Viajando pelos Estados Unidos, algum tempo atrás, deparei-me com um artigo intitulado “Sabedoria antiga”, que revelava a descoberta do dia de sábado feita por uma senhora judia. Como todos os habitantes da Terra, ela estava se defrontando com a correria da época atual. Simplesmente não encontrava tempo para nada, até que resolveu separar um dia para descanso, cada semana. O dia escolhido foi o sábado, um dos dons mais preciosos para a humanidade.

Desde que se uniu ao seu povo, do pôr-do-sol de sexta-feira até o pôr-do-sol do sábado, não trabalha na cozinha, não faz compras nem paga contas, não trabalha no jardim: nada de limpeza da casa ou reparos no automóvel. Atividades profissionais, nem pensar. Tudo isso já foi providenciado nos seis dias anteriores. O sábado agora está reservado para o repouso, um momento para saborear a doçura da vida, com uma refeição deliciosa, descansar, ler, partilhar, testemunhar.

Sua vida pessoal, familiar e profissional tomou nova dimensão e mudou muito, para melhor. Em meio à agitação da vida material, encontrou um espaço para refrigério e procura desfrutá-lo da melhor maneira possível.

Tudo começou quando, depois de 22 anos de casada, ela e seu esposo se encontraram perdidos num mundo de controle do tempo, crescimento e mudança. Nesse ambiente, surgiram muitos atritos conjugais. O capítulo de um livro a respeito da celebração semanal do sábado fez a diferença. Ambos leram e discutiram o assunto, decidindo colocar em prática o princípio aprendido. A vida familiar foi transformada.

Na primeira sexta-feira, a senhora limpou a casa, fez pão e preparou a comida para durar até o fim do sábado. Ficaram de lado as compras e pagamentos. Os filhos aceitaram o desafio de desligar a televisão e a visita aos jogos de vídeo. Pais e filhos, participando juntos de passeios através da Natureza, encontraram finalmente a nova dimensão do sábado.

A autora do artigo o conclui advertindo que estamos na aurora de um novo milênio e os nossos problemas não são diferentes. Os homens, porém, se esqueceram da maior e mais linda dimensão do sábado: um dia de refrigério, um período para recarregar as baterias, para juntos apreciarmos as belezas naturais, mas, acima de tudo, um dia de louvor e adoração ao Criador do Universo. O dia de encontro com o Rei do Céu’.

Monumento à criação

Segundo o relato do Gênesis, “assim, pois, foram acabados os céus e a Terra, e todo o seu exército. E havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a Sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera” (Gên. 2:1-3).

Após ter criado o ciclo da semana, o Senhor descansou no sétimo dia. Mas Ele não necessita de descanso: “Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da Terra, nem Se cansa nem Se fatiga? Não se pode esquadrinhar o Seu entendimento.” (Isa. 40:28). De modo que, ao descansar no sétimo dia, Deus simplesmente dava Seu exemplo de como a humanidade deve agir.

Segundo o Dr. Alberto Timm (Revista Adventista, jul./98), o sábado é um santuário de Deus no tempo, no qual todos podem entrar. Realmente, é um palácio no tempo. A palavra sábado é definida como uma seção do tempo; palavra de origem árabe, que significa “cortar um pedaço”, “tempo cortado” e separado para o descanso.

No dia 31/05/98, o papa João Paulo II dirigiu uma carta pastoral, de quase 40 páginas, ao mundo católico. O assunto foi a observância do domingo. O mundo protestante e, principalmente, os adventistas do sétimo dia ficaram excitados ao lerem esse documento. Houve quem visse na carta papal um sinal de que estamos chegando ao fim. É verdade que o pontífice romano faz um ataque ao secularismo que permeia a Igreja, e, na realidade, não sabemos qual é sua agenda e quais seriam as implicações teológicas.

Mas um ponto interessante a ser observado é que o papa revela ser o sábado um memorial da criação: “Saído assim das mãos de Deus, o Universo traz em si a imagem de Sua bondade. É um mundo belo, digno de ser admirado e gozado, mas também destinado a ser cultivado e desenvolvido”, diz a carta. Ele menciona que é muito importante a relação entre o “Criador e o mundo criado”.

Devemos, pois, lembrar nesse dia do poder criador de Deus e compreender o maior significado do repouso requerido, ou seja uma “recriação”. O Senhor criou o mundo em seis dias, mas nós podemos em apenas um dia ser restaurados de nossa vida de pecado e transformados pelo poder do Espírito Santo, que está criando súditos para o reino celestial. E Deus não descansa enquanto isso não acontecer.

Aquele que criou o Universo cria em nós um novo espírito e uma nova vida

Aquele que criou o tempo dedica tempo para nossa restauração final.

Aquele que descansou de Suas obras não mede esforços para que descansemos em Cristo Jesus.

O sábado é um dia em que sentimos as bênçãos divinas fluindo em nossa vida e infundindo-nos coragem e ânimo para enfrentarmos as batalhas de cada dia. Suas restrições não podem ser um fardo. Por isso deveríamos evitar a conotação negativa do “não pode”, “é proibido”, etc. Em lugar da ênfase dada à impossibilidade de ver televisão, por exemplo, ressaltemos os benefícios de contemplar as maravilhas da criação.

