OTTO J. RITZ

(Pastor-Evangelista, Associação Sul de Nova Inglaterra)

DELICADA é a ciência de lidar com a mente humana, e exige a coordenação da totalidade das faculdades mentais do ministro. Neste campo da responsabilidade ministerial, nada deve ser feito ao acaso nem com desleixo.

O conselho torna-se mais complexo ao prestar-se ampla atenção ao fato de que “pouco podemos acêrca das angústias de outrem. Bem poucos compreendem as circunstâncias de outra pessoa. Daí a dificuldade de dar conselho sábio”. — Testimonies, Vol. V, pág. 55. A vida cheia de desilusões e complexidades requer a devida compreensão da parte o conselheiro.

A juventude, por motivo de sua natureza caprichosa, imprevidente e explosiva, ainda mais difícil é de avaliar-se. Só após cuidadosa análise do problema, devem os jovens ser aconselhados. Dizer que os jovens não atendem prontamente a um são conselho é inteiramente incorreto. Êles atenderão favoravelmente ao conselho discreto. Deve êle, entretanto, ser dado de forma a atender razoavelmente à necessidade.                               

As trivialidades ditas a desiludidos jovens de ambos os sexos, têm mais ou menos o mesmo efeito de uma injeção que se quisesse aplicar a um paciente distante. Um ato público indiscriminado não passa da leitura de um barômetro de uma vida íntima alterada ou desiludida. O atingir a vida íntima requer a compreensão do comportamento humano. Isto nos leva ao primeiro duma série de fundamentos, cuja compreensão governa, em grande medida, o êxito dos conselhos pastorais.

Individualidade

Não existem duas pessoas iguais. Cada ser humano é uma entidade distinta com uma herança mental e física peculiar a si própria, somente. Conquanto certo padrão de comportamento básico categorize a maioria das pessoas, não obstante as peculiaridades de cada vida não podem ser adaptadas a um modêlo improvisado para os fins de análise. Neste ponto é que creio que se perde a primeira partida no conselho eficaz. Não é dada atenção suficiente ao assunto da individualidade.

“Cada ser humano criado à imagem de Deus, é dotado de certa faculdade própria do Criador — a individualidade — faculdade esta de pensar e agir.” — Educação, pág. 17.

Com que freqüência se ouve acêrca de moralismo vulgar ministrado aos jovens, com comparativamente pouca consideração para com o assunto da individualidade. O médico não receitaria o mes-mo remédio a todos os seus pacientes. Não obstante o conselho espiritual é muitas vêzes dado segundo essa norma. Com umas poucas frases corriqueiras, uns poucos textos bíblicos incisivos, espera-se que os problemas dos jovens se dissolvam.

O ministro, pois, deve estudar cuidadosamento o jovem que tem perante si, reconhecendo amplamente que sòmente um conselho específico pode ser de auxílio para êsse jovem, de quem não existe, no mundo inteiro, uma duplicata. Uma vez reconhecido êste princípio, pode o conselho ser ministrado de maneira mais aceitável.

Ouvir

A fim de compreender perfeitamente um jovem desiludido, deve a pessoa ouvir-lhe a história. É imperdoável, da parte do conselheiro, escutar apenas a introdução da história e imaginar o restante.

Alguns pastôres conselheiros pretendem possuir o raro dom (se é que isso existe) de saber tudo, mesmo antes de a metade haver sido contada. Lembramo-nos de um jovem que proferiu menos que doze frases, quando o conselheiro o atalhou e sentenciou durante meia hora. Depois de haver-se esvaziado, voltou-se para o jovem com a pergunta: “Atende tudo quanto eu lhe disse, à sua necessidade?” A isto respondeu o jovem: “Mas isso não é o meu problema!” Tragicamente não foi dada a êsse jovem sequer a oportunidade de esclarecer a sua dificuldade, para nada dizer de ser ela analisada. A escuta, escuta compassiva, uma escuta atenta é imperativa. Dezenas de pessoas morreriam na mesa operatória se fôssem operadas com base numas poucas declarações feitas por um queixoso paciente. Por êste motivo é que as multidões morrem espiri-tualmente. Elas são destroçadas sem que se lhes dê uma oportunidade para descreverem corretamente os sintomas.

