Os ministros adventistas enfrentam estafas significativas pela maneira como eles, suas Associações e suas congregações entendem suas funções.

E 1956, Samuel Blizzard dirigiu o que se tomou um estudo clássico do papel do estresse no ministério paroquial protestante americano.Nesse estudo, pediu-se a 690 clérigos que avaliassem seis funções que os ministros desempenham (pregador, pastor, sacerdote, professor, organizador e administrador), de três pontos de vista: importância, eficiência e satisfação. Blizzard comparou então as avaliações com um estudo pormenorizado de como 480 ministros rurais e urbanos gastam seu tempo. A tabela I apresenta os pormenores do estudo de Blizzard.

Desse estudo, surgiram várias descobertas significativas. A maior das quais, contudo, foi o “dilema administrativo” — a discrepância entre a quantidade de tempo gasto na administração e a pouca importância, eficiência e satisfação que os ministros atribuíram ao preencher aquela relação. A despeito do fato de considerarem a administração a menos importante de todas as suas atividades, os ministros gastavam mais tempo administrando do que fazendo outra qualquer coisa.

Ao comentar o estudo de Blizzard, D. P. Smith escreveu: “Os ministros não gostam muito de administrar, e acharam que não eram muito eficientes nisto. A frustração sugerida por essa disparidade parece ser confirmada por quase todo o estudo feito sobre o assunto. Os clérigos, de um modo geral, não apreciam suas responsabilidades organizacionais e administrativas, acham que estes deveres não são importantes e pensam que não fazem bem tais coisas, embora se achem gastando mais tempo nelas do que em qualquer outra coisa.”2

Um estudo Episcopal confirmou que a função administrativa produz conflitos nos ministros. Os pesquisadores forneceram aos clérigos paroquiais uma lista de treze diferentes atividades pastorais e lhes pediram que mencionassem dentre elas suas cinco atividades mais importantes e as cinco menos importantes. Os clérigos colocaram a administração em terceiro lugar na lista das atividades que consideravam as menos importantes; e, em sétimo, na lista das atividades que menos apreciavam — e, contudo, indicaram que ela lhes tomava a maior par-te do tempo produtivo. Além disso, indicaram que gastavam 62 por cento do tempo que dedicavam às atividades da igreja, com as cinco atividades de que menos gostavam.3

Outra área do conflito que o clero incluiu no estudo episcopal adotado, girava em torno de suas atividades intelectuais. Eles mencionaram a leitura e o estudo em segundo lugar na preferência, mas em quarto e quinto em tempo gasto. Além do mais, Blizzard descobriu que os pastores gastavam apenas 27 minutos por dia no preparo do sermão, embora tivessem a imagem do erudito como uma função modelo. Quando se lhes pediu que citassem algumas pessoas a quem admiravam ou que haviam exercido grande influência na maneira como eles pensavam e agiam como ministros, quase metade mencionou os professores do seminário, e grande parte fez menção aos autores bem conhecidos. Os pastores às vezes têm seus guias escolares como um ideal, embora gastem a maior parte do seu tempo como profissionais.

A fim de determinar as origens e a extensão do estresse funcional que experimentam os ministros adventistas da Associação da União Norte do Pacífico, ampliei e modifiquei o modelo de Blizzard.4 Pedi a esses ministros que avaliassem nove funções principais, de seis pontos de vista: importância, eficiência, satisfação, tempo gasto, importância para a igreja local e importância para a administração da Associação. Cento e treze, dos 175 pastores da AUNP, preencheram e devolveram a pesquisa.

Além dos pastores, pesquisei todos os 15 presidentes de Associações, tesoureiros e secretários executivos da AUNP, pedindo-lhes que colocassem em grau de importância as mesmas nove funções. Cada um deles respondeu. Selecionei também, ao acaso, 200 nomes da lista do centro de computação da AUNP. Pedi então que cada um desses membros de igreja preenchesse a mesma lista de atividades de acordo com a importância. Mediante o envio de inúmeras cartas e de telefonemas, consegui 100% de respostas.

Este modelo difere do realizado por Blizzard em vários sentidos. Primeiro, ao contrário do tempo livre, do estudo dirigido por Blizzard, este estudo solicita a compreensão dos pastores quanto à maneira em que eles utilizam o seu tempo. Uma estimativa da compreensão dos pastores, pode representar uma exposição mais cabal do conflito, uma vez que ela representa o ambiente psicológico dos pastores.

Segundo, esse estudo se relacionou com a compreensão dos pastores a respeito de como duas atividades missionárias ligadas — a administração de Associação e da igreja local — tornam prioritária a importância das funções desempenhadas pelo clero.

Finalmente, para captar de maneira mais completa a incumbência do ministro adventista, este estudo usou um conjunto maior de atribuições. As nove que identifiquei, compreendem conselheiro, professor, pregador, visitador, administrador, evangelista público, evangelista pessoal, representante denominacional e obreiro social.

