A Igreja Adventista do Sétimo Dia nasceu como um movimento evangelístico. Um dos mais prósperos períodos de crescimento por ela experimentado seguiu-se à sua organização, depois de 1863. A taxa de crescimento entre 1870 e 1880 era aproximadamente 18,6%. Uma razão pela qual o institucionalismo e o evangelismo permaneceram compatíveis nessa Igreja foi o desenvolvimento das instituições adjunto ao evangelismo – as instituições médicas foram estabelecidas para evangelizar. As escolas, com o propósito de preparar a juventude para o evangelismo.

Uma mudança começou a ocorrer no pensamento adventista, quando a Igreja entrou no vigésimo século. Preocupações institucionais diminuíram o ímpeto evangelístico na América do Norte, resultando na queda do índice de crescimento para 3,6%, entre os anos 1900 e 1910.1 Ao retornar da Austrália para os Estados Unidos, em 1900, Ellen G. White ficou preocupada com a situação emperrada, e começou a pressionar pela organização de uma Igreja dinâmica e por um plano agressivo para o evangelismo nas cidades.

O desastre de 1902 – incêndio da casa Publicadora em Battle Creek, cidade que havia se tornado uma grande colônia adventista – tornou-se crucial.2 Isso foi um prelúdio para o evangelismo nas cidades do Leste, e, em 1903, o quartel general da Igreja mudou-se para Washington D.C.

Na assembleia da Associação Geral de 1909, o Pastor A. G. Daniells, presidente, relatou que mais de 500 pessoas haviam sido colocadas dentro do círculo administrativo denominacional, desde 1901, e havia pouco mais de 1.200 obreiros ministeriais em toda a Obra.3 Poucos dias depois das reuniões, no dia 11 de junho, Ellen White fez um apelo aos líderes ali reunidos, para uma ação evangelística nas cidades. Nessa ocasião, ela insistiu em que o Pastor W. W. Prescott, editor da Review and Herald, se dedicasse ao evangelismo. Disse ela: “Deus tem uma obra para o Pastor Prescott realizar, … ele seria um recipiente de muito maior força espiritual, se estivesse no campo buscando levar almas à luz da Verdade.” É bom lembrar que a Sra. White havia testemunhado a poderosa pregação evangelística do Pastor Prescott, numa reunião campal na Austrália.4

Em setembro de 1909, Ellen White novamente fez um fervoroso apelo a ministros e leigos sobre a necessidade de um esforço evangelístico sério em favor das multidões das cidades negligenciadas.Porém, não havia evidência tangível de ação. A Associação Geral apenas aprovou resoluções de pequenos planos, tais como distribuição de literatura nas cidades. No Concilio Outonal de 1909, nada foi discutido sobre evangelismo, em virtude de ter Leon Smith (filho de Urias Smith) atacado a posição de Daniells sobre o sacrifício diário de Daniel 8. Ele gastou todo o tempo da sessão defendendo seu ponto de vista nessa questão doutrinária.6

No mês de abril de 1910, Ellen White escreveu para o Pastor Daniells, responsabilizando-o pela falta de ação e compromisso. E, para enfatizar seu apelo, ela fez um giro pelas cidades do Leste, conduzindo reuniões evangelísticas com bons resultados.7 Daniells, empenhando-se em fazer o que pensava ser o melhor que podia, planejou pregar cinco noites em Nova York; e, como estava na Costa do Pacífico, viajou para Elmshaven para informar a Sra. White dos seus planos. Mas ela decidiu recebê-lo somente quando ele estivesse pronto a conduzir a obra evangelística que necessitava ser feita.8 O presidente comprometeu-se, através de uma carta, “a realizar os esforços para alcançar novos campos e dedicar meses em esforço pessoal com os obreiros, se necessário”.

