“E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera”
Já se passaram mais de seis mil anos, desde o momento em que foi celebrado o primeiro sábado na Terra; e, no tempo, a distância é fatal. O transcorrer dos dias, meses, anos e séculos, também nesse caso tende a apagar as intenções originais que tinha o Criador, ao instituir esse memorial sagrado. Junto com o passar do tempo, o inimigo atua
no sentido de fazer com que ocorra exatamente isto: a ã da lembrança do sábado na mente de homens e mulheres, ou confusão a respeito do seu significado. Durante séculos, os sinceros filhos de Deus têm mantido a observância do sábado entre o legalismo e o liberalismo, a obrigação e o prazer, entre as formas externas e as atitudes do coração.
Porém, o relato bíblico da instituição desse dia, na semana da criação, é contundente ao nos revelar a maneira como Deus o considerou: “Assim, pois, foram acabados os céus e a Terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a Sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera” (Gn 2:1-3).
Ou seja, não existe dúvida quanto ao fato de que Deus santificou o sábado, embora o relato não forneça detalhes quanto ao modo pelo qual Adão e Eva observaram o primeiro sábado. De igual modo, não somos informados a respeito de quantos sábados se passaram entre a criação e a triste experiência da queda do homem no pecado.
Propósito original
Contudo, duas importantes declarações encontradas no livro Patriarcas e Profetas nos ajudam a conhecer, com mais precisão, o propósito de Deus, ao instituir o sábado. A primeira nos diz: “Seguindo o exemplo do Criador, deveria o homem repousar neste santo dia, a fim de que, ao olhar para o céu e para a Terra, pudesse refletir na grande obra da criação de Deus; e para que, contemplando as provas da sabedoria e bondade de Deus, pudesse seu coração encher-se de amor e reverência para com o Criador” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 47).
Perceba três verbos especialmente utilizados nessa declaração: “repousar”, “refletir” e “contemplar”. Eles constituem o caminho através do qual o coração do ser humano se enche “de amor e reverência para com o Criador”. Agora, a segunda afirmação: “Deus viu que um repouso era essencial para o homem, mesmo no Paraíso. Ele necessitava pôr de lado seus próprios interesses e ocupações durante um dia dos sete, para que pudesse de maneira mais ampla contemplar as obras de Deus e meditar em Seu poder e bondade. Necessitava de um sábado para, de maneira mais vivida, o fazer lembrar de Deus, e para despertar-lhe gratidão, visto que tudo quanto desfrutava e possuía viera das benignas mãos do Criador” (Ibid., p. 48).
Aqui, os principais verbos são: “deixar”, “contemplar” e “meditar”, que contêm a mesma ideia. Assim sendo, de acordo com a primeira citação, o sábado foi instituído a fim de que o coração humano se enchesse de amor e de reverência para com o Criador. A segunda declaração afirma que a instituição desse dia tem co mo objetivo possibilitar ao homem a oportunidade de manifestar gratidão a Deus, em virtude das maravilhas criadas. Ainda hoje, as atividades realizadas durante as horas sabáticas devem nos inspirar os mesmos sentimentos de amor, reverência, admiração, louvor e gratidão.
Depois do pecado
No ambiente puro e santo do Éden, antes que a mácula do pecado fosse nele introduzida, gratidão e adoração eram os sentimentos naturais da criatura para com seu Criador. Porém, após a entrada do pecado, surgiu mais um motivo de agradecimento, esboçado no primeiro anúncio da vinda de um Salvador: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3:15). Esse texto nos apresenta o plano da redenção, desenhado pelo amor eterno de Deus. A entrada do pecado e o passar do tempo não fizeram mais que aumentar essa necessidade. E a função do sábado se torna cada vez mais nítida: adoração a Deus, criador do céu, da Terra, do mar e de tudo o que neles existe.
É certo que Ele necessitou definir em termos práticos, para o povo de Israel, o que significava “deixar”, “repousar”, “refletir”, “contemplar”. Com isso, desejava mostrar meios ou formas que podiam ser empregados a fim de tornar no sábado um dia especial.
“No Éden, Deus estabeleceu o memorial de Sua obra da criação, depondo Sua bênção sobre o sétimo dia. O sábado foi confiado a Adão, pai e representante de toda a família humana. Sua observância deveria ser um ato de grato reconhecimento, por parte de todos os que morassem sobre a Terra, de que Deus era seu Criador e legítimo Soberano; de que eles eram a obra de Suas mãos, e súditos de Sua autoridade. Assim, a instituição era inteiramente comemorativa, e foi dada a toda a humanidade. Nada havia nela prefigurativo, ou de aplicação restrita a qualquer povo.”
“Era o desígnio de Deus que o sábado encaminhasse a mente dos homens à contemplação de Suas obras criadas. A natureza fala aos sentidos, declarando que há um Deus vivo, Criador e supremo Governador de tudo. A beleza que reveste a Terra é um sinal do amor de Deus. Podemos vê-Lo nas colinas eternas, nas árvores altaneiras, no botão que se entreabre, e nas delicadas flores. Tudo nos fala de Deus. O sábado, apontando sempre para Aquele que tudo fez, ordena aos homens abrirem o grande livro da natureza, e rastrear ali a sabedoria, o poder e o amor do Criador.”
