Aqui estamos reunidos, a igreja de Deus e Seu ministério, para a ordenação de treze novos pastores.

A ordenação de um ministro na Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma das ocasiões mais comoventes e uma das mais belas cerimônias. É a separação e investidura de um homem, chamado por Deus e eleito por Êle, para o exercício da mais bela e santa das vocações: o Ministério Evangélico.

Esta separação e investidura é feita pela oração e imposição das mãos do santo ministério.

Quando nos lembramos que Deus teve um único Filho e O fêz Ministro, compreendemos a solenidade e importância dêste momento, especialmente quando se dá a imposição de mãos.

Jesus Cristo deixou tudo, Seu Pai, Seu trono, Seus companheiros e veio como missionário a esta Terra para ser um Ministro do reino de Deus. Paulo também deixou tudo para ser um ministro; também Pedro e André, João e Tiago, e Mateus, e Zaqueu e nós, e tantos outros; e hoje também vós, os treze.

“Eu Vos Escolhi …”

De um dos sermões de Jesus Cristo, o grande Pastor das ovelhas, desejo tirar alguns pensamentos para vossa meditação esta tarde, mas que também vos acompanhem em vossa vida como ministros. Refiro-me às palavras que encontramos no capítulo 15 do Evangelho de São João.

Êste capítulo 15 é um dos maravilhosos capítulos da Bíblia e está entre outros dois também mui importantes: o 14, onde o grande Pastor anuncia que virá outra vez e o 16, onde Êle dá a certeza do êxito de Sua missão nas seguintes palavras: “Tenho-vos dito estas coisas, para que em Mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo.” (V. 33.) (Grifos nossos.)

Porém, é no capítulo 15 que o Senhor fala duma maneira tôda Sua, da união íntima e necessária que deve haver entre Êle e Seu obreiro, antes que volte para estabelecer o reino eterno. Creio que êste sermão do grande Pastor se aplica a nós hoje e são suas palavras que usarei neste momento de vossa ordenação.

Desejo, entretanto, ressaltar o verso 16 e impressionar-vos com o que o Senhor diz ali: “Vós não Me escolhestes a Mim, mas Eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em Meu nome, Êle vo-lo conceda.” (Grifos nossos.)

Notemos como algumas traduções apresentam êste versículo:

Revisada de Valera, em castelhano: “No me elegísteis vosotros a mí, mas yo os elegi a vosotros; y os he puesto para que vayáis y llevéis fruto. …” (Grifos nossos.)

American Standar Edition (1901), em inglês: “I have chosen you, and ordained you . . .” (Eu vos tenho escolhido e ordenado . . .) (Grifos nossos.)

Que pensamento! Um homem ser escolhido, eleito, designado e ordenado por Deus para o trabalho especial de levar almas a Jesus! Não há outro objetivo neste serviço de ordenação. Vós não estais sendo separados para outra responsabilidade que não seja a salvação de almas. Jesus “veio buscar e salvar o que se havia perdido (S. Luc. 19:10), e esta é também a vossa principal missão.

Ser ordenado como Ministro de Deus é assumir a maior responsabilidade jamais imposta a um homem!

Deus sempre escolheu e separou homens: Abraão, Moisés, Eliseu, Isaías, Paulo, a nós e a vós hoje. Que segurança e conforto saber que é Jesus mesmo quem escolhe e ordena. Posso vê-Lo andando pela Judéia e a linda Galiléia buscando homens (S. Mat. 4:18-22). Junto ao lago de Genesaré Êle chamou a Pedro e André, filhos de João; no caminho para a Galiléia chamou a Tiago e João, filhos de Zebedeu; mais tarde a Levi Mateus, filho de Alfeu.

Hoje também o Senhor escolheu e separou para o santo ministério a Juan, filho de Castilho; a Warren, filho de Ashworth; a Benjamin, filho de Gomez; a José, filho de Luque; a Carlos, filho de Marsollier; a Jorge, filho de Mato; a Pedro, filho de Orué; a Alberto, filho de Pereira; a Júlio, filho de Peverini; a Nestor, filho de Sand; a Victor, filho de Schultz; a Gilberto, filho de Treves e a Pedro, filho de Tabuenca.

Vós sereis os nossos cooperadores e pastores do rebanho do Senhor.

Como e onde o grande Pastor vos usará? Se Êle nos pudesse antecipar o futuro de cada um, diria que alguns terão de dedicar-se à dura e espinhosa tarefa de administrar; outros serão professores, departamentais e a maioria continuará como pastores e evangelistas; Já temos um médico e um redator entre os treze, assim como havia um Lucas, também médico e escritor, entre o grupo.

Alguns serão chamados a lugares duros e difíceis na pátria ou no estrangeiro e, quem sabe, um terá de dar até a sua vida pela sua fé. Esta foi a experiência dos valdenses. Acabo de ler um livro sôbre os valdenses, êste povo fiel, muitas vêzes quase dizimado, mas duma fé a tôda prova em seus dias! Dentre seus líderes destaca-se Josué Giavanelo, herói de Rorá, que num momento épico, cercados pelos inimigos disse aos seus concidadãos: “Nada seja mais forte que a tua fé!” Estais dispostos a fazer o mesmo?