Em junho de 1910, ela respondeu enfatizando que compromisso era uma coisa, e um plano bem-sucedido para implementá-lo era coisa diversa. Daniells levou a questão ao Comitê da Associação Geral que assumiu a responsabilidade por uma ação evangelística, liberando-o dos compromissos das reuniões campais, no verão daquele ano, bem como aceitando o cancelamento de uma viagem que o presidente faria à Austrália, em outubro. Todas as Uniões e Associações foram requisitadas a fazer do evangelismo nas cidades uma causa comum.

Ellen White deliciou-se com os resultados. A Igreja uma vez mais foi confirmada como um movimento evangelístico. Houve uma notável reversão da denominação que havia se tornado institucionalizada. Os índices de crescimento aumentaram e, em 1913, na 38ª assembleia da Associação Geral, ela elogiou os líderes pela nova direção evangelística. O auditório respondia com fervorosos “améns” e com lágrimas que escorriam à medida que Ellen White expressava sua confiança na liderança de Deus sobre a Igreja.9

Desde então, os planos quinquenais têm enfatizado a obra evangelística. Mais recentemente, na década de 80, por exemplo, houve os “Mil Dias de Colheita”, um projeto que levou ao batismo mil pessoas por dias, durante mil dias. Na década seguinte, houve a “Colheita 90″, uma abordagem mais balanceada do evangelismo, que focalizou o treinamento e a renovação espiritual, levando à duplicação dos resultados em batismos dos Mil Dias de Colheita. De 1990 até o ano 2000, a Igreja empreende a “Missão Global”, cujo alvo é instalar a presença adventista em todos os lugares do mundo.

Ameaça de morte

Muitas são as vozes que têm prenunciado o fim do evangelismo neste final de século. Algumas pessoas dizem que o evangelismo facilita o cristianismo de espectadores, não dando aos crentes a oportunidade de usar os seus dons. Outros dizem que os conversos não se unem a uma igreja que se reúne no sábado pela manhã, mas a uma igreja de cinco noites por semana, com vários recursos audiovisuais, ao som de um animado playback.

Podemos nós decretar a morte do evangelismo público nesta era da TV a cabo e diversões computadorizadas? Nesta época de crise financeira e de descrédito geral? Já na era pós-guerra de 1920, houve grande recessão que trouxe dificuldades financeiras à Igreja. Muitos pensaram que o evangelismo estava fora de uso. Com isso houve uma mudança de ênfase do evangelismo à cautela institucional. Entretanto, em 1930, surgiram evangelistas como Roy Allan Anderson e Harold M. S. Richards. A ênfase da mensagem foi posta no compromisso pessoal com Cristo. Surgiram novas técnicas como uso de tendas, introdução de figuras móveis, uso do evangelismo médico, além do primeiro programa de rádio a cargo de George Vandeman.

Nas décadas de 50 e 60, muitos temeram que o evangelismo estivesse em crise. Dois terços dos administradores e secretários ministeriais pensavam que o evangelismo estivesse obsoleto, ou consideravam que grandes campanhas públicas não eram mais praticáveis. Surgiram evangelistas como Earl E. Cleveland, cujas mensagens enfatizavam o cristianismo prático. O evangelismo tornou-se mais orientado à congregação. A Igreja dava maior prioridade a esse método.

Na mesma ocasião, na América Latina, existia um inconveniente. Os métodos de evangelismo público, idealizados para alcançar pessoas de origem protestante nos Estados Unidos, não eram adequados à população católica. Foi então que surgiu Walter Schubert, evangelista da Associação Chilena, decidido a mudar os métodos usados até então. Removeu dos convites a nomenclatura “conferências adventistas” e, ao invés de iniciar a série de palestras com Daniel 2, introduziu temas sociais, falando do “segredo da felicidade” ou “segredos de um casamento feliz”. Schubert apresentava-se como professor e eliminou a coleta de ofertas. O método alcançou tamanho êxito que foi adotado por todos os evangelistas da Divisão Sul-Americana, com excelentes resultados.10

Na década de 90, surgiram nomes como Mark Finley, George Vandeman Jr., e outros que utilizam os recursos da mídia eletrônica na proclamação das mensagens angélicas. Afinal, o evangelismo precisa adaptar-se às mudanças dos tempos. É contraproducente continuar usando sermões e métodos dos anos 60 e 70, no limiar de um novo século.

