Não há em religião alguma do mundo nenhuma doutrina que corresponda à doutrina cristã do Espírito Santo. E nada é mais vital para a vida cristã do que estar cônscio da presença do Espírito Santo na vida. Uma pessoa pode ser batizada e tomar-se membro da igreja, e contudo nada saber desta experiência. Quando Paulo encontrou em Éfeso um pequeno grupo de cristãos, notou que havia na vida dêles uma grande falta, e assim perguntou: “Recebestes o Espírito Santo quando crêstes?” Sabemos qual foi a resposta. Êles não sòmente nada sabiam desta experiência, mas nem sequer haviam sido instruídos com respeito ao Espírito. No entanto a própria igreja é criação do Espírito Santo. Nós não somos apenas um agrupamento de pessoas unidas em cultura, mas um corpo de homens e mulheres nascidos de nôvo.

Possuir uma teologia do Espírito Santo e contudo nada saber de Sua presença é coisa perfeitamente possível. Apoio, pastor da igreja de Éfeso, era um estudioso brilhante e um orador notável. Havia logrado notoriedade em Alexandria. Era homem “erudito,” “poderoso nas Escrituras.” Êle pregava a Jesus “com poder.” Possuía tudo que era necessário para fazer um grande líder, exceto uma coisa fundamental: sua vida não conhecia um Pentecostes pessoal. Os poucos que compunham esta congregação não possuíam a paixão do serviço. Mas que mudança ocorreu quando o apóstolo Paulo pregou-lhes a Jesus na plenitude da mensagem evangélica. Seus olhos foram abertos para uma nova vida. Foram rebatizados e o Espírito de Deus encheu-os com poder.

Reunimo-nos hoje como um grupo de pastores vindos de tôdas as partes da Terra. Viemos com o senso de necessidade pessoal. Representamos milhares e milhares de igrejas e aproximadamente 3 milhões de crentes. Agradecemos a Deus pelo progresso dêste movimento do advento, mas se Paulo tivesse de visitar nossas igrejas, quantos não estariam na mesma trágica condição da igreja de Éfeso! Os doze apóstolos não poderiam ser considerados culpados. Faltava-lhes o poder, porque o seu pastor, o seu pregador, jamais soubera o que era ser batizado com o Espírito Santo. Êle era um agudo exegeta, um fluente orador, mas não havia Pentecostes em sua vida.

Escrevendo aos crentes de Roma, Paulo disse: ‘‘Desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual.” Rom. 1:11. Êle estava consciente de que possuía alguma coisa que devia repartir com êles. É óbvio que ninguém pode jamais repartir o que não possui. Ora, vamos perguntar a nós mesmos, com tôda sinceridade, se quando vamos à igreja temos alguma coisa que repartir. Oh, sim, temos lindas histórias para contar, e ouvimos alguns maravilhosos relatórios durante a reunião. Mas temos algum dom espiritual para distribuir?

No passado Deus chamou determinadas pessoas e designou-as “para sinais e maravilhas.” Mas desde o Pentecostes todos estão aptos para sinais e maravilhas, pois o Espírito Santo foi derramado sôbre tôda carne. É fácil prestar serviços de lábios, pois conhecemos o vocabulário dos apóstolos, mas conhecemos o poder dos apóstolos? Êstes homens foram chamados, preparados e ordenados. Jesus disse que êles não eram “do mundo,” e haviam sido “mantidos” no mundo. Assim, sua posição era clara no que dissesse respeito à salvação. Mas êles não estavam equipados para o trabalho. Como homens regenerados já haviam recebido o dom da vida espiritual. Mas precisavam agora receber o dom do poder espiritual. Há hoje em dia homens maravilhosos que como cristãos amam e servem ao seu Senhor, e contudo jamais experimentaram um Pentecostes pessoal. Pode ser que alguns de nós aqui, quem sabe a maioria de nós, estejamos em necessidade desta bênção. E em virtude de nossa falta, sentimo-nos incapazes de repartir com nossas congregações os dons espirituais a que têm direito.

