Numa fusão de dois artigos da revista Ministry, este artigo fala da necessidade de as pessoas que se batizam na Igreja Adventista serem conservadas, visto que as deserções são muito numerosas.

A história da Igreja Adventista do Sétimo Dia é, em grande parte, uma história de sucesso. Em 1890 havia 19 adventistas por milhão da população do mundo. Cem anos mais tarde, há mais de 1.000. Em 1940, batizávamos em média menos de 100 por dia. Cinqüenta anos depois, estamos aproximando-nos da marca dos 2.000 por dia.

Estivemos orando para que durante os cinco anos de Colheita 90 (1985-1990) acrescentássemos dois milhões de pessoas a nossa igreja. Alcançamos esse alvo em setembro de 1989, nove meses antes, e agora estamos trabalhando e orando por um grande excesso. Colheita 90 demonstrou nosso sucesso, graças a Deus, em colher.

Problemas na conservação

A coisa mais miraculosa, no que se refere ao Pentecostes, pode não ser o fato de que 3.000 pessoas foram batizadas em um dia, mas que “perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (Atos 2:42). Obviamente, com o auxílio do Espírito Santo é possível desfrutar tanto a quantidade como a qualidade do crescimento da igreja.

Mas a Igreja Adventista do Sétimo Dia não está fazendo tão bem quanto a igreja apostólica, em conservar os seus membros. Em 1988, o número das apostasias e extravio de membros que a igreja relatou, chegou ao equivalente a 20 por cento de suas aquisições. Para cada cinco que entraram, um saiu.

Por mais grave que esta estatística possa parecer, o problema pode, contudo, ser muito pior. Uma vez que a organização mede o sucesso de crescimento de sua igreja pelos membros e o número de batismos, ela terá a tendência de batizar muito e admitir perder muito pouco.

Em 1988, uma Divisão disse ter perdido por apostasia um total igual a 47% das suas aquisições. Outra Divisão relatou um índice de apostasia de apenas 3 por cento. No fim de um período de quatro anos, uma Associação relatou 6.365 batismos, e apenas 15 exclusões. Ou estas partes da igreja, que perderam tão pouco, têm um plano disciplinar que todos deveriamos estar seguindo, ou elas não estão avaliando corretamente suas perdas.

Resolver o problema da apostasia não é assunto de preferência pessoal, mas de preencher a determinação de Cristo. Disse Ele: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os… ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mat. 28:19 e 20). No original grego “ide”, “batizando” e “ensinando” são todos particípios. Eles adquirem sua força do verbo fazer discípulos. Nem ir, nem batizar, nem ensinar são fins em si mesmos; são todos meios, com a finalidade de fazer discípulos.

Ouvimos muito a respeito de ir, e isto é bom. Necessitamos de uma Estratégia Global. Jamais ganharemos pessoas a menos que vamos. Ouvimos também sobre batizar. Colheita 90 deu realce aos batismos. Na verdade, os dois milhões de batismos que ela sugeria, constituíram apenas um dos alvos da campanha — embora seja este o único ao qual demos muita atenção.

Falamos a respeito de ensinar as verdadeiras doutrinas bíblicas, mas mesmo a propagação de doutrinas corretas não constitui o principal propósito da igreja. Nenhuma dessas atividades constitui o objetivo principal da comissão evangélica. São apenas meios com o fim de fazer discípulos.

Digamos que um vendedor de carros esteja vendendo esse artigo. Para fazer isso, precisa de uma loja para expor os carros, precisa de vendedores e de propaganda. Mas expor carros numa loja, ter vendedores e fazer propaganda não são sua função. Se qualquer dessas coisas se tornar um fim em si mesma, se algum dia ele se concentrar em alguma delas e não vender os carros, logo estará fora do mercado.

Jesus disse que o trabalho da igreja é fazer discípulos. Para fazer discípulos, precisamos ir. Precisamos batizar e ensinar. Mas esta não é a nossa função. Se estas coisas se tornarem fins em si mesmas, se viermos a concentrar-nos em alguma delas em lugar de nos concentrar em fazer discípulos, logo estaremos fora da atividade.

Encontrar uma medida melhor

No presente, nossa igreja ainda não pode avaliar bem o ganho de almas. Nossa avaliação tradicional de crescimento na igreja (membros e número de batismos) é valiosa, mas possui pouca relevância para o discipulado. Em algumas partes do mundo, contagens feitas durante o culto de sábado de manhã, indicam que apenas cerca de metade dos membros freqüentam regularmente a igreja.

Devemos encontrar uma nova maneira de medir o sucesso do crescimento da igreja. As opções incluem freqüência à Escola Sabatina, freqüência à igreja, envolvimento no ganho de almas e mordomia, bem como número de membros e batismos.

A maneira de ver da liderança de nossa igreja e a de nossos leigos, quanto ao que constitui sucesso no crescimento da igreja, tendem a diferir. A liderança procura medir o êxito da igreja pelo número dos que estão nos livros e no batistério; os membros leigos, pelo número dos que estão nos bancos da igreja. Essa perspectiva diferente pode estar introduzindo uma cunha entre leigos e liderança. Ela compreende uma razão a mais à fórmula que usamos para medir o sucesso de nossa igreja, e inclui fazer discípulos.