“Visto que o sábado é a memória do poder criador, é o dia em que de preferência a todos os outros devemos familiarizar-nos com Deus mediante Suas obras. Na mente infantil, o próprio pensamento do sábado deve estar ligado à beleza das coisas naturais.” – Educação, pág. 251.

Sinal de santificação

No livro do profeta Ezequiel, encontramos uma ordem de Deus ao povo de Israel: “Santificai os Meus sábados, pois servirão de sinal entre Mim e vós, para que saibais que Eu sou o Senhor vosso Deus” (Eze. 20:20). Essa é a marca distintiva da lealdade humana para com Deus. Caracteriza nossa aceitação dEle como Criador e nosso reconhecimento da Sua soberania universal.

Outra dimensão da guarda do sábado é a santificação, através da comunhão com o Criador. Santificar significa colocar à parte: que implica a necessidade de separar-nos do mundo e seguirmos o Salvador. Por isso é que, no sábado, as atividades rotineiras devem ser deixadas de lado, para que nos apropriemos de Cristo.

A comida deve ser especial, para que compreendamos quão especial é o Pão da Vida.

A roupa deve estar limpa e asseada, para entendermos a pureza das vestiduras de justiça que Jesus nos oferece.

Nossos pensamentos devem estar sintonizados com Cristo para que possamos ser transformados por Seu Espírito.

Cessamos os trabalhos seculares, para que o Senhor possa operar em nosso coração.

“Nunca no sábado! O gigante de dois metros, Sam Randolph, ora, mas não joga no sábado.” Com esse título, uma matéria do Sports lllustrated (09/03/98), destacou um jovem adventista que cursa o terceiro ano de uma faculdade em Takoma Park, Estados Unidos. Entre outras coisas, o artigo mencionou que o jovem acredita que Deus o está vigiando, e por isso não vai a festas; não mantém relações sexuais pré-conjugais e não trabalha desde o pôr-do-sol de sexta-feira até o pôr-do-sol de sábado.

Um aluno brilhante, com notas elevadas, assediado pelos recrutadores de praticantes do basquete, propaga sua escolha – fidelidade a Deus. Com uma média de 20.8 cestas, 11.6 rebotes e 2.2 bloqueios por jogo, sua prioridade é ser leal a Deus. Ávido leitor e pianista, planeja ainda estudar medicina na Universidade Loma Linda. E decreta: “Estou bem por não fazer uma carreira no basquete. Seria formidável, mas tenho maiores aspirações.”

Aí está, aos olhos do mundo, um sinal de compromisso com Deus. Todos quantos assumem tal posição serão recompensados: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia: se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então te deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da Terra e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó: porque a boca do Senhor o disse.” (Isa. 58:13 e 14).

Precisamos renovar a excelência do sábado entre nossos irmãos. Há uma certa displicência, falta de cuidado, abuso, e até mesmo descuido em relação às horas sagradas. Mesmo como pastores, devemos estar alertas quanto a realizar e promover certas atividades do nosso trabalho que nos subtraem o verdadeiro espírito sabático. Determinados assuntos da agenda de alguma comissão eclesiástica são mais apropriados para quaisquer outros dias da semana, o mesmo acontecendo com a correria de um lugar para outro.

Deve haver uma reforma dentro da Igreja, para que voltemos aos princípios sagrados do dia de repouso e sejamos “reparadores de brechas”. É mister que façamos uma nova descoberta das bênçãos e das alegrias do dia do Senhor.

Memorial da redenção

Deus indicou aos israelitas que o sábado seria um memorial da libertação que desfrutaram ao sair do Egito:

“Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado.” (Deut. 5:15). Jamais deveria ser esquecido de que a mão que criou o Universo foi também a mão libertadora do cativeiro. “O sábado é um sinal do poder criador e redentor; ele indica a Deus como a fonte da vida e do saber; lembra a primitiva glória do homem, e assim testifica do propósito de Deus em criar-nos de novo à Sua própria imagem.” – Educação, pág. 250.

O criador do Universo é também nosso redentor, desde a fundação do mundo. O pecado deixou marcas em nosso planeta; o mundo agonizante parece dar seus últimos suspiros. Secas, furacões, tornados, inundações e terremotos estão revelando que vivemos nos últimos dias. Logo a Terra será transformada, e os redimidos do Senhor, igualmente transformados, continuarão seu louvor e adoração a Deus “de um sábado a outro” (Isa. 66:22 e 23), na eternidade. Tal experiência pode e deve ser antecipada. Podemos vivê-la aqui e agora.

Deus criou o sábado e o santificou para nossa alegria. Deseja que ele seja uma bênção para Seus filhos. É um memorial da Sua criação, um sinal distintivo entre Deus e Seu povo, sendo também um memorial do Seu infinito poder de transformar-nos à Sua semelhança e fazer-nos voltar à pureza e santidade edênicas.

LÉO RANZOLIN, Vice-presidente da Associação Geral da IASD