação.

Todavia, o pregador precisa alcançar a todos. E há os que o conseguem! Há pregadores e sermões que provocam uma reação total e uniforme no auditório, chegando ao coração de todos. Onde está o segredo? Não é fácil descobri-lo, e menos ainda descobri-lo no papel. Todavia, há princípios que só podem ser comentados ao modo da semente — com o fim de fazer brotar a meditação e o exame pessoal. Devemos tentá-lo.

Primeiro: Qual o objetivo final e básico da pregação? Será entreter? Repartir conhecimento? Despertar emoções? Salvar? Qual a diferença fundamental entre um circo, uma sala de aulas, uma sala de espera de um consultório médico e uma igreja em reunião? Em todos há público. Como tem suas perspectivas satisfeitas cada um que ali chega? É bastante claro: o circo cumprirá o que prometeu mediante a atuação de seus elementos, sejam eles palhaços, trapezistas ou outros. O professor faz o mesmo com a lição bem explicada. O médico, com o seguro diagnóstico e a respectiva restauração do corpo ou da mente do enfermo. E o pregador? Será talvez um pouquinho de cada um? Logicamente, deve apresentar a mensagem com graça a fim de torná-la atraente. Deve ensinar de maneira clara, e deve diagnosticar e curar. Mas tudo isto tem em vista levar o ouvinte a desejar e a obter o que a igreja tem para oferecer, e que a torna diferente do circo, da aula e da sala de espera do médico: a comunhão com Deus.

Se o adorador sai admirando somente os dotes do pregador ou a lógica dos seus argumentos, pouco se terá alcançado. Mas pode dar-se por satisfeito o pregador que conseguir levar sua congregação a um encontro real com Deus. Há os que vêem em Rom. 15:16 o pregador como “ministro”, ao estar “ministrando o evangelho”, como realizando uma função litúrgica, sacramental, sacerdotal. Não é, portanto, apenas um artista, ou mestre ou médico, mas um sacerdote. Sua relação não é meramente com o auditório; ele atua como um intermediário entre Deus — provedor da mensagem — e o homem, seu recebedor.

Conseguindo isto, o pregador chegará à alma de toda a sua congregação, não obstante as diferenças sociais, culturais ou de idade.

Segundo: O importante é a mensagem que se transmite e não tanto a forma de dissertação, entendendo-se, porém, que uma boa mensagem, apresentada de modo atraente, será duplamente benéfica. Contudo, no campo da pregação, é preferível uma mensagem sem oratória, a uma boa oratória sem mensagem. Portanto, cremos muito razoável aquela recomendação de um professor de homilético, que sugeria preparar em primeiro lugar a con-clusão de um sermão, para saber em que sentido deve dirigir o material que o formará. Em outras palavras, escolher primeiro o lugar de destino, para depois escolher o veículo ou meio de transporte a usar, e a rota a seguir.

Há pregadores que possuindo grande agilidade de palavra, entretêm o auditório com riqueza de vocabulário, mas sem verdadeiro conteúdo. Não havendo mensagem, o alvo do sermão não é alcançado.

Pensando nisto, temos introduzido ultimamente algumas mudanças no enfoque que damos aos temas apresentados em campanhas de evangelização. Temos dirigido os temas mais ao coração do que à mente. Temos abandonado alguns temas de tipo argumentativo para falar mais de uma nova experiência que se alcança em Cristo e que está à disposição deles. Se não falamos de experiências teóricas, e se mediante a oração conduzimos os ouvintes a viver o que o evangelho oferece, experimentando suas bem-aventuranças, a aceitação das verdades doutrinárias não apresentará qualquer obstáculo. Aquele que por meio da mensagem que lhe apresentamos, vê o seu lar melhorar e os seus horizontes ampliar-se, não terá argumentos teóricos para rebater as verdades apresentadas.

Terceiro: O elemento-chave na pregação é, indubitavelmente, o pregador. Se ele vive o que prega, se o sente, se a si mesmo se impressiona, logrará tocar profundamente sua congregação. “O evangelho não é evangelho enquanto não é proclamado por alguém que o esteja vivendo. Só é verdadeiro quando sai dos lábios de alguém que o faça verdadeiro”. São Paulo fala de “ornamento da doutrina”. Tito 2:10. A doutrina é adornada quando é vivida, ou quando é transmitida em forma viva. Por isto, a preparação de um sermão não deve ser simples pregação de apontamentos ou de esboço, mas de preparação do pregador. Dizia João Knox: “A pregação não é um discurso sobre religião, mas uma pessoa religiosa falando”. Diz também o mesmo autor, que o pregador “é alguém que reparte algumas de suas experiências mais íntimas e profundas com outras pessoas”.

Resumamos tudo que se disse com uma declaração inspirada que diz: “Nosso próprio caráter e experiência, determinam nossa influência sobre os demais. Para convencer a outros do poder da graça de Cristo, temos de conhecer o poder desta em nosso coração e vida. O evangelho que apresentamos para a salvação das almas, deve ser o evangelho por meio do qual nossa alma é salva. Só mediante uma fé viva em Cristo como Salvador pessoal, pode-se fazer sentir nossa influência num mundo cético. Se queremos arrancar os pecadores da corrente impetuosa, nossos pés devem estar firmados na rocha: Cristo Jesus”. — La Necessidad del Obrero (Ellen G. White), p. 5, 6.

“Pastor”, disse aquela irmã, “quando ouvimos o seu sermão no sábado, era como se estivéssemos na sala de nossa casa”. Sim, aquela foi uma mensagem pessoal, simples, familiar, conquanto profunda. Causou impacto. Não pôde ser aplicada ao vizinho, ao diácono ou ao irmão, porque pintava de corpo inteiro o jovem, o adulto, o ancião, o pobre, o rico, ao que veio de um lar feliz ou de um lar desfeito, e a cada um apresentava o chamado de Deus. Aquele pregador acertou no alvo. Que tal foi o seu último sermão? Foi uma verdadeira mensagem para o coração de toda a congregação?