A chegada de uma carta, dias atrás, colocou-me no meio de um conflito emocional. Sua autora era uma mulher cujo marido tinha morrido recentemente. Eis um pedaço da sua queixa: “Meu esposo era muito depressivo. O psiquiatra do hospital enviou-o a uma clínica especializada, mas ele queria morrer em casa. Em março ele foi para casa, e, dias depois, para a clínica. Segundo o capelão, ao ser informado do caso, nosso pastor quis saber qual era a condição física do meu marido… Pastores da Associação sempre perguntavam se ele o tinha visitado, ou telefonado, e eu ficava embaraçada cada vez que respondia negativamente. Somente no dia 9 de agosto recebemos a visita do pastor. Fiquei viúva uma semana depois.”

Enquanto eu lia a carta, vieram à mente episódios de minha própria negligência como pastor. Estou bem ciente das barreiras irresistíveis de necessidades e demandas que algumas vezes se impõem ao pastor. E também sei que, com certa freqüência, especialmente em uma igreja grande, o pastor só vai saber que alguém esteve num hospital, depois que já recebeu alta. Parece que não há um modo infalível de saber que um membro esteve hospitalizado, até porque o paciente pode ficar internado por muito pouco tempo.

Também sei que é fácil tornar-se absorvido por muitos projetos e atividades administrativas importantes, enquanto vêm à mente a lembrança de que há pessoas que realmente necessitam ser visitadas ou, pelo menos, de uma chamada telefônica.

Há, em várias partes do mundo, uma tendência crescente de minimizar a visitação pastoral. Isso pode ser visto tanto entre os fiéis como entre os pastores. Alguns membros querem ser visitados, outros não se importam com isso. Esse é o cenário da visitação pastoral. Em todo o caso, faz-se o que o povo deseja. Mas o que realmente se espera do pastor? É mais fácil tomar o curso de ação menos agressivo, especialmente se o povo tende a ser exigente ou crítico.

Entretanto, devo ser honesto e dizer que também sei que algumas vezes nós pastores simplesmente nos deixamos levar. Conheço o bastante da vida pastoral para dizer que freqüentemente nos sujeitamos, e a nosso povo, à nossa própria negligência. Se isso é verdade com respeito a você e a mim, devemos simples e inequivocamente admitir nossa falha e fazer algo. Não podemos fazer desse tipo de pastorado um estilo de vida. Devemos ser honestos e admitir para nós mesmos e diante de Deus, que desejamos realizar um completo, rico e genuinamente efetivo ministério, pois tal negligência é inconcebível. Sim, porque somos pastores cristãos encarregados pelo cuidado do nosso rebanho, que luta com o sofrimento.

Recentemente observei meu pai defrontando-se com a morte. Ele era bravo e forte, e estava equipado com as melhores armas para enfrentar esta última batalha. Mas notei nele um sofrimento e uma perplexidade jamais vistos. Estava silencioso e retraído, impaciente e preocupado, depressivo; características que ele não possuía antes. Ele estava fazendo o que qualquer pessoa em sua situação faria – concentrar-se na luta com a inexorável presença da morte e tudo o que essa expectativa traz consigo.

Alguns familiares poderiam ajudá-lo, mas também tinham suas lutas e, ao lado disso, seria extraordinariamente bom para ele, e para nós também, ter o seu pastor envolvido na situação.

Quando alguém está doente, quando o filho adolescente enfrenta problemas, quando se perde o emprego ou se é vítima da infidelidade conjugal, a pessoa necessita da sensata compreensão de um pastor verdadeiramente cristão, que ponha dentro do coração sofredor o conforto e a força de Cristo, e saiba, mesmo hesitante, administrar a sua angústia. Foi exatamente para isso que fomos chamados. Há mais necessidade de pastoreio do que apenas de visitação. Na verdade, pastorear é evangelizar. Ministério real é tocar o caixão de um filho como o da mãe que chorava em Naim, e seguir o nosso caminho para chorar com outras Marias e Martas. É encarnar a dor, a angústia, as perdas, as frustrações e a tristeza do nosso povo.

Para cumprir com eficiência esse ministério, preste atenção a estas sugestões: Escreva refletidamente os princípios e prioridades que definirão sua vida ministerial. Sobre essa base, tome dez a 15 minutos, pela manhã, para planejar as atividades do dia. Relacione tarefas específicas. Com seus desafiantes cuidados pastorais em mente, tenha um quadro bem claro do que você fará neste dia, a quem planeja visitar e com que objetivos. Alegre-se no sentimento de realização e comprometimento que experimentará enquanto você faz o trabalho.

Seja agressivo no melhor sentido. Devemos ser adaptáveis, vigilantes quanto aos requerimentos de Deus e às necessidades do povo, mas também devemos ter as mãos no leme de nossa vida e ministério. Esse controle deve resultar do que você crê, do que você é, dos dons que possui, mas também da certeza de que Deus o chamou para ser um pastor. Essa é a conscientização de que necessitamos para permanecer em Sua presença cada dia. – Willmore Eva.