Antes de os russos enviarem os “sputniks”, com seu característico bip-bip, ao redor da Terra, a velocidades fabulosas, a hipnose e a reencarnação eram os fenômenos mais comentados afora os discos voadores. O livro de Morey Bernstein The Search for Bridey Murphy, que ràpidamente se tornou um “best seller”, deu início à febre de os escritores alardearem os méritos e deméritos do hipnotismo como meio de investigar o problema da vida pregressa.

Há muita confusão no que tange à hipnose, uma das mais antigas práticas mentais conhecidas pelo homem. A sugestão hipnótica tem sido praticada por milhares de anos, mesmo nos rincões mais incultos do mundo. Várias formas de sugestão mental têm sido empregadas durante séculos por rústicos curadores feiticeiros, ocultistas, receitadores e curandeiros africanos.

O Hipnotismo

Pode-se definir o hipnotismo como a arte ou prática de ‘‘indução a um estado de sugestibilidade abnormal produzido por certos processos bem definidos, conhecidos tècnicamente como hipnógicos” (1).

Manifesta-se a ocorrência de fenômenos hipnóticos quando os pensamentos e ações da, pessoa sob hipnose são dirigidos pela sugestão do hipnotizador. O hipnotismo habilita o hipnotizador a controlar as funções involuntárias subconscientes da mente do hipnotizado. Êste é o ponto crítico do perigo da sugestão hipnótica.

O Sr. Lester David lembra-nos que “uma transformação psicológica e sutil ocorre dentro do paciente” (2). Wolfe e Rosenthal contam-nos que a “personalidade amorfa” do paciente, como esponja “absorve e incorpora-se na personalidade do hipnotizador. Assim, ao ouvir êste dizer-lhe o que fazer, supõe que seja sua própria voz dando ordens” (3).

Pode o Hipnotismo Ser Moralmente Periogso?

Grande controvérsia científica se agita sôbre a questão de ser ou não prejudicial a hipnose à vida moral do indivíduo. André Salter tem muito que dizer sôbre êste importante aspecto da matéria:

“Considerada a hipnose como sendo nada senão um aspeto de condicionamento, podemos ver que será possivel instruir um paciente a um comportamento antisocial involuntário. Estou de acôrdo com Rowland, Wells, e Brenman quando dizem que, processos apropriados, que não precisam ser sutis, podem levar o hipnotizado a praticar atos anti-sociais mesmo ao ponto de prejudicar-se a si e aos outros criminalmente’’.

Como resultado da sugestão hipnótica, pacientes têm roubado dinheiro, levantado cascavéis do chão, arremessado ácido sulfúrico na face de outra pessoa que, sem que o paciente o soubesse, achava-se protegida por um vidro invisível. Apresentamos aos leitores essas espantosas pesquisas no terreno do hipnotismo. É possível forçar pessoas, postas a dormir sob hipnose, a cometerem crimes. Aquêles que falam que é preciso, para produzir a sugestão hipnótica, enquadrar-se no “código moral” do paciente, precisam revisar seus conceitos (4).

“Afirmo que o paciente pode mesmo ser levado a cometer assassínios sob a hipnose” declara o psicologista Ralph B. Winn, “ou melhor, um homicídio involuntário se você quiser — se a sugestão em aprêço é produzida de modo a iludir os sentidos ou ocultar o resultado final”.

“Se há presentemente possibilidade de tornar um parceiro inconsciente num criminoso em circunstâncias comuns”, continua o Dr. Winn, “há certamente maior probabilidade de ser assim logrado sob a hipnose. E talvez seja levado a esquecer o ato que praticou!

Estamos certos, portanto, em concluir que a resistência de uma pessoa sob a influência de sugestões impróprias, é forte sòmente enquanto se lhe pede diretamente para violar suas convicções e interêsses econômicos, morais, religiosos ou estéticos. No entanto, pode ela ser influenciada a ir contra estas convicções e interêsses, se os seus sentidos são enganados, se age sob falsas presunções, ou se não está ciente do comprometimento de sua conduta. Seu êrro — que é a quanto se reduz — pode ser desastroso embora natural sob circunstâncias especiais. A pura verdade de todo o problema é, nas palavras de C. Baudon no livro Suggestion and Autosuggestion, pág. 242, que qualquer paciente seguirá uma sugestão se “imagina ser possível . Êle, porem, resistirá ou obedecerá a sugestão de fazer alguma coisa que não faz ordinàriamente, se o ato é apresentado como o sendo.

