Que fazer para manter o equilíbrio em nossa pregação? Não é fácil! Algum dia você já pregou um sermão que despertou em seus ouvintes reações de revolta? Ou produzem todos os seus sermões reações de aborrecimento? Se acontece isso, você deve ficar preocupado, porque, quando Jesus pregava, via de regra convidava Seus ouvintes a encontrarem paz interior (S. Mat. 11:28-30).

Quando você prega, nunca se produzem reações que levam a um diálogo de coração a coração? Nesse caso, é possível que também deva preocupar-se, pois se pregarmos como o fizeram os homens dos tempos bíblicos, alguns de nossos sermões produzirão reações. Naturalmente, não devemos procurar dificuldades gratuitas. Também não deixemos de cumprir nossa missão porque podem surgir problemas, ao apresentarmos a Palavra de Deus. Alguns dos maiores pregadores das Escrituras escandalizaram seus ouvintes com discursos indesejáveis do ponto de vista do público (S. Luc. 4:28-30; S. João 6:60-62; 10:24-30). João Batista, o maior dos profetas, como disse Jesus, ofendeu a Herodes. Estêvão, magoou profundamente os que assistiam ao culto, no dia do seu martírio (Atos 7:57 e 58). Nenhum deles, porém, tinha como objetivo ferir, escandalizar ou ofender. Procuravam tão-somente comunicar a mensagem de Deus para a necessidade de seus ouvintes, e isto produzia uma de suas reações: conversão ou revolta.

Mas volto a minha pergunta anterior: Como manter o equilíbrio ao partilhar a Palavra durante o sermão? Herodes deixou-se guiar por motivações indignas ao pregar, pelo menos é o que sugeriram os resultados evidenciados pela glorificação em favor de sua pessoa, por um povo que exclamava freneticamente: “Voz de Deus, e não de homens!”. Mas isto pareceu mal aos olhos de Deus, e ele até terminou mal diante dos mesmos homens que o aclamaram (Atos 12:21-24).

Outro fato que decorre da análise dos sermões bíblicos é que não deveria ser o desejo do povo o que determine a natureza e o conteúdo da mensagem. Isto poderia eventualmente corromper a pregação, o pregador e a congregação (vejam-se, por exemplo: Isa. 30:9 e 10; Ezeq. 13:9; 22:26-28; II Tess. 2:11; II Tim. 3:1-5). Também não parece ser a vontade de Deus que o sentimento de autoconservação e o desejo de ser aceito (reações muito lógicas da natureza humana) impulsionem nossas mensagens ao pregarmos (Jer. 23:29-31). Mas aprendi também na Bíblia que não deveriam ser as frustrações e agressividades do pregador os parâmetros que o levem a escolher o tema de sua pregação (Filip. 1:15).

Pela terceira vez, volto à pergunta: Como manter o equilíbrio? À luz da pregação bíblica, parece claro que o sermão deveria ser o resultado harmonioso da soma das necessidades dos ouvintes, mais a vontade de Deus expressa na revelação e guia do Espírito Santo. Tudo isso deve ser expresso em palavras bem-intencionadas, “sazonadas” (Col. 4:6) e compreensíveis aos ouvintes. Deveríamos pregar para salvar. Se isso significa pedir ao Senhor “língua erudita, para que eu saiba dizer a seu tempo uma boa palavra ao que está cansado” (Isa. 50:4), que o façamos. Se a mensagem oportuna é de repreensão, demo-la com amor (S. Tia. 5:19 e 20). Mas, em todos os casos, peçamos em oração ao Senhor que nos indique o que Ele deseja que digamos ao povo.

Naturalmente, não tenho o direito de dizer o que nos pregaria Jesus hoje, a menos que Ele o tivesse revelado. Todavia, há duas coisas que me surpreendem e me fazem pensar que deveríamos voltar a alguns dos aspectos da pregação profética e apostólica: A primeira delas é que não há elogio para Laodicéia na mensagem às sete igrejas. Ao contrário, depois de descobrir uma situação espiritual calamitosa, o Senhor diz: “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te” (Apoc. 3:19). É provável que, se o Senhor ocupasse nossos púlpitos hoje, voltasse a proferir discursos escandalizadores aos ouvidos de muitos de nós que somos laodiceanos.

O segundo fato que surge diante dos meus olhos ao ler a mensagem de Laodicéia é que o Senhor dirige o convite mais terno que se registra nas Sagradas Escrituras: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Apoc. 3:20). Portanto, Ele o ama intensamente e deseja seu bem espiritual.

Evidentemente, esse equilíbrio no uso de uma palavra de Deus que é ao mesmo tempo aguda espada de dois fios (Heb. 4:12) e alimento espiritual que traz gozo e alegria ao coração (Jer. 15:16), só se consegue mediante a orientação do Espírito Santo. Ele é quem produz uma santa inquietação, a qual leva ao arrependimento, que converte. E é nesse momento que surge a alegria da salvação. E, graças a Deus! o Espírito está a nossa disposição, se desejarmos viver um ministério sincero nas mãos de Jesus.

— Daniel Belvedere.