ARTUR L. BIETZ 

(Pastor da Igreja White Memorial)

Capítulo XII — Continue Desenvolvendo-se

CONFÚCIO ensinava que os homens deveriam crescer e desenvolver-se constantemente. Indicava que um cavalheiro deve seguir o seguinte plano: Aprender até aos quinze anos, forjar-se um futuro até aos trinta, até aos quarenta manter ainda suas crenças, durante a década seguinte iniciar-se na arte de captar os oráculos do Céu, aos sessenta manter-se com a mente receptiva, e aos setenta ser capaz de realizar qualquer coisa que deseje sem o temor de que vá fazer alguma coisa má. Eis um plano de progresso e aperfeiçoamento contínuos. A pessoa pode desenvolver-se à medida que o tempo passa ou meramente chega a velho, porque assim o impõe o transcurso dos anos. O desenvolvimento não é automático; é o resultado do esfôrço e da aplicação conscientes.

Faz vários anos um grupo religioso adotou êste lema: “Milhões de pessoas que agora estão vivendo nunca morrerão.” Em verdade pode dizer-se que muitos que agora vivem já estão mortos. Alguns deixam de existir intelectualmente aos trinta anos, mas apenas são enterrados Fisicamente aos sessenta. Certa vez foi pedido a um intelectual de renome que se unisse a um grupo de ex-discípulos para celebrar uma reunião comemorativa de vinte e cinco anos de diplomação. Recusou êle o convite com base em que não tinha interêsse em banquetear-se com homens mortos. Muitos de seus antigos companheiros de estudos haviam sido pessoas promissoras e com magníficas perspectivas, mas se afundaram numa mediocridade materialista e estavam satisfeitos com viver intelectualmente estanques. Sua mente morrera.

Uma senhora idosa encontrou um bêbado agonizante estendido na neve, e tratou de ajudá-lo. O homem resmungou, dizendo que queria que o deixassem abandonado para poder morrer. Ela replicou: “Crê o senhor que para estar morto precisa encontrar-se dentro de um caixão? Amigo, o senhor já está morto!”

Em realidade, a capacidade de aprender reduz-se lentamente à medida que os anos passam. Muitos adultos se queixam de que não podem aprender ràpidamente nem lembrar-se com exatidão. Em geral esta incapacidade se deve à falta de interêsse, e não de capacidade. Demasiadas pessoas estão satisfeitas com o que sabem e, portanto, não realizam o menor esfôrço para aprender o que quer que seja novo. Visto não terem vontade para concentrar-se, falta-lhes a retentiva. Se estivessem dispostas a aplicar-se e a manter o interêsse na aprendizagem, seriam capazes de lembrar. A mente enfraquece por falta de uso. Portanto, em quatro anos de negligência intelectual uma pessoa pode perder sua capacidade em maior grau do que a cultivou durante quarenta anos de aplicação conscienciosa.

É verdade que “um cão velho não pode aprender truques novos?” Em sentido lato êste adágio é correto, porque os cães velhos não têm interêsse em truques novos; são preguiçosos demais para realizar o esfôrço. Preferem estar recostados num sofá macio e morno. Recentemente um estudante de trinta e cinco e outro de setenta e cinco anos, foram submetidos a uma prova para determinar sua capacidade retentiva. Ao serem examinados separadamente, o homem de mais idade fêz trabalho melhor que o do jovem. Ao serem reunidos e explicando-se-lhes o motivo do exame, o resultado favoreceu o mais jovem, porque o primeiro se sentia desassossegado e ansioso quanto ao resultado. Não obstante, a capacidade dêste não fôra reduzida pelo transcurso dos anos.

Conheço uma senhora, também de setenta e cinco anos, que anualmente estuda um período de cem anos da História. Fêz isso durante muitos anos e a mente conserva-se-lhe ativa e com todo o vigor e receptividade juvenis. Sua capacidade retentiva permanece imutável.

Outro amigo de oitenta e cinco anos, está constantemente à cata de idéias e planos novos. Encanta-o relacionar-se com os jovens porque o estimulam para abordar novos campos de estudo. Êste desejo intenso de aprender manteve-o mais jovem que muitos homens que conheço e que só têm trinta anos de idade. A idade não é assunto de números e cronologias; é assunto de flexibilidade intelectual e do afã de aprender. Os jovens aprendem porque são curiosos e pesquisadores. Andam em busca de coisas, e vêem-nas.

