Instituição tem a missão de “educar no contexto dos valores bíblico-cristãos para o viver pleno e para a excelência no servir”, diz o reitor

Paulistano, casado, pai de três filhos e com formação acadêmica em Matemática, o Professor Euler Pereira Bahia traz em seu currículo mais de 30 anos como professor. Todos esses anos foram dedicados ao sistema educacional adventista. Atualmente é o reitor do Centro Universitário Adventista de São Paulo, Unasp, mas desde o início de sua carreira magisterial trabalhou no Instituto Petropolitano Adventista de Ensino, Ipae; Instituto Adventista São Paulo, Iasp; e, nos últimos anos, serviu ao próprio Unasp como professor de ensino superior, coordenador de curso superior e outras funções administrativas.

Considerado o principal articulador do processo expansionista do ensino superior adventista no Estado de São Paulo, o Professor Euler entende que o Unasp ainda precisa ser mais conhecido nos meios denominacionais. Para mudar a situação, ele diz contar com os pastores e líderes locais. “Pastores e anciãos são, com certeza, os principais agentes para conscientizar os membros quanto ao valor da educação adventista”, ele afirma.

Nesta entrevista, concedida por e-mail, ele apresenta o Centro Universitário Adventista de São Paulo, fornecendo assim subsídios para a divulgação de suas atividades.

Ministério: Quais os caminhos que o IAE trilhou até chegar a ser Unasp?

Euler Bahia: Fundado em 1915 para ser um Seminário com o objetivo de formar líderes e pastores para a Igreja Adventista, já naquela época o então Colégio Adventista Brasileiro tinha delineada sua vocação de se converter em uma instituição de ensino superior. No entanto, somente 54 anos depois de sua fundação é que foi aberto o segundo curso superior, o de Enfermagem. No ano de 1973, foi implantado o terceiro curso, Psicologia. E 74 anos após a fundação, já no ano de 1989, o Unasp possuía cinco cursos superiores funcionando. Em 1983, foi aberto o segundo campus, no município de Engenheiro Coelho. Somente nos últimos cinco anos a instituição deu um salto, tendo hoje aproximadamente 25 cursos de graduação oferecidos nos três campi, sendo o Iasp o mais novo campus do Unasp. Em 1999, o Instituto Adventista de Ensino deixou de ser uma instituição isolada de ensino superior e tornou-se credenciada como Centro Universitário.

Ministério: Por que Centro Universitário e ainda não Universidade!

Euler Bahia: Primeiramente, é necessário entender-se como é que está estruturada a questão do ensino superior em nosso país. O Brasil apresenta algumas categorias de instituições de ensino superior. Uma delas é a Universidade concebida na realidade, com base num modelo europeu. Outra categoria são os Centros Universitários. Em seguida, aparecem as faculdades integradas e os estabelecimentos isolados de ensino superior. Para uma instituição adventista, ser um Centro Universitário hoje foi a melhor opção dentro do contexto dos modelos de instituições de ensino superior existentes no Brasil. Os Centros Universitários foram concebidos para serem instituições cuja principal característica é a excelência no ensino. Esse status para o Unasp hoje preenche satisfatoriamente as necessidades do sistema educacional adventista, ofertando cursos de qualidade, especialmente para os nossos jovens. Desse modo, é uma questão de conveniência ser um Centro Universitário, o que não diminui sua importância nem seu valor, uma vez que desfruta praticamente de todas as prerrogativas de uma Universidade e não tem as mesmas obrigações, como por exemplo, a da pesquisa institucionalizada.

Ministério: Defina a missão do Unasp.

Euler Bahia: A missão do Centro Universitário Adventista de São Paulo hoje encontra-se muito difundida, especialmente entre professores e alunos. Nem preciso fazer algum comentário sobre ela, senão apenas enunciá-la, uma vez que a sua formulação é explícita e auto-explicativa. A missão do Unasp é “educar no contexto dos valores bíblico-cristãos para o viver pleno e para a excelência no servir”.

