ROY ALLAN ANDERSON

(Redator de The Ministry)

os ensinos dos adventistas do sétimo dia estão sendo amplamente comentados hoje em dia. Isto não nos deve surpreender, pois ao exibirmos profecias tais como a de Apoc. 18:1, não pregamos nós há já muitos anos que antes do fim de tôdas as coisas esta mensagem despertará o interêsse de todo o mundo? Ainda mais, muito conselho nos foi dado para preparar-nos para um tempo como êste. Notai estas palavras:

“Nosso povo tem sido considerado muito insignificante para merecer a atenção, mas uma mudança ocorrerá; os movimentos processam-se agora. Está o mundo cristão fazendo movimentos que necessàriamente porão em evidência o povo que observa os mandamentos . . . Tôda minudência de nossa crença será investigada, e se não formos minuciosos estudantes da Bíblia, firmados, fortalecidos, firmes, a sabedoria dos grandes homens do mundo ser-nos-á insuperável.” — Ellen G. White, carta 12, 1886.

Esta edição de The Ministry salienta alguns aspectos da teologia. A teologia que esposamos faz-nos o que somos. A fim de ajudar nossos leitores a compreenderem melhor certos aspectos do pensamento teológico, reunimos alguns artigos específicos, dos quais dois são de autoria de renomados líderes de nossa fé. Os tempos atuais exigem estudo mais aprofundado da Palavra de Deus do que muitos dentre nós têm crido.

Nunca devemos esquecer que a grande pregação se origina de conceitos teológicos claros. Mais importante do que êsse método é o conteúdo da mensagem do pregador. E o próprio coração da mensagem é Cristo, a Palavra Eterna, o Salvador da humanidade, o Deus-Homem — nosso Sacerdote e Rei vindouro. Por isto é que concedemos tanto espaço a êsse tema em números recentes.

Um ministro de além-mar procurou auxílio para esclarecer as diferenças entre a natureza de Adão no Éden, de Cristo durante a encarnação e de nós mesmos como membros da raça caída. Percebendo que outros poderiam ser auxiliados no sentido de uma mais clara compreensão desta tremenda controvérsia, inserimos aqui um quadro comparativo que apresenta tanto as similaridades quanto os contrastes.

Nada há ensinado com maior clareza nas Escri-turas do que essa de que quando Deus Se fêz homem por meio da encarnação, participou da natureza do homem; isto é, tomou sôbre Si a natureza humana. Em Rom. 1:3 lemos que Jesus Cristo nasceu da descendência de Davi, “segundo a carne” e, em Gál. 4:4, que foi “nascido de mulher.” Tornou-Se filho da humanidade por nascimento humano e submeteu-Se às condições da existência humana, possuindo corpo humano. (Heb. 2:14.)

A Igreja Católica Apostólica Romana, por seu dogma da imaculada conceição, busca contornar a real dificuldade da natureza de Deus sem pecado na carne, pretendendo que Maria, mãe de Jesus, foi preservada daquilo que chamam pecado original. Mas êsse ensino não atende a todos os reciamos escriturísticos. Se Maria estivesse isenta de pecado, por que, então, teria dito no Magnificat: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador”? Declarar que estava sem pecado, suscita mais problemas do que os que resolve, pois como poderia ela haver nascido isenta de pecado se ambos os seus pais eram pecadores? Uma tal coisa seria ainda mais miraculosa do que o próprio nascimento virginal.

Nunca devemos perder de vista que o nascimento de nosso Senhor foi sobrenatural. Foi o resultado de um ato especial de Deus, mediante o poder do Espírito Santo. Quando Deus Se fêz carne foi-o para cumprir o Seu eterno propósito de restituir à comunhão universal uma raça perdida.

Quando Adão pecou, os efeitos de sua queda passaram a tôda a família humana. Desde então somos uma raça moribunda. A essa raça veio o Salvador. No tempo em que Jesus nasceu, séculos de pecado haviam feito sua marca trágica na humanidade. A natureza humana estava deteriorada; além do que, Satanás pretendia o domínio dêste mundo. Quando Deus Se encarnou na pessoa de Seu Filho e Se identificou com a humanidade, foi-o depois de a raça haver estado enfraquecida por milhares de anos de pecado e degradação.

Foi na forma humana que Êle veio, e foi assaltado pelas enfermidades de nossa natureza física. Na forma física do homem devia Êle sentir o golpe e os efeitos do pecado. Soube o que era sentir-Se desamparado.

