- * Por um lapso que muito lamentamos, a segunda parte dêste artigo foi publicada antes da primeira, no Ministério de nov.-dezembro de 1970. Publicando a primeira parte, pedimos escusas aos nossos leitores. — C. A. T.
Quem sabe como tratar com as pessoas? Como tratais com um crítico? Com um hipócrita? Com uma pessoa desleal? Com uma alma desencorajada que pensa haver perdido o último amigo que possuía na Terra? Como nos relacionamos com uma pessoa que sente não ser apreciada? Ah, se fosse uma pessoa querida, já teria sido promovida, diz ela.
Cristo Nosso Exemplo
Onde podemos encontrar ajuda no campo do tratamento com diferentes pessoas? Creio que essa ajuda podemos encontrar se virarmos as páginas da História e estudarmos um pouco a vida e os métodos dAquele que, por conhecer profundamente o coração humano, e mais do que qualquer outra pessoa, os Seus métodos são ainda hoje atuais e oportunos para êste século. Quem é Êle? DÊle foi dito:
Dezenove longos séculos já se passaram e ainda hoje Êle é a peça central da humanidade e o líder da coluna do progresso. Estou bem certo se disser que todos os exércitos que têm marchado, e todos os navios que tem sido construídos, e todos os parlamentos que se têm instalado, e todos os reis que têm reinado, se postos juntos, não afetaram a Terra tão poderosamente como aquela vida solitária. — J. A. Francis.
Por que, depois de todos êsses séculos, Êle ainda é o líder? Por que Êle influenciou a humanidade mais do que qualquer outro? Antes de mais nada reconhecemos que Êle é o único que veio ao mundo para salvar do pecado a humanidade. Pedro disse: “Não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.” Atos 4:12. Isto O coloca numa categoria diferente de qualquer outro líder. Todavia, para salvar o homem Êle precisava relacionar-Se com o homem. Para salvar as pessoas Êle tinha de relacionar-Se com as pessoas. Em todos os Seus contatos Êle foi eficiente e ajudador, muito mais do que qualquer outro na História. Fazemos bem, portanto, em examinar Seu modo de vida e Seus métodos. Muitos de nós desenvolveram a arte de dar sempre um passo errado para a frente, e com isto construímos muros de separação entre nós e outros. Cristo conhecia a arte de descobrir o que havia de melhor em homens e mulheres e expulsar o pior pela implantação do Seu Espírito em seus corações.
Ellen G. White, certamente nenhuma noviça no trato com pessoas, escreveu: “Devemos representar a Cristo em nosso trato com nossos semelhantes. . . . Devemos aprender de Cristo, praticar Seus métodos, revelar Seu espírito.” — Testemunhos para Ministros, pág. 225. Que melhor exemplo podemos achar do que o exemplo de Cristo? Depois de dezenove séculos haverem passado, quem ainda se pode comparar com Êle?
Confiança É Básica
Que O tornou um Mestre assim no contato com o povo? Antes de mais nada, há um fato básico que devemos lembrar. Ajudar o povo, relacionar-se com êle, requer confiança de sua arte. A menos que as pessoas acreditem em nós não poderemos ajudá-las. Podemos dominá-las, podemos convoca-las para que venham ou ordenar-lhe que vão. Dar ordens é uma coisa, tratar eficientemente com pessoas é outra coisa’ Cristo disse: “Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens.” S. Mat. 4:19. Êles O seguiram. Não foram forçados. Foram convidados e seguiram-nO, porque acreditavam nÊle. O Sr. Silvestein, da Rogers Corporation, diz: “Nos dias atuais não se pode fazer ninguém fazer nada. Há menos temor de chefias fortes do que havia quarenta anos atrás. (E menos ainda do que há dez anos). Assim, o presidente de uma companhia deve ser hábil para dirigir homens.”
As pessoas seguem quando têm confiança na dignidade e firmeza do líder. Confiança é o fundamento sôbre o qual se constroem preciosas relações entre pessoas. Se se não logra esta confiança, ou se se a perde, o fundamento terá começado frágil. A confiança pode ser perdida. Um jurista inglês de poucos séculos atrás, J. F. Fortescue, disse: “A lealdade não pode ser comprada, mas a confiança pode ser traída e vendida.”
Se as pessoas precisam pôr um “grão de sal” naquilo que dizemos, é prova bastante de que o sal em nossas relações perdeu o sabor. Liderança que, como o sal, perde o poder de salgar, só serve para ser lançada fora, segundo as palavras de Cristo (S. Mat. 5:13). Há nisto mais verdade do que poesia.
Confiança é um Nicodemos vindo a Jesus, à noite e solicitando ajuda na solução de um problema pessoal.
Confiança é a mulher enfêrma dizendo: “Se tão-sòmente eu puder tocar nos Seus vestidos, ficarei curada.”
Confiança é um paciente no hospital chamando pelo capelão.
Confiança é o trabalhador da cozinha ou lavanderia poder vir pessoalmente ao administrador e pedir conselho.
Confiança é o membro da igreja revelar alguns de seus mais íntimos problemas ao ministro na esperança de encontrar solução.
Confiança é o pastor abrir o coração ao presidente do seu campo com o propósito de obter novos estímulos na vida.
