As perguntas teológicas e sua importância para o crescimento espiritual

Tanto quanto me lembro, sempre tive muitas perguntas. Em minha infância, mais de uma vez não consegui dormir à noite, em virtude das várias questões que surgiam em minha mente, particularmente sobre Deus, Seu amor e Sua justiça. Lembro-me de lutar com a pergunta, “Por que um Deus amoroso finalmente destruiria os pecadores?” Eu imaginava que a resposta estaria em algum dos livros de meu pai.

Então eu orava e buscava uma solução. À medida que a noite avançava, eu continuava pensando: “Se eu apenas buscar um pouco mais, certamente encontrarei a resposta.” Às vezes encontrava respostas que considerava satisfatórias. Com o tempo, porém, aprendi que mesmo essas respostas levavam a mais perguntas.

Continuo fazendo uma série de perguntas atualmente. De fato, essa tem sido uma das chaves que tenho utilizado para conhecer a Deus profundamente. No entanto, talvez você tenha ouvido alguém dizer que devemos ter cuidado para não fazer muitas perguntas, principalmente teológicas.

Em vários círculos, é comum minimizar a importância de se fazer questionamentos e buscar um conhecimento mais profundo sobre Deus. “Não importa o que sabemos”, dizem alguns. As tendências da cultura nos últimos tempos parecem apoiar isso. Como Martin Luther King declarou: “Raramente encontramos homens que voluntariamente se engajam em pensamento profundo. Há uma busca quase universal por respostas fáceis e soluções precipitadas. Nada dói mais a algumas pessoas do que ter de pensar.”1

É importante buscar conhecimento sobre Deus? É claro que devemos distinguir entre o verdadeiro conhecimento e o “que é falsamente chamado conhecimento” (1Tm 6:20, NVI). O verdadeiro conhecimento é frequentemente elogiado em toda a Bíblia. Por exemplo, “o temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1:7, cf. Pv 10:14, 12:1, 14:18, 19:2).

Em Oseias 4:6, Deus proclamou enfaticamente: “O Meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também Eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também Eu me esquecerei de teus filhos.”

Jesus disse que o primeiro grande mandamento é amar o Senhor nosso Deus com todo nosso coração, alma, força e mente (Lc 10:27). Paulo, por sua vez, enfatizou a batalha da mente: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”
(2Co 10:4, 5; Fp 1:8-11).

Perguntas e respostas

O conhecimento de Deus a que Paulo se referiu requer aprofundamento na revelação divina, particularmente em Sua Palavra. Isso demanda muita humildade e disposição para ser ensinado. Se você acha que sabe o suficiente, é muito improvável que aprenda algo. Se não está disposto a fazer perguntas e buscar respostas, como chegará ao conhecimento de Deus?

Embora muitos tenham medo de questionar Deus, é impressionante ver nas Escrituras quantas vezes Ele dá atenção às perguntas. Gênesis 18 registra uma conversa que Abraão teve com o Senhor.
A pergunta do patriarca se refere às cidades extremamente perversas de Sodoma e Gomorra: “‘Destruirás o justo com o ímpio?’” (Gn 18:23). Deus respondeu: “‘Não!’” Abraão não desistiu: “‘Se houver, porventura, cinquenta justos na cidade, destruirás ainda assim e não pouparás o lugar por amor dos cinquenta justos que nela se encontram? Longe de Ti o fazeres tal coisa, matares o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio; longe de Ti. Não fará justiça o Juiz de toda a Terra?’” (Gn 18:24, 25).

Se você acha que sabe o suficiente, é muito improvável que aprenda algo. Se não está disposto a fazer perguntas e buscar respostas, como chegará ao conhecimento de Deus?

Deus respondeu: “‘Se Eu achar em Sodoma cinquenta justos dentro da cidade, pouparei a cidade toda por amor deles.’ Disse mais Abraão: ‘Eis que me atrevo a falar ao Senhor, eu que sou pó e cinza’”
(Gn 18:26, 27). Observe que Abraão faz perguntas difíceis e contundentes. Entretanto, de modo muito humilde e reverente.

O patriarca não parou com sua primeira pergunta. Ele a repetiu outras vezes:
E se houver apenas 45, apenas 40, apenas 30, apenas 20, e finalmente: “‘Não se ire o Senhor, se lhe falo somente mais esta vez: Se, porventura, houver ali dez?’ Respondeu o Senhor: ‘Não a destruirei por amor dos dez’” (Gn 18:32).

Moisés também questionou Deus repetidamente com perguntas difíceis. Para tomar apenas um entre muitos exemplos: quando os israelitas murmuraram contra Moisés em virtude do aumento da carga de trabalho imposto sobre eles pelo Faraó após o pedido por libertação, o profeta perguntou: “‘Ó Senhor, por que afligiste este povo? Por que me enviaste? Pois, desde que me apresentei a Faraó, para falar-
lhe em Teu nome, ele tem maltratado este povo; e Tu, de nenhuma sorte, livraste o Teu povo’” (Êx 5:22, 23; cf. 32 – 34; Nm 21). Deus respondeu a Moisés? Sim, com milagres maravilhosos e libertação, culminando com o próprio Êxodo.

De modo semelhante, Gideão perguntou a Deus sobre a severa opressão dos midianitas: “‘Ai, Senhor meu! Se o Senhor é conosco, por que nos sobreveio tudo isto? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Porém, agora, o Senhor nos desamparou e nos entregou nas mãos dos midianitas’” (Jz 6:13). Novamente, Deus inequivocamente respondeu a Gideão, trazendo libertação ao Seu povo.

