Muitos adventistas do sétimo dia norte-americanos agem como se vivessem em um país totalmente cristianizado. Isso é um grande engano. Somente 10% da população dos Estados Unidos são “cristãos bíblicos”.1 A porcentagem de não alcançados no Canadá é ainda maior. E muitos outros países ao redor do mundo enfrentam o mesmo desafio. Nossa mensagem deve penetrar as massas urbanas que têm sido negligenciadas por muitos anos, ao longo da história.

Quase todos os clérigos adventistas do século 19 foram evangelistas e plantadores de igrejas. Esse foi o segredo do seu sucesso. Se os pastores adventistas hoje seguissem os passos dos seus colegas do século 19, fundando novas igrejas na mesma proporção que eles faziam, estariam plantando aproximadamente duas novas igrejas por ano. Em números reais, os adventistas do século 19 criaram mais igrejas anualmente, do que seus irmãos norte-americanos o fizeram durante a primeira metade dos anos 90.

Nos anos 1870, nossos pioneiros levantaram uma média de 42 igrejas cada ano; nos anos 90, a média foi de 27 por ano. Nos mesmos anos 1870, eram necessários dois pastores para plantar uma igreja cada ano, mas nos anos 90, foram necessários 122 pastores para realizar a mesma tarefa.

Alguma coisa precisa ser mudada, e rápido.

Como os pastores adventistas do século 19 plantavam tantas igrejas? A resposta é simples. Nenhum deles servia como pastor local em alguma igreja. Todas as congregações foram ensinadas a cuidar de si mesmas, deixando os pastores livres para evangelizar e penetrar em novos lugares. Isso era parte de um plano missionário organizado e bem direcionado. Em contraste, hoje, a maioria dos nossos pastores são alocados em igrejas estabelecidas.

Dependência perigosa

O sistema dizimal único do adventismo foi instituído para apoiar o movimento de plantio de igrejas. Considerando que nenhum clérigo servia a uma congregação local, todos os dízimos eram devolvidos ao Campo em apoio ao plano de estabelecer novas igrejas. Esse modelo serviu bem à Igreja Adventista, durante todo o século 19.

No início do século 20, o adventismo norte-americano começou a copiar o modelo popular protestante de colocar pastores para cuidar de uma igreja. Inicialmente, eles foram colocados a pastorear as maiores igrejas; e, depois da morte de Ellen White, passaram a ser indicados para todas as igrejas, independente do seu tamanho.

O Pastor A. G. Daniells, presidente da Associação Geral, e a Sra. Ellen White vigorosamente se opuseram a essa prática. O argumento da irmã White fundamentava-se em dois princípios; a necessidade de colheita e a saúde da congregação local. Ela percebeu que as igrejas que dependiam de um pastor para sua sobrevivência tornavam-se fracas e laodiceanas. Em contraste, as igrejas que não viviam nessa dependência eram fortes e vibrantes. Ela foi enfática em dar a sua opinião, sob inspiração divina: “Não deveria haver um chamado para estabelecer pastores sobre nossas igrejas, mas deveríamos deixar que o poder vivo da verdade impressionasse os membros a agirem individualmente, levando-os a trabalhar dedicada e eficientemente em favor da obra missionária em cada localidade. Sob a direção de Deus, a igreja deve ser educada e treinada para realizar efetivo serviço. Seus membros devem ser os obreiros cristãos devotados ao Senhor.”2

“Se fossem dadas as devidas instruções, caso fossem seguidos métodos apropriados, todo membro da igreja faria seu trabalho como membro do corpo. Faria trabalho missionário cristão. Mas as igrejas estão morrendo e querem um ministro que lhes pregue.

“Devem ser ensinados a dar fielmente o dízimo a Deus, para que os possa fortalecer e abençoar. Devem ser postos em ordem de trabalho, para que possam receber o alento do Senhor. Deve-se-lhes ensinar que, a não ser que possam permanecer por si sós, sem um ministro, precisam converter-se, sendo de novo batizados. Necessitam nascer de novo.”3

H. M. S. Richards, escrevendo em 1950, mencionou que quando ele iniciou seu ministério, olhava as igrejas que se acostumaram a depender dos pastores como decadentes.4 Após a morte de Ellen White, na América do Norte, a prática de indicar pastores como líderes de igrejas começou a ganhar espaço. Quanto mais pastores eram postos a serviço das igrejas, mais débeis elas se tornavam, até que, finalmente, a mentalidade missionária quase desapareceu e a responsabilidade do pastor passou a ser o cuidado dos crentes, para reanimá-los e devolver-lhes o senso de missão. Hoje, é quase impossível para um pastor satisfazer todas as necessidades das muitas congregações sob sua responsabilidade. O resultado disso é que toda igreja, grande ou pequena, deseja ter seu próprio pastor a fim de receber a nutrição necessária, enquanto a missão de Cristo fica inconclusa.

