A congregação da Igreja de Placid Place pegou seus boletins e tornou a olhá-los. Eles continham este anúncio: “Momentos do Pastor com as Crianças.” Dar-se-ia o caso de que, finalmente, depois de meses de creions, papel, balas de hortelã e chicletes, as crianças teriam sua própria parte especial no culto? O fato era que havia um inquietante bulício na plataforma. O Pastor Jay Cale subiu ao estrado e limpou a garganta (havia certo tremor em sua voz?).

— A Comissão do Culto reuniu-se na sexta-feira e decidiu que as crianças devem ser incluídas em nossos cultos… e ..„ portanto,… as crianças querem ter a bondade de vir à frente?

Jaime, que já tinha acabado de comer três doces, rabiscar três folhas de papel e quebrar dois creions, ouviu o prolongado convite e atendeu-o prontamente. Pulando de seu assento na décima segunda fileira, ele empregou toda a energia de seus sete anos de idade para dar à congregação uma imediata repetição da corrida vista pela televisão no dia anterior. Bem poucos pais tiveram tempo para tentar agarrar seus jovens atletas que estavam de partida.

O Pastor Cale parecia estar prestes a desaparecer sob os “cascos” da enorme manada. Mas, um pouco abalado por haver escapado por um triz, ele indicou por meio de gestos que as crianças deviam sentar-se nos degraus ah por perto. Chegara o Grande Momento — mas haveria uma dilação. A pequena Robbie, de três anos de idade, um dos primeiros a chegar à frente, descobriu que sua mãe não estava ao seu lado, começou a gritar a plenos pulmões e retomou à segurança do colo da mãe.

— Agora, CRIANÇAS — disse o Pastor Cale no audaz empenho de recuperar a iniciativa — a Bíblia afirma que Jesus ama a todos nós … e a gravura que tenho aqui…

— Joãozinho, pare com isso! (Ele estava puxando as tranças de uma menina sentada à sua frente.)

— A gravura que tenho aqui … mostra um pescador … Sim, eu sei que seu pai tem um barco. Este pescador … Crianças, fiquem quietas, por favor!

— O que esse pescador está procurando fazer?

— Fugir de sua mamãe, para não terem de brigar — respondeu em voz alta uma criança de cinco anos de idade e cabelos ruivos.

Encolhendo-se, o Pastor Cale não fez caso da resposta. Joãozinho, que momentaneamente deixara de puxar tranças, replicou:

— Pegar um peixe!

— Certo! … Não, Dickie, eu não tenho um barco. (De vez em quando a voz do Pastor Cale podia ser ouvida no meio da algazarra.)

— Sim, eu sei que seu papai foi pescar neste fim de semana, Margarida. O PONTO É ESTE: Jesus disse que devemos ser … pescadores de homens. Devemos partilhar o amor de Deus … Que é mesmo que devemos fazer? (O auditório-freme de expectativa.)

— Oh! ir pescar com Jesus. (Alívio!)

— Sim, … quero dizer … Oh! Oremos! Obrigado, Senhor, por Tua paciência e amor. Amém!

À medida que os anjinhos retornam ufanamente para junto de seus familiares (acaso não tinham contribuído para a educação de seu pastor?), o Pastor Cale se dirige para o púlpito, onde sua apresentação das onze horas parece caracterizar-se por um aspecto estranho e aturdido.

Na realidade, eles haviam contribuído para a educação do pastor! Infelizmente, ele não pôde progredir um pouco mais com a ajuda de outros professores, antes de participar da Escola Para Comunicadores Aspirantes do Evangelho às Criancinhas. Como alguém que tem tido experiência em ambas essas escolas, desejo partilhar algumas lições que teriam ajudado o Pastor Cale.

Em primeiro lugar, a decisão de que houvesse os Momentos do Pastor com as Crianças não devia ter sido tomada pela Comissão do Culto, ou mesmo pelo próprio pastor, na sexta-feira, pouco antes do Grande Momento. Cumpria que houvesse planejamento. A comissão devia perguntar: Que desejamos realizar? Que auxílio podemos prestar à pessoa que será convidada para dirigir essa parte? Como podemos usar esse período da melhor maneira possível? (E outras perguntas mais.) Colocar o fardo dessas decisões inteiramente sobre o dirigente “ungido” somente contribui para aumentar sua apreensão e ansiedade. Deve haver um espírito de mútuo apoio e animação entre o dirigente e a comissão.

Há valiosas razões para incluir as crianças no culto divino. Diz a Dra. Harriet Miller, professora de Educação Cristã no Seminário Teológico Unido, em Dayton, Ohio: “As crianças aprendem por experimentar intimidade com Deus e com os outros. Há poucos momentos de verdadeira reverência e admiração nos cultos regulares. Os pastores precisam ter alguma relação direta com as crianças, numa base informal e instrutiva.”

A preparação é essencial — mais essencial do que o Pastor Cale parecia compreender. Diz o Dr. Jorge Boone, clérigo presbiteriano nos Estados Unidos: “Em vez de ser simples, as crianças realmente compreendem coisas profundas. A preparação para partilhar o evangelho com elas amiúde requer mais exegese do que para os adultos.”

Se houver necessidade de incentivos e objetos, eles devem estar de antemão em seu devido lugar. Antes do culto, sempre convém fazer uma verificação, para certificar-se de que não foram removidos por alguma outra pessoa.

Ensaie. Não leia ao fazer a apresentação. As crianças ficam perturbadas. Quando você perder o fio do pensamento, elas ficarão muito contentes se houver uma mudança de assunto. Manter comunicação com a maioria das crianças que estão à sua frente é mais do que importante — é essencial! Fique em pé ou sente-se onde tanto as crianças como a congregação possam vê-lo e ouvi-lo.