Ora, que é que torna tão importante o batismo do Espírito ou um Pentecostes pessoal? Que fará por nós esta experiência? (1) Ela nos dá poder na oração. A oração é uma tarefa cansativa, impossível, sem o Espírito Santo. “Porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós. . . segundo a vontade de Deus.” (Rom. 8:26 e 27.) Antes do Pentecostes, oramos no Espírito; depois do Pentecostes o Espírito ora por nosso intermédio.

  • (2) O Pentecostes traz liberdade. “Onde há o Espírito do Senhor, aí há liberdade.” Bênção nenhuma maior pode vir ao cristão, especialmente ao pregador, do que sentir-se liberto das lutas íntimas retratadas em Romanos 7. Como obreiros precisamos viver na experiência de Romanos 8. E temos de estar capacitados a conduzir nossas igrejas a esta experiência.
  • (3) O Pentecostes provê abundante vitalidade. O Espírito de Deus cria cristãos radiantes, pessoas cujo íntimo é uma “fonte de água que salta para a vida eterna.” Crentes debilitados tornam-se santos exuberantes. Estas bem-conhecidas palavras adquirem nôvo significado:

“Todos quantos consagram a Deus alma, corpo e espírito, estarão constantemente recebendo nova dotação de poder físico e mental. As inexauríveis provisões do Céu acham-se à sua disposição. Cristo lhes dá o alento de Seu próprio espírito, a vida de Sua própria vida. O Espírito Santo desenvolve Suas mais elevadas energias para operarem no coração e na mente. A graça divina amplia-lhes e multiplica-Ihes as faculdades, e tôda perfeição da divina natureza lhes acode em auxílio na obra de salvar almas. Mediante a cooperação com Cristo, são completos nÊle e, em sua fraqueza humana, habilitados a realizar os feitos da Onipotência.” — O Desejado de Todas as Nações, pág. 616.

“Mas os dons do Espírito são prometidos a todo crente segundo sua necessidade para a obra do Senhor. A promessa é, hoje, exatamente tão categórica e digna de confiança, como nos dias dos apóstolos. ‘Êstes sinais seguirão aos que creram.’ Êste é o privilégio dos filhos de Deus, e a fé deve lançar mão de tudo quanto é possível possuir como apoio. Porão as mãos sôbre os enfermos, e os curarão.’ Êste mundo é um vasto hospital, mas Cristo veio curar os enfermos, proclamar liberdade aos cativos de Satanás. … O evangelho possui ainda o mesmo poder, e porque não deveriamos testemunhar hoje idênticos resultados?” — Idem, pág. 612.

O Pentecostes provê poder. Disse Jesus: “Eu vos tenho dado autoridade. . . sôbre tôda a força do inimigo.” S. Lucas 10:19 (R. S. V.) O homem necessita de poder, e isto é o que foi prometido nas palavras derradeiras do Senhor, logo antes de Sua ascensão. O dom do Espírito de Deus é um dom de poder — poder para vida santa e para testemunho eficaz. “Deus não nos deu o espírito de temor; mas de poder, e de amor, e de moderação.” II Tim. 1:7. Lemos ainda: “O poder pertence a Deus.” Sal. 62:11. E quando o espírito de poder toma posse de nós, somos dotados de poder, tanto física, como moral e espiritualmente. O Espírito toma pessoas comuns em personalidades extraordinárias.

A obra de Deus depende de poder espiritual, e nenhuma outra espécie de poder a realizará. Não é a arguição de abstrações, mas o poder do testemunho vivo que moverá o mundo. Quando somos completamente do Espírito de Deus, somos continuamente fortalecidos no homem interior (Efés. 3:16). “Embora o nosso homem exterior se desfaça, contudo o homem interior se renova cada dia.” II Cor. 4:16. Perguntemo-nos a nós mesmos: Estou dando ao Espírito Santo o Seu verdadeiro lugar em minha vida?

