Ninguém precisa observar muito longamente para concluir que o mundo de hoje está assorbebado com problemas de atordoar. Indicam-se comissões, criam-se forças-tarefa, reforçam-se os organismos policiais, tudo na tentativa de controlar uma geração rebelde, desregrada, geração confusa, cheia de paradoxo, em que as pessoas são mais inteligentes do que nunca antes, e contudo sem respostas para muitas interrogações; mais ricas do que em qualquer outro tempo, e conhecendo mais pobreza do que nunca; produzindo mais alimentos do que em qualquer outra geração do passado, e com uma multidão de famintos. Nosso mundo está enfêrmo, procurando desesperadamente meios legais de curar sua enfermidade com uma legislação mais acurada sôbre hospitalização, mais auxílios federais para educação, milhares de cruzeiros mais para pesquisas em diferentes setores ligados à defesa nacional, tudo para no final de tôda tentativa chegar-se à conclusão de que os problemas continuam a multiplicar-se.
O problema geral envolve, òbviamente, vícios de seqüência. A ordem de coisas proverbialmente definidas como “o carro diante dos bois,” constitui a causa fundamental do dilema. Os problemas estonteantes da sociedade de hoje podem ser diretamente atribuíveis ao esfacelamento do lar. “A influência de uma família mal dirigida é dilatada, e desastrosa a tôda a sociedade. Acumula uma onda de males que afeta famílias, comunidades e governos.” — O Lar Adventista, pág. 33. “O bem-estar da sociedade, o êxito da Igreja, a prosperidade da Nação, dependem das influências domésticas.” — Conselhos aos Professores, pág. 365.
Faz cêrca de seis mil anos um sábio Criador trouxe à existência por Sua palavra (Salmo 36:6 e 9) um mundo perfeito natural e estabeleceu a unidade básica da sociedade terrestre: o lar. Aos ocupantes dêste mundo foram dadas certas indicações e regras para a felicidade. De igual modo foi-lhes dado o direito de escolher sua própria conduta. Êles bebiam a água pura do Éden, comiam do fruto da árvore da vida, mantinham direta comunhão com o Criador, manifestavam leal e elevada dedicação mútua. Veio porém um dia fatal em que um intruso, o adversário das almas, aproveitou um momento oportuno para arruinar-lhes o lar perfeito, mediante a tentação que levou Eva ao quebramento das regras. Estando sòzinha e sem a fortalecedora presença do seu companheiro, ela sucumbiu, e assim começou o triste relato da progressiva degeneração da humanidade. O mesmo inimigo continua seu frenético ataque em muitos aspectos nos mesmos moldes de então, lacerando os lares, criando paredes figurativas entre marido e esposa, entre pais e filhos. Quando os casais são descuidosos e deixam de beber da cisterna de águas vivas, e de comer o pão da vida, mantendo assim viva comunhão com o Criador, os resultados são igualmente trágicos. São decorridos mais de quatro milênios desde que o Senhor viu que a imaginação do coração humano era má (Gên. 6:6 e 7), e Se arrependeu de havê-lo criado. A humanidade simplesmente comia e bebia, casava e dava-se em casamento (S. Mat. 24:38). O lar e a norma moral de Deus havia ruído. A Noé, homem justo, que andava com Deus, foi dito que construísse uma arca para salvar a humanidade do devastador dilúvio que haveria de destruir tudo.
Retornamos ao registo sagrado da História e de nôvo vemos que está faltando a santidade do lar através dos séculos. Desta vez foram as cidades de Sodoma e Gomorra. A sociedade tornara-se penosamente ímpia (Gên. 18:20), e a despeito da intercessão de Abraão o patriarca, Deus destruiu essas cidades com fogo e enxôfre (cap. 19:24).
Estamos de nôvo à beira de uma catástrofe que chega ao clímax, quando observamos dados estatísticos de nossa sociedade, com divórcios que chegam a ser iguais ao número aos casamentos. Quantidades incontáveis de crianças que são postos dentro de lares que são menos do que naturais, e certamente menos ainda do que como foi planejado por Deus. Chegamos a sentir um frio na espinha quando vemos a realidade no terreno moral, com o crime nas ruas, agitação nas universidades e rebelião em todas as nações. Ê alto tempo de colocarmos o carro para trás dos bois e olhar com seriedade o problema de nossos lares.
Se pudéssemos honestamente isolar da sociedade o problema do lar, e declarar que os adventistas do sétimo dia em geral imunes aos dardos inflamados do maligno no que tange aos seus lares, poderiamos dormir melhor à noite. O fato é que os problemas do mundo e das nações individualmente se nivelam desgraçadamente com os problemas das igrejas. A fôrça ou fraqueza da igreja adventista do sétimo dia jazem inequivocamente na base da unidade familiar que constitui nosso corpo de membros. “No lar é pôsto o fundamento da prosperidade da igreja. As influências que regem a vida no lar são levadas para a vida da igreja.” — O Lar Adventista, pág. 318. “Uma família bem ordenada, bem disciplinada, fala mais em favor do cristianismo do que todos os sermões que se possam pregar.” — Idem, pág. 32.
