J. R. SPANGLER

(Secretário da Associação Ministerial, Divisão do Extremo Oriente)

AS MENTALIDADES tacanhas falam acêrca do próximo; as médias, de acontecimentos; as superiores, sonham com idéias, para a futura realização do bem. No próprio corpo do homem é gerada a mais tremenda fôrça explosiva conhecida na história — a fôrça explosiva das idéias. Por meio da mente humana, foram concebidas e originadas idéias que, ou despedaçaram e mutilaram a mente e o corpo de milhões, ou refizeram e curaram os sofrimentos e ferimentos da humanidade.

Cristo possuía a espécie de mentalidade que sonhava com idéias que transformaram a História e fizeram apêlo impressivo ao coração de tôda a humanidade. Cristo veio em forma humana a um mundo que pensava na morte. Êle sonhava com a vida eterna! Veio quando multidões se assentavam em trevas e não tinham luz. Sonhou com uma luz que brilhou para sempre! Também a mentalidade de Cristo apreendeu uma idéia que se tornou a paixão dominante de Seu coração e resultou na fixação do destino de muitos.

Assim, Seus sonhos de vida e luz tinham que ser partilhados com outros para que o espantalho da noite e o horror da morte fôssem banidos. Esta idéia alcançou a maturidade no dia da decisão em que Cristo pôs de parte Seus instrumentos de carpinteiro, encaminhou-Se para João Batista, e foi consagrado por Deus, pela água e pelo Espírito — como supremo Evangelista do universo. Desde a Sua infância até à cruz, Cristo foi evangelista! Irmãos, seja esta a nossa mentalidade hoje!

O evangelismo é para a igreja o que são as asas para o pássaro! Aparai as asas e o pássaro deixará de voar e, finalmente, rastejará! Atitude estranha para um pássaro — rastejar! Observar as asas feias e depenadas do pássaro recém-nascido, de maneira nenhuma leva a pessoa pensante a ridicularizar os futuros proveitos e utilidade dêstes instrumentos de vôo que algum dia conduzirão êsse pássaro através do espaço e das alturas do céu. Tôda tentativa de apresentar esta verdade publicamente está provendo outro par de asas para a igreja. Verdadeiramente, muitas destas asas podem ser canhestras e depenadas no momento, mas o dia do juízo lhes provará o valor.

Noé, Exemplo Clássico de Resultados Fracos

Lembrai que o evangelismo é um princípio, e não um expediente. Os expedientes são para o momento, mas os princípios são para a eternidade. O princípio no evangelismo inclui tanto o plano de semear como o de colhêr. Nenhum agricultor colheu trigo de um campo em que êle nunca haja plantado trigo. Além disto, uma reunião pública de freqüência mínima pode ter a atenção máxima das pessoas que a não freqüentam. Pode, também, ter resultados aparentemente mínimos, mas um máximo de resultados em futuras colheitas.

A experiência de Noé é o exemplo clássico de todos os tempos, de alguém que realizou trabalho de evangelismo público com resultados insignificantes quanto ao alvo de colheita. Talvez haja realizado umas 43.800 reuniões noturnas consecutivas, mais uma quantidade de classes bíblicas pela manhã e à tarde. Possivelmente, Noé admitiu como membros da igreja muitos milhares de almas (ler cuidadosamente Patriarcas e Profetas, págs. 102 e 103? mas com o perpassar do tempo, êsses milhares abandonaram as fileiras de Noé, até que restaram apenas oito almas, inclusive êle próprio. Infelizmente, os arqueologistas não descobriram as atas da Associação Geral antediluviana, e todos os relatórios financeiros ficaram perdidos com o dilúvio, mas aparentemente todo o dinheiro da igreja, recebido durante os 120 anos, foi gasto na campanha evangélica de Noé. Muito do dinheiro foi empregado num grande equipamento visual, mais bem conhecido por uma arca. Estou certo de que se qualquer dos membros da comissão do orçamento houvesse sobrevivido à calamidade do dilúvio, Noé teria perdido suas credenciais e talvez até mesmo sua condição de membro da igreja, por motivo dos gastos avultados com tais resultados escassos. Uma coisa é certa quanto à atividade de Noé que, creio, justificou todo o assunto. O mundo recusou atender a êsse último convite religioso, mas cada pessoa teve conhecimento de sua campanha evangélica, embora nunca houvesse freqüentado culto nenhum. Portanto, algum dia haverão de estar sem desculpas perante Deus.

Homens do Momento Contra Homens do Futuro

Precisamos hoje lutar contra a infinita capacidade humana de engano próprio, no juízo que faz do evangelismo público à luz dos resultados imediatos ou mesmo futuros, em têrmos de pessoas batizadas ou salvas no Reino. Ridiculamente fácil é que os que dentre nós estão contaminados com o pessimismo, lamentem o dinheiro gasto no evangelismo público, com base em que os resultados são muito reduzidos. É, também, sublimemente simples para quem poderia ser chamado de homem do momento, simbolizar o nosso reinado com instituições suntuosas, novos edifícios-sedes, e equipamento — noutras palavras, uma denominação de material. Depois disso, se sobrar algum dinherio, o evangelismo torna-se o recipiente para realizar o trabalho que não pode ser engarrafado, rotulado e posto numa prateleira como acréscimo ao nosso acervo material. Naturalmente, os homens do momento percebem que o evangelismo é empreendimento pouco rendoso. E no que concerne ao que podemos ver e contar, isso aparenta estar logicamente certo.

Há, porém, outra face desta história, que apresenta a alternativa mais difícil de sermos homens do futuro, homens que crêem na serva de Deus, que escreveu: “A boa semente semeada pode jazer par algum tempo num coração frio, mundano e egoísta, sem dar mostras de que haja lançado raízes; mas freqüentemente o Espírito de Deus atua sôbre êsse coração, e rega-o com o orvalho celestial, e a semente longamente escondida brota e finalmente produz fruto para a glória de Deus. Não sabemos em nosso trabalho qual delas prosperará, se esta, se aquela. Estas não são perguntas a que nós, pobres mortais, respondamos.” — Testimonies, Vol. III, pág. 248 (Grifo nosso.)

César e Napoleão foram homens do momento. Estabeleceram impérios materiais. O apóstolo Paulo foi homem do futuro. Tal como César, construiu um império — mas era-lhe diferente em muitos aspectos. O império de Paulo não era de madeira, pedra e mármore, mas construído de corações vibrantes, tocados pelo Espírito Santo como resultado de suas atividades evangélicas.

Tiago White, Guilherme Miller e outros, andaram de cidade em cidade empunhando bem alto a espada flamejante da verdade do Advento. Eram homens do futuro — homens de visão e sonhos, com bastante firmeza e determinação com êles misturadas, para tornarem-nos realidades!

De todo o coração creio que temos em nossa Divisão homens do futuro! O espaço de que disponho não me permite apresentar, de cada União, ilustrações que provam êste fato. Meu grande desejo é ver mais e mais feito pùblicamente para chamar a atenção para a nossa mensagem. Precisamos possuir equipamento para fazer funcionar com eficiência o nosso programa, mas também temos de incluir em nosso raciocínio mais e mais a importância de planejar um programa definido de evangelismo público. Isso feito, e mais e renovada ênfase de tornar cada escola, hospital, clínica, Casa Publicadora, um veículo de ganhar almas, podemos cooperar para que a chuva serôdia seja derramada abundantemente em nossos trabalhos.

Desejo findar com o apêlo veemente da mensageira do Senhor: “A obra evangelística… deve ocupar mais e mais o tempo dos servos de Deus.” — O Evangelismo, pág. 17.