É provável que você, ao ouvir sobre os problemas que ocorrem na Igreja Adventista e seu ministério, nos chamados países do Primeiro Mundo, seja levado a pensar que na América do Sul, demonstramos ser mais éticos em nosso procedimento. Talvez fosse assim, quando éramos poucos; ou quando estudávamos em colégios pequenos, onde Teologia era a matéria dominante, por excelência, no campus.

Mas a Igreja não é mais a mesma de ontem. O número de pastores cresceu significativamente, o Manual da Igreja passou por várias revisões, assim como o Manual para Ministros. As praxes de cada Divisão são cada dia mais volumosas. Finalmente, a Igreja do final do século 20 enfrenta problemas éticos que são cada dia mais abarcantes e complexos.

Não é possível opinar ingenuamente sobre a ética pastoral adventista. Certamente devemos refletir, tendo em mente o ministério co-mo um todo e sobre as formas pelas quais ele deve ser apoiado. Mas que perfil deveria ter um sistema de apoio aos pastores?

Justiça e eqüidade

Os ministros são parte do povo remanescente. Dessa forma, somos, eticamente falando, um grupo de alto risco. A advertência apostólica é clara: Satanás anda como leão rugindo, procurando a quem tragar. E evidente que parte dos riscos éticos de um pastor estão associados a seu nível de vida, à própria natureza de sua atividade, entre outros fatores.

Com a implantação do programa de Doutorado em Teologia Pastoral e de outros programas do Salt, abriu-se a oportunidade de reflexão mais sistemática com respeito ao problema em consideração.

O benefício do programa de Doutorado em Teologia Pastoral toma-se mais relevante enquanto o avanço econômico, tecnológico, científico e de toda ordem, em vários países da América Latina, faz com que pessoas da Igreja e fora dela tenham maior consciência dos problemas éticos que necessitam encarar. O progresso solucionou alguns deles, mas fez surgirem muitos outros.

Portanto, um bom sistema de apoio aos pastores deve reunir pelo menos três características: deve ser um sistema ao alcance da totalidade dos pastores; deve ser desenvolvido de acordo com as possibilidades financeiras da Igreja; e, finalmente, deve preservar a moral e a tradição familiar ministerial adventista. Nenhum sistema será apropriado se revelar os dois primeiros aspectos em detrimento do terceiro.

Um tal sistema de apoio também deve tratar de conseguir três racionalidades:

  • 1. Racionalidade política. Isto é, conseguir eqüidade, o que implica a eliminação de toda e qualquer desigualdade. Para isso, é bom revisar os votos da Divisão Sul-Americana, referendados pelas Uniões (Penalidades por negligência administrativa), relacionados às sanções impostas aos administradores que não exerçam apropriadamente suas funções (DSA, voto 96-223). É evidente que a decisão de designar recursos, de maneira justa, tem suscitado o problema de critérios para sua distribuição numa igreja mundial com recursos limitados e escassos. O citado voto também parece uma tentativa de situar todos os obreiros assalariados da Igreja Adventista num plano de igualdade, diante dos seus regulamentos.
  • 2. Racionalidade técnica. Trata da eficácia na ação, impacto proporcional ao esforço realizado em matéria de apoio ao pastor.
  • 3. Racionalidade administrativa. Quer dizer, eficiência. Ou que o melhor impacto seja produzido ao menor custo operacional possível.

Historicamente sempre existiu um conceito de justiça com proporcionalidade natural. Os anglo-saxões, por exemplo, o expressavam com a frase: “Aplique o castigo adequado ao crime”. O Código de Hamurabi, cerca de quatro mil anos atrás, continha normas com uma lógica elementar:

“Se um homem tira um olho de outro homem, terá seu olho tirado; e se arrancar um dente, também terá seu dente arrancado (Art. 196).

“Se um médico operar uma pessoa e lhe causar a mor-te, ou, na tentativa de curar uma catarata, lhe vazar o olho, será castigado tendo a mão decepada (Art. 215).” Aqui é levada em conta a probabilidade de risco, e mostra como era concebido o exercício da medicina naqueles dias. Nesse caso, a vantagem do médico se resumia a estar livre da morte, embora perdesse a mão.

No caso do arquiteto, era diferente: “Se uma casa for mal construída e cair, matando seu proprietário, o arquiteto será castigado com a morte.”

Provavelmente, muitas pessoas do final do século 20 raciocinem de forma parecida ao que se praticava nos dias de Hamurabi. Ou façam de forma inteiramente diferente. Naquele Código, havia ainda um artigo que dizia: “Quando uma mulher casada se negar ao marido, será lançada ao rio.” Isso dispensa comentários.