Tive a oportunidade de falar a uma anciã de setenta e cinco anos que se sentia desgraçada. Ao interrogá-la acêrca de sua vida em geral, e de como passava os seus anos, me respondeu: “As coisas não vão de todo bem. Tenho problemas com meus netos. Não sei onde irá parar esta nova geração. Busco instruí-los o melhor que posso, mas êles não se dispõem a escutar-me. Parece não se sentirem a gôsto ao meu lado. Dizem que sempre estou encontrando erros na maneira em que são feitas as coisas e que insisto em que as façam como eu as fazia quando era jovem. A vida já não me dá mais prazer”.

Senti interêsse em descobrir o segrêdo da felicidade que irradiava da face de outra avó que tinha aproximadamente a mesma idade da anteriormente citada. Perguntei-lhe como se encontrava, e sua resposta foi: “Em realidade estou nos melhores anos de minha vida. Nunca me senti tão jovem. Sem dúvida o senhor saberá que tenho dez netos e êles me mantêm sempre de bom ânimo. Minha mente se conserva ativa com buscar aprender tudo quanto êles me ensinam.” O segrêdo residia em seu afã de aprender, e não no de ensinar. Podemos estar certos de que as crianças aprendiam muito dela, mas, por sua vez, esta anciã tirava proveito de seu trato com os netos. A primeira anciã estava intelectualmente morta; não desejava saber mais do que aprendera quando jovem. A outra, porém, tinha mente receptiva e sempre disposta a prosseguir aprendendo.

Uma senhora de oitenta e seis anos de idade contou-me sua história de disciplina e desenvolvimento intelectuais. Declarou que ao cumprir cinqüenta anos já seus filhos haviam abandonado a casa e estabelecido seus próprios lares, ficando ela só com o espôso. Martirizavam-se mutuamente os nervos, e ambos eram cada vez mais infelizes. Finalmente compreendeu que estava desgostosa consigo mesma porque estagnara intelectualmente, de modo que se traçou um plano de estudos. Lembrou que, quando criança, seu professor lhe dissera que possuía notáveis aptidões poéticas, e pôs-se a escrever poesias. Seus versos ganharam fama e recebeu muitos prêmios por seu excelente trabalho. Isto a fêz feliz. Por outra parte sempre gostara de pássaros, e dedicou-se a realizar estudo acurado das aves da Califórnia. Uns poucos anos mais tarde, publicou seu livro que atualmente é encontrado em livrarias importantes. Agora, na idade de oitenta e sete anos, seu passo é firme e vibrante, e os olhos fulguram-lhe com um brilho juvenil que revela genuíno interêsse na vida. Disse-me que já tem planos para os próximos treze anos. Seu lar foi salvo porque ela não se deixou morrer aos cinqüenta anos. Sua lucidez e atividade intelectuais lhe conferem saúde emocional e mental; seu desejo de aprender salvou-a.

Uma das primeiras características da pessoa madura é a disposição para aceitar novas verdades. Os que recusam adaptar-se a idéias novas estão excluindo a possibilidade de viver vida plena e expansiva. As atitudes intransigentes que denotam intolerância, são o resultado natural das idéias e convicções estáticas. Milhões de pessoas são impermeáveis a tudo quanto lhes é desconhecido, embora possuam prova substancial de sua veracidade. Consagram tôdas as suas energias para deter a investida das inovações em tôdas as suas formas. Essa relutância para aceitar as idéias novas caracteriza muitíssimos adultos. Quando alguém pretende explicar cada coisa em harmonia com o que era conhecido e aceitável anteriormente, revela instabilidade básica e perigoso desinterêsse para reconsiderar o que já cria. Um erudito pode ser tão inflexível em sua decisão de não aceitar teorias desconhecidas, Quanto alguém falto de tôda instrução. A pessoa progressista encara a vida com curiosidade e interêsse infantis, e está preparada para aprender tudo que é novo e garanta uma existência de mais êxito e utilidade, e disso apropriar-se. A flexibilidade intelectual, portanto, é um dos ingredientes necessários de uma experiência fecunda.

Os que estão intelectualmente mortos, dificilmente são abordáveis mediante considerações sensatas. Defendem seu parecer e lutam por suas opiniões, sem ter em conta a lógica ou a razão. São como o homem que declarou que estava disposto a que o convencessem de que estava errado, mas certamente gostaria de conhecer a pessoa que pudesse fazê-lo. O indivíduo mentalmente alerta não teme a verdade, mas admite humildemente as deficiências de seu conhecimento e considera com interêsse as idéias novas, quando estas são o resultado de investigações verificáveis. Os que têm mente receptiva e ágil, libertam-se da rigidez e advogam o exame das novas verdades com atitude intelectual tolerante e solícita, quer provenham do mundo natural quer do espiritual.

