QUE cena! Numa pequena clareira aberta na floresta um bando de cinocéfalos estavam sentados num círculo parcial, que em tudo parecia um concilio de anciãos!
O idoso membro da tribo Luo e sua espôsa observavam-nos. “Está vendo aquela pilha de varas no centro? — sussurrou o homem. — Eles colocaram-nas da maneira como arrumamos a lenha para uma fogueira.”
E era exatamente o que haviam feito. Estavam imitando o que tinham visto muitas vêzes, mas faltava-lhes uma coisa: Não havia fogo na lenha. Tinham realizado todos os preparativos, mas não havia fogo!
Combustível — Mas Não Fogo!
Seria isto uma alegoria da experiência da igreja remanescente na atualidade? Nesta história os cinocéfalos possuíam tudo menos o fogo. Dar-se-ia o caso de também possuirmos tudo menos o fogo do Espírito Santo na igreja? Os adventistas do sétimo dia têm suficiente combustível espiritual na gloriosa mensagem do advento para atear um fogo que convertería em chamas para Deus todos os continentes da Terra, de Singapura a Serra Leoa, de Washington a Prakaspuram, de Murmansk ao Estreito de Magalhães.
Com mais de dois milhões de membros da Escola Sabatina, 20.000 pastôres-evangelistas, 18.000 médicos, enfermeiras e outros funcionários do departamento médico, 6.000 colportores, 2.200 empregados de casas publicadoras, 16.000 professores e outros obreiros, poderiamos acender o maior fogo que já foi visto neste mundo. Mas êstes homens e mulheres precisam inflamar-se para Deus.
Possuímos também as rodas. Ezequiel viu “uma roda dentro da outra” (Ezeq. 1:16). A mensageira do Senhor referiu-se a esta visão sob o título: “A Organização de Deus.” “A mão da sabedoria infinita é vista entre as rodas, e o resultado de sua operação é a perfeita ordem. Cada roda trabalha em perfeita harmonia com tôdas as outras.” — Testemunhos Para Ministros, pág. 213.
Temos as rodas, a organização, para levar o fogo e estendê-lo com grande rapidez aos mais longínquos recantos da Terra. E uma maravilhosa organização que tem sido aperfeiçoada cada vez mais. O Senhor deu “testemunho após testemunho a tal respeito.” — Idem, pág. 26.
Fogo nas Rodas
Sim, possuímos as rodas, mas para efetuarem a obra que Deus deseja nestes derradeiros dias da história terrestre, deve haver fogo nas rodas. Havia fogo nas rodas de Ezequiel. “O aspecto dos sêres viventes era como carvão em brasa, à semelhança de tochas; o fogo corria resplendente por entre os sêres, e dêle saíam relâmpagos; os sêres viventes ziguezagueavam à semelhança de relâmpagos.” Ezeq. 1:13 e 14.
Precisamos ter o Espírito de Deus nas rodas de nossa organização hoje em dia. Deve haver fogo na lenha. A organização não é suficiente. O mecanismo não é suficiente. Os orçamentos não são suficientes. Até os homens e as mulheres não são suficientes. Precisamos de fogo nas rodas — fogo vivo, fogo pentecostal, que desça do Céu e inflame os homens e as mulheres para Deus. Declara a mensageira do Senhor: “Não podemos depender da forma ou do maquinismo externo. O que precisamos é da vivificadora influência do Espírito Santo de Deus.” — Idem, pág. 512.
Podemos ter edifícios de igreja que sejam um portento de arquitetura, centros evangelísticos que contenham tudo o que possa desejar o coração de um pregador, exuberantes orçamentos para prover o equipamento mais moderno e uma abundância de materiais evangelísticos. Nosso planejamento pode ser perfeito, e impecável a nossa organização. Podemos ter todos os recursos visíveis necessários para um poderoso avanço evangelístico. Mas a nossa peleja é espiritual, não material. Os resultados dependem de fatôres internos, não externos. Precisa haver fogo nas rodas — o poder do Espírito Santo em nosso serviço para o Mestre.
Quando o Espírito Santo não está presente, o fogo se extingue. Pode haver atividade. As perspectivas podem parecer brilhantes. Mas nunca conseguiremos realizar a obra de Deus da maneira como Êle o deseja nesta hora final, sem o fogo que provém do alto. A Bíblia torna bem claro que o fogo, o poder do Espírito Santo, é uma absoluta necessidade.
Temor ou Coragem?
