Tendo cumprido Seu ministério terrestre e estando prestes a ascender aos Céus, Cristo delineou a tarefa a ser cumprida por Sua lgreja: “Toda a autoridade Me foi dada no Céu e na Terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” (Mat. 28:18-20). Dessa forma, recebemos, como uma extensão daquele pequeno grupo de cristãos, uma missão definida e clara: evangelizar o mundo.
Ao refletirmos sobre essa passagem bíblica, não podemos impedir que algumas ponderações aflorem à mente. Em primeiro lugar, o desempenho da missão evangelística não teve seu início apenas com os discípulos. Jesus é seu autor. Chamou um grupo de homens simples e realizou com eles um trabalho de capacitação, tanto através da teoria como por Seu próprio exemplo, quando pelos caminhos e vaiados por onde passava, transformava em todos os sentidos a vida de homens e mulheres.
Essa maneira de o Mestre agir nos ensina que o cumprimento da missão não é exclusividade da liderança ou dos pastores. O Senhor determinou que o Seu trabalho seria executado através de um corpo terreno, individual e físico. Ele continua a mesma obra agora, através de um corpo complexo e orgânico que engloba o mundo inteiro – a Igreja. Dotou esse corpo com dons espirituais, capazes de muitas combinações. Legou aos membros da Igreja uma força que atua silenciosa mas poderosamente, em conseqüência da vida de Cristo dentro de todo crente.
Nenhum princípio de vida da Igreja se mostrou mais revolucionário do que o que ressalta da declaração de Paulo aos cristãos efésios (Efés. 4:11 e 12) no sentido de que o trabalho da Igreja no mundo deve ser efetuado pelos santos, e não apenas por um clérigo profissional ou por alguns leigos selecionados. Treinar e aperfeiçoar esses santos, ajudá-los a descobrir seus dons, para o emprego na missão, é a desafiadora tarefa do pastor. Afinal, os principais responsáveis pelo treinamento cristão eficiente dentro da comunidade eclesiástica são os que têm os dons de pastores e mestres (Efés. 4:11 ). Esse trabalho nada mais é que fazer discípulos.
Uma segunda ponderação a ser levada em conta é o fato de que missão evangelizadora não é um programa opcional, a respeito do qual uma igreja pode decidir colocar em prática ou não. Na verdade, é o modus vivendi da Igreja. É uma paixão que arde no coração de cada crente, impulsionando-o à ação. É o sangue que corre em suas veias espirituais.
No dizer de Leighton Ford, em seu livro A Igreja Viva, “evangelização é a paixão de Moisés: – ‘O povo cometeu grande pecado… Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-Te, do livro que escreveste.’ É a paixão de Paulo: ‘Ai de mim se não pregar o evangelho!’ É o grito de angústia de Jesus, ao chorar sobre a cidade impenitente: Ó Jerusalém, quantas vezes quis Eu reunir teus filhos.’ Evangelização é o grito de Knox: ‘Dá-me a Escócia ou eu morro’, e de Wesley: ‘O mundo é a minha paróquia.’… É David Brainerd tossindo sangue dos pulmões tuberculosos, quando sobre a neve orava pelos índios. É George Whitefield atravessando o Atlântico treze vezes em uma pequena embarcação para pregar nas colônias americanas. É a paixão que levou a aristocrática Lady Donithorne a entrar nas favelas proibidas da ‘Cidadela’ de Hong Kong para levar o bálsamo do evangelho a alcoviteiras e prostitutas, a viciados em entorpecentes e jogadores.”
Mas é também verdade que não se consegue interesse pela evangelização, automaticamente. Isso é fruto de um coração que pulsa na cadência do coração de Cristo. Quando o Cristo do trono final e o Cristo da cruz Se tornam o Cristo do coração, é impossível olhar para o mundo senão pelos olhos de Cristo, e partilhar com ele Aquele que significa tudo para nós. A evangelização que não procede de um coração cheio de Cristo descamba para o proselitismo, argumentação que tem como objetivo recrutar indivíduos para uma organização, mas não para um Salvador.
Um pastor que não investe no envolvimento evangelístico de sua igreja, vai tê-la sempre vazia, apática, fria e sem vida. P. T. Forsyth afirmou que “sempre se poderá medir o valor da cruz de Cristo pelo seu interesse [da igreja] em missões. A igreja que não é missionária mostra ser uma igreja sem cruz e se torna uma igreja sem fé”. Podemos dizer o mesmo a respeito do pastor. A igreja e a pessoa cristã somente se mantêm sadias quando têm uma das mãos estendidas para receber de Deus, enquanto a outra é estendida para partilhá-Lo com os semelhantes.
Diante de tudo isso, nenhum recurso humano ou tecnológico deve ser tido como dispensável na evangelização. Devemos fazê-lo pessoalmente, através do ministério da reconciliação, processo que “abarca a relação vertical do homem com Deus, através de Cristo, e com o semelhante”, no dizer do entrevistado deste mês. Com os modernos meios que facilitam a comunicação atualmente, como satélite, televisão, rádio, telefone e informática, podemos e devemos alcançar todas as camadas sociais. É assim que podemos levar-lhes uma mensagem que, tanto pela forma como pelo conteúdo, lhes capte a atenção e dê respostas para as perguntas que fazem. Jamais subestimando o que Deus pode fazer através de um exército de crentes treinado e capacitado para o trabalho.
– Zinaldo A. Santos.