“Não busque jamais dizer muita coisa, e a maior parte do tempo não diga coisa nenhuma. A maldição de nosso ministério de conforto são as palavras.” — Peter H. Plume, Some to Be Pastors, pág. 44.

A escuta atenta na primeira entrevista com os jovens produz juros excelentes. A atenção estrita à apresentação da história iluminará os conselheiros quanto aos fatos, circunstâncias, a mentalidade dos jovens, seus motivos de buscar conselho, etc.

A escuta verdadeira requer paciência. Conquanto uma história idêntica haja sido contada uma centena de vêzes, a discreção exige que o conselheiro escute com honesto interêsse.

“Esta é a obra mais delicada e mais difícil que se tem confiado a sêres humanos. Exige o mais delicado tato, a maior suscetibilidade, conhecimento da natureza humana, e uma fé . . . oriunda do Céu”. — Educação, pág. 292.

Bondade

Os jovens normais são bondosos, leais e amigáveis. A juventude é sensível à bondade. Embora o pecado seja grande demais, demais odiosa a ofensa moral; se o jovem chega com profundo desespê-ro, em busca de auxílio, todo esfôrço de bondade deve ser-lhe dispensado.

“Lembrai-vos de que a bondade realizará mais do que a censura.” — Testimonies, Vol. IX, pág. 224.

“Uma palavra de animação, um ato de bondade, iria longe para aliviar a carga que pesa sôbre ombros cansados.” — Test. Sel. (Ed. Mundial), Vol. III, págs. 99 e 100.

Quanto mais eficaz seria o trabalho dos ministros se dessem atenção a êste princípio! A transição da juventude para a maturidade está repleta de problemas de desenvolvimento. A bondade aumen-tará as probabilidades de conselho bem-sucedido. “Se a pessoa está em êrro, manifestai-lhe ainda maior bondade.” — Testimonies to Ministers, pág. 150.

Os problemas dos jovens são reais. Tôdas as intromissões e sugestões contrárias refletem negativamente em quem assim se debate. Deixar de reconhecer os problemas dos jovens é quase tão ilógico quanto deixar de reconhecer a juventude.

“Muitos estão sem Deus, . . . culpados, corrutos e degradados. . . . São merecedores da mais terna comiseração, simpatia. . . . Lembrai-vos sempre de que os vossos esforços para reformar outros devem ser feitos no espírito de inflexível bondade.” — Testimonies, Vol. IV, pág. 568.

Identificação

A identificação é o quarto princípio básico essencial para o conselho bem-sucedido. A identificação é uma afinidade satisfatória entre duas ou mais pessoas. Demonstra amizade, confiança, confidência. Pouco é conseguido quando não existe identificação. Igualmente pouco é conseguido quando se manifesta amizade profissional. Os olhos, a face, a cabeça, a voz, tudo indica com perfeita exa-tidão essa coisa chamada identificação, ou a sua falta.

Muitos jovens vivem num temor peculiar à juventude — não tanto o temor dos seus problemas, como o temor de que os seus problemas sejam “descobertos.” Freqüentemente se ouve dizer: “Bem, eu nada disse por temor de denunciar-me.” Conseqüentemente, por falta de um conselheiro confidente, mui-tos continuam a carregar os seus fardos. Caso haja a mínima desconfiança de que o seu problema não será mantido em absoluta confidência, o jovem hesitará em confiá-lo. O conselheiro que é agressivamente direto em suas observações, áspero na análise, precipitado nas conclusões, poderá destruir imediatamente a confiança que o jovem nêle deposita. A identificação é estabelecida e fortalecida por nosso interêsse genuíno na outra pessoa. O desejo de ajudar, a chama ardente interna, podem ser vistos externamente. Em geral, o jovem percebe logo a sinceridade.

Planos Construtivos

Um plano construtivo é muitas vêzes a solução para a juventude confundida. Muitos jovens que buscam auxílio retiram-se com um senso de remorso por haverem exposto o seu problema sem ter recebido auxílio conveniente, e, às vêzes, recebido pedra em vez de pão. Êste é um caso que exemplifica o assunto de planos e sugestões concretos.

Um casal de jovens foi pedir conselho. Se bem que batizados havia pouco tempo, eram já candidatos à eliminação, segundo as normas de uma facção denominante na igreja. Conversei com o casal durante algum tempo, não tanto acêrca do seu problema, mas sôbre assuntos referentes ao futuro. Fiz-lhes a sugestão de ambos voltarem para o colégio e completarem a sua instrução. A princípio pareceram intrigados. Aonde poderiam ir? Onde conseguir o dinheiro? Como poderiam deixar de trabalhar?