Roger Dudley, diretor do Instituto de Ministérios da Igreja do Seminário Teológico da Universidade Andrews, nos Estados Unidos, analisa que o presente custo do evangelismo público exige que a Igreja realize cuidadoso estudo para melhorar sua efetividade. Vários evangelistas estão pesquisando novas técnicas para avaliar e aprimorar seus métodos. É vital que examinemos os tipos de pessoas que a Igreja alcança através dos métodos vigentes, e então desenvolvamos novas abordagens.”

Segundo John Paulien, professor de Novo Testamento na Universidade Andrews, as campanhas geralmente tendem a alcançar certos tipos de pessoas e ignorar outras. Embora pessoas secularizadas raramente sejam alcançadas em grupo, o que limita a efetividade do evangelismo e de programas televisivos e radiofônicos, ele concluiu que o evangelismo tradicional adventista não deve ser abandonado, pois há muitas classes de pessoas, lugares e culturas que só serão alcançadas por esse método.12 Peter Wagner também enfatiza as cruzadas de evangelismo como um modelo de estabelecimento de novas igrejas em pequenas e grandes cidades, citando os adventistas do sétimo dia como veteranos.13

Respondendo aos críticos que questionavam o evangelismo por causa da apostasia, o avivalista Dwight L. Moody disse: “Deveria o fazendeiro recusar semear o campo porque nem todas as suas sementes germinam e crescem? É estimado que cerca de 90% de novos investimentos e empresas fracassam. Deveriam os homens desistir de iniciar novos empreendimentos porque tantos negócios fracassam? Uma criança nasce, mas eu não posso me regozijar, porque centenas de crianças morrem. Este é o argumento que o povo tem contra minhas campanhas: nem todos permanecem.”14

Há muita crítica aos homens que estão fazendo a obra na causa de Deus, Alguns gostam de perguntar: quantos já saíram? É verdade que esses homens perdem um bom número de conversos. Eles perdem muito mais do que outros ganham em um ano. Quando eles perdem 25, pensamos que é coisa séria. Mas não podemos perder 25 se não ganharmos muito mais do que isso. Quando um homem batiza 200 num esforço e perde 120, muitos falam sobre isso. Mas ele fez melhor do que o que batizou 30 e, com o tempo, perdeu 18. A porcentagem é a mesma. Quem terá maior condenação? Devemos ser menos críticos em relação aos outros e o Senhor nos usará para a Sua glória.

Crescimento da igreja

Gene Edwards observou que os edifícios das igrejas podem ser um dos maiores obstáculos ao evangelismo hoje. Não por sua mera existência, mas porque falhamos em sair deles. Se a Igreja Adventista deseja causar impacto no mundo, necessita tornar-se uma Igreja que invada a comunidade por Cristo.15

Por sua vez, Donald McGavran descobriu que as igrejas têm uma tendência incorporada no autocentrismo, e de crescer para dentro. “Essa tendência centrípeta precisa dar caminho para um vigoroso programa de extensão. É necessário que nós comecemos a enxergar as pessoas não alcançadas e por elas orar, planejar ganhá-las”, diz Mark Finley16. O congresso mundial de evangelismo realizado em 1974, em Lausane, Suíça, declarou o mesmo princípio ao afirmar que “necessitamos romper nossos guetos eclesiásticos e permear a sociedade não-cristã. Na missão de serviço sacrificial da igreja, evangelismo é prioritário”.17

Um estudo realizado entre igrejas adventistas da América do Norte, baseado em dados disponíveis sobre atividades, programas, batismos e crescimento congregacional, entre 1980 e 1990, revelou algumas características comuns às igrejas que mais crescem:

