Multiformes e algumas vêzes ásperas têm sido as discussões referentes à relação da religião e da ciência. Alguns cientistas acusaram os teólogos de dogmatismo extremo, ao passo que certos religiosos têm taxado a ciência de lacaia do ateísmo. Infelizmente o problema tem sido freqüentemente descrito como uma batalha entre a ciência e a religião. Entretanto, as divergências em crença e doutrina têm ocorrido entre certos grupos de religiosos e cientistas.

Assim como a verdadeira religião não é necessàriamente o ensino de um dogma particular de teologia, também as teorias de um ou mais cientistas não constituem a Ciência. Visto que os teólogos divergem amplamente entre si, concernente à interpretação da base de suas crenças, e os cientistas semelhantemente propagam teorias inteiramente diversas, não é surpreendente que haja assinalada disparidade de crença entre grandes segmentos dêsses dois grupos.

Não obstante,, o compromisso não é uma condição de acôrdo entre a verdadeira religião e a verdadeira ciência.

“Visto como o livro da Natureza e o da revelação apresentam indícios da mesma mente superior, não podem êles deixar de estar em harmonia mútua. Por métodos diferentes em diversas línguas, dão testemunho das mesmas grandes verdades: … O livro da Natureza e a Palavra escrita lançam luz um sôbre o outro.” 1

“Aquêle que conhece a Deus e a Sua Palavra por experiência pessoal, tem uma firme fé na divindade das Santas Escrituras. . . . Sabe que, na verdadeira ciência, nada pode haver que esteja em contradição com o ensino da Palavra; uma vez que procedem ambos do mesmo Autor, a verdadeira compreensão delas demonstrará sua harmonia.” 2

Quando aparentes discrepâncias surgem entre as teorias divulgadas pelos cientistas e as interpretações das Escrituras adotadas por teólogos, necessário é examinar ambas as opiniões com espírito analítico. Uma ou ambas podem elaborar em êrro. Nos dias de Galileu, os clérigos erroneamente interpretaram certos passos bíblicos como demonstrativos de que a Terra fôsse plana e que o Sol girasse em tôrno dela. Verbalmente, Galileu aquiesceu. Embora mantivesse fé nas Escrituras, estava convencido, por suas observações, dos céus, que a Terra redonda rodava. Agora, como foi então, é insensatez adotar ou suscitar interpretações dogmáticas, muitas vêzes não garantidas e irracionais, que òbviamente contradizem os positivos e inequívocos fatos do outro livro divino, o livro da Natureza. Por outro lado, teorias controversas, com base em certas observações científicas, precisam ser analisadas cuidadosamente e amplamente à luz tanto da revelação como de outros fatos pertinentes da Natureza.

Nenhum setor em que pontos de vista divergentes dos cientistas e teólogos foram tratados, tem sido tão amplamente divulgado quanto a criação versus evolução. De forma mais ou menos literal aceitam os criacionistas o registo Mosaico do livro do Gênesis. Os evolucionistas, por outro lado, quase em sua totalidade rejeitam o registo bíblico da criação em favor da idéia da origem e desenvolvimento espontâneos de tôdas as coisas, quer físicas quer biológicas presentemente observáveis da Natureza, desde as formas remotamente antigas de matéria ou energia não organizadas.

Interpretações do Registo do Gênesis

A linha de demarcação entre essas duas filosofias, entretanto, não está em todos os casos tão acuradamente traçada. Alguns, que aceitam o registo do Gênesis interpretam-no como sendo “dias” ultraproféticos e presumem que os atos de organização praticados durante a “semana” da criação foram divinamente realizados através de longas eras numa forma evolucionista. Outros religionistas encaram um Criador a cujo mando o universo foi pôsto em andamento, organizado de maneira primitiva, e abandonado para desenvolver-se por meio de energias nêle implantadas. Os proponentes mais obstinadamente literais do registo bíblico insistem em que nenhuma matéria do universo antecede o primeiro dia da semana da criação, há uns seis mil anos, e crêem que cada dia dessa semana testemunhou a absoluta origem por meio da mão do Criador, de novas matérias e funções, tanto inanimadas como viventes.

Falta de Unanimidade na Hipótese Evolucionista

Os evolucionistas, semelhantemente, estão longe de ser unânimes em seus conceitos das origens. Querem alguns que o universo haja começado com matéria uniformemente distribuída, que, ou por atração ou repulsão, se congregou em unidades cósmicas. Presumem outros que unidades de energia difusa afinal se tornaram em massas de matéria através do espaço. Uns poucos chegam até a pensar que o universo haja começado como uma gigantesca molécula cósmica que, em algum instante fortuito no distante passado, se haja desintegrado para formar massas celestes várias. Não obstante, todos os evolucionistas concorrem com alguma espécie de teoria do desenvolvimento biológico terrestre, partindo de matérias inorgânicas da terra e atravessando vários estágios mais simples e intermediários de formas vivas até ao homem.