O Salmo 88:14 expressa de forma angustiante os pensamentos de muitos que estão passando por provações: “Por que rejeitas, Senhor, a minha alma e ocultas de mim o rosto?” (cf. Is 63:15). Perguntas como essa, que exigem uma resposta divina para a agonia pessoal e o sofrimento, são comuns em toda a Bíblia.

Considere o caso de Jó ou leia o livro de Lamentações. A lição que devemos aprender é: fazer perguntas a Deus, mesmo que difíceis, é aceitável, se elas forem apresentadas humildemente, no espírito correto. No entanto, esteja preparado para receber a resposta divina, que pode não ser o que você espera ou busca. Veja, por exemplo, a experiência de Habacuque. No Novo Testamento, João Batista, aprisionado e profundamente desanimado, pediu que seus discípulos perguntassem a Jesus: “‘És Tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?’” (Mt 11:3). O próprio Cristo, pendurado na cruz, faz a pergunta mais surpreendente: “‘Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?’” (Mc 15:34).

De fato, essas questões são muito difíceis. Entretanto, Jesus nos encoraja a pedir, sempre com fé: “‘Peçam, e lhes será dado; busquem e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta’” (Mt 7:7, NVI). Assim, os bereanos foram elogiados e chamados de “nobres” porque “receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (At 17:11, ver 1Ts 5:21).

A teologia é relacional

Contudo, parece que ouvimos cada vez mais as seguintes expressões: “Eu não quero teologia, eu só quero Jesus” (como se fosse possível receber um sem o outro). “Não me dê religião, dê-me um relacionamento.” Como professor de Teologia Sistemática, sou consciente de que alguns têm opiniões muito negativas sobre teologia. Muitas vezes, as pessoas pensam na teologia como algo frio, abstrato e seco.

Teologia não é nada disso! O que está no centro da verdadeira teologia? Deus! E qual é o caráter de Deus? Amor. E o que é o amor, se não algo relacional? É um terrível mal-entendido dizer: “Amo a Deus, mas não quero teologia.” É quase como dizer à minha esposa: “Eu amo você, mas não quero saber nada sobre sua vida. Não me faça perguntas, e eu não vou lhe perguntar nada.” Não é assim que um casamento funciona. Porque amo minha esposa, quero conhecê-la tão intimamente quanto possível.

De forma análoga, a teologia é relacional. Embora exista muita teologia falsa, a teologia genuína leva ao conhecimento do próprio Deus de amor! “E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3).

Às vezes, reagimos aos questionadores: “Você faz muitas perguntas!”, “Você não tem fé suficiente!”, “Não devemos fazer tantas perguntas assim!” No entanto, nesta era de crescente apatia bíblica, teológica e espiritual, deveríamos ficar animados quando as pessoas (especialmente os jovens) perguntam “por que?”, em vez de ignorá-las porque suas perguntas nos deixam desconfortáveis.

Muitos reagem negativamente às perguntas porque percebem tais questões como uma ameaça. Creio, porém, que quanto mais conhecermos a Deus, mais O amaremos e menos ameaçados nos sentiremos por perguntas honestas. A verdade não perde nada frente a uma investigação minuciosa.

Assim como fez Jacó (Gn 32), lutar com Deus é aceitável, enquanto o ser humano se recusar a abandoná-Lo. Algumas pessoas tentam afastar Deus de seus questionamentos. Todavia, enquanto estivermos apegados a Ele, buscando a verdade em Sua Palavra, o Senhor pode lidar com nossas perguntas. Ele é muito maior do que todas elas. Não devemos ser céticos
(Jo 20:24-27), mas pedir com fé. Ao mesmo tempo, precisamos estar sempre “preparados para responder a todo aquele que [nos] pedir razão da esperança que há em [nós]” (1Pe 3:15). No entanto, ao fazê-lo, não devemos estar na defensiva.

Como saber se estou fazendo a pergunta certa? Não é o conteúdo que a torna boa ou má, mas a motivação. Você pergunta porque não quer acreditar? Ela é um ataque velado? Você pretende que sua pergunta seja um mecanismo de defesa?

Uma pergunta lançada como uma arma é algo ruim. Por outro lado, as boas perguntas são motivadas pela busca sincera por respostas. Você está perguntando porque realmente deseja saber e reconhece que a resposta pode ir além de sua compreensão?

Jesus frequentemente debatia com pesquisadores honestos, levando-os a fazer as perguntas certas que os levariam a respostas importantes (por exemplo, a história de Nicodemos em João 3 e da mulher junto ao poço em João 4).

Na busca por respostas, devemos nos lembrar de quão pouco sabemos; na verdade, de que nem sabemos o quanto não sabemos. Às vezes, encontramos o que consideramos ser respostas satisfatórias às nossas perguntas; entretanto, cada “resposta” pode levar a mais perguntas. De fato, cada resposta pode ser apenas algo parcial, mais uma peça do grande quebra-cabeça que ainda estamos tentando reunir, embora não possamos esperar completá-lo.

Uma coisa, porém, que devemos fazer é responder regularmente ao convite de Tiago 1:5 (NVI): “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida.” Fazer perguntas teológicas me levou a algumas das mais profundas experiências de adoração de minha vida.

Minha fé em Deus e meu amor por Ele cresceram e criaram raízes cada vez mais profundas, que espero que se manifestem em minha vida. Claro, ainda tenho outras perguntas. Contudo, não quero parar de conhecer melhor a Deus, assim como gosto de crescer em meu relacionamento com minha esposa, ano após ano. Como poderíamos dizer ao Senhor: “Eu amo o Senhor, mas não quero conhecê-Lo
mais profundamente?”

Quero conhecer a Deus cada dia mais. E você? 

Referência

1 Martin Luther King Jr., Strength to Love (Filadélfia, PA: Fortress, 2010), p. 2.