1. Competente liderança pastoral.

2. Dedicada liderança leiga

3. Programas variados que atendam às necessidades de diferentes grupos de pessoas.

4. Focalização na comunidade.

5. Atividades de pequenos grupos

6. Serviço de culto dinâmico.

7. Atmosfera de aceitação.

8. Senso de missão.

9. Evangelismo público.18

Em outra pesquisa, envolvendo mil igrejas em 32 países diferentes. Christian A. Schwarz confirma esses princípios, ao concluir que as oito marcas de qualidade em uma igreja que cresce são uma liderança capacitadora, ministérios orientados pelos dons, espiritualidade contagiante, estruturas funcionais, culto inspirador, grupos familiares e evangelismo orientado para as necessidades.19

Por outro lado, igrejas que não dão alta prioridade ao evangelismo experimentam uma correspondente baixa estima. Os membros perdem o entusiasmo e, com o tempo, tornam-se depressivos. Eles desenvolvem um complexo de inferioridade evangelística, crendo que a comunidade é resistente e indiferente.

Fred Smith está correto quando afirma que a igreja, para manter o contato com a comunidade, sempre necessitará novos convertidos para trazer outros, que, por sua vez, trarão outros mais. Porém, se não houver novos convertidos, a igreja morrerá por falta de sangue novo.20 O veterano professor de evangelistas adventistas, J. L. Schuler, enfatiza que quando a igreja deixa de ser evangelística, torna-se como um farol sem lua ou uma caldeira sem vapor. “A igreja que não é ganhadora de almas é uma igreja agonizante. Napoleão declarou que qualquer exército que permanece entrincheirado certamente é derrotado. A igreja precisa ser agressiva ou cessar de existir. E a única maneira de uma igreja ser agressiva é ser evangelística. Fazer discípulos deverá ser e necessita ser nosso principal negócio até o fim do mundo”, diz Schuler.21

Alguns pastores se tornam terrivelmente nervosos quando o evangelismo pastoral é discutido. Muitos têm a equivocada ideia de que Deus outorgou o dom do evangelismo apenas a alguns poucos. Acreditam no evangelismo, teologicamente, mas que ele é uma tarefa de especialistas. Argumentam que seu negócio é salvar almas motivando, treinando e organizando a igreja como uma agência de expansão do evangelho. Isso é o que Paulo quis dizer ao desafiar Timóteo: “faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério” (II Tim. 4:5). Paulo não estava aconselhando Timóteo a deixar as congregações sob seu cuidado e viajar para novos campos para realizar séries de conferências (embora isso às vezes seja necessário), mas a tornar evangelística sua obra pastoral.

No século 21

O evangelismo da Igreja Adventista do Sétimo Dia precisa acompanhar as mudanças. Em tempos passados, H. M. S. Richards alugou um gorila para divulgar seu sermão sobre evolucionismo. Em São Francisco, 1962, surgiu o uso da luz negra. Em Detroit, 1966, apareceu o plano “Como Deixar de Fumar em Cinco Dias”. Hoje, os evangelistas que causam maior impacto são os que utilizam o rádio e a TV em cruzadas públicas. Mark Finley inaugurou a campanha evangelística transmitida via satélite para 45 países dos continentes europeu e americano.

Há uma tendência, entre os pastores, de se construir uma base de apoio para a transmissão, via satélite, de campanhas a partir das igrejas, tornando-as centros de evangelismo com equipes que oferecem a melhor pregação e a melhor música. Alguns evangelistas usam a influência do rádio em um processo de evangelismo interativo, onde as decisões são alcançadas em semanas de colheita.

Em 1978, o instituto de pesquisas Gallup realizou uma pesquisa sob o título The Unchurched American (O Americano Sem Igreja). Uma das questões a que os entrevistados deveriam responder era: “Se você fosse frequentar uma igreja, que tipo procuraria?” As pessoas responderam que procurariam uma igreja onde pudessem discutir suas dúvidas religiosas, abertamente, num ambiente de aceitação. E também uma igreja preocupada em trabalhar pela melhora da sociedade.22

Estima-se que cerca de 60% das pessoas não respondem aos apelos espirituais. Elas estão cansadas de religião, dos apelos por dinheiro, dos truques usados para induzir as pessoas à fé e dos interesses políticos. Mas assistiriam a programas que suprissem às suas necessidades, tais como cursos de saúde, seminários sobre administração do tempo, vida familiar, controle do estresse, nutrição, estilo de vida, alfabetização, estudo de idiomas, etc.

