Se o evangelismo não fosse um importante alvo de nosso sistema educacional, nossas escolas não deveriam ser chamadas escolas cristãs.
O evangelismo sempre foi o motivo impelente da Igreja Adventista do Sétimo Dia. O evangelismo é indispensável ao crescimento e sobre vivência da igreja. Diz-se que se a igreja deixar de evangelizar, ela passa a ser uma geração que caminha para a extinção. “Resgatar ao que perece”, eis o lema do evangelismo, pois o trabalho da educação destina-se a “restaurar no homem a imagem de seu Autor.” 1
A educação adventista busca atingir aquilo que está compreendido na grande comissão evangélica (Mat. 28:19 e 20). Não é por mera coincidência que os objetivos da educação adventista estejam inseparavelmente ligados aos objetivos e propósitos da igreja, pois “no mais alto sentido, a obra da educação e da redenção são uma”. 2
Tomar a verdade atrativa
Os seres humanos são atraídos pelas coisas belas e cativantes. É por isso que os perfumes custosos estão embalados em recipientes atrativos. Este princípio se aplica também à experiência espiritual.
A verdade é sempre bela, porque é criação de Deus. Para ter acentuada a sua elegância, deve a verdade divina estar em um atrativo recipiente vivo, o vaso humano. Muitas vezes, porém, a pureza da verdade divina é maculada pela conduta pecaminosa da pessoa. As pessoas são atraídas para Cristo, ou dEle se afastam, pelas manifestações de caráter que observam em Seus professos seguidores. Nas palavras de Ellen White, “um dos meios mais eficazes de conquistar almas para [Cristo] é exemplificar o Seu caráter na vida diária. Nossa influência sobre os outros não depende tanto do que dizemos, como daquilo que somos. Os homens podem combater e desafiar a nossa lógica, podem resistir os nossos apelos; mas uma vida de desinteressado amor é um argumento que eles não podem contradizer. Uma vida coerente, caracterizada pela mansidão de Cristo, é um poder no mundo”. 3
Para atrair as pessoas e ganhá-las para Cristo, devemos trajar o que o profeta Isaías descreve como sendo o traje mais apropriado, as “vestes de salvação” e o “manto de justiça” (Isa. 61:10). Não há lugar no qual a presença do fulgor divino seja mais necessária do que no ambiente da escola. Enquanto as instituições seculares buscam em primeiro lugar a superioridade acadêmica, as escolas adventistas devem tomar suprema a excelência moral e a espiritual. Ellen White fez esta observação: “É o grau de poder moral que impregna uma escola, que constitui uma prova de sua prosperidade. É a virtude, inteligência e piedade das pessoas que compõem nossas escolas, não o seu número, que deve constituir uma fonte de alegria e gratidão.”4 A força moral da instituição não é só a prova do clima de uma escola cristã genuína; é também uma poderosa força evangelística.
Objetivos do evangelismo do campus
O estudantes das escolas adventistas representam uma grande classe de crenças, atitudes e interesses religiosos. Esta gama apresenta um desafio evangelístico que deve ser satisfeito com o poder do Espírito Santo.
De acordo com o Relatório Estatístico Mundial de Educação de 1988, os estudantes não adventistas compreendem um terço dos 737.630 estudantes que estão matriculados nas 5.430 es-colas adventistas espalhadas por todo o mundo. Estes incluem tanto não cristãos como cristãos de outras filiações religiosas. A afluência de estudantes não adventistas às escolas adventistas é maior especialmente em países nos quais as leis proíbem a consideração da religião como um fator na aceitação de alunos. Esta situação apresenta um grande desafio aos membros da família da escola, no sentido de testemunharem de Cristo aos alunos não adventistas por preceito e exemplo. Eles devem conhecê-Lo, o Autor da vida eterna.
Na antiga cultura hebraica, havia homens “consagrados a Deus” que seguiam éticas sociais e normas religiosas prescritas. Eles eram chamados nazireus. Alguns serviam por certo período de tempo; outros, enquanto vivessem. Sansão foi declarado nazireu quando ainda estava no ventre de sua mãe (Juizes 13:5).