É enganoso supor, penso, que há campos de conhecimento perfentamente seguros. Nenhum o é. Tôdas as ciências e profissões são boas sòmente quando usadas para bons propósitos. O gênio humano tem sabido fa-zer as melhores coisas regredirem às fontes do mal e da destruição (5).

O Condicionamento Hipnótico da Mente

Um dos perigos inerentes ao hipnotismo é o subtil condicionamento da mente pela sugestão hipnótica. Difícil é saber-se até que ponto vai êsse condicionamento. É inquestionàvelmente considerável nos casos em que a “relação de influência” entre o hipnotizador e o hipnotizado se torna intensa, e as idéias psicologicamente implantadas pela sugestão são suportadas fisiològicamente pelas funções do sistema nervoso autônomo do paciente.

Isto seria igualmente exato no caso do médium que aceita a influência da entidade espiritual verdadeira ou falsa, e submete-se às suas sugestões. Todos os fenômenos de trance tendem a amalgamar. Diferem originariamente quanto ao método pelo qual se induz ao estado de trance, e quanto ao objetivo para o qual se produziu.

Quando alguém desencaminha a mente, que é a sede criada por Deus, da inteligência, do juízo, da razão, da consciência, do controle moral, e da receptividade espiritual, êste alguém está invadindo a sagrada individualidade dada por Deus, tão vital ao livre agente moral. Esta invasão não pode estar livre de perigos. Crêem muitos que a idéia de a mente de uma pessoa controlar ou mesmo influenciar outra por meio da hipnose, é estranha ao conceito bíblico do livre agente moral e da respon-sabilidade pessoal perante Deus.

Sugestão Pós-hipnótica

Leslie LeCron e Jean Bordeaux, co-autores do livro Hypnotism Today, num artigo publicado na revista Pageant, de maio de 1956, declaram:

“Contudo, decididamente o mais importante de todos os fenômenos hipnóticos é a sugestão pós-hipnótica, pela qual podemos transferir tôdas as condições do trance ao estado de vigília.”

Resultados surpreendentes foram obtidos pela sugestão pós-hipnótica.

“As instruções para o paciente executar um desígnio em estado de vigília podem ser dadas para um tempo futuro de muitas semanas depois, e não coisa de momentos ou horas . . .

“Leibault disse a um paciente durante a hipnose que voltasse a mesma hora um ano depois, especificando certas coisas que então deveria fazer. Tudo foi executado naquela data exatamente como fôra ordenado” (6).

A sugestão pós-hipnótica tem sido usada para apressar um estado de trance posterior, ou aprofundar a hipnose subseqüente. A sugestão grava-se indelèvelmente no subconsciente e adquire efeito quando o paciente é hipnotizado em tempo posterior. Por meio da sugestão pós-hipnótica se tem conseguido a auto-hipnose (a capacidade de uma pessoa hipnotizar-se a si mesma).

LeCron e Bordeaux conta-nos que “certas pessoas parece terem esta capacidade num grau acentuado. Entre elas se acham os médiuns espíritas que produzem em si mesmo o estado de trance; isto se refere aos poucos que se crêem serem médiuns verdadeiros, e não ao grande número de “impostores” (7). O estado de profundo trance sonambúlico produzido pelo hipnotismo é similar àquele dos médiuns espíritas.

O Hipnotismo dos Curandeiros

Nas regiões incultas o controle hipnótico exercido pelo curandeiro tem sido tão forte que sua influência se fêz sentir mesmo em estado de vigília. Sôbre êste ponto observa Rawcliffe:

“A sugestão em estado de vigília, precedida de certos prelúdios destinados a atingir basicamente as emoções e crenças do paciente, pode operar poderosamente nas comunidades atrasadass, sem a cooperação do paciente ou mesmo contra a sua vontade — façanha que todos os hipnotizadores europeus e americanos acham impossível de realizar em seu país (8).

As implicações de um tal condicionamento oculto e poderoso, por meio do hipnotismo, são do mais alto significado.

J. B. S. Haldane expressou isto acertadamente: “Alguém que tenha visto um exemplo do poder do hipnotismo e da sugestão, deve compreender que a face do mundo e as possibilidades de existência serão totalmente alteradas quando não pudermos controlar seus efeitos e uniformizar sua aplicação, como tem sido possível, por exemplo, com as drogas que eram outrora consideradas igualmente prodigiosas” (9).