Os Cientistas Cristãos e a Criação do Gênesis

Os cientistas, entretanto, que são sinceramente cristãos e aceitam a Bíblia como sendo a revelação divina para o homem, aceitam como literalmente verdadeiro o relato do Gênesis. Como um dêsses cientistas, firmemente creio, sôbre fundamento adequado, que o relato diário, a começar do divino fiat, no primeiro dia da semana da criação. “Haja luz”, sôbre a matéria de Terra trevosa e anuviada, e terminando com a plenitude da obra da criação terrestre quando o sábado do sétimo dia foi santificado como memorial daquela criação acabada; é um relato autêntico das origens terrestres. Quanto tempo antes, na eterna existência de Deus o Pai e Seu Filho, escolheram Êles criar o material do universo, os inumeráveis sistemas de sóis e estrêlas, e tôdas as hostes celestes; não foi revelado nas Escrituras, nem está em nossa capacidade saber nem especular quanto ao tempo de sua origem.

Existe informação bíblica, entretanto, tal como está relatada no Novo Testamento, pelos apóstolos João e Paulo, Jesus Cristo, o eterno Filho de Deus, foi o agente imediato na execução da vontade dó Pai, nas atividades da criação, “Todavia para nós, há um só Deus, o Pai, de quem e tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são tôdas as coisas, e nos [existimos] por Êle.” “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Êle estava no princípio com Deus. Tôdas as coisas foram feitas por Êle, e sem Êle nada do que foi feito se fêz. NÊle estava a vida, e a vida era a luz dos homens.” “E o Verbo Se fêz carne e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai.”4 “Êle [Cristo] é a imagem do Deus invisível, o primogênito de tôda a criação, porque nÊle foram criadas tôdas as coisas que há nos céus e na Terra. … — tudo foi criado por Êle e para Êle. E Êle é antes de tôdas as coisas, e tôdas as coisas subsistem por Êle.”“Havendo Deus antigamente falado muitas vêzes, e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fêz também os mundos.”6 Tôda a Escritura está em perfeita harmonia com estas palavras: “Façamos o homem à Nossa imagem, conforme à Nossa semelhança.” 7

Criação pela Evolução é uma Designação Errada

Não parece haver senão um ponto de acôrdo parcial entre os evolucionistas e os criacionistas: isto é, que no princípio de tôda a história terrestre tôda a massa de Terra estava desorganizada e vazia, homogênea e desabitada, conforme declara a versão comum da Bíblia: “Estava sem forma e vazia.” Qualquer pessoa que continua a pensar que o evolucionismo e a ver-dadeira religião bíblica sejam compatíveis, certamente está cega para os determinados esforços dos evolucionistas de pôr de parte ou desprezar inteiramente o relato de Gênesis da criação. Apesar da pretensão pessoal de Henry Ward Beecher, não pode haver um indivíduo que seja um “cordial evolucionista cristão.” A criação pela evolução equivale a uma designação errada, uma frase atrativa com vistas a atrair os incautos para a senda do materialismo ou do ateísmo. “Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.”8

A Instrução Explorada em Proveito da Evolução

Pràticamente em todo o campo do saber, a evolução ou é ensinada como realidade, ou é tàcitamente aceita como sendo verdade. Todo programa de instrução da maioria das escolas públicas e particulares está sendo explorado em proveito do evolucionismo por meio dos compêndios usados e de programas de instrução dos professores. Progressivamente, a profissão do magistério foi pràticamente influenciada e controlada por certos líderes do mundo científico. Com a doutrina da evolução considerada como única filosofia de vida aceitável, não admira que tôda a juventude desta geração se tenha esquecido da Bíblia e dos princípios da regra áurea.

Estão verdadeiramente os educadores sendo coagidos a ensinar a evolução como base da instrução? Analisemos os fatos:

Enquanto eu freqüentava a Universidade de Chicago, faz alguns anos, tive a oportunidade de presenciar uma aula do Dr. Downing, que fôra professor de Ciência no ensino secundário. Seu sistema eram os métodos de promover o ensino da evolução nas aulas de Ciência, nos cursos ginasiais. Ao terminar a classe, foi-lhe perguntado: “Que faria o senhor se em seu território o ensino da evolução fôsse proibido, como o foi em Tennessee?” Respondeu êle: “Como cidadão obediente à lei, eu obedecería, mas me mudaria dêsse território para proclamar a evolução com tôdas as minhas fôrças.” Seu zêlo pela divulgação da evolução era comparável ao demonstrado pelo mais ardoroso missionário do evangelho.