O batismo do Espírito é uma experiência definida e distinta, algo além do batismo pela água. Por isto é que os discípulos receberam ordem de esperar. O seu trabalho futuro exigia que fossem revestidos do poder do alto. Alguns dêsses homens haviam sido discípulos de João Batista, que lhes declarara: “Eu na verdade vos batizo com água; mas após Mim virá Aquêle que vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.” S. Mat. 3:11. João veio como cumprimento parcial da promessa: “Eis que vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor.” E que espécie de homem foi êsse poderoso Elias? Profeta do fogo, sem dúvida. Êle fêz retomar ao Senhor toda a nação. E João era do mesmo tipo. Nada sabemos da meninice de João Batista, mas o anjo disse que êle seria “grande aos olhos do Senhor.” O povo de Deus nesse tempo estava enfrentando um grande desafio. Deus necessitava de um grande homem. Havia muitos homens ao redor, mas eram demasiado pequenos. O ministério de João foi curto, mas poderoso. Suas mensagens não eram filosóficas, mas proféticas. A Palavra de Deus era em sua mão como uma aguda espada. Êle abria o seu caminho através do formalismo morto e do pensamento confuso da época. E alcançou tôdas as classes — ricos, pobres, governantes de Israel e os soldados romanos. João pregou “no espírito e poder de Elias,” e sua obra foi típica de nossa hoje.

Se se nos perguntassem: “Onde está o Senhor Deus de Elias?” poderiamos responder: “Onde sempre esteve: no trono.” Mas a pergunta perquiridora hoje é: Onde estão os Elias do Senhor Deus? Nós possuímos a mensagem de Elias, mas onde o poder de Elias? Quase nada sabemos do ambiente em que Elias foi criado. As Escrituras simplesmente chamam-no Elias o Tisbita, “dos habitantes de Gileade.” Êle não era certamente um graduado de qualquer escola superior da época. Mas não há dúvida de que fôra um graduado da escola de Cristo. Não tinha necessidade de maior credencial. Enfrentou uma nação afundada na imoralidade, na idolatria e pecado. Foi um homem de Deus para uma hora trágica. É maravilhoso quando Deus lança mão de um homem. Mas é ainda mais maravilhoso quando um homem se apega a Deus. Aqui está o seu certificado colegial: “E a palavra do Senhor veio a Elias.”

Quem um homem seja, não é importante. O que um homem sabe, significa pouco. Mas o que um homem é significa tudo. Neste período laodiceano os crentes são cegos, desprovidos, e contudo pretensiosos; nus, e todavia não o sabem; pobres, embora desfrutando todo conforto material; dizendo nada necessitar, e precisando de tudo. Como ministros no período laodiceano, necessitamos mais do que escolaridade ou mesmo saudável doutrina. Necessitamos unção. A “letra” não basta. A menos que a letra seja inflamada pelo Espírito, não haverá vida na igreja. Foi a sarça ardente que atraiu Moisés. O mundo está cansado de homens melífluos, que “usam rios de palavras mas apenas uma colher de unção.” Que sabem mais de competição do que de consagração; mais conhecem promoção do que oração, mais sabem sôbre felicidade do que sôbre santidade.

Lemos que João Batista não realizou milagres; isto é, não deu demonstrações exteriores para provar o seu chamado. Sua autoridade estava na Palavra. No entanto, como Elias, êle levantou uma nação morta trazendo-a de nôvo à vida. Duzentos anos atrás houve outro homem enviado de Deus, cujo nome era João: João Wesley. Êle tinha o cérebro de um sábio, o zêlo de um evangelista, a língua de um orador. Mas êle não obteve êxito na Geórgia. Retornando à Inglaterra, desalentado e desiludido, foi a uma reunião de oração em Aldergate. Nessa atmosfera êle sentiu o coração “estranhamente aquecido.” Ergueu-se da oração com nova visão e nova paixão. Estava cheio do Espírito de Deus. Em 13 anos êste homem e seus companheiros sacudiram três reinos. O Senhor lhe deu 50 anos mais de vida, e com o coração como um vulcão êle percorreu o as ilhas britânicas como um incendiário, fazendo a nação voltar do poder de Satanás para Deus. Êle penetrou em áreas que eram possessão do diabo, e alguns historiadores declaram que a civilização ocidental deve mais a Wesley do que a qualquer outro homem. Êle e seus companheiros reformaram a igreja, a sociedade e as prisões. E os direitos civis jamais tiveram maiores campeões do que Wesley e seus companheiros, pregadores todos êles cheios do Espírito. Com efeito, êles eram letrados, mas nenhuma instituição educacional poderia confiná-los. Quando não lhes era permitido pregar nas igrejas ou mesmo na cidade, êles pregavam nos campos, e milhares subiam ao alto do London Wall para ouvir êsses homens. Nenhum espírito laodiceano amortecia o seu ardor. As potências do inferno tremiam quando êsses mensageiros de Deus desembainhavam a espada do espírito — a Palavra de Deus. Êles conheciam a realidade de Romanos 8:37: “Somos mais do que vencedores por Aquêle que nos amou.” Pregavam o Cristo vivo.

