ENOCH DE OLIVEIRA

Evangelista da União Este-brasileira

A afirmação cediça de que todo privilégio está jungido a um dever é incontestavelmente certa. Em qualquer ramo de atividade humana verificamos que os direitos geram sempre obrigações implícitas.

O ministério evangélico, como vocação sagrada, concede a todo o que o exerce grandes e desvanecedores privilégios. É óbvio, pois, que o ministro, como decorrência dêstes privilégios inerentes à sua investidura, tenha deveres e obrigações.

Entretanto, como ministros — temos que confessar — no uso de nossos direitos e prerrogativas, desfrutando dos honrosos privilégios que decorrem dêste exaltado ofício, somos, por vêzes, inclinados a descurar a contrapartida: as obrigações e deveres.

À luz da deontologia (ciência das responsabilidades e deveres) procuramos reunir alguns preceitos normativos que julgamos de relevante importância nas atividades pastorais, como disciplinadores do comportamento de um ministro. Êstes preceitos apresentamos, à guisa de sugestão, tendo em vista a evidente necessidade de um CÓDIGO DE ÉTICA MINISTERIAL.

Ei-los resumidos num decálogo:

Io.) TER A CONVICÇÃO DO CHAMADO E CRER NO PODER DO EVANGELHO

“Ninguém toma para si esta honra senão o que é chamado por Deus, como Aarão”. Heb. 5:4.

Infere-se desta declaração que o verdadeiro ministro não se chama a si mesmo. A iniciativa da escolha de Aarão não procedeu dêle mesmo, mas do Senhor. Todavia, aquêle que atende ao chamamento divino deve crer no poder do Evangelho como suficiente para reerguer os caídos, e eficaz na obra da reconciliação dos homens com Deus.

IIo.) CULTIVAR AS QUALIDADES FÍSICAS, MORAIS E INTELECTUAIS PARA EXERCER DIGNA E EFICIENTEMENTE O MINISTÉRIO

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina…” “Persiste em ler . . . ” “Sê o exemplo… na palavra, na pureza, no trato…” Efé. 4:12-16.

Paulo, escrevendo ao jovem pastor da igreja de Éfeso, comunica-lhe salutares princípios de ética ministerial. Nestes conselhos sublinha o destacado ministro de Deus, o valor do cuidado físico, a importância de uma conduta moral irrepreensível e a necessidade de um constante cultivo intelectual. Assim, pois, o ministro atenderá à sua boa aparência, disposição e saúde para se impor. Moralmente, obedecerá aos princípios da dignidade, probidade e coragem de atitudes. No tocante ao intelecto, o ministro estudará diligentemente, esforçando-se para adquirir cultura multiforme: teológica e humanística.

IIIo.) RESPEITAR E AMAR OS COLEGAS

“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal”. Rom. 12:10.

Consoante o conselho evangélico o ministro deve ser cortês e amável com os colegas. Êste dever elementar nas relações sociais constitui uma resultante da polidez e urbanidade que a educação impõe a todo cidadão. O respeito à honra e à dignidade de um colega no ministério nunca deveria faltar. Ainda quando esteja em êrro nenhuma referência desprimorosa, nenhuma afirmação desairosa deverá ser feita à sua conduta ou idoneidade pastoral. O êrro é sempre uma conseqüência da fragilidade humana.

IVo.) CONSIDERAR O PECADOR COMO O CENTRO DE TODOS OS CUIDADOS E ATENÇÃO

“Conjuro-te, pois, diante de Deus. . . que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com tôda a longanimidade e doutrina.” II Tim. 4:1 e 2.

Nunca esqueça o ministro de que a sua mis-são diuturna (em tempo e fora de tempo) é ajudar com longanimidade o pecador nas suas fraquezas e vacilações, consolar os que choram, animar os desalentados e confortar os que estão em angústia e tribulação. Todos os seus labôres e atividades deverão gravitar em tôrno dêsses alevantados objetivos.

Vo.) TRATAR COM DESVÊLO, PACIÊNCIA E AMOR O REBANHO, MAS FAZENDO VALER A PRÓPRIA AUTORIDADE PASTORAL

“Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dêle, não por fôrça, mas voluntariamente. . . ” I S. Ped. 5:2.

Atenda com desvêlo os membros da igreja confiada aos seus cuidados pastorais, embora recebendo muitas vêzes ingratidões. A via pastoral é pavimentada de incompreensões. Seja paciente com o errante em seus desvios e extravios. A paciência, entretanto, não deverá nunca excluir o princípio da autoridade. Seja cortês, mas firme e resoluto. Só assim imporá confiança.

VIo.) ABSTER-SE DE JUÍZOS E INSINUAÇÕES CAPAZES DE ABALAR A CONFIANÇA DE QUE FÔR DEPOSITÁRIO UM COLEGA, POR PARTE DA IGREJA

“Não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei e julga a lei…” S. Tia. 4:11.

O pastor deve observar escrupulosa, honesta e sincera atitude no que tange à conduta de um colega. As alusões ou insinuações que porventura possam minar-lhe a influência ou abalar a sua autoridade perante a igreja jamais deverão ser ex-pendidas.

VIIo.) OBSERVAR O SIGILO PASTORAL

“Se alguém dentre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua… a religião dêsse é vã.” S. Tia. 1:26.

É dever do pastor ouvir tôdas as revelações que lhe forem feitas, mas, calar, rigorosamente, tudo o que lhe haja sido confiado por outrem. A violação dêste preceito determina, não raro, profundos dissabores e amargos vexames, ao mesmo passo que, traz o descrédito e a desconfiança sôbre o ministério. Sôbre o assunto mui judicioso é o conselho: “Mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar…”

VIIIo.) APLICAR-SE INTEIRAMENTE E SEM RESERVAS AOS ENCARGOS PASTORAIS

“Ninguém que milita se embaraça com os negócios desta vida.” II Tim. 2:4.

O pastorado é um sacerdócio e, como tal, deve ser exercido. Diz S. Paulo: “Digno é o obreiro do seu salário.” Naturalmente a organização proverá para o seu obreiro um salário justo e decoroso. Não deverá, pois, o ministro, animado por sentimentos utilitários, envolver-se com os negócios temporais, buscando auferir proventos e ganhos suplementares para adicioná-los às suas receitas.

IXo.) RESPEITAR OS SUPERIORES HIERÁRQUICOS

“Sujeitai-vos, pois, a tôda ordenação humana por amor do Senhor…” I S. Ped. 2:13.

Diz a Sra. White: “…o espírito de desorganização está no próprio ar que respiramos. Por alguns, todos os esforços por estabelecer ordem são considerados perigosos — como uma restrição da liberdade individual, devendo, pois, ser temidos como sistema papista.” “Fui instruída de que é esfôrço especial de Satanás levar homens a julgar que Deus Se agrada de que escolham seu próprio modo de proceder, independentemente do conselho de seus irmãos” — O. E., pág. 481. Para resguardar-se do espírito de independência suscitado por Satanás, deve o ministro trabalhar em harmo-nia com o juízo dos seus superiores hierárquicos, respeitando os conselhos dos que estão investidos em posições de responsabilidades, honrando-lhes a devoção, a experiência e as cãs.

Xo.) LEMBRAR-SE DOS PRECEITOS CONTIDOS NESTE CÓDIGO

Deve o pastor atender com fidelidade a todos os preceitos reunidos neste código e todos os outros preceitos explícitos ou implícitos que regem o exercício pastoral. Assim merecerá a estima da igreja, o aprêço dos colegas e as bênçãos de Deus.