Num periódico de distribuição gratuita disseminado por grande emprêsa fornecedora de material didático, com uma circulação que atinge pràticamente cada classe de biologia dos Estados Unidos, ocorreu a seguinte declaração:

“Embora o estudante novato julgue conhecer o homem, biologicamente êle nada sabe, nada pode saber sem todos os antecedentes que a verdadeira ciência da evolução fornece. . . . Não cremos que cada estudante tenha que comprovar cada fato e pessoalmente avaliar tôdas as provas para ser capaz de compreender o quadro filogenético [desenvolvimento da espécie humana.] Verdadeiramente, semelhante empreendimento é impossível para o professor, que recebe em confiança grande parte do seu material de ensino. . . . Defendemos, porém, a tese de que o estudante pode compreender e compreenderá as divisões e multi-subdivisões do Reino Animal — tremendas, fascinantes, importantíssimas — se tiver uma exposição nítida do padrão evolucionista.” 9

Noutra edição da mesma publicação, em artigo intitulado: “Evolução por Acumulação”, lia-se o seguinte:

“Graças à imprensa popular e ao gradual acúmulo do conhecimento, nossos neófitos colegiais atualmente não ficam chocados em face da idéia de que o homem surgiu através de um processo evolutivo. Não obstante, o problema de formar o conceito da evolução é um dos maiores reptos para o professor de Biologia. . . . Meu propósito aqui é descrever um ou vários estratagemas que considero úteis no ensino da evolução orgânica.” 10

A Evolução Promulgada pela Imprensa e pelo Púlpito

Não faz muito, uma revista popular publicou uma série de artigos ilustrados em cores e devotados ao desenvolvimento evolucionista do homem. Concernente ao capítulo introdutório dessa série, sugeriam os editores que “os cursos modernos das escolas dominicais, se é que mencionam Adão e Eva, pouco têm para dizer a seu respeito. Ao olharem para as figuras de seus antepassados (nesse artigo) não serão muitas as crianças que darão pela falta dos dois.” Outros comentários dos editores indicam que a tendência é para considerar Adão como um membro especial na seqüência evolucionista, um homúnculo em cujos narizes Deus soprou o Seu espírito, pondo dessa maneira, “uma restrição moral em sua liberdade animal,” e concedendo-lhe uma “consciência — o sinal da divindade humana.” 11

É evidente que a evolução está sendo estimulada por todos os meios possíveis, mesmo do púlpito em alguns casos, e a maioria das pessoas aceita-a como verdade científica embora muitas vêzes não percebam aonde ela os leva.

Premissas da Evolução Biológica

Algumas das suposições sôbre que se baseiam as teorias da evolução biológica são as seguintes:

  • 1. Uniformidade. — Postulado de que a proporção de modificações que se observa ocorrerem atualmente, constituem um critério para tôdas as eras passadas.
  • 2. Possibilidade. — Pela qual quase cada espécie de elemento químico ou forma simples de criatura vivente pode haver resultado de uma união ocasional de outras substâncias ou ele-mentos simples.
  • 3. Elaboração e adição ocasional mas progressiva de funções e estruturas em criaturas viventes coforme o exigiu a necessidade ou a oportunidade.
  • 4. Seleção natural. — Processo que presumivelmente limita as plantas ou animais acidentalmente produzidos aos bem condicionados para sobreviver em determinado ambiente.
  • 5. “A ontogenia recapitula a filogenia.” — Conceito de que o desenvolvimento embrionário de determinado animal prossegue através de estágios, semelhantemente aos que se acham em evolução, de espécies elevadas, procedentes de espécies mais simples.
  • 6. Estratigrafia. — Estudo do conteúdo biológico de depósitos acumulados pela água ou por outro meio, e mediante o qual é indicada a “idade” do estrato.
  • 7. Conteúdo mineral de um fóssil como indicação da idade do fóssil.
  • 8. Outros critérios para determinar a “idade” de um fóssil, associados com matérias radioativas, dependentes da radioatividade do urânio, potássio, carbono, etc, encontrados dentro do fóssil ou nas suas proximidades.

Nossa atenção, neste artigo, cinge-se à primeira dessas suposições.