“Eu sozinho pisei no lagar; e dos povos ninguém houve comigo” (Isa. 63:3).

“Levando a fraqueza da humanidade e oprimido com a dor e o pecado da mesma, andava Jesus, sozinho, por entre os homens. . . . Seu espírito Se sentia isolado, num mundo que O não conhecia.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 318.

Ao lermos sôbre Jesus tomar a natureza do homem, forçoso é reconhecermos a diferença existente entre a natureza humana, no sentido físico da palavra, e a natureza humana no sentido teológico do têrmo. Foi verdadeiramente homem; não obstante foi Deus manifesto na carne. Verdadeiramente, Êle assumiu a nossa natureza humana, isto é, nossa forma física, mas não possuiu as nossas propensões para o pecado. A Sra. Ellen G. White repisa “a perfeita isenção de pecado da natureza humana de Cristo.” — Citado de The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Vol. V, pág. 1131.

Notai estas palavras: “Não O apresenteis às pessoas como um homem com as propensões para o pecado. Êle é o segundo Adão. O primeiro Adão foi criado puro, inocente, sem uma mancha de pecado sôbre si… . Por causa do pecado sua posteridade nasceu com inerentes propensões de desobediência. Mas Jesus Cristo foi o único gerado Filho de Deus. Êle tomou sôbre Si a natureza humana. . . . Mas nem por um momento sequer houve nÊle uma propensão má.” — Idem, pág. 1128.

Êle ingressou na família humana e participou de nossa raça, que desde os dias de Adão estivera degenerando de geração a geração. Não obstante, Êle foi “sem pecado.”

Na edição de O Ministério de maio-junho de 1957, apareceram sete páginas de citações da pena da Sra. Ellen G. White sôbre o tema da encarnação. Entre elas há a seguinte: “Êle nasceu sem uma mancha de pecado, mas veio ao mundo de ma-neira idêntica à da família humana.”

Justamente como pôde Êle ser vitorioso enquanto participava conosco de tôda a limitada natureza física da humanidade é um mistério que se situa além da compreensão humana. Mas a Escritura declara que, conquanto fôsse tentado, permaneceu, não obstante, “santo, imaculado, incontaminado, separado dos pecadores.” Em Sua natureza espiritual como o representante da Divindade, Êle foi perfeito. Em Sua forma humana como o representante da humanidade, foi perfeito e triunfante. Repetimos: Teve natureza humana mas não a natureza carnal.

Ao considerarmos êsse Ser inocente é importante que estabeleçamos a diferença entre as duas naturezas. Em comum com tôda a humanidade, Êle verdadeiramente tomou sôbre Si as nossas enfermidades, mas enfermidades tais como debilidade e fragilidade, como resultado de séculos de hereditariedade, não são pecadoras. Essas enfermidades estão claramente indicadas no relato de Sua vida enquanto estêve na Terra. Lemos que “sentiu fome”; sofreu as torturas da “sêde”; sentiu “cansaço”; “chorou”; foi “tentado”; conheceu a “agonia.” Mais de oitenta vêzes nos Evangelhos, fala Êle de Si mesmo como sendo “o Filho do homem.” Teve a aparência de homem e foi verdadeiramente homem — o Homem sem pecado, o Homem perfeito, o Homem-Deus, o único Ser por quem temos acesso ao Pai. Êle sentiu a necessidade da oração, mas nunca teve que pedir perdão, pois “não conheceu pecado.”

“Êle foi um forte pedinte, sem possuir as paixões de nossa natureza humana.” — Testimonies, Vol. II, pág. 509.

“Ê um irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas paixões. Sendo sem pecado, Sua natureza recuava do mal.” — Test. Sel. [Ed. mundial], Vol. I, pág. 220.

Tanto Mateus como Lucas, ao fazerem o relato da vinda de nosso Senhor ao mundo, salientam a diferença entre o Seu nascimento e o de todos os mais que nasceram na raça humana. Depois de enumerar a longa lista de gerações, desde Abraão, diz Mateus: “Ora, o nascimento de Jesus foi assim.” A expressão “foi assim” indica que os acontecimentos que produziram êste nascimento foram diferentes dos que acabavam de ser relatados. Lucas cita as palavras do anjo: “Descerá sôbre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.”