Ministério: De acordo com Ellen White , educação e redenção são a mesma coisa. Isso traz à mente a missão evangelizadora. Onde e como uma universidade adventista está situada nesse contexto! Como cumpre essa missão?

Euler Bahia: Aqui está uma preocupação permanente no Unasp. Nós temos uma dupla responsabilidade. Uma é a de consolidar na mente e na vida dos estudantes adventistas os valores, a formação e o preparo para a vida segundo os ideais da Igreja para seus jovens. Em segundo lugar, temos uma forte vocação missionária; e a instituição, pela sua proposta curricular, pela sua missão institucional e pelo seu lema, tem desenvolvido em sua estrutura pedagógica e política de ação, mecanismos com vistas a alcançar aqueles estudantes que ainda não são adventistas do sétimo dia. Por conseguinte, entendemos que, em última análise, a missão da Igreja e de uma universidade denominacional se encontram fundidas.

Ministério: educação cristã tem princípios diferenciados da educação secular. Esse é um fator que atrai os que não partilham da fé adventista, afasta-os, ou é indiferente a eles?

Euler Bahia: Na verdade, muitos são atraídos pelos diferenciais existentes em nossa educação. Algumas pessoas nos procuram simplesmente porque nos consideram uma escola de boa qualidade acadêmica. Isso não diminui a nossa preocupação e nem a nossa responsabilidade em relação a todos aqueles que estudam aqui, ou seja, a de fazer de cada estudante do Unasp um seguidor de Cristo. Tampouco acredito que, atualmente, alguém deixe de procurar a instituição pelo fato de que ela seja de caráter declaradamente confessional.

Ministério: Como o Unasp se posiciona no contexto da educação brasileira e da educação adventista mundial?

Euler Bahia: Somos regidos por uma legislação que é idêntica para todas as instituições, independentemente do seu caráter, seja ele confessional, comunitário, filantrópico ou mesmo instituições com fins lucrativos. Acreditamos, pelo que podemos observar, ser uma instituição muito respeitada quanto à política educacional. Durante as visitas e avaliações feitas por autoridades em todos os níveis, ouvimos referências sempre positivas. No contexto adventista, o Unasp é hoje, em número de estudantes, a segunda maior instituição superior adventista no mundo, sendo superada apenas por nossa Universidade da Coréia. Esse é um fator positivo a evidenciar que a instituição está ampliando seus serviços para a comunidade interna e externa da Igreja.

Ministério: O que tem o Unasp a oferecer em termos de cursos, graduação e pós-graduação?

Euler Bahia: No nível de graduação, como já mencionamos, oferecemos 25 cursos nas áreas de Ciências Exatas e Naturais, Ciências Sociais, Ciências da Saúde e Ciências Tecnológicas. No campus

  1. oferecemos os cursos de Administração, Ciências Biológicas, Ciência da Computação, Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Licenciatura em Computação, Matemática, Nutrição, Pedagogia e Psicologia. No campus 2, Administração, Ciências Contábeis, Comunicação Social (habilitações em Jornalismo e Publicidade e Propaganda), Educação Artística, Engenharia Civil, Letras (Português e Inglês), Pedagogia, Teologia e Tradutor e Intérprete. E no campus 3, os cursos de Educação Física, Normal Superior, Pedagogia e Sistemas de Informação. Na linha de pós-graduação, oferecemos mestrado em Educação, no campus
  • mestrado e doutorado em Teologia e vários programas lato-sensu, especialmente nas áreas de educação e saúde.

Ministério: Há algum processo com vistas a obter o reconhecimento oficial da Faculdade de Teologia?

Euler Bahia: Atualmente, tramita no sistema oficial de credenciamento o processo de reconhecimento da Faculdade Adventista de Teologia. Esse processo encontra-se em sua fase final. A informação disponível no momento é a de que ele já está em um órgão da Sesu, no Ministério da Educação, e em breve deve ir ao Conselho Nacional de Educação para o parecer final. A julgar pelos relatórios preliminares elaborados até agora, onde foram avaliadas as condições de ensino, o corpo docente e a proposta pedagógica, temos a certeza de que logo teremos o programa de Teologia reconhecido, não apenas autorizado, pelo MEC.