Achei que, quando as pessoas do ministério avaliassem as funções em ordem de importância, revelariam seu conceito do ministro ideal e os alvos pelos quais lutavam no pastorado. A avaliação da eficiência destinava-se a indicar o grau de envolvimento pessoal do ministro em relação com cada função profissional. Podemos julgar o senso de eficiência de cada pastor como um indício de sua motivação ministerial. A avaliação do contentamento destinava-se a indicar o senso de satisfação que o pastor obtinha do desempenho da função. O item tempo gasto, mostra como os pastores vêem estas funções em atividade, em nível operacional de ministério de igreja. E os dados sobre Associação e congregação permitem ao indivíduo comparar as verdadeiras expectativas dessas duas funções missionárias afins, com a compreensão que têm os pastores de suas expectativas. A tabela 2 resume a avaliação das funções pelas categorias.

Os conflitos que os pastores adventistas enfrentam

Várias descobertas foram feitas como resultado deste estudo:

  • 1. Administração. — Uma importante descoberta foi a de que o ministro adventista também enfrenta conflito relacionado com a função administrativa. Os pastores consultados mencionaram um grande investimento de tempo em administração (2), embora dessem nota baixa para sua satisfação (6). Além disso, esses pastores tinham a tendência de valorizar demais a importância dos administradores de Associações e a secularidade ligada com esta função.
  • 2. Aconselhamento. — A função de conselheiro desperta outro conflito. Os pastores têm a tendência de dar nota 6 à importância dessa função, 6 à sua eficiência na função, 5 ao prazer que nela sentem e 6 ao tempo que gastam desempenhando-a em nível constante. Há, contudo, uma considerável discrepância entre a importância que atribuem a essa função (6) e a maneira como a congregação a avalia. Os membros da igreja consultados, revelaram que consideravam essa função pastoral como a segunda em importância, exceto para a pregação.

Como os pastores, os administradores de Associação davam valor bem baixo ao aconselhamento, em sua lista de prioridades. Aqui, a compreensão dos pastores sobre expectativa de Associação amplia a diferença. Os pastores são levados a ver os administradores como sendo ainda menos entusiastas quanto ao aconselhamento (8) do que o eram em realidade (7).

Afora essa questão, estas expectativas externas diferentes criam um estado de conflito de função.

  • 3. Evangelismo público. — A função do pastor como evangelista público também gera conflito. Os pastores deram nota baixa à importância da eficiência e do prazer (7). Suas igrejas parecem concordar, ao lhes darem o sétimo lugar em im-portância. Contudo, tanto a avaliação do evangelismo público, feita pelos administradores, como a compreensão da importância dos administradores a ela ligados, revelam outras áreas de conflito de funções e do estresse vocacional.

Os pastores acreditam que seus “empregadores” consideram o evangelismo público como a segunda função mais importante. Esta idéia só poderia gerar tensão e ansiedade na mente de alguns pastores. Os dados parecem confirmar não só a suposição, como também a realidade, indicando um conflito real de funções. Os administradores de igreja consideraram o evangelismo público em quarto lugar, em ordem de importância. Uma vez que os administradores não a consideraram tão elevada quanto os pastores esperavam, a comunicação mais intensa entre os pastores e os administradores aliviaria algumas das tensões. Não obstante, a tensão é real e merece maior consideração tanto pelos pastores como pelos administradores.

  • 4. Evangelismo pessoal. — Em contraste com o seu ponto de vista da relação do evangelismo público para com sua função, os pastores consideram a atividade do evangelismo pessoal como sendo muito importante. Consideram-na como a segunda função mais importante. A esse respeito, estão exatamente em pé de igualdade tanto com as expectativas da Associação como com as da congregação. Os administradores apontaram o evangelismo pessoal como a função número um, enquanto a congregação a coloca em terceiro lugar. Embora os pastores tivessem a tendência de subestimar o ponto de vista de suas congregações no que se refere a esta função (5), eles perceberam claramente que ela era de primordial importância para os administradores.

O conflito de função e o estresse relacionado com a atividade entram nesta categoria, em termos do tempo que os pastores foram capazes de dedicar a esta atividade. Enquanto eles consideraram o evangelismo pessoal como estando em segundo lugar em importância, indicaram-no em quarto lugar em tempo gasto. Parece que outras funções “menos importantes” — tais como a administração e a visitação — estão impedindo os pastores de dedicarem mais tempo e atenção a este importante aspecto do ministério.

  • 5. Ensinar. — A ocupação de professor é outra função que dá sinal de conflito. Essa função inclui participação em educação religiosa como classe bíblica, planejar e/ou dirigir classe para a igreja, estudo, preparo, escrever e/ou pesquisar.

A função que o pastor exerce e o tempo que ele gasta para exercê-la, e a satisfação com que a exerce, podem revelar conflitos de funções e ocasionar o estresse.

Depois da pregação, os pastores pesquisadores gostavam principalmente do ensino. Além disso, eles indicaram essa função como a sua segunda mais eficaz. Esses pastores, contudo, apontaram o ensino como estando em quinto lugar, em termos de tempo gasto. Ao contrário da função administrativa, que recebe nota baixa quanto à satisfação, e alta quanto ao tempo gasto, a função de ensinar obteve nota alta quanto ao prazer, mas não é permitido expressão adequada. Estas prioridades às avessas indicam de maneira inquestionável a distorção da função.