O propósito principal da vida é o desenvolvimento cabal e harmonioso, e o auxílio a outras pessoas para que façam o mesmo. Cada ser humano deve operar o seu próprio desenvolvimento, mas as relações com os demais podem estimulá-lo. Esta é a missão de um médico, um educador e um pastor em seu trato com os homens. Como cultivadores da alma devem tratar de proporcionar a umidade, o ar, a luz e os elementos químicos necessários para que ocorra êsse crescimento.

Quais são os elementos imprescindíveis para o desenvolvimento? Quando alguém ama sinceramente as coisas e as pessoas, progride em todo o sentido. E chega ainda mais alto quando êsse amor o inspira para elevar-se a níveis sempre superiores. Quem ama procura adaptar-se às necessidades do objeto de seu amor, e êste espírito de adaptação conduz ao desenvolvimento de quem o alimenta. Quando os sêres humanos chegam à conclusão de que devem adaptar-se à idiossincrasia dos a quem amam e às novas situações que se lhes vão apresentando, sem com isso abandonar nenhum princípio moral, indefectivelmente robustecerão sua personalidade e melhorarão o caráter. Tôda vez que um fato ou uma nova verdade, não importa quão pequenos sejam, lançam raízes em nós, o processo do crescimento é ativo. A aprendizagem sempre implica um desenvolvimento.

Êste desenvolvimento progressivo ocorre, também, na contemplação e no reconhecimento do belo. Todo ser humano pode fomentar o cultivo de seu espírito mediante nova apreciação da beleza que se encontra no mundo natural. Para deleitar-se sempre diante de uma flor bela, é necessário progredir na capacidade de apreciar o belo. O cultivar primorosamente um jardim conduz-nos a novas experiências cujas conseqüências são o pregres-so e o desenvolvimento de algum aspecto de nosso ser.

O serviço em prol dos demais, indefectivelmente deixa o mesmo saldo. Uma costureira aleijada encontrou sua felicidade em ensinar outras pessoas a costurar, e algum tempo mais tarde se deleitava em dirigir um estabelecimento onde só trabalhavam inválidos. Com a ajuda dela, e a de Deus, prestaram serviço eficaz à sociedade por espaço de mais que vinte anos.

O sofrimento, também, pode conduzir ao crescimento do ser humano, segundo o experimentei em minha própria vida. Uma doença física pode ser um verdadeiro aguilhão que nos estimule a compreendermos melhor a nós mesmos e aos demais. Algumas das pessoas que mais plenamen-te viveram encontram-se também entre as que mais sofreram.

Os elementos necessários para desenvolver-nos cada vez mais são, pois, o amor, o estudo, o serviço, o gôsto do belo e o sofrimento. Quem aspira à perfeição progride constantemente. Não se conforma com alcançar um alvo determinado mas cultiva sempre faculdades tais como a simpatia, o valor, a honestidade, o otimismo, o amor e a tolerância. Tôda pessoa deve desenvolver-se no sentido que lhe sugerem suas próprias aptidões e talentos. Ninguém deve buscar que outrem modele e assimile seu próprio modo de ser. Um estudante, por exemplo, não deve tratar de que todos leiam os mesmos livros que êle está lendo. Talvez êle se interesse na erudição, pelo que seus livros não despertarão nenhum interêsse em quem não deseja ser erudito. Um espôso deve permitir que sua espôsa cultive as habilidades concernentes à sua condição de mulher, tais como a decoração dos vários ambientes da casa, a arte culinária e a educação dos filhos. Nunca duas pessoas se desenvolverão exatamente na mesma maneira, nem se espera que isto aconteça.

Permita-se que cada filho se vá orientando em conformidade com as suas aptidões. Se tem inclinação para o estudo, seja animado nesse sentido. Se possui aptidões mecânicas relevantes, então a educação que se lhe ministra deve atender de ma-neira especial êsses dons inatos. As pessoas de discernimento e capacidade notáveis para o estudo da natureza, cultivem êsses interêsses.