Se bem que o uniformitarismo seja a pedra angular da filosofia evolucionista, os próprios evolucionistas sem dúvida reconhecem que mu-danças catastróficas ocorreram durante o passado da Terra, vastamente diversas, em espécie e grau, dos fenômenos que agora se processam. Em contradição tácita com sua própria filosofia, êles abertamente se referem a elevações e depressões no curso da formação de montanhas, a tremendos movimentos glaciais de extensão subcontinental, e à ação vulcânica sem precedente que produzem rochas ígneas. Mas quase cada homem dentre êles demonstra profunda repulsa em admitir a possibilidade de um dilúvio universal, tal como o relata a Bíblia. A atitude assumida em ambos êsses sentidos é claramente demonstrada na profecia feita pelo apóstolo Pedro:

Nos últimos dias surgirão escarnecedores, . . . dizendo: “Onde está a promessa da Sua vinda? porque desde que os pais dormiram tôdas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.” “Êles voluntariamente ignoram isto, que pela Palavra de Deus, já desde a antiguidade existiram os céus, e a Terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste, pelas quais coisas pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio.” 12

Notai a doutrina uniformitária que estava predita — “tôdas as coisas permanecem como desde o princípio [não o fim ou próximo do fim] da criação.” Notai também a negação de um dilúvio catastrófico mundial. O significativo aumento de tais crenças é um dos positivos sinais da aproximação do dia do juízo divino.

Uniformitarismo Insustentável

Em nenhum sentido pode o uniformitarismo em seus mais amplos aspectos ser corroborado pela observação in loco. As extensivas populações de vida animal e vegetal não estão sendo sepultadas e fossilizadas sob as condições existentes no presente. Há um século, milhões de búfalos vagueavam pelas planícies da América do Norte. Agora quase não é possível encontrar-se um único osso dessas abundantes criaturas, em tôda essa área, pois os animais predatórios e a decomposição lhes destroem inteiramente os cadáveres. Para que fossem fossilizados êsses remanescentes, seria necessário um sepultamento repentino e extenso como não ocorreu em anos recentes.

O uniformitarismo exigiria que uma geração espontânea de formas viventes devesse estar ain-da em prosseguimento. Mas mesmo os mais ardorosos proponentes da teoria reconhecem aber-tamente que isso não ocorre nem é possível ocorrer sob as condições atuais. A mesma filosofia uniformitarista exigiría no tempo presente o aparecimento espontâneo de novas formas de vida, tanto espécies novas como novos gêneros e ainda mais variantes diversos, modificações e aperfeiçoamentos das já conhecidas através de um completo período histórico. Entretanto, os cães ainda são cães com os mesmos hábitos que tinham nos primórdios de antigas civilizações, os cavalos ainda são cavalos e os homens sem dúvida ainda continuam sendo homens. Certamente há amplas variações de raça em cada espécie ou gênero, mas essas variações estão tôdas claramente dentro das mesmas classificações, como anteriormente.

Tentativas foram feitas para estimular ou acelerar um processo evolutivo em certos insetos, sobretudo na môsca das frutas, Drosophila, por meio de radiação ou por tratamento químico. Em milhares de gerações, em incontáveis quantidades de experimentos e observações, muito foi aprendido acêrca da hereditariedade. Inumeráveis formas variantes foram descobertas, mas cada um dêsses novos insetos era ainda um membro do gênero Drosophila. As variações ocorreram sòmente em aspectos tais como a côr dos olhos, tamanho da asa, etc. Se, como se presumia, o presente é um index do passado, não há prova de que a evolução haja jamais ocorrido.

Referências

  • 1. Ellen G. White, Eucação, pág. 128.
  • 2. White, A Ciência do Bom Viver, pág. 128.
  • 3. I Cor. 8:6.
  • 4. S. João 1:1-4 e 14.
  • 5. Col. 1:15-17.
  • 6. Heb. 1:1 e 2.
  • 7. Gên. 1:26.
  • 8. II Tim. 4:3 e 4.
  • 9. Turtox News, maio de 1953.
  • 10. Idem, maio de 1954.
  • 11. Life, 7 de novembro de 1955, pág. 47.
  • 12. II S. Ped. 3:4-6.

AS LEIS DA NATUREZA

Por apegarem-se às leis da matéria e da Natureza, muitos perdem de vista, se é que não negam, a intervenção contínua e direta de Deus. Propugnam êles a idéia de que a Natureza atua independentemente de Deus, tendo inerentemente suas próprias restrições e capacidade de atuar. . . . Isso é ciência falsa; nada há na Palavra de Deus que o confirme. Deus não anula as Suas leis, mas está continuamente operando por meio delas, usando-as como instrumentos Seus. Elas não atuam por conta própria.” — Test. Sel. [ed. mundial] Vol. III, pág. 259.