Relação íntima Entre o Profundo Estado Hipnótico e o Trance Mediúnico

Escreve o Sr. Rawcliffe: “Há uma relação íntima entre o estado hipnótico e o estado do trance mediúnico do espiritismo. Experiências demonstraram que é possível produzir-se um trance mediúnico involuntário num paciente histérico pela sugestão pós-hipnótica, e que sob estas circunstâncias o paciente pretenderá estar controlado por um ‘espírito’ cujas declarações estarão em consonância com as idéias prèviamente sugeridas a êle enquanto em estado de hipnose” (10).

Rawcliffe crê que, em muitos casos, os médiuns experimentam auto-hipnotismo “o qual, como nos processos hipnóticos normais, pode redundar numa espontânea capacidade de interpretar papéis e habilidade dramática”. Esta forma de personificação, de acôrdo com Rawcliffe, é resultado direto de uma expectativa da parte do médium “de se comunicar com os mortos” (11).

A semelhança entre os fenômenos que ocorrem sob profunda hipnose e os que se verificam nos trances espíritas é digna de nota. Tornando-se o subconsciente sob hipnose tão suscetível à sugestão exterior, como podemos estar certos de que alguma entidade astral do mundo dos espíritos não se introduza também no subconsciente, em seu estado de trance hipnótico, e exerça suas artes ocultas como o faz no médium em tranceespírita? Então o tema “Você viveu antes e viverá depois” é outra filosofia oculta que tende a atrair devotos para a voragem dos mistérios psíquicos.

Muito antes que Bernstein fizesse experiências com Ruth Simmons, e do caso Bridey Murphy, outros pesquisaram os mistérios do hipnotismo e da regressão da idade numa tentativa de lançar alguma luz possível sôbre os mistérios da vida e da morte. Surgiram histórias sôbre a vida pregressa mais estranhas que a de Bridey Murphy.

As experiências de regressão da idade, que fazem o paciente saltar o abismo de tempo, e apanhar outro suposto ciclo de vida em determinado período de tempo, constituem decididamente um emprêgo oculto do hipnotismo. Isto implica uma teoria espírita de alguma espécie de unidade da alma que vai de um a outro ciclo de vida em diferentes corpos humanos.

Alguns pesquisadores de fenômenos psíquicos, consoante DeWitt Miller, sustentaram que os supostos casos de regressão são, na realidade, casos de impressões espíritas vindas de entidades desencarnadas que invadem a “atmosfera áurica” da pes-soa que está em trance (12).

De modo nenhum se sugere que tôdas as experiências de regressão de idade sob hipnose resultam de possessão ou obsessão espíritas. Contudo, o intruso do astral, nos casos de fortes evidências informativas da vida anterior, não pode ser percebido tão fàcilmente como muitos podem pensar.

Os Trances Hipnóticos e Mediúnicos

trance mediúnico é idêntico ao hipnótico, e portanto são conseguíveis os mesmos fenômenos. Como vimos, no estado sonambúlico da hipnose é fàcilmente possível produzir-se alucinações. A pessoa hipnotizada e levada a êste estado profundo, fàcilmente verá a figura dos queridos que partiram, se isso lhe fôr pedido pelo hipnotizador. No caso do médium, a hipnose ou estado de trance, é auto-produzida. Se êle está plenamente convicto, de que enquanto neste estado, verá e ouvirá seu “espírito-guia” e conversará com outros espíritos, então o fará com grande certeza (13).

Os perigos ocultos do hipnotismo não são ociosas fantasias. O Dr. Lijencrants, em seu livro Spiritism and Religion refere-se a uma mulher que, quando hipnotizada, “passava para o sonambulismo e então, após curto intervalo de catalepsia, emergia nova personalidade, proclamando-se a si mesma um dos vários espíritos que se apossou dela.” Ao voltar do trance hipnótico, recuperava evidentemente a personalidade anterior. A Sra. Coueddon, confor-me o mesmo escritor, hipnotizava-se a si própria e imaginava-se ser o anjo Gabriel (14).

Myers conta-nos de uma moça de catorze anos, chamada Wateska Wonder que “estando hipnotizada apresentava-se com a personalidade de uma menina que falecera doze anos antes. A nova personalidade demonstrava invulgar relacionamento com as coisas que a menina falecida conheceu em vida, e a personificação foi por demais realista. Cinco meses depois a personalidade original retornava para, com intervalos, dar lugar à outra que se apresentava” (15). Evidentemente uma inteligência invasora tinha ascendência nesta imposição, por meio do hipnotismo, de outra personalidade sôbre a criança.

