DELFIM G. GOMEZ

(Diretor do Departamento de Publicações da União Incaica)

VÊZES há em que pregamos um sermão bem concatenado e não obstante notamos que não foi um alimento sólido para as almas. O grande apóstolo São Paulo parece que escutara sermões desta espécie, pelo que adverte seu discípulo Timóteo com as palavras seguintes: “Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, … que pregues a Palavra.” II Tim. 4:1 2. É a Palavra de Deus que nos alimenta a alma, “porque a Palavra de Deus é viva e eficaz…” (Heb. 4:12.)

Não faz muito, tive o privilégio de falar por espaço de uma hora com um irmão convertido pelo poder da Palavra de Deus, o qual, havendo sido prestigioso dirigente religioso, como Saulo de Tarso, saiu de “Babilônia” e atualmente, por sua educação e cultura e, sobretudo, por sua entrega incondicional ao Senhor, trabalha como redator em uma de nossas casas editoras. Êste irmão me disse: “Pastor, eu não troquei a minha antiga crença pela mensagem adventista porque os adventistas sejam melhores ou piores; sou hoje adventista por que esta é a verdade.” O coração dêste homem não poderia ser mudado por sermões bem alinhavados, cheios de sabedoria humana mas faltos da “Palavra”, pois êle era pregador profissional, mas a “Palavra de Deus.. . viva e eficaz” penetrou-lhe a alma, juntas e medulas.

Esta é a razão porque alguns dos sermões que pregamos ou escutamos, não importa quem seja o pregador, são como “sal sem sabor e farinha sem fermento,” como diz a irmã White em Evangelis-mo, pág. 388 e, indo um pouco mais longe, tampouco é suficiente pregar “a Palavra” — temos que viver a vida de Cristo. O haver Paulo podido dizer “morri,” ao mesmo tempo que “não obstante vivo”, constitui um dos paradoxos de seus escritos. O apóstolo estava vivo para “Deus em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rom. 6:11.) Tão completamente identificado estava com seu Mestre que suas distintas personalidades se confundiam. A nova vida em Cristo não há de começar-se a viver no Céu, mas “na carne”, ou seja, no mundo presente.

“Ao nos sujeitarmos a Cristo nosso coração se une ao Seu, nossa vontade imerge em Sua vontade, nosso espírito torna-se um com Seu Espírito, nossos pensamentos serão levados cativos a Êle; vivemos Sua vida.” — Parábolas de Jesus,pág. 312. Ao experimentarmos isso, compreenderemos as palavras do apóstolo: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” (Gál. 6:14.)

Na vida do grande apóstolo regista-se o incidente do que aconteceu a alguns pretensos discípulos que quiseram fazer as obras de Paulo sem viver a vida de Cristo. Deixemos, porém, Lucas falar, descrevendo êsse incidente: “E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia maravilhas extraordinárias. … e alguns dos . .. judeus . .. tentavam invocar o no-me do Senhor Jesus sôbre os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-te por Jesus a quem Paulo prega. E os que faziam isto eram sete filhos de Sceva, judeu, principal dos sacerdotes. Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus, e bem sei quem é Paulo, mas vós quem sois? E, saltando nêles o homem que tinha o espírito maligno e assenhoreando-se de dois, pôde mais do que êles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa.” Atos 19:11-16.

Por êste incidente vemos que o falar de Jesus e pregar em Seu nome não é suficiente. Temos que viver a vida de Jesus, e nossos sermões serão alimento para as almas famintas.

Em nossas igrejas há problemas, e as almas enlanguecem por falta de alimento sólido. “Uma religião fria e legal nunca pode conduzir a Cristo as almas, porque é uma religião sem amor e sem Cristo. A religião do cérebro, não penetra no coração; êste se alimenta da teoria da religião, carece da experiência cristã, trata de assuntos externos, e não transforma a vida. É uma religião sem gôzo e sem amor, não traz segurança nem vitória.” — Evangelismo, pág. 388.

É uma profanação o apresentar à congregação de Deus sermões sem profundo estudo, meditação e oração. Enquanto nós, pregadores, não viver mos a vida de Cristo, apresentaremos fogo estranho porque “da abundância do coração faia a boca.” Não poderemos meditar profundamente a Palavra de Deus enquanto a não vivermos.

Em 1887 a serva do Senhor enviou mensagens de alarma aos pregadores. Eis uma delas: “Há formalidade demasiada na igreja; as almas estão perecendo por falta de luz e conhecimento. Uma rotina de cultos religiosos é mantida, mas onde está o amor de Jesus? A espiritualidade está morrendo.” — Ch. R., 29:2.

A serva do Senhor apontou também o remédio: “Um reavivamento da verdadeira piedade entre nós é a maior e mais urgente de nossas necessidades. Buscá-lo deveria ser nosso primeiro trabalho.” — Ch. R., 31:3.

Ajude-nos Deus a meditar na enorme responsabilidade que pesa sôbre os pregadores das verdades eternas, que deveriam ser apresentadas aos pecadores por bôca dos anjos sem pecado. Nossos lábios têm que pronunciar palavras celestiais, e para que estas surtam o efeito que o Céu espera, têm que sair de um coração limpo, de uma fonte pura.