-BEM — disse meu espôso ao curvar-se para desatar os cordões dos sapatos, enquanto nos aprontávamos para dormir — o dia de hoje não decorreu da maneira como eu havia planejado.
Não pude conter o riso ao dizer:
— Não decorreu também como eu havia planejado!
— Foi, porém, muito agradável rever aquêles dois. Pedro está tão entusiasmado com o seu trabalho!
Meu espôso meneou a cabeça ao continuar:
— Houve um tempo em que pensávamos que Êle nunca conseguiría fazer isto. Suas notas eram muito baixas. Parecia não saber estudar, mas aprendeu algo — com a animação que os outros lhe deram. Agora revela grande maturidade. Veja só: já irá cuidar de uma igreja! É maravilhoso o que o Espírito Santo pode realizar em favor de uma pessoa dedicada!
Cada um de nós fizera planos para realizar naquele domingo muita coisa que reclamava atenção. Não havia compromissos, e o dia era livre — segundo pensávamos. Estávamos descendo as escadas, para efetuar algum serviço, quando tocou a campainha da frente, e junto ao degrau da porta encontravam-se dois jovens, ex-estudantes, esboçando um amplo sorriso. Sentimos grande prazer em vê-los e participamos de seu entusiasmo ao falarem a respeito de suas atividades na igreja. Nós os ajudamos a encontrar algum material de que necessitavam para o desempenho de diversos ramos da obra, e, naturalmente, os convidamos a almoçar conosco.
Nem bem haviam saído, quando outro toque de campainha nos chamou para a porta da frente.
— Tendes alguns minutos de sobra? — implorou o homem junto à porta. — Preciso muito falar convosco a respeito de. . . — e seu aspecto apreensivo e perturbado demonstrava que realmente necessitava de auxílio. Decorreram duas horas ou mais até êle ir embora, mas com o passo mais leve e uma fisionomia mais radiante.
Em nosso lar, sempre dizemos que “o domingo é um dia em que se pode esperar qualquer coisa ou qualquer pessoa.” Êle sempre nos tem causado grandes surprêsas. Nunca sabemos o que ou quem o domingo nos poderá trazer. Pode ser que não venha pessoa alguma, e pode ser também que ocorram muitas coisas e venham muitas pessoas nesse dia. Na verdade, é realmente um dia cheio de surprêsas.
Às vêzes um dia assim pode ser assaz decepcionante. A pessoa diz consigo mesma, rangendo os dentes: “Tenho de fazer isto hoje,” e quando ocorre uma interrupção, fica tôda desconcertada, porque terá de abandonar os seus planos ou ficar acordada até altas horas da noite para completá-los quando todos já houverem ido para a cama.
Talvez a pessoa esteja fazendo pão — e é tocada a campainha da porta.
Talvez esteja lavando o cabelo — e soa o telefone.
Talvez esteja preparando o esbôço de uma preleção — e alguém da família precisa de auxílio — e agora?!
Oh! quão decepcionados podemos ficar por serem desfeitos todos os nossos planos, e quanto dano podemos causar a nós mesmos se nos deixarmos dominar por essa frustração!
Afinal, por que magoar-se com isso? De manhã cedo, nós nos consagramos a Deus. “Fazei disto vossa primeira tarefa” — declara a serva do Senhor.
— Sempre faço tal coisa! — direis vós. Lede, porém, o que vem em seguida:
“Seja vossa oração: ‘Toma-me, Senhor, para ser Teu inteiramente. Aos Teus pés deponho todos os meus projetos. Usa-me hoje em Teu serviço. Permanece comigo, e permite que tôda a minha obra se faça em Ti.’” E então ela faz mais esta admoestação: “Submetei-Lhe todos os vossos planos, para que se executem ou deixem de se executar, conforme o indique a Sua providência.” — Vereda de Cristo, edição de bolso, pág. 67.
É nesse ponto que reside muitas vêzes a nossa dificuldade. Elaboramos cuidadosamente os nossos planos, e ficamos irritados quando não conseguimos efetuá-los por causa de interrupções. Mas não é isso que nos compete fazer. Devemos submeter os nossos planos ao Mestre, e então, se Êle achar conveniente alterá-los de alguma forma, devemos lembrar-nos de que nos compete efetuar os Seus planos.
Portanto, o vestido que deixastes de cortar, o canteiro de flôres que não foi limpado, o bôlo que não ficou pronto para ser levado ao forno, a preleção que não conseguistes preparar, o artigo que não foi possível copiar — não eram tão importantes como as coisas que vieram como interrupções. A palavra de encorajamento que proferistes, o tempo que gastastes para procurar e explicar algum material a um jovem obreiro, o bom conselho que destes, podem ser um ponto decisivo na vida e na obra da pessoa que fêz a “interrupção.”
Aceitai essas interrupções como elas se apresentam em realidade — uma alteração de planos ordenada por Deus. E ao fazer isto, perdereis o sentimento de frustração que doutra forma teríeis abrigado, e contentar-vos-eis com o conhecimento de que estais realizando a vontade de Deus e cumprindo os Seus desígnios.
Ao aceitar as interrupções que surgem, tereis a seguinte promessa: “Assim dia a dia podereis entregar às mãos de Deus a vossa vida, e assim ela se moldará mais e mais segundo a vida de Cristo.” — Ibidem.