Que se deveria então fazer quando um templo é mal construído? Ou quando um tesoureiro é culpado de fraude? Que atitudes deveriam ser tomadas diante de um sem-número de coisas erradas, feitas dentro da Obra? Talvez o primeiro pensamento que nos vem à mente é que, se temos de errar, devemos fazê-lo do lado da misericórdia. Contudo, tanto a misericórdia como a caridade são esgotáveis. Portanto, requer-se que um sistema de apoio ao pastor tenha sua base moral na justiça, na eqüidade e na misericórdia. E isso tem fundamento bíblico.

Existem várias razões para desenvolvermos o hábito de pensar: Fomos dotados por Deus com essa capacidade, relacionamo-nos com pessoas, idéias e conceitos alheios. Pensar, raciocinar e arrazoar são peculiaridades da raça humana, criada por Deus.

Estímulo ao pensamento

Um sistema de apoio deve estimular o pensamento e a reflexão de seus pastores e demais integrantes.

“Examinai as Escrituras” (João 5:39), foi o conselho de Cristo, dado na forma indicativa, tempo pre-sente – “Vocês estão estudando as Escrituras…”

Paulo aconselhou a Timóteo no sentido de crer e manter a verdade (II Tim. 1:13 e 14), sem que fosse simplesmente um guarda de museu (II Tim. 2:15), isto é, esperava que Timóteo interpretasse a Palavra de acordo com as necessidades do rebanho. Entre 1886 e 1888, Ellen White também transmitiu um conselho para os obreiros que facilmente desejavam que George Buttler e Urias Smith pensassem e decidissem somente sobre questões da Lei em Gálatas e os dez reinos de Daniel.

Existem várias razões importantes para desenvolvermos o hábito de pensar. Algumas delas podem ser relacionadas: Fomos criados à imagem de Deus, dotados da capacidade de pensar. Relacionamento é uma das expressões dessa imagem. Relacionamo-nos com pessoas, idéias e conceitos alheios. Pensar, raciocinar e arrazoar são peculiaridades da raça humana, criada por Deus.

O cristão adventista entende primeiro, e depois crê. Refletir sobre a doutrina bíblica, não somente dirige a mente por canais corretos, mas é parte central do que significa ser um cristão (Rom. 10:9).

Pensar e refletir no que cremos alimenta a mente, ajudando a rechaçar o que não lhe serve de alimento. Também contribui para ter um espírito aberto e evitar a intolerância em relação aos que pensam diferente de nós. Alguns pastores querem, às vezes, formular e aplicar regulamentos e normas que funcionam apenas em sua cabeça. Deixar de pensar naquilo que eu creio e faço, induz a não pensar no que os outros crêem e fazem.

“Tão fraca, ignorante e sujeita ao erro é a natureza humana, que devemos ser cautelosos na maneira de julgar o próximo.”

O ato de pensar por si mesmo favorece a elaboração de novas idéias e métodos. Por isso, jamais deveria ser reprimido pelos líderes. Ellen White adverte: “Os guias dentre o povo de Deus de-vem precaver-se contra o perigo de condenar os métodos de obreiros que são pelo Senhor levados a fazer uma obra especial que só poucos estão habilitados para desempenhar. Sejam os irmãos que estão em cargos de responsabilidade, cuidadosos em criticar maneiras de proceder que não estejam em perfeita harmonia com seus métodos de trabalho. Não suponham jamais que cada plano deva refletir a sua própria personalidade.” (Obreiros Evangélicos, pág. 488).

No entanto, como que prevendo o perigo do fracionamento da unidade ministerial, em nome do equilíbrio, ela também afirmou: “O espírito de afastamento de companheiros na obra, o espírito de desorganização, está no próprio ar que respiramos. Por alguns, todos os esforços por estabelecer ordem são considerados perigosos – como uma restrição da liberdade individual… Estas almas iludidas consideram virtude jactar-se de sua liberdade em pensar e agir independentemente. Declaram que não aceitam a opinião de homem algum; que não são responsáveis para com homem nenhum.” (Idem, pág. 501).

Agentes sustentadores

seguir, enumeramos variados recursos que podem ajudar ao pastor, nos aspectos pessoal, familiar, de capacitação, etc. As sugestões foram extraídas dos escritos de Ellen White.

  • 1. Espiritualidade. “A posição dos que foram chamados por Deus para trabalhar por palavra e doutrina em favor do levantamento de Sua Igreja, é de extrema responsabilidade. Cumpre-lhes rogar, a homens e mulheres, da parte de Cristo, que se reconciliem com Deus; e eles só podem cumprir sua mis-são ao receberem sabedoria e poder de cima.” {Obreiros Evangélicos, pág. 13).
  • 2. Mudança de atitudes pessoais. “Todas as relações sociais exigem o exercício do domínio próprio, tolerância e simpatia.

Diferimos tanto uns dos outros em disposições, hábitos e educação, que variam entre si nossas maneiras de ver as coisas. Julgamos diferentemente. … Tão fraca, ignorante e sujeita ao erro é a natureza humana, que todos devemos ser cautelosos na maneira de julgar o próximo. … Muitas pessoas têm desempenhado tão poucas responsabilidades, seu coração tem experimentado tão pouco as angústias reais, sentido tão pouca perplexidade e preocupação em auxiliar o próximo, que não podem compreender o trabalho de quem tem verdadeiras responsabilidades. São tão incapazes de apreciar seus trabalhos, como a criança de compreender os cuidados e fadigas do preocupado pai.” {Idem, págs. 473 e 474).