Na moderna cultura da escola adventista, há alunos que podem ser chamados “nazireus adventistas”. Há filhos de pais adventistas que, em certo sentido, são “consagrados a Deus”. Eles têm vivido em uma espécie de casulo espiritual, sem passar pelas dores de parto da conversão. Sim, eles acreditam em Cristo co-mo seu Salvador pessoal, mas não passaram pelas purificadoras “aflições do evangelho” (II Tim. 1:8). Não tiveram que experimentar a dificuldade de deixar de beber, fumar, ou as companhias e entretenimentos questionáveis. Sua resguardada experiência religiosa necessita ser fortalecida de maneira que eles possam suportar sofrimentos e tentações. Como filhos na carne, eles necessitam alimentar-se do leite da palavra de Deus. Aos “recém-nascidos em Cristo”, Paulo testificou: “Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis” (I Cor. 3:2).
Há também um bom número de estudantes que quase já esqueceram seu primeiro amor a seu Senhor. Eles estão ligados à igreja por um tênue fio. Acham-se em nossas escolas em resposta à sugestão de seus pais, pastores e amigos cristãos. Muitos pais consideram as escolas adventistas como “cidades de refúgio” para seus filhos e filhas que estão presos num torvelinho mundano.
A ambivalência religiosa e a insegurança que se observa em muitos jovens que estudam nas escolas adventistas, apresentam um enorme desafio para os educadores e os líderes educacionais da igreja. Como podem estes jovens ser orientados para seguir ao Senhor? Como podem a verdade e o Autor da verdade tornar-se atrativos para eles? Que estratégias evangelísticas podem ser aplicadas para conquistar, conservar e edificá-los de tal maneira que se tornem vasos dignos da verdade, poderosos pregadores do evangelho, e “concidadãos dos santos” (Efés. 2:19)?
Tentativas evangelísticas de aproximação
Aulas de Evangelismo. Todo professor deveria trazer para seu ministério pedagógico a perspectiva de evangelismo. A sala de aulas oferece a melhor oportunidade para que o professor adventista transmita aos estudantes o conhecimento a respeito de Deus.
Numa escola primária, o professor estava dando instruções sobre alimentação, citando alguns princípios bíblicos para apoiar o ponto de vista adventista da boa nutrição. A apresentação não era de modo algum uma crítica ao que as outras pessoas estavam comendo ou bebendo. Os alunos foram deixados livres para fazer perguntas sobre assuntos que não estavam claros para eles. O menino não adventista foi para casa naquela tarde determinado a partilhar com seus familiares o que aprendera na escola a respeito de alimentação saudável. Ele se recusou a comer alguns dos alimentos prepara-dos para o jantar, pois seu professor os descrevera como impróprios para a saúde. Podeis imaginar a confusão e as perguntas que isto suscitou na família. O incidente levou o pai do menino a fazer perguntas sobre a Bíblia e, finalmente, a família aceitou o evangelho. O professor estava empenhado em ensino evangélico, uma arte evangelística que conquista almas para o reino do Céu.
Pregação, estudo bíblico, culto e música. Estamos encarregados de pregar a Palavra de Deus. Todo cristão possui o ímpeto de partilhar o amor de Deus com os outros. Os pecadores devem ouvir o convite de Deus para ir a Ele em busca de perdão. Os jovens das escolas devem ser guiados a Cristo, seu melhor Amigo e Salvador. Contudo, Paulo advertiu que devemos pregar ao mundo “com toda a longanimidade” (II Tim. 4:2).
Pode ser desagradável ouvir a verdade. Não obstante, não importa quão radical a verdade possa parecer à alma não regenerada, encontrará aceitação, se dita com amor (Efés. 4:15) e demonstrada com amor (Jer. 31:3). Ellen White descreve o poder do amor como “uma influência que abranda e transforma”, e diz que ele “se apossará da vida do pecador, e lhe influenciará o coração quando todos os outros meios se tiverem revelado mal-sucedidos”. 5 A simpatia e a bondade divina é a marca registrada da aproximação evangelística de Cristo. Isaías a descreve poeticamente nestas palavras: “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega” (Isa. 42:3).