Nos fenômenos mentais de hipnotismo os sentidos do paciente não mais distinguem entre a pretensa personalidade espiritual sugerida pelo hipnotizador e a do próprio hipnotizado. O hipnotismo abre a porta para as trocas de personalidade e ao controle, embora temporário, da vontade do hipnotizado. De exemplos tomados da experiência humana, parece claro que êste contrôle pode ser ou do hipnotizador, ou da entidade espiritual ou de ambos. A voluntária submissão ao controle da mente subconsciente de alguém pode ser um empreendimento arriscado. Esta patente possibilidade de perigosas invasões da personalidade e da vontade humanas, não pode ser seguramente dominada. As percepções psíquicas paranormais não estão imunes da auto-ilusão. O estado de trance mediúnico é análogo ao estado hipnótico que como vimos, caracteriza-se por um estado mental fàcilmente suscetível ao engano. O médium, quer auto-hipnotizado, ou como paciente de outro hipnotizador ou espírita, é extraordinàriamente sensitivo a impressões e sugestões do mundo exterior.

Na sessão espírita o médium é sujeito a sugestões provindas do subconsciente, e da pretensa entidade espírita que se comunica. Se o trancemediúnico é provocado por auto-hipnose ou por hipnose espírita, constitui uma submissão do subconsciente às impressões do espírito invasor, que assume a direção como se fôsse um hipnotista controlado por espíritos e opera como tal, por meio do médium hipnotizado pelo espiritismo.

São o Médiuns Hipnotizados Pelo Espíritos?

Hereward Carrington registra uma conversação com Uvani o espírito-guia da Sra. Eileen Garrett, e na qual a entidade expunha como operava por meio do médium. Declarando que estava sempre assistindo ao médium e que no momento via “as divagações do subconsciente dela”, Uvani passou a descrever o método de proceder em comunicação espírita:

À medida que se aproxima o tempo, posso impor ao subconsciente não sòmente minha aparição mas a de ou tros, e controlo êsse subconsciente. Não tenho contrôle algum sôbre a mente consciente, nem acho isto normal. Mas ao subconsciente me foi dado impressionar. Pouco a pouco, vou impondo persuasão sôbre êle. É esta uma parte da mente dela que se movimenta inquietamente, e portanto é justo que nos valhamos dessa ficção da mente, que você pode chamar Hipnotismo; o estado consciente então exprime isto como agora. (16)

À luz dêste comentário feito pelo “espírito controlador”, pode-se ver fàcilmente as implicações de um estado de trance hipnótico super-imposto por hipnotizadores espíritas. Dessa forma é perfeitamente possível que o trance mediúnico seja uma modalidade de hipnose espírita produzida sôbre o médium por operadores do além, estabelecendo assim harmonia entre o médium e o mundo dos espíritos. Isto explica também a informação supernormal que pode assim ser transmitida do além.

Bibliografia

  • 1  D. H. Rawcliffe, The Psychology of the Occult, pág. 71.
  • 2  Coronet, agôsto de 1956, “What Really Happens When You Are Hypnotízed?”
  • 3  Ibid.
  • 4  Andrew Salter, What Is Hypnosis? (Farrar, Straus and Co., New York, 1955), pág. 11. (Grifos supridos).
  • 5  Ralph B. Winn, Scientific Hypnotism, pág. 122.
  • 6  Pageant, maio de 1956.
  • 7  Ibid.
  • 8  The Psychology of the Occult, pág. 74.
  • 9  What Is Hypnosis? pág. 56.
  • 10  The Psychology of the Occult, pág. 176.
  • 11  Idem., pág. 178.
  • 12  DeWitt Miller, Reincarnation, pág. 37.
  • 13  Sydney J. Van Pelt, Hipnotism and the Power Whi-thin (Wehman Brothers, 1954), págs. 134 e 135.
  • 14  Baron Johan Lijencrants, Spiritism and Religion, págs. 189 e 190.
  • 15  See Frederic William Henry Myers, Human Personality and Its Survival of Bodily Death, Vol. 1, págs. 360-368.
  • 16  Hereward Carrington, The Case for Psychic Survival (The Citated Press, New York, 1957), pág. 142.