Estamos encerrando um ano em que se completam 110 anos da histórica Assembléia Geral, realizada em Mineápolis, Estados Unidos, durante a qual foi amplamente examinado e debatido o assunto da justiça pela fé. Neste artigo, desejo partilhar uma questão que até algum tempo atrás, para mim, era deveras intrigante.

Depois da experiência de Mineápolis, alguns membros da igreja, perplexos, pediram que Ellen White explicasse a relação entre a mensagem do terceiro anjo e a justiça pela fé. Ela respondeu: “Várias pessoas têm-me escrito perguntando se a mensagem da justiça pela fé é a mensagem do terceiro anjo, e eu tenho respondido: ‘Ela é, na verdade, a mensagem do terceiro anjo.”’ (Review and Herald, 1º/4/l890).

Com isso em mente, examinemos o texto bíblico de apocalipse 14:9-12: “Seguiu-se a este outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da Sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.”

A princípio, o que podemos extrair da mensagem do terceiro anjo? Que ela fala da marca da besta, enfatiza a importância da obediência a Deus e, Conseqüentemente, enfatiza o sábado como a pedra de toque. Onde entra, então, nessa mensagem que parece tão dura, a justiça pela fé? Não seria muito mais lógico afirmar que a mensagem que enfatiza a justiça pela fé é a do primeiro anjo, que fala do “evangelho eterno”?

Muitas vezes, eu lia e relia o texto da mensagem do terceiro anjo, mas não conseguia encontrar nele qualquer indício da justiça pela fé ou menção a ela. Foi então que, lendo a seção cinco, intitulada “Princípios de Salvação”, do livro Mensagens Escolhidas, vol. 3, descobri a luz para esclarecer esse problema.

Mas em que palavras, nos versos 9-12, de Apocalipse 14, encontra-se a mensagem da justiça pela fé? Nestas últimas quatro simples palavrinhas, tantas vezes passadas por alto: “a fé em Jesus.” Toda tensão e mal-estar causados pela mensagem do terceiro anjo contra a besta e sua marca terminam de forma gloriosa, no hino de triunfo que conclui a mensagem e resume seus efeitos: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.”

A esse respeito, diz Ellen White: “A fé em Jesus tem sido passada por alto e tratada de modo indiferente e descuidado. Ela não tem ocupado a posição preeminente que foi revelada a João. A fé em Cristo como a única esperança do pecador em grande parte tem sido omitida, não somente nos sermões proferidos, mas também na experiência religiosa de muitos que professam crer na mensagem do terceiro anjo…

“‘A fé de Jesus.’ Ela é debatida, mas não compreendida. Que constitui a fé de Jesus, que faz parte da mensagem do terceiro anjo? O ato de Jesus tomar-Se o Portador de nossos pecados para que pudesse tornar-Se o Salvador que perdoa os nossos pecados. Ele foi tratado como nós merecemos ser tratados. Veio ao nosso mundo e levou os nossos pecados para que pudéssemos levar Sua justiça. E a fé na capacidade de Cristo para salvar-nos ampla, completa e totalmente, é a fé de Jesus.

“A mensagem para salvação da alma, a mensagem do terceiro anjo, é a mensagem que deve ser transmitida ao mundo. Tanto os mandamentos de Deus como a fé de Je-sus são importantes, imensamente importantes, e devem ser transmitidos com a mesma força e poder. Tem sido salientada principalmente a primeira parte da mensagem, e a última parte apenas casualmente. A fé de Jesus não é compreendida. Precisamos falar sobre ela, vivê-la, orar a seu respeito, e ensinar o povo a introduzir esta parte da mensagem em sua vida familiar.” {Mensagens Escolhidas, vol. 3, págs. 172 e 184).

É interessante notar que o texto bíblico diz: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.” A palavra “guardar”, aqui, vem do verbo tereo, que além do significado de guardar, como observar, também significa manter sob custódia, ou seja, ter sob seu cuidado, defender, proteger, resguardar. Geralmente, temos nos considerado defensores ou depositários da lei; mas será que temos, com igual ênfase, nos considerado os maiores defensores, resguardadores e proclamadores da mensagem da justiça pela fé?

Novamente, recorremos ao pensamento de Ellen White: “A lei divina deve ser engrandecida, seus reclamos expostos em seu caráter legítimo e sagrado, para que o povo seja induzido a decidir-se pró ou contra a verdade. Contudo, a obra será abreviada em justiça. A mensagem da justiça de Cristo há de soar desde uma até outra extremidade da Terra, a fim de preparar o caminho ao Senhor. Esta é a glória de Deus com que será encerrada a mensagem do terceiro anjo.” {Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 373).

“Um assunto prevalecerá, um assunto engolfará todos os outros – Cristo justiça nossa.” (Review and Herald, 23/12/1890)