Ministério: Alguns jovens pensam da seguinte maneira: se eles podem obter educação universitária gratuita em instituições seculares, por que deveriam optar por uma universidade denominacional, levando em conta os custos que isso acarreta?

Euler Bahia: As opções que fazemos na vida são resultantes do valor que damos àquilo que escolhemos. Portanto, se alguma coisa tem valor diante de nossos olhos, mesmo que ela nos custe, estaremos dispostos a trocar o nosso dinheiro para obter aquilo que nos recompensa segundo o valor estimado. Nesse sentido, considero que a educação adventista não é um custo, senão um extraordinário investimento. Justifico até pela natureza da função que hoje desempenho. Tenho tido a oportunidade de visitar, conhecer, e de até mesmo conviver com as principais instituições de ensino superior do país. Tenho buscado identificar os diferenciais que elas apresentam e que exercem, do ponto de vista mercadológico, uma atratividade tão forte em seus clientes. Sinto que mesmo nos aspectos que elas invocam, como marcos distintivos para assegurar uma oferta de ensino de qualidade, tais como titulação docente, infra-estrutura, proposta pedagógica, entre outras, o Unasp se enquadra entre aquelas que ocupariam seguramente o topo da pirâmide no contexto das instituições educacionais do Brasil. Isso, para nós, é importante mas não é suficiente. A educação adventista tem como objetivo primordial conduzir os seus estudantes para um caminho mais elevado. Esse caminho é Cristo. Não encontrei essa marca em nenhuma instituição no Brasil, mesmo nas chamadas confessionais. Essa é a diferença de conceito, de proposta e de propósito do Unasp. E isso não tem preço.

Ministério: Estudar no Unasp significa, na maioria dos casos, viver em regime de internato. O senhor acha esse sistema condizente com a mentalidade e a dinâmica da vida universitária moderna, ou são necessárias adaptações?

Euler Bahia: Acredito que existe alguma desinformação, e até mitos foram desenvolvidos, em torno da palavra internato. Em primeiro lugar, é preciso acentuar que o internato é uma espécie de estágio que o jovem faz em uma fase de sua vida, para depois enfrentar a realidade na sociedade. Nesse contexto, o jovem desenvolve os principais valores e as principais aptidões para a realidade da vida, como conviver em grupos de etnias diferentes, aprende a respeitar, a desenvolver sociabilidade, solidariedade, bons hábitos, autodisciplina e até mesmo a priorizar a religiosidade em relação a outros aspectos da vida. Nenhum outro sistema educacional pode propiciar essas marcas a qualquer estudante nessa fase da vida. Diante disso, posso dizer que é um privilégio para o jovem estudar num internato, até porque em nossos três campi, temos a capacidade de abrigar aproximadamente 1.500 estudantes, sendo que hoje nós já temos 4.500. Portanto, apenas uma terça parte tem esse privilégio. Em relação a regras, regulamentos e normas de conduta, que às vezes são distorcidos em termos de interpretação, digo que como um modelo de comunidade e sociedade, estamos cuidando permanentemente em atualizar os procedimentos internos no sentido de adequar nossa preparação à necessidade que o jovem terá ao sair da instituição, para não encontrar dificuldades em sua convivência no ambiente social, fora da vida escolar. As normas, portanto, também são atualizadas e revistas. O estudante que busca, de fato, uma formação para atender as mais fortes exigências do mercado de trabalho, hoje em dia, se ele entender perfeitamente quais são essas exigências, não fará outra opção a não ser a de passar pela experiência do internato.

Ministério: Como o senhor avalia a reação da Igreja, tanto da parte da liderança como dos membros, às propostas do Unasp?