Fale com clareza, mas não muito alto. As crianças têm aversão por vozes muito fortes. Mova-se de uma parte para a outra. As crianças gostam de movimento e correspondem à liberdade de movimento de quem fala. A maneira como você reage ao movimento delas determinará o resultado da experiência de mútuo aprendizado.

Pregue a Palavra. Certifique-se de estar partilhando algo que mereça ser comunicado. Prepare o espírito das crianças para a parte restante do culto fazendo alusões ao sermão que será proferido. Isso também pode aumentar o interesse dos adultos naquilo que irá seguir-se.

Não fique perturbado com a atenção dividida. Em geral você terá toda a atenção dos adultos e uma parte da atenção das crianças. A maioria das criaturas de olhos arregalados que estão à sua frente vieram para ouvi-lo. Não se preocupe com o pequeno número das outras. É difícil para todo orador prender a atenção de um grupo de indivíduos com tanta variedade etária e de interesses, pois o auditório composto de crianças varia geralmente de pequerruchos de dois anos e meio de idade até alunos da sexta série. Tenha o objetivo de partilhar alguma coisa de valor com a maioria reunida à sua frente, e de uma maneira que prenda a atenção e o interesse.

Você observará provavelmente muitas formas de exuberância juvenil, algumas das quais serão difíceis de vencer. Sua reação determinará, em grande parte, quão eficaz é sua influência sobre o grupo maior. Eis aqui alguns dos tipos mais comuns de distrações e alguns meios de reação e controle:

1. Os exibidos. A necessidade de atenção por parte dessas crianças é extremamente elevada. Elas farão qualquer coisa para obter atenção e aprovação. Sua reação pode significar a diferença entre melhor comportamento e o caos. Uma palavra bondosa pode fazer muita coisa para modificar a situação. Se a criança sabe que é amada e aceita quando age de modo menos agressivo, sua conduta irá melhorar.

2. Os tagarelas. Estas crianças competem com você pela atenção do auditório. Incentive-as a prestarem atenção junto com o grupo, com uma resposta como esta: “Obrigado por sua participação. Agora, crianças, vamos todos ouvir o que a Bíblia (o pastor, esta ilustração) tem para nos dizer.”

3. As crianças amedrontadas. Elas são intimidadas pelo ambiente. Tomar um momento para confortá-las não é inoportuno. Às vezes as crianças podem ser acalmadas sendo estimuladas a aproximar-se da pessoa que está falando.

4. Os divagadores. Se a criança não estiver destruindo algum objeto importante, não se distraia com as suas vagueações. Se for necessário “socorrer” a criança, convém fazê-lo sem qualquer comentário e com a menor agitação possível.

5. As crianças enfadadas. De vez em quando, você será saudado por olhares inexpressivos, alheios aos seus comentários. Não fique alarmado; inclua essas crianças na apresentação por meio de gestos ou toques suaves. Procure demonstrar-lhes que se interessa por sua presença. A cordialidade tem muito valor para abrir a personalidade de uma criança.

6. As crianças maiores. Lembra-se do irmão Alfredo? Por um momento, você também conquistou o seu interesse. Como a maioria dos adultos presentes, ele está prestando atenção — e não somente por causa das respostas que seu filho talvez esteja dando. Pode ser que ele recorde a ocasião em que era criança e ouviu a mensagem evangélica pela primeira vez. Esse momento especial não é apenas para as criancinhas se tomarem pequenos adultos, mas também para os adultos se tomarem como criancinhas, ouvindo a mensagem do evangelho com sincera fé e confiança.

Uma palavra de advertência: Não use o período especial das crianças para enviar mensagens “cifradas” para os adultos. Você terá a próxima meia hora para falar a estes últimos.

O que o dirigente deve partilhar com as crianças? Um pastor passou vários meses explicando objetos do santuário e mencionando sua importância para o culto. Outro imprimia cada semana um boletim especial para as crianças e explicava um aspecto diferente do culto de cada vez. Falar sobre a origem de hinos ou sobre a experiência de compositores de hinos sempre é apropriado. Certos dirigentes de igreja podem proporcionar rica fonte de histórias.

Experimente ampla variedade de recursos e idéias. Algumas regras simples podem ajudá-lo a partilhar o evangelho:

1. Faça uso da variedade. Nenhum estilo de comunicação pode ser eficaz para todas as crianças e em todas as situações. A variedade é a chave para comunicação significativa.

2. Proceda com naturalidade. Não procure “representar” ou ser diferente do que você é em outras circunstâncias. Se não agir com naturalidade, as crianças irão percebê-lo.

3. Transmita entusiasmo pelo que está fazendo, mas nunca fale insolentemente com as crianças. Procure tratar a cada uma delas como indivíduos que vieram partilhar algo e receber instrução.

4. Não se assuste com imprevistos. Não fique consternado se houver risos (ou ausência deles) quando uma criança disser alguma coisa. Seja paciente com as interrupções. Afinal de contas, você tem a palavra, e alguns estão ouvindo a mensagem que está sendo transmitida.

5. Esteja preparado. A atenção de seu auditório geralmente é proporcional à sua preparação.

6. Tenha o sincero desejo de partilhar o amor de Deus por meio de Sua Palavra. Este é o único requisito destas regras.

Como sua apresentação influirá sobre as crianças? Você só pode fazer conjecturas sobre como serão aplicadas as suas lições. Inevitavelmente, porém, as criancinhas se tornarão os adultos de sua congregação. E cada uma delas colherá alguma coisa das sementes que você plantou no jardim da fé.

Que nos resta fazer, senão avançar em paz e amor, convidando os pequeninos a participarem de experiências de crescimento que lhes avivem a fé?

Alvin C. Rose, pastor metodista em Jennings, Kansas, EE.UU.