“Os que ocupam na igreja cargos de liderança não devem esgotar durante a semana a força física e mental, de modo a lhes não ser possível, no sábado, levar para a igreja a influência vivificante do evangelho de Cristo. Limitai o trabalho físico de cada dia, mas não defraudeis a Deus, rendendo-Lhe, no sábado, um culto que não pode aceitar.”
“Ao estabelecerem novas igrejas, devem os pastores dar instruções cabais quanto à maneira correta de observar o sábado. Devemos acautelar-nos de que os costumes frouxos que prevalecem entre os observadores do domingo não sejam adotados pelos que professam observar o dia de repouso de Deus.”
“A pregação nas reuniões de sábado em geral deve ser breve, dando-se oportunidade aos que amam a Deus, para exprimir gratidão e tributar-Lhe culto individual.”
Mais tarde, a história dos israelitas foi marcada por uma cadência cíclica. Quando eles viviam momentos de prosperidade, eram possuídos por sentimentos de superioridade, criam que eles mesmos eram os artífices do seu êxito, começavam a se envolver com os povos vizinhos e paulatinamente iam caindo em apostasia e idolatria, até que esgotavam a paciência de Deus. Com pesar, o Senhor permitia que alguma nação que vivia à sua volta os dominasse. Estando na escravidão e sob domínio estrangeiro, o povo de Deus clamava a Ele que o atendia mais uma vez, es colhendo um líder fiel e que por Seu poder realizava milagres extraordinários. Obtinham, então, novamente, a liberdade até que, anos mais tarde, reiniciassem o ciclo.
Dessa sucessão de fatos, o povo de Deus aprendeu que a prosperidade e a paz deviam estar inseparavelmente acompanhadas pela fidelidade. Então, os israelitas criaram centenas de leis que prescreviam “como” o sábado devia ser guardado, a fim de não serem achados infiéis. Desse modo, o que era um “meio” para tornar esse um dia especial, em muitos casos, chegou a ser um “fim”. Foi então que surgiu o frio legalismo que reinou inclusive no período em que Jesus viveu entre os homens.
Testemunho bíblico
As Escrituras Sagradas são muito claras em promover o objetivo original de Deus para o sábado. Seus escritores deixam claros exemplos de defesa do verdadeiro sentido desse dia. Isaías é um deles: “Se desviares o teu pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da Terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do Senhor o disse” (Is 58:13,14).
Embora, como pastores, esteja mos envolvidos em muitas atividades durante o sábado, não devemos nos esquecer de que também somos incluídos entre os adoradores do Deus criador dos céus e da Terra. Assim sendo, as muitas atividades não nos isentam do contato pessoal com a Bíblia. Esse é o meio ideal para aumentar nossa fé. O apóstolo Paulo escreveu: “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10:17). Esse contato com as Escrituras também é um poderoso recurso para nos possibilitar um conhecimento cada vez mais pro fundo de Cristo: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de Mim” (Jo 5:39). E também é indispensável para transformar a vida: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3:16,17).
É nosso privilégio experimentar esse encontro com Deus através de Sua Palavra; aproximar-nos com atitude de filhos que conversam com seus pais, expondo seus temores, preocupações, lutas e ansiedades, e recebem conselhos. Aquela entre vista que acontecia face a face entre o Criador e Suas criaturas humanas, lá no Éden, tornou-se impossível por causa da barreira que foi erguida pelo pecado. Todavia, entre outros meios, ela hoje é possibilitada através de Sua Palavra. Esta é a relação do sábado com a Bíblia: juntos, eles nos dão a chance de experimentar a comunhão que Deus planejou ter com Seus filhos.
Quando a barreira do pecado for definitivamente eliminada, quando se fechar o parêntese do pecado, já não mais necessitaremos da Bíblia. Veremos a Deus face a face, e o sábado será eterno, pois estaremos contemplando, refletindo, agradecidos, cheios de amor e reverência diante do nosso Criador, pelos séculos da eternidade.
“As necessidades da humanidade sofredora não devem jamais ser negligenciadas. Por Seu exemplo o Salvador nos mostrou que é correto aliviar os sofrimentos no sábado.”
“Não devíeis ser como homens destituídos de vida espiritual. Os crentes necessitam do vosso auxílio no sábado. Dai-lhes o alimento da Palavra de Deus. Oferecei a Deus, nesse dia, vossas melhores oferendas. Ofertai-Lhe, no Seu santo dia, a vida preciosa em serviço consagrado.”
“Todo o Céu celebra o sábado, mas não de maneira ociosa e negligente. Nesse dia, todas as energias do ser devem estar despertas; pois não temos que nos encontrar com Deus e com Cristo, nosso Salvador? Podemos contemplá-Lo pela fé. Ele está desejoso de refrigerar e abençoar cada um de nós.”
“O sábado não deve ser passado em ociosidade, mas tanto em casa como na igreja, cumpre-nos manifestar espírito de adoração. Aquele que nos deu seis dias para nossas ocupações materiais, abençoou e santificou o sétimo dia e o separou para si. Nesse dia, Deus Se propõe a abençoar de maneira especial todos os que se consagram a Seu culto.”
“Cada qual deve sentir que tem uma parte para desempenhar, a fim de tornar interessantes as reuniões de sábado. Não devemos reunir-nos simplesmente para preencher uma formalidade, e sim para trocar ideias, relatar nossa experiência diária, oferecer ações de graça e exprimir nosso sincero desejo de ser iluminados para conhecer a Deus e a Jesus Cristo, a quem Ele enviou.”