A hierarquia das necessidades proposta por Maslow23 sugere que as necessidades de segurança, sentir-se amado e amar, autoestima, de realizar algo significativo na vida, fazem parte da personalidade humana. As pessoas são motivadas a fazerem aquilo que lhes satisfaça as necessidades. Pessoas não se unem a igreja simplesmente por serem verdadeiros e bíblicos os seus ensinos. Poucos farão isso. Elas mudam porque há uma oferta de algo pessoal na forma de uma vida mais satisfatória.

O método de evangelismo no século 21 continuará sendo o método de Cristo. “O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me.’”24

John Wesley, o grande pregador metodista, é sempre considerado como um dos maiores evangelistas de todos os tempos. Sua audiência chegava às vezes a vinte mil pessoas. Mas os apelos de Wesley eram para que homens e mulheres se unissem às classes. Era nessas classes ou pequenos grupos que os indivíduos eram instruídos na vida cristã. O interesse era desenvolvido em grandes reuniões evangelística, mas as pessoas experimentavam crescimento espiritual e consolidação de sua nova fé, nas pequenas células.

Em 1763, Wesley fez uma declaração que se torna atualíssima em nossos dias: “Estou convencido mais do que nunca que pregar como um apóstolo, sem juntar depois os convertidos e treiná-los nos caminhos de Deus, é somente gerar filhos para o matador.”25 Wesley não era perturbado pelas elevadas taxas de apostasia verificadas no trabalho de George Whitefield, na América do Norte, que, por sua vez, declarou: “meu irmão Wesley agiu sabiamente. As almas despertadas em seu ministério ele as juntou em classes, e assim preservou os frutos de seu labor. Isto eu negligenciei e meu povo é frágil como cordas de areia.”26

Essa é a razão pela qual Wesley se recusava a pregar em qualquer lugar onde não pudesse dar continuidade à sua pregação através das sociedades organizadas sob adequada liderança. O metodismo cresceu rápido nos Estados Unidos através dos pequenos grupos e evangelismo na forma de campais, afetando, de certa maneira, a Igreja Adventista; afinal, Ellen White era metodista.

Em 1890, quando a Sra. White se encontrava na Austrália, alguns eventos contribuíram para o que é conhecido como Reavivamento Welsh, nos arredores de Melbourne.27 Pastores de outras denominações organizaram os membros em grupos de estudo da Bíblia, oração e testemunho.

Logo havia no local cerca de dois mil grupos reunindo-se semanalmente. Os pastores envolvidos nesse ministério convidaram o evangelista interdenominacional R. A. Torrey, que conduziu campanhas evangelísticas com excelentes resultados. Isso causou impacto à igreja na Austrália e, durante esse tempo Deus mostrou a Ellen White a importância dos pequenos grupos. Em 15/08/1902, ela deu a seguinte mensagem: “A formação de pequenos grupos, como uma base de esforço cristão, é um plano que tem sido apresentado diante de mim por Aquele que não pode errar.”28

Kurt Johnson sugere quatro passos no planejamento de pequenos grupos com ênfase evangelística:29

  • 1. Levar as pessoas a se reunirem em pequenos grupos com propósito de atender às suas necessidades e depois familiarizá-las com as Escrituras e Jesus Cristo. Período de um a dois meses.
  • 2. Oferecer às pessoas a oportunidade para um programa de estudos avançados que poderá tornar-se uma classe bíblica, ou classe batismal.
  • 3. Série de decisão ou reuniões de colheita. A campanha poderá ser uma série de duas semanas ou uma série tradicional de seis semanas.
  • 4. Assimilação do indivíduo à igreja através de pequenos grupos, num programa de discipulado.
Campanhas de colheita