Ninguém pode deixar de considerar cuidadosamente o fato de que cêrca de quarenta páginas do Índice do Espírito de Profecia são necessárias para catalogar ás afirmações sôbre o Espírito Santo e o lar. Não podemos senão concluir que o grande Deus do universo de propósito deu ênfase a êste assunto.
Examinemos juntos o conselho inspirado. Deus falou por intermédio de Davi no Salmo 127:1, dizendo: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem.” E no verso 3 do mesmo salmo lemos: “Os filhos são a herança do Senhor.” A responsabilidade paterna poderia ser completamente assustadora, não fôssem as promessas de Deus e Seus conselhos.
A espiritualização do lar deve começar com a espiritualização do marido e da espôsa. Esta condição não vem por acaso. Requer diligente esforço da parte de cada um dos cônjuges. “O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interêsses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” I Cor. 13:4-7. Esta é a definição de amor segundo Deus, e sugere uma fórmula que manterá os laços matrimoniais firmes. O sucesso só pode ser assegurado se certos padrões são formados logo ao ser o lar estabelecido. “O amor não pode existir por muito tempo sem se exprimir. Não permitais que o coração do que se acha ligado convosco pereça à míngua de bondade e simpatia.” — A Ciência do Bom Viver, pág. 360. Jesus está incluído nesta venturosa união como uma terceira pessoa, e a comunhão diária com Êle estabelece um padrão de culto. Pode haver necessidade de um ajustamento de programa, mas é essencial que a família mantenha contato diário com o Mestre.
Em seu livro A Second Touch, pág. 42, Keith Miller fala-nos do problema que tiveram em sua família ao procurarem estruturar o culto. Chamavam a isto “o momento da família,” e decidiram estabelecer um rígido programa diário para logo após a refeição da tarde. O telefone tocava constantemente, havia ruídos de pratos que estavam sendo cuidados e a mesa a ser arrumada, os trabalhos da família nesse período foram atrasados e todos foram para a cama em terrível estado de tensão. Subitamente compreenderam que não era Jesus que necessitava de um culto na casa deles, mas êles é que o necessitavam. Então compreenderam que seria muito melhor ter um programa mais flexível, em que o culto pudesse ser feito num momento em que houvesse a possibilidade de se reunirem num retiro espiritual.
Muitas vêzes em nossa ansiedade por fazer as coisas demasiado exatas segundo nosso entender, acabamos por destruir o bem positivo que se tinha em vista. O importante é que deixemos o elemento do amor misturar-se conosco ‘ em oração em família.
Provàvelmente o tempo mais crítico na experiência do lar é quando chegam os filhos e nos tornamos pais. A emoção da paternidade é coisa sem igual, mas quando o objeto dêsse gôzo incomparável torna conhecidas suas necessidades físicas sem levar em conta nem a hora e nem a conveniência dos pais, é fácil surgir tensão entre o casal e entre êste e os filhos. Manter o espírito de Cristo no transcurso dêste período de ajustamento não é pequena tarefa. Muitos problemas do lar podem fàcilmente ser atribuídos a êste período da experiência matrimonial. Ê preciso agora dividir a atenção e uma nova dimensão surge na vida. Deus em Sua providência previu as oportunidades de desenvolvimento de caráter que a condição de família provê. Desde o momento em que a criança entra no lar, os pais devem estar alerta e vigiar suas palavras e influência. Só podemos ser bem-sucedidos se buscarmos de Deus orientação e fôrça. “O que são os pais, serão os filhos em grande medida.” — Ciência do Bom Viver, pág. 371. Se nossos lares são verdadeiramente espiritualizados, sentirá necessidade de Jesus. Isto ocorrerá com cada membro da família. “Quando Cristo está no coração, é introduzido na família. Pai e mãe sentem a importância de viver em harmonia com o Espírito Santo, de maneira que os anjos celestes, que ministram aos que hão de herdar a salvação, ministrarão para êles como mestres que são no lar, educando-os e preparando-os para a obra de ensinar os filhos.” — O Lar Adventista, pág. 323.
Nunca se terá dado ênfase em excesso ao fator amor entre os membros da família. Faz algum tempo foi levado a efeito um extenso estudo sôbre crianças pequenas e de colo, e apareceu em Readers Digest, fevereiro de 1963, uma reportagem sôbre o assunto. Nela o seu autor, Ashley Montagu, afirmou que “sabemos agora, em virtude de observações independentes de um bom número de médicos e investigadores, que o amor é parte essencial na criação de uma criança, e que a menos que ela sinta que é amada, não se desenvolverá saudável nem física, nem psicológica e nem espiritualmente.”
