A figura pastoral é comparável à dos profissionais de saúde. As pessoas têm necessidades urgentes, e muitas delas podem ser atendidas pelo pastor.
por Walter Steger
A saúde mental está entre as várias dimensões afetadas pela pandemia da Covid-19. Impactos sobre o convívio, o afeto e a comunicação têm resultado em medo, desânimo, estresse e depressão. Nesta entrevista, Julián Melgosa, doutor em Psicologia e diretor associado do departamento de Educação da Associação Geral da Igreja Adventista, apresenta dicas práticas para que os pastores possam ajudar a igreja a superar este momento difícil.
Quais atitudes e recursos pessoais são importantes ao enfrentar uma pandemia como essa?
Um bom princípio a seguir é compensar as deficiências causadas por essa situação. Por exemplo, a falta de interação social deve ser compensada pela comunicação por meio da tecnologia digital ou pelo telefone. E isso deve ser feito com outras atividades, como trabalho, educação e exercícios físicos. Para o cristão, a igreja é um fator muito importante, e todo esforço deve ser feito para oferecer a oportunidade de realizar cultos, serviço de cânticos, ofertas, Escola Sabatina, estudos bíblicos, entre outros, usando as ferramentas disponíveis.
Um recurso importante é impor ordem e regularidade ao confinamento. É necessário organizar-se para realizar tarefas diárias regularmente, para que exista previsibilidade de comportamentos, garantindo que haja atividades suficientes de natureza física, mental, espiritual e social.
Outro recurso psicológico que está sob nosso controle são os pensamentos. O que pensamos resulta no que sentimos e no que fazemos. Portanto, é essencial abrigar pensamentos positivos, ideias de gratidão, perdão, confiança, amor a Deus e fé Nele. Deve-se evitar também pensamentos como medo, ciúmes, inveja, ódio, rivalidade ou desespero. As Escrituras podem nos ajudar muito, porque nos fornecem o melhor conteúdo de pensamento, a atitude correta em relação às situações e a paz de que tanto precisamos.
Por fim, mencionarei a resiliência. Pensar, sentir e agir de maneira resiliente significa não desmoronar diante de uma renda reduzida, cancelamento de planos ou enfermidade própria ou de nossos entes queridos. A resiliência nos faz resistir e persistir. E para o cristão, significa confiar no poder sobrenatural de Deus e nas múltiplas promessas das Escrituras. No fim da pandemia, todos emergiremos mais fortes e mais bem preparados para as adversidades futuras.
Quais conselhos daria aos pastores para que ajudem os membros da igreja a lidar melhor com a pandemia?
A figura pastoral é comparável à dos profissionais de saúde. As pessoas têm necessidades urgentes, e muitas delas podem ser atendidas pelo pastor. A pessoa que mora sozinha deve receber atenção especial, incluindo aqueles que foram afetados por desemprego ou doença. Da mesma forma, membros em idade avançada que moram sozinhos ou com o cônjuge idoso. Por meio de videochamadas ou ligações telefônicas, é necessário transmitir-lhes encorajamento e esperança regularmente, seja por intermédio do pastor ou de uma equipe de voluntários. Devemos ouvi-los com atenção, pois essa atitude é uma tarefa terapêutica em si.
Existem estratégias psicológicas, como interromper o pensamento, autoinstrução ou visualização que podem ajudar a pessoa ansiosa, deprimida ou assediada por pensamentos adversos. Isso requer certo nível de conhecimento técnico, mas é suficiente para o pastor dar ideias gerais como “Rejeite esses pensamentos e substitua-os por pensamentos mais realistas e inspiradores ou com esta promessa bíblica”; ou “Pense que apenas uma pequena porcentagem de pessoas acaba em uma situação crítica e de hospitalização”, “Lembre-se de que mesmo entre aqueles que contraem a doença com sintomas graves, a maioria sobrevive”; ou “Vamos nos lembrar dos momentos em que o Senhor nos ajudou no passado e como resolveu nossos problemas”.
À semelhança de Jesus, o pastor também deve ministrar ajuda prática, lembrando as pessoas acerca de medidas higiênicas básicas, comportamentos preventivos, além de ajudá-las no planejamento da economia familiar e solicitar ajuda social, caso seja necessário.
Certamente, os pastores têm uma grande ferramenta para a saúde total, a Bíblia, para beneficiar os membros da igreja e também aqueles que não são membros, mas precisam de ajuda espiritual. Mais do que apenas sermões e palestras, são necessárias passagens pontuais e conteúdo encorajador para lidar com desânimo, depressão, ansiedade e estresse. Elas devem ser memorizadas ou repetidas ocasionalmente.
Por exemplo, Jesus nos garante que haverá dificuldades, mas que devemos confiar Nele (Jo 16:33); Paulo nos deu seu exemplo para se adaptar a situações de mudança nas quais, com Jesus, tudo é possível (Fp 4:11-13). O Salmo 27 é ótimo para trazer paz e consolo à alma temerosa, como é o Salmo 91. É claro que o Salmo 23 transmite um sentimento generalizado de proteção divina. Textos como Mateus 6:31 a 34, 1 Tessalonicenses 5:15 a 23, Isaías 26:3, Provérbios 17:22 e muitos outros também podem ser lembrados.
Provavelmente, no contexto da pandemia, as três situações mais temidas sejam contrair a doença, a morte de um ente querido ou uma crise econômica com eventual perda de emprego. Como os pastores podem aconselhar os membros da igreja em cada uma dessas situações?
Contrair a doença: É um medo natural, porque é um vírus altamente contagioso, ainda desconhecido e com capacidade letal. No entanto, devemos nos referir aos dados conhecidos: a taxa mundial de mortalidade varia de 1,4% a 3,4%. Mesmo nos casos de maior risco, a probabilidade de superar a doença é maior do que a de perecer. Devemos nos concentrar na probabilidade de sucesso (o copo meio cheio) e não na probabilidade de morte (o copo meio vazio). Ao mesmo tempo, devemos nos colocar nas mãos de Deus e confiar em Sua intervenção.
Morte de um ente querido: Como no ponto anterior, nossos pensamentos devem ser otimistas e esperançosos, porque o cristão tem motivos para exercitar a esperança, ainda que seja afetado pela morte de um ente querido. Obviamente, devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para prevenir o contágio e manter a qualidade de vida de nossos familiares, especialmente daqueles que dependem de nós.
Crise econômica: Como qualquer outra crise no passado, essa também passará. Mas se isso não acontecer e for o começo do fim, temos Jesus que nos salvou e tem um lugar preparado para nós. A Bíblia nos apresenta muitas promessas consoladoras, por exemplo: “Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Sl 37:25); ou “E o meu Deus, segundo a Sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Fp 4:19).
Que Deus esteja com você, amigo pastor, a fim de que possa torná-lo um instrumento para gerar mais tolerância, amor, alegria, bondade, empatia, resiliência, domínio próprio e, pelo poder do Espírito, mais frutos (Gl 5:22, 23) que nos ajudarão a superar essa pandemia.