Euler Bahia: Nós acreditamos que aqueles que têm uma compreensão mais refinada do que seja a educação adventista, apóiam, valorizam e estimulam a sua manutenção e as suas ações. Todavia, também constatamos que ainda não somos suficientemente conhecidos como achamos que deveríamos ser. Isso não é apenas uma percepção individual, e sim resultado de algumas pesquisas que foram desenvolvidas. Com efeito, entendemos que temos um desafio maior, ou seja, esclarecer não somente à liderança, como também à comunidade da Igreja aquilo que ela tem de tão valioso e que não valorizam, possivelmente, porque não conhecem. Esse é um grande desafio que temos diante de nós.

Ministério: De que maneira os pastores e líderes podem ajudar na promoção dos ideais do Unasp?

Euler Bahia: Considero que há um flagrante equívoco em identificar de outra maneira quem, de fato, detém o maior grau de poder para influenciar pessoas na Igreja. Os maiores detentores de poder e de influência em todos os níveis da Igreja são os pastores e as lideranças locais. Compreendi isso muito cedo na vida, pelo fato de ser filho de um pastor e observar o seu ministério. Há uma disposição natural para a credibilidade, a respeitabilidade

Pastores e líderes devem abraçar e promover os ideais da educação cristã.

e a aceitação por parte do rebanho quanto às opiniões e orientações do pastor. Este e seus auxiliares diretos são uma espécie de ícones, de referência, para as escolhas mais importantes de sua comunidade. Talvez, uma boa parte dos pastores não se dê conta dessa verdade. Seguramente, pastores e anciãos são os principais agentes para conscientizar os membros quanto ao valor que devem dar a qualquer coisa que julguem importante; em particular, à formação superior dos jovens em uma universidade adventista.

Ministério: Aos dois campi anteriormente existentes (São Paulo e Engenheiro Coelho), o Unasp acaba de acrescentar o Iasp. Quais são as principais metas para o futuro?

Euler Bahia: O processo de construção da estrutura de três campi para o Unasp tem obedecido a uma lógica natural, tendo em vista suas localizações geográficas, racionalizar o aproveitamento dos talentos humanos desses campi e de marcar a nossa identidade confessional. Hoje, a realidade é esta. Quando o Iasp foi fundado, acredito, não se imaginava que no futuro ele viesse a ser um campus de uma instituição que havia sido fundada, mais de 30 anos antes nas redondezas de São Paulo. Poderá ser que, no futuro, haja necessidade da incorporação de novos campi a essa instituição. Mas eu entendo que só o futuro poderá dizer se será apropriado e quando será. Quanto às metas para o futuro, a primeira é execução do Plano de Desenvolvimento Institucional elaborado para os próximos dez anos, e que prevê a consolidação do programa de expansão rápida que experimentamos nos últimos cinco anos e a abertura de mais alguns cursos. Além disso, insistimos em que constitui uma meta permanente da instituição realçar sua principal marca que é a identidade confessional. Em terceiro lugar, entendemos que deverá vir, como desdobramento natural, o processo de maturidade dessa estrutura e a expansão na oferta de programas de pós-graduação, especialmente, nas linhas dos cursos que hoje oferecemos para graduação.

Ministério: Que mensagem o senhor, como educador, gostaria de enviar para os leitores?

Euler Bahia: Em meus 32 anos de atividades profissionais no sistema educacional adventista, testemunhei alguns momentos da história da educação adventista no Brasil. Era um sonho da minha juventude e de muitos jovens daquela época, poder escolher uma instituição adventista comprometida com os ideais cristãos, com a vocação missionária e com o preparo para o serviço, a fim de obter a formação superior. Hoje, percebo que os jovens da atual geração têm essa oportunidade. Não seria nenhum exagero dizer que perder essa chance é perder a grande oportunidade da vida. E a mensagem que eu transmitiria aos pais, pastores e líderes em geral é que abracem e promovam os ideais da educação cristã. Antes de começarem discutir o assunto da opção para a formação superior, busquem, em primeiro lugar, conhecer aquilo que a Igreja tem para oferecer.

Erramos

O evangelista Luís Gonçalves serve à Associação Paulista Central como ministro licenciado; não como pastor ordenado, conforme saiu na entrevista da edição anterior.