Como Roland Allen observou; “Onde as igrejas são mais dependentes, elas são fracas, sem vida, inertes. … Nada produz maior enfraquecimento como o hábito de depender de outros para coisas que nós podemos suprir por nós mesmos.

Um novo começo

É tempo, portanto, para voltarmos ao papel de pastores em harmonia com a herança adventista. Esse papel deve priorizar a missão. Ao liderar igrejas, o pastor não deve esquecer, sob hipótese alguma, de que sua tarefa é a de treinador e capacitador dos santos (Efés. 4:11 e 12). Entretanto, esse papel é melhor desempenhado em igrejas com mais de 150 membros, nas quais é necessário uma pessoa que atue como coordenador e treinador. Em igrejas com número de membros inferior a 150, a presença de um pastor tende a criar congregações dependentes e fracas, bem como santos esqueléticos.

Isso quer dizer que igrejas com menos de 150 membros deveriam ser fechadas? Absolutamente não. Muitas delas podem ser vibrantes centros de nutrição ao povo de Deus e de promoção do Seu reino. Em lugar de fechar, elas devem ser ensinadas a cuidar de si mesmas, à semelhança das igrejas pequenas do adventismo primitivo. Deveriam ficar inteiramente livres de qualquer supervisão pastoral? Também não. Um pastor que sirva como treinador deve ser posto a cuidar de um distrito que reúna algumas dessas igrejas menores.

De acordo com Ellen White, isso é saudável para as congregações. E a própria escatologia adventista aponta a um tempo, durante a crise final, quando as igrejas não terão pastores e terão de existir por si mesmas. Por que não agora?

Em janeiro de 1999, apresentei esses conceitos a um grupo de leigos e pastores em uma Associação norte-americana com menos de cinco mil membros. Com uma presença de 10% deles, o grupo aceitou com entusiasmo a idéia e pediu à liderança do Campo liberdade para agir. Nessa Associação, havia apenas duas ou três igrejas com mais de 150 membros. Eu acredito que nossos irmãos seguirão de boa vontade o conselho da Sra. White, quando verdadeiramente o compreenderem.

Sugestão radical

Tudo isso pode ser visto como uma sugestão radical. Na realidade, é uma volta às nossas raízes missionárias. Alguns podem ficar surpresos e discordar de que alguns pastores passem a ter de liderar distritos com dez, quinze ou vinte congregações. Posso garantir-lhes que liderar vinte congregações menores pode até ser mais fácil do que conduzir duas ou três grandes igrejas. Quando um pastor tem apenas cinco igrejas, cada uma delas espera passivamente que ele faça todas as coisas. Mas quando 20 congregações estão sob a liderança de um pastor, todas elas reconhecem que é impossível depender inteiramente dele. Portanto, os membros serão mais abertos a aceitar o papel indicado por Deus. Na verdade, o pastor necessitaria de soberbas habilidades administrativas, pois acabaria atuando não apenas como um pastor, mas como um mini-presidente de Campo.

Se levamos a sério nossa missão, devemos direcionar a absorção de nossos recursos nas pequenas igrejas que raramente crescem. O que sugiro aqui e explico mais detalhadamente em meus livros, é apenas uma sugestão. Imagino que deve haver outras sugestões igualmente válidas e dignas de consideração.

Mas qualquer que seja a direção em que nossa Igreja se mova, devemos ser levados de volta à nossa herança, e em frente, para o cumprimento da nossa missão. É alto tempo da missão ser o motivo impelente de todas as nossas igrejas.

Referências:

1 George Barna. The Index of Leading Spiritual Indicators, Word, Dallas, TX: 1996, págs. 124-128.

2 “The Work in Greater New York”, Atlantic Union Gleaner. 08/01/1902.

3 Ellen C. White, Evangelismo. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP; 1997, pág. 381.

4 H. M. S. Richards. Feed My Sheep. Review and Herald Publishing Association. Hagerstown, MD; 1958. pág. 156.

5 Roland Allen, The Spontaneous Expansion of the Church. Eerdmans, Grand Rapids, Ml; 1962, pág. 35.

6 Ver Revolution in the Church. Radical Disciples for Revolutionary Churches. The Revolutionized Church for the Twenty-first Century, e Recovering an Adventist Aproach to the Life and Mission of the Local Church.

RUSSELL BURRILL, D.Min., diretor do Instituto de Evangelismo da Divisão Norte-Americana e do Departamento de Ministério Cristão da Universidade Andrews, Estados Unidos