Muitas das provações que experimentamos são tentativas covardes do inimigo para nos levar a ver o Senhor como Ele não é.

Há mais de um ano estamos sofrendo com uma pandemia que atinge todos os aspectos da vida, incluindo a maneira pela qual enxergamos a atuação de Deus em meio a tudo isso. São dias dolorosos, cansativos e carregados de medo e ansiedade. Para piorar, estamos nos separando de familiares e amigos que foram ceifados pela morte, e preocupados com aqueles que se encontram em situação delicada.

As circunstâncias suscitam a pergunta: Onde se refugiar e como reagir diante desse quadro tão angustiante? A Bíblia apresenta histórias com as quais nos identificamos, que nos ajudam a encontrar esperança além da dor. Gostaria de refletir a respeito de um homem de fé que passou por algumas experiências muito parecidas com as que temos enfrentado. Estou me referindo a Jó.

Tudo estava bem. Seus negócios prosperavam (Jó 1:3), seus filhos eram saudáveis e espiritualmente sensíveis (v. 5) e ele parecia não ter qualquer problema de saúde. Além disso, era um homem virtuoso, “íntegro e reto, temia a Deus e se desviava do mal” (1:1).

Infelizmente, porém, sua vida mudou de forma trágica e inesperada. Seus bens foram saqueados e destruídos (1:15-17), seus dez filhos morreram (1:18, 19) e, como se não bastasse, Jó foi coberto por “tumores malignos, desde a planta do pé até o alto da cabeça” (2:7). Em diálogos com seus “amigos”, ele descreveu os efeitos dessa enfermidade: isolamento social (2:8), deterioração física (7:5), pesadelos (7:14), perda de peso (16:8), cheiro repugnante (19:17) e ossos ardendo como fogo (30:30).

Muitas das provações que experimentamos são tentativas covardes do inimigo para nos levar a ver o Senhor como Ele não é; ou seja, alguém insensível e indiferente ao nosso sofrimento. Satanás não quer apenas causar dor, ele também quer distorcer nossa percepção a respeito de Deus nos dias mais escuros de nossa vida. No fogo da aflição, Jó fez 16 perguntas ao Senhor e se queixou 32 vezes, demonstrando toda a plenitude de sua humanidade, e inclusive amaldiçoando o dia de seu nascimento (3:3).

Hoje, milhares de pessoas estão desempregadas, internadas, doentes ou enlutadas. Infelizmente, minha família foi vítima da parte mais cruel desse vírus. Perdi pessoas próximas a mim, mas não perdi a esperança, porque, à semelhança de Jó, “eu sei que o meu Redentor vive e por fim Se levantará sobre a Terra” (19:25). Tudo ao seu redor pode estar destruído, mas Cristo vive, e isso faz toda a diferença!

No livro de Jó, o Senhor permanece em silêncio na maior parte do tempo. Isso, contudo, não significa que Seus olhos e ouvidos estejam distantes da realidade humana; pois o silêncio de Deus não é sinônimo de Sua ausência. A partir do capítulo 38, o Senhor faz 72 perguntas, todas referentes a Seu poder criador, e Jó não consegue responder nenhuma delas. Ele simplesmente diz: “Sou indigno. Que Te responderia eu? Ponho a mão sobre a minha boca” (40:4). Além de enfatizar Deus como Criador que pode restaurar tudo que perdemos, o livro de Jó apresenta curiosamente a imagem de um cordeiro no início (1:5) e no fim (42:8), talvez para nos lembrar de que Ele também é nosso Salvador.

No Novo Testamento, Paulo afirma: “Aquele que não poupou o Seu próprio Filho, mas por todos nós O entregou, será que não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas?” (Rm 8:32). Na cruz temos a certeza do quanto Deus nos ama. Por isso, quando você passar por perdas, lembre-se: “Na vida futura, os mistérios que aqui nos inquietaram e desapontaram serão esclarecidos. Veremos que as orações na aparência desatendidas e as esperanças frustradas têm lugar entre as nossas maiores bênçãos” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 474). 

Lucas Alves, secretário ministerial para a Igreja Adventista na América do Sul