Um a um êsses problemas foram resolvidos. Escrevi cartas em favor dêles, auxiliei-os na obtenção de passaportes, aconselhei-os no sentido financeiro. Finalmente, o que anteriormente parecia ser um caso de mais dois jovens abandonarem a igreja, transformou-se num caso de mais dois jovens freqüentarem um de nossos colégios, onde acharam vida nova e novo futuro.

Em todo conselho deve haver sugestões construtivas, planos concretos. O conselho que não abra novos horizontes, que não proveja saídas práticas, não produza resultados concretos para o bem, é fracasso. Para cada jovem há um futuro. Para êsse futuro deve o conselheiro buscar encaminhar êsse jovem.

“O Senhor tem o Seu olhar pôsto em cada um de Seus filhos: concernente a cada um dêles tem Êle os Seus planos.” — Testimonies, Vol. VI, pág. 12.

“A cada indivíduo de hoje, tem Deus designado um lugar no Seu grande plano.” — Educação, pág. 178.

Creio que um dos motivos fundamentais de a juventude abandonar as nossas fileiras é que freqüentemente esquecemos de apresentar-lhes um futuro. Deixamos de assentar-nos e interessá-la num plano definido para o seu futuro. De fato, se os jovens deixam de mostrar interêsse na obra denominacional, recebem menos atenção do que os que demonstram êsse interêsse. Assim não deve ser.

Em progressão lógica vem o sexto ponto — contatos freqüentes com quem já pediu conselho. Uma planta recém-plantada provavelmente morrerá se fôr deixada sem trato. Morrerá apesar da cuidadosa transplantação, apesar da boa terra em que foi posta, se não fôr freqüentemente atendida. Onde lança raízes necessita de cultivo, proteção, abrigo, poda e muitos outros cuidados.

Não obstante quantas vêzes dá-se aos jovens uma mão-cheia, e com isso são despedidos! Muitas vêzes nenhuma inquirição é feita mais tarde quanto ao seu bem-estar e progresso. Todo conselho que não é seguido de conclusão apropriada e satisfatória, equivale a pouco mais que nada. Jesus voltou muitas vêzes para auxiliar Pedro, Maria e outros. Em cada uma dessas consultas pode o pastor medir o progresso feito e pôr-se em condição de apontar a direção certa.

Oração

A média dos problemas de aconselhar pode ser animada se fôr lembrado o axioma seguinte: “Não tem a Terra infortúnio que o Céu não possa curar.”

A seu tempo pode o pastor tornar-se médico eficiente da alma. Lidando fielmente, conscienciosamente com cada caso, torna-se o pastor um poderoso instrumento nas mãos de Deus.

Encarar os problemas através da oração e do recurso a Deus é a maneira inigualável com que conta o conselheiro cristão. Não importa a profundeza da queda do jovem no pecado, não importa a intrincada teia de circunstâncias em que pareça estar enredado, não importa quão desesperançado se lhe afigure o futuro, mesmo para êle há em nosso Deus graça e auxílio suficientes; e o meio de alcançar essa graça e auxílio, e dêles prover-se, é a oração sincera e fervorosa. O conselheiro sábio não deixará, pois, de usar êsse meio eficacíssimo de guiar a juventude para a solução de seus problemas. O braço de Deus não está encolhido. Ainda é possível resolver os nossos problemas por meio da oração.

“Depois de haverdes recebido conselho do sábio, do judicioso, ainda há um Conselheiro cuja sabedoria é infalível. Não deixeis de apresentar-Lhe o vosso caso e suplicar-Lhe a direção. Prometeu Êle que, se vos faltar a sabedoria e Lha pedirdes, Êle vo-la dará liberalmente e não a lançará em rosto.” — Testimonies, Vol. II, pág. 152.

“Os que decidem não fazer, em qualquer sen-tido, coisa alguma que desagrade a Deus, depois de Lhe apresentarem seu caso, saberão a orientação que hão de tomar. E não receberão unicamente sabedoria, mas fôrça. Ser-lhes-á comunicado poder para a obediência e para o serviço, assim como Cristo prometeu.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 499.