Disse Jesus antes de Sua ascensão: “Permanecei na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” S. Lucas 24:49. Os discípulos se haviam ocultado, com mêdo dos judeus. Receavam que lhes sobreviesse o mesmo que sucedera a Jesus. Encerraram-se detrás de portas fechadas. Eram um grupo de homens amedrontados, desanimados e frustrados. Suportaram o maior desapontamento já experimentado por sêres humanos.
Então veio o Pentecostes. Caiu o fogo; desceu o poder. Operou-se uma transformação. Êles perderam o receio e o desânimo. Foram possuídos de santa ousadia e fervor. Saíram do lugar em que estavam ocultos. A igreja incipiente começou a evangelizar o mundo. “To-dos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a…” (Atos 2:4). Quando êles ficaram repletos do Espírito Santo, começaram a viver, a testemunhar, a produzir fruto, a evangelizar. Começaram a realizar a tarefa que Deus lhes confiara. Os vacilantes se tornaram vencedores; os tímidos ficaram arrojados. Onde antes houvera hesitação, insuficiência, derrota, agora havia convicção, coragem, poder, vitória. O fogo no íntimo causou a diferença. Ao cair o fogo, o relato declara que se converteram 3.000 pessoas no Pentecostes. O livro de Atos revela ainda mais que depois disso diàriamente eram acrescentados à igreja “os que iam sendo salvos.” Jerusalém foi inundada pela doutrina de Jesus. Creram também alguns dos mais acérrimos inimigos da igreja primitiva — “muitíssimos sacerdotes.”
São Derrubados Altares Pagãos
Dentro do breve espaço de trinta anos as boas-novas alastraram-se pela Ásia Menor e a Europa, até ameaçarem destruir os altares e os templos pagãos de Roma, a senhora do mundo. Em face de implacável e cruel perseguição, os arautos da cruz implantaram o estandarte do Crucificado no próprio limiar da casa imperial. Lucas menciona o poderoso avanço do evangelho através dos esforços de homens cheios de ardor. Êle afirma que na perversa cidade de Antioquia “muitos … se converteram ao Senhor.” Em Icônio, Tessalônica, Corinto e em outros lugares sucedeu a mesma coisa. “Grandes multidões de judeus e gregos” colocaram-se ao lado de Cristo. Havia abundante colheita de almas aonde quer que fôssem êsses homens cheios do Espírito Santo. Por quê? Porque havia fogo dentro de seus corações. Porque o Espírito Santo Se apoderara dêles. Finalmente, de acordo com Atos 28:31, uma igreja incipiente pôde relatar que cumprira sua missão em Roma como resultado dêsses homens ardorosos.
Que narrativa de êxito! Que epopéia de poder! Que proclamação de progresso! Dois mil anos mais tarde sua leitura ainda nos causa emoção. Qual era o segrêdo do poder dêsses antigos homens de Deus e da rápida expansão da igreja naqueles tempos difíceis? A resposta encontra-se nestas palavras inspiradas: “Todos ficaram cheios do Êspírito Santo, e começaram a …” Havia fogo dentro dêles.
Êxito ou Fracasso?
Eis aí uma lição vital para nós como obreiros e dirigentes na causa de Deus. Uma lição de grande premência, que não devemos deixar de compreender. O fato de a aprendermos ou não determinará o êxito ou o fracasso de nosso ministério. É uma lição para aquêles entre nós que enfrentam os milhões de Nova York, Londres, Berlim, Bombaim, Manilha, Tóquio, Joanesburgo, Buenos Aires, São Paulo e milhares de outros enormes abismos de concreto, cheios de homens e mulheres que terão de comparecer perante o tribunal de Deus — abismos êsses que mal foram atingidos com a verdade presente.
Ê uma lição para aquêles dentre nós que foram assediados à noite pelo espectro dos milhões de habitantes da Ásia do Sul, que têm de enfrentar a fria complacência de milhões de budistas, ou a feroz e fanática oposição do islamismo, ou ainda os milhões de pessoas hipnotizadas nas terras do cristianismo nominal. Precisamos aprender muito bem esta lição, para que não tentemos efetuar a obra do Senhor de maneira estranha à Sua vontade.
Os discípulos iniciaram o trabalho em Jerusalém. Por quê? Por que ordenou Jesus que êles permanecessem em Jerusalém? Por que não os enviou a Belém, a Jericó, a Nazaré? Será que foi apenas porque Jerusalém era a capital e o centro do judaísmo? Não! Milhares de vêzes não! Êle queria que os discípulos aprendessem uma grande lição — a mesma lição vital que Jesus deseja que aprendamos no tempo atual.
Ela consiste simplesmente no seguinte: A recepção do Espírito Santo é uma absoluta necessidade para os obreiros de Deus terem êxito ao procurarem terminar Sua obra na Terra. “Antes de ser escrito um livro do Nôvo Testamento, antes de ser pregado qualquer sermão depois da ascensão de Cristo, o Espírito Santo desceu sôbre os apóstolos em oração.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 502.
