Valorizar o servidor jubilado é o desafio da igreja e de empresas seculares
Sua companheira de vida falecera. Como um casal pastoral, juntos, eles serviram por mais de 25 anos na região em que ultimamente viviam, além do período dedicado ao campo missionário. Durante os últimos dois anos, ela sofreu intenso desconforto físico em virtude da doença. Ele, amorosamente, cozinhava, limpava a casa e cuidava de todas as necessidades dela. Os filhos, especialmente comprometidos com a extremosa mãe, também lhe providenciavam o que fosse necessário.
A família era calorosamente bem recebida e amada por muitos irmãos dos lugares em que serviram, inclusive do exterior, por causa da dedicação fiel e altruísta demonstrada em seu ministério. Ambos alegremente serviram à Igreja e partilharam, sobretudo pelo exemplo de vida, o amor de Deus. Como resultado, muitas congregações foram estabelecidas em vários lugares.
Devido a algumas circunstâncias, o funeral pôde ser realizado somente alguns dias após o falecimento da esposa do pastor. Como acontece normalmente, parentes e amigos compareceram à cerimônia, realizada na mesma cidade em que moravam e já tinham abençoado muitas pessoas através do seu trabalho. Um colega de ministério, também jubilado, juntamente com a esposa apresentaram a mensagem de conforto aos presentes. Os filhos também falaram, destacando a dedicação e o extraordinário dom da hospitalidade da mãe; filhas e netas homenagearam a mãe e avó com belíssimas peças musicais.
Embora a cerimônia fosse bonita e confortadora, ninguém da sede local da Igreja esteve presente para dizer uma palavra de reconhecimento à operosa vida de serviço e ministério daquela consagrada esposa, ou para expressar condolências e conforto ao pesaroso colega. Nenhum chamado telefônico, nenhuma visita, nenhuma carta de apoio durante todo o período da enfermidade, nem depois da morte. Embora o bem-estar do pastor não dependa de simpatia ou compaixão dos seus superiores imediatos, esse tipo de ferida, ainda que não intencionalmente causada, resulta em sentimentos de exclusão e na possibilidade de que ele desenvolva conceitos como: “não valho mais nada”; “não tenho a menor importância”.
Um desafio
Não faz muito tempo, um pastor e sua esposa resolveram visitar alguns amigos, jubilados como eles, com os quais lembraram os tempos de atividade ministerial: concílios, congressos de jovens, além de outros fatos. Então, a conversa inevitavelmente tomou a direção do relacionamento com os líderes do Campo onde residiam.
“O que vocês ouvem dos líderes desta área?”
“Eles nem sabem que nós existimos”, foi a resposta comum. “Não ouvimos nada.”
“Vocês não recebem nenhum boletim, nenhuma comunicação sobre nada do que acontece por aqui?”
“Não”, responderam os anfitriões.
“Não são convidados para reuniões pastorais?” “Não.”
O pastor visitante foi tentado a perguntar: “Ninguém do escritório telefona ou visita vocês ocasionalmente?”, mas dominou-se, porque a resposta já estava implícita nas respostas anteriores.
É verdade que existem líderes conscienciosos, que jamais passam por alto um coobreiro valioso. Porém, há falha de comunicação em muitos níveis. E uma questão deve ser enfrentada e respondida: “Como evitar situações tão constrangedoras, para dizer o mínimo?”
O desafio de reconhecer a importância de servidores jubilados é visto na Igreja e no ambiente secular. Por exemplo, em um artigo no Pittsburgh Post Gazette (01/05/05), Pamela Gaynor escreve: “Quando Howard Bruschi decidiu, três anos atrás, jubilar-se como chefe do departamento de tecnologia da Westinghouse Eletric, a companhia não perdeu tempo em recontratá-lo como consultor de meio período”. Gaynor ainda explicou que, ao estabelecer consultorias ou criar programas modernos, as empresas estão “encontrando formas de reter servidores experientes, … Estamos saindo da noção de servidores antigos que têm esgotado sua utilidade para outra segundo a qual eles são vistos como extremamente valiosos”.
Síndrome do afastamento
Geralmente, quando os pastores se jubilam, eles são atacados pela síndrome do afastamento. Um dia, experimentaram profundo e significativo envolvimento como líderes habilidosos, pregavam, visitavam os membros da congregação, eram procurados por pessoas desejosas de conselho e atenção. De repente, tudo muda. Num piscar de olhos, já não experimentam a alegria de se sentirem úteis e valorizados.
Enquanto avaliamos essa súbita ruptura que freqüentemente ocorre seguida à jubilação, algumas questões vêm à tona: Como poderíamos evitar essa experiência nociva e dolorosa? O pastorado pressupõe trabalho vitalício; o pastor dá à igreja e seus membros os melhores anos de sua vida (alguns servem por mais de 50 anos). Seguramente, investir de alguma forma na continuidade do relacionamento representaria ricos dividendos para a Causa. Talvez, as seguintes sugestões sejam úteis:
- Convidar os jubilados para os encontros ministeriais.
- Incluí-los da lista de endereço eletrônico e enviar-lhes material informativo.
- Visitá-los em casa, ocasionalmente.
- Designar-lhes alguma tarefa em reuniões pastorais públicas.
- Criar espaço, no boletim do Campo, para homenageá-los.
- Mantê-los na Associação Ministerial e assisti-los devidamente.
- Criar um grupo de obreiros jubilados, a fim de que, juntamente com líderes do Campo, encontrem meios de manter e ampliar relacionamentos produtivos com outros jubilados.
É razoável assumirmos que jubilados do ministério e de outras áreas têm interesse e desejam manter-se atualizados em relação à Igreja, e querem ajudar no que for possível. Eles apreciam a atenção e o envolvimento da parte dos antigos colegas e líderes. Com um pouco de reflexão e oração, é possível fazer com que esses irmãos sirvam de grande ajuda à igreja local e ao Campo.
Comunicação virtual
Em nossos dias, a comunicação mudou bastante. Familiares, amigos, colaboradores e líderes já não precisam se corresponder semanal ou quinzenalmente. Por meio de endereço eletrônico, enviam e recebem mensagens em tempo real. Os administradores podem valer-se do mesmo método para manter contato com os jubilados de seu território. E não é um investimento custoso.
Sabemos de um líder que envia e-mails, diariamente, a centenas de amigos, familiares, líderes, colegas de ministério e obreiros jubilados. Ele descreve as atividades da igreja, menciona visitas feitas, e sempre inclui pedido de oração e mensagem de encorajamento.
Todo pastor jubilado tem um conjunto de necessidades inalteráveis. Primeiramente, eles necessitam saber que alguém se importa com eles, os ama e respeita. Eles também precisam saber que são valiosos membros de uma família muito especial. Em segundo lugar, necessitam saber que em algum lugar, e em algum tempo, eles ainda podem contribuir significativamente para a missão e podem, de alguma forma, ajudar alguém necessitado. Finalmente, os pastores jubilados precisam ter um foro de onde possam continuar partilhando a inspiração que recebem da própria experiência e das Escrituras.
Não raro, falamos da igreja e do ministério como sendo uma família. Se é assim, esse relacionamento dura toda a vida. Nunca houve um tempo em que alguns filhos de Deus não tivessem lugar à mesa. Portanto, os jubilados devem ter seu lugar assegurado à mesa da família de Deus.
Myrna Tetz, esposa de pastor e escritora, jubilada, residente na Carolina do Norte, Estados Unidos
Cliff Sorensen, pastor, professor e administrador, jubilado, residente em Washington, Estados Unidos