  • 6. Visitar. — A última área de conflito, descoberta por este estudo, aparece na função do pastor como visitador. Uma vez mais, os pastores avaliam de maneira mais uniforme a im-portância dessa função (4), sua eficácia (3), seu prazer (4), e o tempo gasto (3). 0 conflito fica bem patente, porém, quando comparamos a compreensão que tem o pastor, da importância que a congregação atribui a esta função, com a avaliação real, feita pela congregação.

Enquanto os pastores acham que a congregação considera a visitação como a segunda função mais importante do pastor, os membros da igreja pesquisados a consideram, na verdade, como em sexto lugar. A visitação dos membros parece ser menos importante para os membros em geral da AUNP, do que pregar, aconselhar, evangelismo pessoal e ensinar. Uma vez que os pastores simbolicamente respondem e se comportam com base em sua compreensão, essa compreensão superficial poderia certamente contribuir para o conflito de função.

Expectativas contrárias produzem estresse

O espaço não permite uma discussão prolongada com relação às origens do conflito de função no ministério adventista. Não obstante, duas fontes são de especial importância, e representam o maior impacto sobre o pastor.

A primeira delas é a discrepância que existe entre a compreensão do pastor daquilo que a Associação considera como importante, e a verdadeira importância que a Associação atribui às várias funções. Por causa de sua compreensão relativa à administração, os pastores estão experimentando conflito mais intenso do que se justifica. Os administradores de igreja consideram a pregação, o aconselhamento e o ensino do pastor mais importantes; e o evangelismo público e a representação denominacional, menos importantes do que o consideram os pastores. Esta evidência sugere que a melhor comunicação entre pastores e administradores, no que tange às funções e às expectativas, reduziria uma grande fonte de tensão para os pastores.

A segunda — e mais significativa — fonte de tensão funcional é a discrepância que existe entre as expectativas da congregação quanto ao pastor e as que deste possui a Associação. A congregação avalia a função do pastor como conselheiro, consideravelmente mais elevada do que o faz a Associação, e dele espera significativamente menos como visitador e evangelista público. Os pastores são apanhados na superfície de contato entre estes dois grupos, e obrigados a viver entre ordens conflitantes. As pressões cruzadas tornam-lhes difícil atuar de maneira eficiente.

Deve-se ter em mente que as considerações acima se baseiam em dados de grupo; por isso, não se deveria dar lugar a generalidades em torno de um pastor, administrador ou congregação específicos. É válido, contudo, saber que as pressões ocupacionais estão presentes no ministério da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Além do mais, uma vez que os resultados estão fundamentados em dados de grupo, devemos lembrar que as médias têm a tendência de mascarar o fato de que foi atribuída a cada uma das funções uma alta avaliação por alguns membros de igreja. Essa falha estabelece a diferença entre as funções que intensificam o senso de ambigüidade que os pastores experimentam. O senso de tensão funcional se intensifica também quando membros-chave, embora sejam poucos, estão dando ordens confusas ao pastor. Noventa e cinco por cento dos membros podem concordar com as prioridades do pastor, mas, se houver uma minoria literal e/ou de influência, ilustre, essa minoria pode torcer o que de outro modo seria um ambiente relativamente livre de conflitos.

Tabela I

Ordem de Importância de Avaliação Própria dos Clérigos

FunçãoImportânciaEficiênciaSatisfaçãoTempo Gasto
Pregador1123
Pastor2212
Sacerdote3444
Professor4336
Organizador5665
Administrador6551

Tabela II

Avaliação por Ordem de Importância das Funções

(Com base em dados cumulativos de três grupos)

Ordem de Importância das Várias categorias

FunçõesImportânciaEficiênciaSatisfaçãoTempo GastoImport. Perceb.AssociaçãoImport. Perceb. CongregaçãoImport. Real da AssociaçãoImport. Real da Congregação
Conselheiro66568472
Pregador11113121
Professor32257654
Visitador43434236
Administrador55625365
Evangelista Púplico77782747
Evangelista Pessoal24341513
Repres. Denominacional88876888
Reformador Social99999999

Mostrada a realidade do conflito, da ambigüidade e da sobrecarga funcionais, é interessante que os pastores tenham os instrumentos para diminuir os efeitos devastadores.

  • 1. S. W. Blizzard, “The Ministers Dilema”, The Christian Century 73 (1956), págs. 508 e 509.
  • 2. D. P. Smith, Clergy in the Crossfire: Coping with Role Conflict and Role Ambiguity (Filadélfia: Westminster Press, 1974).
  • 3. The Episcopal Church: The Strategic Research Services Group of Executive Council, The Top Priority Empirical Research Project on the Clergy (Darien, Conn.: Ecumenical Consultants, Inc., 1970).
  • 4. M. G. McBride, “Role Conflict and Role Ambiguity Appli-cable to the Local Pastor in the North Pacific Union Conference of Seventh-day Adventists” (Unpublished D. Min. Project, Theological Seminary, Andrews University, Berrien Springs, Mich., 1984).