Uma filosofia defeituosa de abordagem evangelística surgiu na Igreja Adventista do Sétimo Dia com a influência do Dr. John Kellogg, que influenciava a liderança da obra a desenvolver um estilo de evangelismo moldado pelo trabalho de D. L. Moody e Billy Sunday.30 A diferença entre o evangelismo adventista e o de Moody pode ser visto na comparação do trabalho de Wesley e Whitefield. Este era calvinista e cria na predestinação. Isso o levava a focalizar o apelo na decisão de seus ouvintes, e então concluir que os que fizeram a decisão estavam eleitos e salvos. Pouquíssimos resultados permaneceram de seu trabalho.

Wesley, crendo que o verdadeiro cristianismo era uma restauração da imagem de Deus no homem, focalizou seus esforços não tanto nas decisões, mas no período prolongado de instrução nas classes bíblicas ou sociedades que desempenharam significativa função na permanência dessas pessoas na igreja.31

Uma campanha de decisão coerente baseia-se na estratégia de uma preparação prévia, com meses de antecedência, onde as igrejas organizam várias classes bíblicas com o objetivo de ter os candidatos prontos para o batismo. Os leigos devem ser instruídos e motivados para que, mediante os estudos bíblicos, os pequenos grupos e trabalho pessoal tenham no início da campanha o maior número possível de interessados. Então, numa série intensiva, com reuniões todas as noites, por um espaço de 16 dias, o evangelista prega temas de recapitulação doutrinária para levar à decisão.

Para o pastor que tem muitos encargos e responsabilidades nos aspectos organizacional e institucional da igreja, esse programa surge como uma oportunidade de utilizar todos os recursos – financeiros e humanos – para uma cruzada de colheita nos lugares onde os membros semearam durante o ano. É sabido que a dificuldade dos membros encontra-se no momento de alcançar decisões, e muitos se frustram ao não verem resultados de seus esforços. Mas quando o pastor participa nessa fase com a sua experiência, o resultado é o crescimento local.

Pluralidade de métodos

A experiência de Daniells, em 1909, revela a clara visão que o Senhor deseja que líderes e pastores tenham acerca do empreendimento do evangelismo na conquista de novas cidades para o Seu reino, bem como do uso da influência de sua posição em ajudar, fortalecer e desenvolver a obra evangelística. Assim, a prioridade das comissões e mesas administrativas deveria ser o planejamento de estratégias de missão, ao invés de manutenção institucional.

O evangelismo não está morto, mas precisa atualizar seus métodos e abordagens, a partir dos métodos convencionais. Não se pode ignorar o evangelismo público. É uma distorção do ensino bíblico dos dons espirituais tentar convencer a todo o crente a se envolver em um só método de testemunhar, em detrimento de outros. Pluralidade de dons exige pluralidade de métodos. Peter Wagner disse que numa igreja média pode-se esperar que aproximadamente 10% de seus membros adultos ativos possuam o dom do evangelismo, e a Igreja precisa oferecer motivação e meios para que eles desenvolvam seus dons em sintonia com os programas denominacionais.

Assim como havia o perigo de a igreja de Corinto exaltar algum dom em prejuízo de outro, como líderes podemos frustrar a Igreja ao projetarmos um só método de trabalho, querendo que o corpo inteiro de Cristo seja o “olho”.

Por fim, creio que métodos e técnicas separados do compromisso pessoal com Cristo são como os ossos secos da visão de Ezequiel. A paixão pelas almas, desenvolvida por uma presença interior do Espírito de Deus tem caracterizado todo verdadeiro missionário. George Whitefield orava: “Oh! Deus, dá-me almas ou toma a minha.”

Quando o general William Booth, aos 75 anos de idade, foi convidado ao Palácio de Buckinghan, por Eduardo VII, ele resumiu a obra de sua vida, ao assinar o livro de visitas do rei: “Sua Majestade, a ambição de alguns homens é a arte, a ambição de outros é a fama, e alguns homens ambicionam o ouro. Mas a minha ambição é as almas dos homens.”