Insensato é supor que porque V.S. se está desenvolvendo em determinada direção, todos deverão seguir-lhe os passos. A vida tem muitos aspectos e a cada pessoa teria que oferecer-se a oportunidade de desenvolver-se de acôrdo com seus interês-ses e aptidões. A mãe que se dedica aos afazeres domésticos e à criação dos filhos, merece tanta honra quanto o estudante que realiza progressos marcantes em seu campo específico de pesquisas. O vendedor que progressivamente vai adquirindo maior perícia em seu trabalho, deveria receber tanta honra quanto o médico que se aperfeiçoa em sua profissão. As pessoas de mentalidade prática que progridem na compreensão dos problemas técnicos que se lhes apresentam, está-se desenvolvendo tão seguramente quanto o teólogo que consegue dominar algum dogma ou doutrina intrincados.

Todos nós, igualmente, necessitamos desenvolver-nos, mas a direção que êsse desenvolvimento tome, estará determinada unicamente por nossas aptidões, talentos e interêsses. Muitos se debatem na confusão mental e emocional por não haverem traçado planos definidos para o seu progresso pessoal. São dignos de lástima. Quando um indivíduo perde sua flexibilidade, começa a envelhecer. Isso pode ocorrer aos vinte e cinco, aos trinta e cinco ou aos sessenta e cinco anos; mas não é obrigatório que aconteça aos noventa e cinco.

Determine a própria flexibilidade intelectual, respondendo às perguntas seguintes:

  • 1. Modificou V.S. recentemente seu ponto de vista no tocante a algum problema de certa importância?
  • 2. Agrada-lhe tratar com os mais jovens, ou parece-lhe que suas idéias são revolucionárias?
  • 3. Viajou ultimamente? Se o fêz, desfrutou a viagem?
  • 4. Tem interêsses, afeições ou recreações especiais?
  • 5. Que aconteceria se tivesse que mudar de planos repentinamente ou alterar sua rotina habitual?
  • 6. Sente que lhe faltam comodidades? Dedicam-lhe as pessoas que o rodeiam suficiente atenção?
  • 7. Quando V.S. conversa com outra pessoa, monopoliza tôda a conversação? Aborrece-se quando tem que escutar as idéias de outrem?
  • 8. Interrompe com certa freqüência suas ocupações para fazer um favor a alguém?
  • 9. Está beneficiando nalguma coisa o mundo, ou sente-se relegado em tudo, convencido de que qualquer esfôrço que se faça é de pouca utilidade?
  • 10. Parece-lhe que os métodos atuais de criar os filhos são melhores que os de sua própria infância?

Ao responder a êste questionário, terá V.S. um índice aproximado de como se sente: velho ou jovem, flexível ou rígido. A vida é flexível; a morte, rígida.

Muitíssimas pessoas têm a idéia de que a educação é para os jovens. Afirmam que alguns são “instruídos” e outros “ignorantes”, porque tiveram ou deixaram de ter educação sistemática. Ninguém poderia estar mais afastado do certo. Alguns que nunca freqüentaram nem sequer um único dia de escola, são em muitos aspectos mais educados que os que passaram anos em diversas instituições educativas. Os que deixam de estudar ao concluir sua carreira ou determinado curso de estudos, logo esquecerão tudo quanto aprenderam. A educação é um processo que dura até à morte. Dever-se-ia ir à escola sòmente com um propósito: aprender a como estudar o resto da vida. As escolas, os ginásios e as universidades deveriam meramente prover as ferramentas para realizar em seguida estudo e observação esclarecidos.

A pessoa flexível é a que se estima a si mesma sem cair na presunção, que se rege por princípios e não obstante não chega a escravizar-se por noções preconcebidas, que tem firmeza de propósitos sem sentir-se hipnotizada pelo alvo que se fixou. A pessoa flexível crê que em parte pode determinar o rumo de sua existência e está consciente de que o êxito ou o fracasso dependem princípalmente de si.

Para ter sempre uma atividade sã e otimista dever-se-ia conservar durante tôda a vida a flexibilidade intelectual e o desejo de progresso e desenvolvimento. Se se quer alcançar o êxito, deve-se ter isso em mente.

“Sigamos o Salvador em Sua simplicidade e renúncia. O Homem do Calvário seja por nós enaltecido pela palavra e por vida santa. O Salvador chega muito perto dos que se consagram a Deus. Se já houve um tempo em que mais necessitássemos da operação do Espírito Santo no coração e vida, êsse tempo é o presente. Asseguremo-nos êste poder divino para têrmos a fôrça de viver uma vida de santidade e renúncia.” — Test. Sel., [Ed. mundial] Vol. III pág. 365.