Os períodos de culto na escola e na igreja são excelentes ocasiões para se instruírem os estudantes nos princípios do viver bem e em como estabelecer um sólido relacionamento com Cristo.
A música, também, estabelece um contato especial com as pessoas jovens. Elas gostam de cantar. Muitos estudantes relacionam sua conversão com um cântico ou cânticos que ouviram, ou com a influência de um grupo coral ao qual se uniram. No Instituto Adventista de Saleve, Collonges, França, e no União Franco-Belga, foram organizados vários corais com propósitos evangelísticos. Os coristas têm dado assistência fazendo pesquisas evangelísticas; além disso, 30 membros do coro deram também início à marcha para o batismo. Estas melodias de contato evangelístico adventista são praticadas por muitas instituições adventistas em todo o mundo.
Relacionamento pessoal. Os administradores de escolas e faculdades têm muitas oportunidades de cultivar relacionamento pessoal com os estudantes. Transpor o abismo entre os profissionais e os aprendizes é importante na obra de ganhar almas.
Não foi senão no meu último ano do curso universitário que tive a oportunidade de estudar em uma escola superior cristã, e jamais esquecerei o professor de Bíblia, que se interessou por mim logo que ali cheguei. Eu não era um aluno problemático; contudo, em meus três anos de escola superior, eu havia adquirido alguns hábitos que, se fosse permitido se desenvolverem, poderiam ter impedido o meu êxito. Esse bondoso professor cristão mostrou um interesse paternal. Algumas noites, quando ele passava pelo dormitório dos moços, convidava-me para estudar com ele os mistérios dos céus estrelados. Eu sabia que ele não estava tão interessado nas estrelas como o estava em mim. Sua identificação de estrela era bastante singela, mas ele instilou em mim o desejo de que a bondade de Cristo brilhasse em meu coração. Que sentimento confortador me inundava a alma quando aquele homem de Deus orava fervorosamente em favor da graça e direção do Senhor em minha vida!
Posso testificar que o ministério pessoal daquele professor de Bíblia fez a diferença em minha vida, e que seu trabalho foi recompensado. Ellen White fez um desafio a todos os professores de escolas adventistas. Disse ela: “Desde o mais elevado até o mais baixo grau, devem eles revelar cuidado especial em favor da salvação dos alunos e, por meio do esforço pessoal, procurar guiar-lhes os pés por caminhos retos.” 6
Algumas escolas adventistas instituíram um plano para facilitar o relacionamento pessoal entre professores e estudantes, através do qual eles reclamem Reuniões Sociais Para Salvar. Quando os professores e os alunos se associam, eles estabelecem um elo de amizade que lhes torna mais fácil falarem sobre assuntos mais sérios, tais como seu relacionamento com Cristo.
Adoção em fins-de-semana. A melhor tentativa de aproximação evangelística na conquista de almas é a aproximação um-para-um. Pode ser realizada com mais eficiência num ambiente doméstico.
Numa escola com internato, a faculdade convida os alunos para estarem com eles durante um fim-de-semana. O estudante se torna um membro adotivo da família durante o fim-de-semana, e participa das atividades domésticas e também dos serviços religiosos da família. Naturalmente, o relacionamento não termina depois que passa o fim-de-semana. O aluno se torna ligado à família como sua família substituta. O fortalecimento da afinidade do estudante com a família de Deus na Terra, ajuda a despertar o desejo de estar com a família de Deus no Céu.
Programas pastorais. A Universidade Coreana de Sahmyook, em Seul, Coréia, tem aceito nos últimos anos um grande número de alunos não adventistas, porque a discriminação por motivos religiosos é ilegal na Coréia. Para atender a este desafio, a instituição criou o (PDP) “Programa Departamental do Pastor”, e o (PPS) “Programa Pastoral do Subpastor”.
No PDP, é designado um professor de teologia como pastor para um ou mais departamento acadêmico. Suas responsabilidades pastorais, juntamente com o seu ensino regular, sobrecarregam. O professor de teologia é assistido por um professor leigo no departamento, aconselhando, dando estudos bíblicos e orientando os alunos na prática de princípios espirituais.