Recomendamos uma leitura atenta dos capítulos “Unidade na diversidade” e “Espírito de independência”, do livro Obreiros Evangélicos.

  • 3. Estilo de vida natural. O pastor deve lançar mão dos oito remédios naturais, aconselhados por Ellen White: Água pura, ar puro, luz solar, repouso, exercício, abstinência do que é prejudicial, temperança e confiança no poder de Deus.
  • 4. Família (esposa). “Se a esposa do ministro o acompanha em viagens, não deve ir apenas para seu próprio prazer, para visitar e ser servida, mas para com ele trabalhar. Deve ter os mesmos interesses que ele em fazer bem. Convém que tenha boa vontade de acompanhar o marido, caso os cuidados da casa a não impeçam, e deve ajudá-lo em seus esforços para salvar almas. Com mansidão e humildade, mas todavia com confiança em si mesma, deve exercer no espírito dos que a rodeiam uma influência orientadora, desempenhando seu papel e levando sua cruz e encargos na reunião, em tomo do altar da família e na conversação no círculo familiar. O povo assim o espera … Uma irmã obreira na causa da verdade pode compreender e tratar, especialmente entre as irmãs, de certos casos que se acham fora do alcance do ministro.” (Idem, págs. 201 e 202/
  • 5. Treinamento e capacitação. “Deve haver decidido aproveitamento quanto à obra preparatória especial. Em todas as nossas associações deve haver planos bem delineados quanto a instruir e exercitar os que desejam dedicar-se à obra de Deus. … A fim de adquirir o preparo para o ministério, os jovens devem estar ligados aos ministros mais idosos. … Que os obreiros mais idosos sejam educadores, mantendo-se a si mesmos sob a disciplina de Deus. Que os jovens sintam ser um privilégio estudar sob a direção de obreiros mais velhos, e tomem toda a responsabilidade compatível com sua mocidade e experiência. Assim educava Elias a mocidade de Israel nas escolas dos profetas…” (Idem, págs. 75, 101 e 102).
  • 6. Educação contínua. O ministro deve buscar o crescimento constante, aproveitando todas as oportunidades para adquirir conhecimento. Essa formação deve produzir resulta-dos tanto imediatos como acumulativos.
  • 7. Repouso sabático. Pode ser acompanhado de um agradável projeto de pesquisa e estudo.
  • 8. Os colegas. Uma leitura das páginas 473 à 495 do livro Obreiros Evangélicos permite extrair as seguintes recomendações: a amizade entre colegas de ministério é extremamente valiosa. A consulta pastoral permanente é necessária, bem como a operação de grupos de apoio. Tarefas ministeriais podem ser realizadas em equipes.
    “Que os obreiros mais idosos sejam educadores, mantendo-se a si mesmos sob a disciplina de Deus. Que os jovens sintam ser um privilégio estudar sob a direção de obreiros mais velhos e tomem toda a responsabilidade compatível com sua mocidade e experiência.”
  • 9. Ajuda especializada. Profissionais cristãos dos mais variados ramos do conhecimento humano podem ser uma grande ajuda para o pastor.
  • 10. Ajuda denominacional. Interpretando devidamente o seguinte conselho, dentro dos limites legais onde exerce seu ministério, a Igreja deve preocupar-se com seus obreiros, segundo escreveu Ellen White: “Deve-se

tomar alguma providência quanto ao cuidado para com os ministros e outros fiéis servos de Deus, que, devido a se exporem ou a trabalharem em excesso em Sua causa, adoeceram e necessitam de repouso e restauração… Ao sobrevir-lhes doença ou enfermidade, não se deixem nossos obreiros sentir-se sobrecarregados com a ansiosa interrogação: ‘Que será de minha esposa, de meus filhos, agora que não posso mais trabalhar e suprir-lhes a necessidade?’ É simplesmente justo que se tomem providências para satisfazer às necessidades desses obreiros fiéis, e dos que deles dependem. … Que providências, entretanto, têm tomado os adventistas do sétimo dia a respeito dos soldados de Cristo?

“Nosso povo não tem sentido como deve, a necessidade disso… É agora o dever do povo de Deus afastar de si esse opróbrio, provendo a esses servos do Senhor lares confortáveis, com alguns poucos hectares de terra, nos quais possam cultivar seus produtos e sentir que não dependem da caridade dos ir-mãos.” (Idem, págs. 426 a 428).

O sistema de apoio aos pastores não apenas reconhece no grupo de ministros, pessoas que estão sob a mira de Satanás; mas busca, também, promover uma ação preventiva, envolvendo planos e atividades específicos nesse sentido.