Que significa o texto “Somos mais do que vencedores”? perguntou o professor de Bíblia a um jovem aluno. O môço pensou por uns momentos, então respondeu: “É quando o senhor luta com 12 homens e mata 13!” Crua, sem dúvida, a resposta, mas verdadeira. Para Wesley e seus companheiros, a justiça pela fé era uma constante mensagem, e êles viram os inimigos caírem à direita e à esquerda com as setas da verdade atravessadas em seus corações. Como os judeus do passado, centenas clamavam: “Que faremos, varões irmãos?” E a resposta era igualmente real: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado… e recebereis o dom do Espírito Santo.” O poder do Pentecostes foi de nôvo experimentado.

Duas maiores forças naturais são o fogo e o vento, e ambos estavam presentes no Pentecostes. Um automóvel pode ser sempre lindo em aparência, mas não útil até que sua ignição seja ligada. “Línguas como de fogo,” foi o impressionante símbolo nesse grandioso dia. Os fogos consumidores de Deus haviam queimado tôda a escória do orgulho carnal e do temor, e deram aos 120 discípulos um poder sobrenatural que sacudiu a mais dura cidade do mundo e levou três mil pecadores a Cristo num só dia. O pecado em qualquer de suas formas sutis foi banido quando o fogo do Espírito Santo pôs em operação o seu trabalho nos corações.

William Booth, fundador do Exército da Salvação, ensinava o seu povo a cantar:

“Para queimar todo traço de pecado, para que a luz da glória entre, a revolução agora começou.

Envia o fogo!”

A grande praga de Londres em 1665 levou 60.000 pessoas à morte. Um sétimo da população da cidade foi varrida antes que o cólera tivesse sido completamente dominado. A ciência médica foi impotente para deter a terrível marcha da morte. Então veio o grande incêndio de Londres. Êle queimou grandes lojas, grandes casas, casas pequenas e até galpões e barracos, mas purgou o lugar da praga mortal. Nesta hora escura, quando a praga do pecado está destruindo nossa juventude, necessitamos do fogo do Espírito Santo. Lemos: Deus “é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos.” Isto é maravilhoso! Mas por que Êle não o faz agora? Lede o final do verso: “Segundo o poder que em nós opera.’’ Efés. 3:20.

Está êste poder operando em ti, meu irmão, minha irmã? A igreja começou com um punhado de homens e mulheres orando num cenáculo. O que recomendava os membros era o serem homens de fogo, não homens de alta posição. Até o brilhante Paulo foi considerado “louco.” Mas êle e uns poucos companheiros viraram o mundo de pernas para o ar. Precisamos ter o que êles tinham. Nosso Deus não é apenas Deus do passado. É o Deus do presente — o Deus da profecia. Quando Paulo disse no final de seu ministério: “Combati o bom combate,” cada demônio no inferno podia concordar, pois êles sofreram mais com êle do que êle com êles. E qual era o segrêdo do seu poder? Quando um dia certo homem apareceu pretendendo fazer o que Paulo fazia, o diabo exclamou: “Conheço a Jesus, e sei quem é Paulo.” “Estou crucificado com Cristo,” êle disse. Mas nenhum homem pode crucificar-se a si mesmo; precisa ser crucificado por outro. Foi o Espírito Santo que crucificou a Paulo, de modo que êle podia dizer: Estou morto, e contudo vivo.