“Permanecei . . . Até”
Cristo não queria que os discípulos fossem para lugar algum, iniciassem qualquer obra ou pregassem um simples sermão antes que caísse o fogo, antes que o poder do alto se apoderasse dos obreiros da igreja principiante. Recomendou Êle: “Permanecei na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” S. Luc. 24:49. Cristo almejava incutir esta verdade fundamental no pensamento dos obreiros primitivos. O Pentecostes não era uma superfluidade espiritual mas uma absoluta necessidade. Não era algo que os discípulos podiam escolher ou deixar de escolher. Êle era uma imposição. Êles se defrontaram com a escolha entre o Pentecostes e o fracasso.
Um Segundo Pentecostes
A crua e desafiante verdade com que depara na atualidade a liderança e o ministério da Igreja Adventista do Sétimo Dia, é que nós também temos de escolher entre o Pentecostes ou o fracasso. A tarefa é demasiado grande para nós, mas não é demasiado grande para Deus. Dublim, Cartim, Mogadishu e até Lhasa não podem resistir ao poder das línguas repar tidas, como de fogo, ardendo através de homens, penas ou ondas hertzianas. Deus quer que o nosso tempo seja a época da chuva serôdia, do segundo Pentecostes, de Sua arremetida final para a conclusão da obra. Tem de ser assim. “Tampouco é possível a Satanás impedir uma chuva de bênçãos de cair sôbre o povo de Deus, como lhe seria cerrar as janelas do céu para que não chovesse sôbre a terra.” — Mensagens aos Jovens, pág. 133.
Ela se aproxima. Isto é certo. Perguntamos: Estareis vós, estarei eu preparado para receber suas bênçãos, seu poder e realizar nossa parte na terminação da obra? “Antes de os juízos finais de Deus caírem sôbre a Terra, haverá, entre o povo do Senhor, tal avivamento da primitiva piedade como não fôra testemunhado desde os tempos apostólicos.” — O Conflito dos Séculos, pág. 503.
Graças a Deus que ela está-se aproximando, irmãos! O fogo irá arder. O Espírito descerá com o poder da chuva serôdia. As fortalezas de Satanás cairão por terra. Serão evangelizadas as regiões não penetradas. A obra será terminada. Jesus virá nesta geração. Pertence-nos a bem-aventurada esperança, não a esperança desfeita. Os nossos próprios olhos verão o Rei em Sua glória, em nosso tempo, se tão sòmente conseguirmos ter agora uma nova visão a Seu respeito.
Fogo em Nosso Coração
Mas o pecado precisa ser eliminado. É mister haver um reavivamento. Devemos ser imbuídos de uma nova dedicação. Tem de haver fogo em nosso coração e no mecanismo de nossa organização. Nossa necessidade é idêntica à do movimento cristão primitivo — a necessidade de uma igreja repleta do Espírito Santo. Nos dias dos apóstolos o Espírito Santo destruiu todos os obstáculos, rompeu tôda oposição, evangelizou cidades corrompidas, extirpou heresias, frustrou movimentos espúrios, triunfou sôbre os opressores e alcançou a vitória. Sucederá o mesmo na atualidade. Necessitamos, porém, do Espírito Santo em nossa vida individual, para vencer o próprio eu e o pe-cado, para quebrar os grilhões de maus hábitos, para habilitar-nos a viver à altura das elevadas normas da mensagem do advento, para auxiliar-nos a permanecer ao lado da justiça ainda que caiam os céus.
Sim, há necessidade do Espírito Santo na vida de cada um de nós. A igreja precisa do poder do Espírito Santo para permanecer firme ao lado da fé em face de apostasia e deslealdade espiritual, para dominar circunstâncias adversas e para alcançar vitória em tôdas as partes do mundo.
“Ê mister haver uma reforma entre o povo, mas ela deve iniciar sua obra purificadora com os ministros.” — Testimonies, Vol. 1, pág. 469. Esta impressionante declaração significa que ela deve começar conosco, irmãos! Que pensamento comovedor e desafiante! Esta reforma e reavivamento deve principiar com os dirigentes ministeriais da igreja. Acaso não deve ela expandir-se como as vagas do oceano, através da América do Norte, da América do Sul, da Europa, da Ásia, da África, da Austrália e das ilhas do mar? Mediante total entrega acendamos os fogos de Deus que inflamem o mundo com a mensagem do Advento! Não quereis fazer semelhante entrega e compromisso no tempo atual?