Os dias que estão diante do ministério adventista são dias que pedirão de vós mais e mais fidelidade, valor e sacrifício. Paulo, escrevendo a sua segunda carta a Timóteo, disse: “Sofre comigo como bom soldado de Cristo Jesus. Nenhum soldado em serviço se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. . . . Fiel é esta palavra: se, pois, já morremos com Êle, também com Êle viveremos; se perseveramos, com Êle também reinaremos …” (Cap. 2:3, 4, 11 e 12.)

A irmã White deixou-nos a seguinte advertência: “Perto está o tempo em que ao mundo sobrevirá tal dor que nenhum bálsamo humano a poderá curar. O Espírito de Deus está sendo retirado. . . . Mas os fiéis mensageiros de Deus devem prosseguir firmemente com sua obra. Revestidos com a armadura do Céu, devem avançar destemida e vitoriosamente, jamais cessando de lutar.” — Serviço Cristão, págs. 52 e 56.

Como podereis avançar com segurança a vitória? Voltemos ao maravilhoso capítulo 15. Ali o grande Pastor nos mostra quatro passos que nos ajudarão a viver uma vida ministerial vitoriosa:

  • 1. “Permanecei em Mim.” (V. 4.)

Isto é, comunhão com Jesus no ministério! Como? “Se vós permanecerdes em Mim e as Minhas palavras permanecerem em vós . . . (V. 7 PP-) (Grifos nossos.) Sim, o estudo e meditação da Palavra de Deus é que identifica o ministro com o grande Pastor. O resultado? “Quem permanece em Mim e Eu nêle, êsse dá muito fruto. . . . Nisto é glorificado Meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis Meus discípulos.” (Vs. 5 e 8.) (Grifos nossos.)

  • 2. “Pedi o que quiserdes.” (V. 7, segunda parte.)

Isto é vida de oração com Jesus no ministério! O poder da oração é algo extraordinário. Escreveu Jorge Müller: “Não há nada mais temido por Satanás que a oração. … O que mais interessa a Satanás é impedir que os cristãos orem o suficiente. . . . Êle se ri do nosso trabalho, caçoa de nossa sabedoria, mas treme quando oramos.” (O resultado de orar?) “Pedi … e vos será feito.” (V. 7, última parte.)

  • 3. “Permanecei no Meu amor.” (V. 9, última parte.)

Isto é o amor a Jesus no ministério. Como? “Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor; do mesmo modo que Eu Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai, e permaneço no Seu amor.” (V. 10.) (Grifos nossos.) Sem dúvida, que o homem moderno está no caminho da ilegalidade; a lei seguida será a da fôrça, do mais forte; a lei do amor de Deus será conspurcada, criticada e quebrada, porque o egoísmo e o orgulho tomarão o lugar do amor. Mas o ministro de Deus deverá ser fiel à lei; deverá estar na brecha tapando o muro. Obedecer é permanecer no amor de Deus.

  • 4. “Que vos ameis uns aos outros.” (V. 12.)

Isto é o amor ao próximo no ministério. Como cumprir êste mandamento? “Assim como Eu vos amei” (V. 12, última parte). (Grifos nossos.) Continua Jesus: “Ninguém tem maior amor do que êste, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (V. 13). (Grifos nossos.) Livingstone escreveu (em 1851): “É alguma coisa ser missionário. . . . Deus teve um único Filho Êle foi missionário. … É alguma coisa seguir, por mais débeis que sejamos, as pisadas do grande Mestre e missionário-modêlo. . . . Eu sou um bem pobre imitador, porém desejo continuar sendo Seu imitador. Eu espero viver em Seu serviço e ali quero morrer. É uma grande honra ser um colaborador de Deus.” O ministro deve amar o seu semelhante; aquêle que não ama não pode ser ministro. A vida do ministro é uma vida de amor. Em vosso ministério, amai, amai a todos sem distinção de raça, de pele, de educação, de religião. Se fôr necessário, amai até dar a vida, como Jesus fêz.

Conclusão

Por que Jesus pronunciou êste sermão?

Eis a resposta: “Estas coisas vos tenho dito, para que o Meu gôzo permaneça em vós, e o vosso gôzo seja completo.” (V. 11.) (Grifos nossos.)

Sim, não há maior gôzo que ser um ministro ganhador de almas. Eu disse no início que via entre vós um presidente, um departamental, diretor de colégio, gerente etc. Mas, não são estas responsabilidades que dão gôzo. Pelo contrário, dão aquela classe de preocupação que aflige. Entretanto, uma vida permanente em Jesus, em Seu amor e no amor ao próximo é uma vida de gôzo, aquêle gôzo completo de que fala o grande Pastor.

É justamente isto que Êle vos está dizendo nesta tarde: “Vós não Me escolhestes a Mim, mas Eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em Meu nome, Êle vo-lo conceda. Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros.” (Vs. 16 e 17.)

Dentro de poucos minutos recebereis a imposição das mãos. Será um momento de gôzo para cada um de vós. Que êste gôzo, o gôzo de um ministério vitalício, permaneça convosco cada dia.

Lutai cada dia, até o fim.

Quando a luta terminar, virá então o gôzo completo: ver a Jesus face a face! Ver as almas que cada um de vós salvou!

Ê chegado o momento da imposição das mãos. Ouvi uma vez mais as palavras do grande Pastor: “Mas Eu vos escolhi a vós, e vos designei . . .”