Muitas igrejas adventistas são como o pescador que apanhava peixes mas não tinha nada para apresentar, porque os colocava num saco que tinha um buraco no fundo. Deus tem abençoado muito nossa igreja no ganho de almas. Contudo, não estamos mantendo muito daquilo que conquistamos.

Remendar o buraco do saco não pode substituir a pescaria. A igreja que não evangeliza, morre. Mas devemos entender que nossa função envolve tanto apanhar o peixe quanto conservá-lo. Em outras palavras, para usar uma metáfora de que nos servimos em outro artigo, devemos aprender a conservar o que colhemos; a saber:

1. Devemos preparar melhor nossos candidatos ao batismo. “Deus ficaria mais satisfeito com seis pessoas inteiramente convertidas à verdade, do que com sessenta fazendo profissão de fé, mas não estando de fato convertidas.” *Satanás não fica nem um pouco preocupado com nossos batismos em grande número — se aqueles que se batizam não estão inteiramente convertidos. Por isso, quanto mais convertida a pessoa trazida para a igreja, tanto melhor.

Dessa forma, há muita verdade no argumento de que deveríamos interessar-nos primeiramente no fato de os candidatos ao batismo estarem ou não convertidos — de que não devemos esperar demais dos que estão começando a vida cristã. Se eles estiverem verdadeiramente convertidos, as mudanças no estilo de vida certamente ocorrerão.

Poderíamos comparar esses membros recém-batizados a árvores frutíferas. Nosso desejo de que eles produzam fruto deve ficar em segundo lugar, ao verificarmos que foram bem plantados (convertidos e fundamentados em Cristo).

O que complica a questão de estabelecer a prioridade certa é o fato de que nós, seres humanos, só podemos dizer se a árvore está plantada, pelo fruto que ela apresenta. Dessa for

ma, enquanto não podemos esperar muito fruto na vida do candidato antes do batismo, algum fruto, contudo, deve estar visível. Este fruto certamente deve incluir a guarda do sábado, freqüência à igreja e abandono do uso de substâncias prejudiciais.

Pois bem, apliquemos esta observação a uma situação que temos na igreja hoje em dia. Com crescente freqüência, os evangelistas de culturas populosas, altamente instruídas e semicristãs, estão sendo convidados a dirigir reuniões evangelísticas em áreas caracterizadas por culturas de baixa renda, semicultas e não cristãs. Essas reuniões produzem batismos em massa, mas alguns de nossos pastores dessas áreas estão achando que as reuniões produzem muito poucos cristãos em desenvolvimento.

Não me oponho a campanhas curtas de colheita. Mas especialmente em áreas onde a população não tem um embasamento cristão, devemos depender das igrejas locais para instruir os candidatos em potencial ao batismo, antes que as reuniões comecem. E deveríamos ser muito relutantes em ver batizados aqueles que não possuem tal embasamento, até que tenham recebido mais instrução depois que as reuniões terminarem. Devíamos ser muito sensíveis ao conselho dos pastores com os quais estamos trabalhando e cautelosos quanto a impor nossos métodos a uma cultura desconhecida para nós.

2. Devemos fazer de seu batismo um grande evento na igreja local. Em primeiro lugar, creio que seria ideal que o batismo fosse realizado na igreja local. Alguns líderes da igreja são entusiastas dos batismos em campais e de acampamentos jovens, iifelizmente, eles muitas vezes deixam de ligar os novos membros às igrejas locais que dirigem. Em certo grau, estes batismos em massa levam o recém-batizado a distanciar-se do pastor da igreia local, do professor da Escola Sabatina ou do instrutor que passou horas preparando-o para o batismo. Como no nascimento físico, melhor será que a família do bebê que vai nascer esteja envolvida no seu parto.

Há duas dedicações no batismo. Os candidatos se entregam a Cristo e à Sua igreja. E a congregação se dedica a amar, prestigiar, envolver e treinar os candidatos. Uma vez que é no batismo que estas dedicações são feitas, tanto o candidato como a congregação devem estar presentes nesse evento.

Em segundo lugar, para valorizar o processo de unir, o batismo deve tornar-se um grande evento na vida da igreja. Pesquisas têm demonstrado com freqüência que o índice de retenção é diretamente proporcional à receptividade da igreja local. E o batismo dos filhos da igreja não deve ser levado menos seriamente do que o dos candidatos de fora da igreja. Aquele também deve ser um grande acontecimento. Estudos em algumas Divisões têm mostrado que o maior índice de abandono da igreja não está entre os conversos pelo evangelismo, mas entre os filhos que crescem na igreja.

0 batismo é um rito de transição. A criança muitas vezes cresce pensando que não é considerada muito importante, porque é apenas uma criança. Com o batismo, porém, ela espera ser tratada de certo modo como adulta, como realmente deve ser, pela congregação. Se a igreja não mostra que a criança é importante para ela, logo a criança achará que não é importante para si mesma.

* Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, pág. 370.

Floyd Bresee, membro da Associação Ministerial