Pelas leis da hereditariedade apenas, não pode-mos explicar a geração de nosso Senhor, pois Seu nascimento foi sobrenatural. Foi um ato criador de Deus, e se bem que tenha vindo na seqüência da geração humana, manifestando-Se em carne humana foi, não obstante, Deus.

Logo na primeira promessa do Redentor, encontramos o mistério da piedade em embrião. O Senhor declarou que o poder da serpente seria destruído pela “semente da mulher,” não do homem. Sua relação com a raça humana estava na parte da mulher. Êle “nasceu de mulher,” era a “semente da mulher.” Não teve pai humano. Nasceu na família humana, possuía natureza humana, e foi conhecido como Filho do homem; não obstante era o Filho de Deus, Sua natureza humana era verdadeiramente humana, não obstante não tinha pecado — humano, não carnal. A diferença entre a natureza humana e a natureza carnal era vital e decisiva.

A natureza carnal não é uma parte integral do homem original; é o resultado do pecado. Antes de sua queda Adão era humano, mas não era carnal; era espiritual, não sensual. Quando Deus eterno Se tornou o segundo Adão para que pudesse assumir o Seu lugar como representante da raça remida, Êle veio “sem pecado.” Quando o Deus encarnado ingressou na história humana e participou da raça, compreendemos que possuiu a impecabilidade da natureza com que Adão foi criado no Éden. O ambiente em que Jesus viveu, porém, era tragicamente diverso daquele que Adão conheceu antes da queda. O diagrama que acompanha êste artigo poderá ajudar-nos ao buscarmos compreender esta importante verdade.

Justamente como Deus pôde realizar isto é impossível de explicar. A linguagem humana é absolutamente incapaz de abranger o mistério da piedade. Mas, conquanto não possamos explicá-lo, e devamos considerá-lo insondável, podemos, porém, regozijar-nos na redenção que possuímos em Jesus Cristo.

Eminente teólogo hodierno, diz: “Mostrai-me a vossa Cristologia, e eu vos direi o que sois.” Outro, declara: “Quem possui conceito mesquinho da natureza de nosso Senhor, verificará que suas ramificações se estendem a cada facêta de sua teologia, e isso prejudicialmente.” Êste assunto exige estudo acurado, acompanhado de oração.

Ao encontrarmos no Espírito de Profecia uma expresso tal como esta: “Êle tomou sôbre Sua natureza impecável a nossa natureza pecadora,” (Medicai Ministry, pág. 181), temos que compreendê-la à luz das Escrituras, que declaram que “Aquêle que não conheceu pecado” Deus “O fêz pecado por nós” (II Cor. 5:21). No Seu nascimento Êle foi declarado “santo.” Durante Sua vida e ministério “não cometeu pecado.” Mas no Getsêmani e no Calvário tomou sôbre Si os pecados de todo o mundo. E não apenas o pecado, mas também os efeitos do pecado. Lemos: “Êle tomou sôbre Si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças” (S. Mat. 8:17). Sofreu morte propiciatória. Naquele dia escuro Êle “tomou sôbre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sôbre Si” foi “ferido de Deus e oprimido” (Isa. 53:4). Nossos pecados Lhe foram imputados. E assim, propidatòriamente, Êle assumiu a nossa natureza pecadora, caída, morreu em nosso lugar, e “foi contado com os transgressores” (v. 12).

O pecado foi pôsto sôbre Êle; nunca fêz parte de Si mesmo. Era externo, não interno. O que quer que houvesse tomado não era Seu inerentemente; Êle o tomou, isto é, aceitou-o. “Êle voluntariamente assumiu a natureza humana. Foi ato Seu próprio, e por Seu próprio consentimento.” — E. G. White, em The Review and Herald, 5 de jan. de 1887. Aquêle que “não cometeu pecado,” levou “Êle mes-mo em Seu corpo os nossos pecados sôbre o madeiro” (1 S. Ped. 2:22 e 24).

Graças a Deus por uma tão grande salvação. Estas importantes verdades devem ser o nosso cons-tante tema de contemplação. João exclama: “Vêde quão grande caridade nos tem concedido o Pai.” É um amor concedido. Não podemos ganhá lo, não podemos comprá-lo, não podemos compreendê-lo, não podemos medir-lhe as profundidades; mas podemos aceitá-lo e, permanecendo estupefatos em face de tão grande revelação de amor e graça, podemos proferir o Seu nome com reverência, “Emanuel — Deus conosco.”