Os alunos de teologia tomam parte no PPS. Esses alunos se tornam amigos dos não adventistas, e depois os convidam para assistir a aulas sobre amizade, nas quais são apresentados os estudos bíblicos. Por meio desses programas conquistadores de almas, aquela universidade consegue uma boa colheita anual de almas.
Algumas instituições adotam a tentativa de aproximação “companheiro”. Alunos adventistas experientes, não importa o seu preparo acadêmico, assistem os alunos não cristãos ou não adventistas, ajudando-os na pesquisa de conhecimento religioso e no estabelecimento de uma amizade com Cristo.
Preparando discípulos para o serviço
Um ministro instruído é uma honra para Deus. Em virtude dos diversos grupos que uma moderna testemunha do evangelho tem que enfrentar, torna-se necessário o formal preparo ministerial. Há, para a igreja, uma mensagem clara: “Cumpre estabelecer planos sábios para fortalecer a obra feita em nossos centros de treinamento. Devem ser estudados os melhores métodos de preparar moços e moças consagrados para assumir responsabilidades e conquistar almas para Cristo.”7 Mais tarde, Ellen White aconselhou que “sua educação é de primordial importância em nossos colégios [academias], e em nenhum caso deve ele ser ignorado ou considerado como um assunto secundário.” 8
Nossas escolas têm capacidade para preparar obreiros para atender ao desafio de nossos dias. O objetivo de nossa obra educacional deve ser, como disse Charles Oliver: “Cada púlpito um cristão; cada cristão um obreiro; cada obreiro treinado.”
Conquanto o preparo ministerial seja importante como exercício para testemunhar, não devemos esquecer a importância do poder do Espírito Santo. Deus pode usar qualquer pessoa — não importa o conhecimento educacional — que esteja inteiramente dedicada a servir ao Senhor.
Escolas adventistas como centros evangelísticos
As escolas adventistas são centros evangelísticos nos quais os administradores, o corpo docente e os estudantes, seja qual for sua disciplina acadêmica, podem funcionar como evangelistas. Essas instituições são fontes de inspiração espiritual que despertam no jovem um forte desejo de relacionamento com Cristo.
No Colégio de Mountain View (CMV) e no Colégio União da Indonésia (CUI), vários estudantes muçulmanos se têm tornado cristãos. Um jovem muçulmano que estudou no CUI, tornou-se mais tarde o presidente da União-Missão da Indonésia, e os moços que concluíram seus estudos no CMV estão agora ocupando posições importantes na obra denominacional. Um educador cristão tornou sucintamente clara a importância do evangelismo: “A educação cristã não pode ser cristã, a menos que seja evangelística. Ela está conquistando, conservando e edificando na fé todos aqueles que estão comprometidos com nossas responsabilidades. Falhar nesse ponto é falhar na razão principal de nossa existência e de nosso trabalho. O evangelismo da escola é o evangelismo que ocorre por meio do ensino. Inclui a vivência da vida cristã. O evangelismo é um grande objetivo da educação cristã.” 1 2 3 4 5 6 7 8 9
As instituições adventistas não devem ocupar todo o seu tempo e recursos atendendo ao seu próprio rebanho. Elas têm a responsabilidade de levar as boas novas além de seus próprios campus. Cada sábado de manhã, no Colégio de Mountain View, nas Filipinas, uma frota de jipes e caminhões da II Guerra Mundial sai do campus e vai pelas pequenas e grandes estradas, levando estudantes e professores às comunidades vizinhas do colégio. Outros alunos tomam as trilhas da montanha sinuosa a pé para fazer culto com grupos que se encontram em lugares inacessíveis aos veículos motorizados. Hoje, dezenas de igrejas pontilham as colinas e vales que cercam o CMV, como resultado do esforço dos alunos e do corpo docente. Esta experiência não é exclusiva do CMV. Ela ilustra o que os educadores adventistas e seus alunos estão fazendo para espalhar a mensagem de salvação em muitas partes do mundo.