Ellen White ecoa esse mesmo sentimento na seguinte declaração: “A obra acima de todas as obras – o negócio acima de todos que deve atrair e dedicar as energias da alma – é a obra de salvar almas pelas quais Cristo morreu. Faça desta a principal, a mais importante obra da sua vida. Faça disso a especial obra de sua vida.”

Referências

1 Russell Burrill, Field Evangelism. Berrien Springs. Ml: Instituto de Evangelismo da Divisão Norte-Americana. 1992. pág. 10

2 C.Mervyn Maxwell. História do Adventismo. Santo André. SP: Casa Publicadora Brasileira. 1982. pág. 272.

3 Russell Burrill. Op. Cit., pág. 11.

4 Arthur White. The Later Elmshaven Years. Washington D.C.: Review and Herald Publishing Association. 1982. págs. 220-222.

5 Ellen White. Evangelismo. 2ª ed.. Santo André. SP: Casa Publicadora Brasileira. 1978. págs. 25-43.

6 Russell Burrill. Op. Cit., pág. 12.

7 Idem. pág. 11.

8 Arthur White. Op. Cit. pág. 223.

9 Idem. págs. 388 e 389.

10 Marcos Blando, Walter Schubert. Logos Revista de Ia Facultad de Teologia de Ia Universidad Adventista del Plata. N° 2. 1997. pág. 5 e 6.

11 Roger L. Dudley & Dez Cummings Jr.. Adventures in Church Growth. Washington D.C.: Review and Herald Publishing Association. 1983. pág. 152.

12 John Paulien. Present Truth in Real World. Boise idaho: Pacific Press Publishing Association. 1993. págs. 36 e 37.

13 C. Peter Wagner, Plantar igrejas para a Grande Colheita. São Paulo. SP: ABBA Press. 1993. pág. 92.

14 Moody Latest Sermons. Chicago: Moody Bible lnstitute of Chicago. 1900. pág. 110.

15 Mark Finley. Padded Pews or Open Doors. Boise. Idaho: Pacific Press Publishing Association. 1998. pág. 9.

16 Idem, idem

17 Daniel J. Rode. Fundamentos de Crecimiento de Iglesia. Apostila para o doutorado em teologia pastoral. Engenheiro Coelho. SP: 1996. pág. 69.

18 John W. Fowler. Evangelism Two Thousand. Boise idaho: Pacific Press Publishing Association. 1994. págs. 117-122.

19 Christian A. Schwarz. 0 Desenvolvimento Natural da Igreja. Curitiba. PR: Editora Evangélica Esperança. 1996. págs. 15-35.

20 Fred Smith, La Dinamica del Iglecrecimiento. Miami. FL: Editorial Caribe. 1993. págs. 90-91.

21 J. L. Schuler. Public Evangelism. Washington D.C.: Review and Herald Publishing Association. 1940. pág. 16.

22 In Mark Finley, Op. Cit., pág. 32.

23 Humberto M. Rasi. editor. Meeting the Secular Mind. Berrien Springs. Ml: Imprensa da Universidade Andrews. 1987. pág. 103.

24 Ellen White. A Ciência do Bom Viver. 4ª ed.. Tatuí. SP: Casa Publicadora Brasileira. 1990. pág. 143.

25 Mark Finley. Op Cit., pág. 30.

26 Idem. idem.

Kurt Johnson. Small Group Outreach. Hagerstown. MD: Review and Herald Publishing Association. 1991. pág. 19.

28 Ellen White. Evangelismo. pág. 115.

29 Kurt Johnson. Op Cit., págs. 77-79.

30 Russell Burrill. Op. Cit., pág. 18.

31 J. D. Douglas. O Evangelismo e o Mundo Atual. São Paulo. SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. 1986. pág. 175.

EMÍLIO ABDALA, Professor de Teologia Aplicada e evangelista do Seminário Adventista Latino-americano de Teologia, no Iaene, Cachoeira, BA