O problema com muitos pais hoje é que entendem mal o amor. Êles acham que prover à criança alimento, roupas e abrigo é suficiente. Ê muito mais fácil dar coisas do que nos dar a nós mesmos. John M. Drescher, escrevendo em These Times, março de 1970, diz: “Agora é o tempo do amor. Não de pena para com a criança que não tem uma bicicleta ou cujos pais não podem comprar uma enciclopédia. Tende pena, isto sim, da criança cujos pais não têm tempo para amá-la, para instruí-la, para com ela brincar, para expressar-lhe amor de inúmeras maneiras.”
“Pais. . . combinai o afeto com a autoridade, a bondade e simpatia com a firme restrição. Dedicai a vossos filhos algumas de vossas horas de lazer; relacionai-vos com êles; associai-vos com êles em seus trabalhos ,e brinquedos e captai-lhes a confiança.” — O Lar Adventista, pág. 222.
Em adição a um generoso suprimento de amor, nossas crianças anseiam por segurança e direção no exemplo do adulto. A juventude de hoje está clamando contra a hipocrisia e falta de atuação por parte dos pais e de todos os adultos. Ê tempo de mostrarmos Jesus a nossos filhos. O Sr. Miller, em seu livro A Second Touch, pág. 48, diz: “Cheguei à conclusão de que se um marido e uma espôsa estão honestamente procurando descobrir a vontade de Deus, as crianças de alguma forma perceberão o quadro.” E na pág. 46: “Aprendi que as crianças já sabem de nossas fraquezas. Nossas faltas se ostentam. E quando recusamos confessá-las, nossas crianças não pensam que somos fortes, mas ou pensam que somos falsos, ou que não reconhecemos nossas fraquezas.”
Não há tarefa mais nobre, nem maior benefício que possamos conferir à sociedade, do que dar a nossos filhos uma educação adequada, impressionando-os por preceito e com o exemplo, mostrando-lhes o importante princípio de que a pureza de vida e a sinceridade de propósitos melhor os qualificarão para desempenhar sua parte no mundo.” — Fundamentais of Christian Education, pág. 155.
Se queremos que nossos filhos orem, devemos ensinar-lhes orando com êles, na presença dêles e por êles.
Pais, vosso conceito de honestidade muito ficará por determinar o conceito de honestidade de vossos filhos.
Mães, vossa maneira de vestir influirá sobremodo na maneira de vestir de vossas filhas.
Se desejais que vossos filhos sejam espirituais, sêde vós mesmos espirituais como pais e mães. A atitude de nossos filhos para com a igreja adventista do sétimo dia, a devolução do dízimo, a educação cristã etc., refletirão com impressionante fôrça os sentimentos, as expressões e o exemplo de nós outros os pais.
O princípio teórico sugerido pelos jovens viciados em drogas que dizem a seus pais: “Não me censure em matéria de drogas, até que você mesmo tenha deixado de beber,” traz consigo uma carga de motivos para reflexão, ao relacionarmos esta atitude com os problemas de nossos lares e da igreja.
Permiti que eu compartilhe convosco uma convicção pessoal que se relaciona com o nosso assunto. Eu creio que a juventude, pelo menos a maioria, estaria em condições de assumir maiores responsabilidades do que as que lhes temos confiado. E mais, creio que a menos que incorporemos a sua experiência rumo à varonilidade, oportunidades de serviço e uma maneira real de enfrentar a vida, êles chegarão à idade adulta despreparados para assumir responsabilidades. Esta é uma das maiores diferenças entre nossa sociedade urbanizada de hoje e a maneira como nós outros fomos criados nos anos passados. É encorajador notar que grande número de jovens adventistas do sétimo dia estão se incorporando livremente para atividades de serviço na pátria e no exterior. Certamente o Senhor está neste negócio. Procuremos, pois, usar plenamente estas energias jovens.
Em conclusão, se vosso lar é um lar feliz, espiritual, que o Senhor continue a derramar sôbre êle Suas bênçãos até Sua breve volta. Se sentis que em vossa área de trabalho há necessidade ou probabilidade de mudanças no sentido de melhorar, fazei essas mudanças. O Senhor vos fortalecerá e guiará. É Seu desejo que cada lar seja um lar espiritual. Se sentis que a oportunidade passou e que é demasiado tarde para reformas em vosso lar, ainda assim sêde corajosos. Nunca desistais. Ide a vosso filho ou a vossa filha, pedi-lhes desculpas, se fôr o caso, e afiançai-lhes que continuais a amá-los e vos interessais por êles. Estamos perto do fim de todas as coisas, e a profecia indica que acontecimentos probantes terão lugar breve no mundo (Mal. 4:6 e 7). A descrição desta profecia encontra-se em The Story of Redemption, pág. 359: “O coração dos pais se convertia aos filhos, e o coração dos filhos aos pais…. Sinceras confissões eram feitas, e os membros da família trabalhavam pela salvação dos que lhes estavam próximo e lhes eram queridos.”
Que o Senhor encha nossos corações e nossos lares com o Espírito Santo, a fim de que Sua igreja triunfe logo.