Jesus tinha a confiança dos ricos e dos pobres, dos santos e dos pecadores, das crianças e dos adultos, dos saudáveis e dos enfermos, dos líderes e dos liderados. Era essa confiança que nÊle tinha tôda classe de pessoas que tornou tão significativo o Seu relacionamento com êles.
Que fêz Cristo para conquistar tal confiança? Como viveu para obtê-la? Que métodos usou?
Por que era tão bem sucedido? Há várias razões. A primeira é mencionada em Ciência do Bom Viver, pág. 143: “O mundo necessita hoje o que necessitava a mil e novecentos anos atrás: uma revelação de Cristo. . . . Sòmente o método de Cristo dará o verdadeiro sucesso em alcançar o povo. O Salvador misturava-Se cora os homens como quem desejava o bem dêles. Mostrava Sua simpatia por êles, ministrava a suas necessidades, e ganhava sua leal confiança. Então ordenava-lhes: ‘Segue-Me.’ ”
Cristo Se comunicava com todos, não porque desejasse fazê-lo “alguém,” mas por que desejava fazer “bem.” O ABC na arte de alcançar as pessoas é o desejo de fazer-lhes bem.
Por que, antes de mais nada, nos relacionamos com as pessoas? Porque desejamos ajudá-las a se tornarem melhores em sua vida para o bem delas mesmas, ou por amor de nosso próprio egoísmo? Seria nosso alvo apenas que sua boa vontade nos garantisse nossa posição? Se nossos motivos são tratar com as pessoas para ajudá-las em seu crescimento pessoal, de modo que possam fazer uma contribuição apreciável para a igreja, então nossos propósitos estão enfocados de modo próprio, e certamente serão produtivos.
Algumas pessoas estão mais preocupadas com promoção do que com desenvolvimento. A verdade é que nem todos podem progredir; para alguns, a promoção jamais virá. Isto é normal. Empregados e empregadores precisam compreen-der que o manejo de um programa de desenvolvimento não é uma escada; é uma oportunidade. A necessidade de pessoas que possam demonstrar o seu potencial é grande. Maior necessidade, entretanto, é de pessoas que façam do seu trabalho um ponto alto, seja qual fôr o setor em que estejam servindo, e que se sintam satisfeitas em continuar a servir sem ambição de galgar a chamada escada do sucesso. O sucesso não é medido pela ascensão nos degraus dessa escada no campo administrativo, mas pelo fiel cumprimento do dever onde quer que sirvamos.
Segunda Razão do Sucesso
O trato de Cristo com o povo foi bem sucedido porque Sua vida era uma vida de integridade. Honestidade é mais do que um procedimento à vista de Cristo; é um princípio. É parte de Sua vida. Êle disse: “Eu sou o Caminho, e a Verdade e a Vida.” É-nos dito que “os que escolhem a honestidade como companhia incorporá-la-ão em todos os seus atos. Para uma grande classe tais homens não são apreciados, mas para Deus êles são admiráveis.” — Testimonies, Vol. 4, pág. 607.
J. D. Batte, presidente da Batten and Associates, em seu livro Though-minded Management, diz:
O trabalhador médio tem muito melhor compreensão de integridade quando vê que ela é praticada pelo seu chefe e os associados dêste. Integridade não se inclina para o comprometimento. Não tem coloração indefinida. Ou é tôda b anca ou é tôda preta. Não deve estar disfarçada mas deve ser um caminho de vida. Integridade é aquela qualidade num homem ou mulher que exige seja o único e real propósito de qualquer pensamento, palavra ou obra, a edificação de pessoas ou coisas com o fim de ob er resultados positivos e éticos.” — Pág. 176.
Cristo sempre tratou de maneira honorável com pessoas. Não dizia sempre tôda a verdade, mas o que Êle dizia era sempre a verdade. Cada obra era um ato de integridade. Êle falava a verdade porque amava a verdade. Sentia que ela não devia ser evitada. Foi Phillips Brooks quem disse: “O cristianismo não conhece verdade que não seja filha do amor e mãe do dexer” — The Encyclopedia of Religious Quotations, pág. 450.
Talvez demasiadas vêzes evitemos falar a verdade porque queremos que as pessoas gostem de nós e pensem bem a nosso respeito. É perfeitamente correto querer que as pessoas se sintam bem, mas isto pode ser feito sem sacrificar nossa integridade. A esposa de um homem de negócios foi consultada sôbre a integridade de uma jovem que trabalhara para ela. A espôsa disse ao marido: “Se eu disser a verdade, ela ficará sabendo que a môça é preguiçosa, impontual, impertinente. Lembra-se de alguma coisa favorável que eu possa dizer?” O marido respondeu: “Diga que ela tem bom apetite e dorme bem.” Não há dúvida de que era verdade, mas parte da verdade, usada para encobrir a verdade desejada por quem pedia a referência. Isto é feito até mesmo em nossos campos algumas vêzes, quando queremos conseguir chamado para um obreiro cujo êxito está abaixo do desejado. Dizemos parte da verdade, e ocultamos a verdade real.
Há líderes que estão interessados apenas em que as pessoas se sintam bem. Erroneamente pensam que deixar de dizer as coisas como realmente são é fazer boas relações, ganhar amigos e influenciar pessoas. Estão enganados, Lemos em Prov. 9:8: “Repreende o sábio, e êle te amará.”
Pessoas que deixam de dizer a verdade porque temem não ser apreciados são conhecidos como “lisos.” Uma pessoa “lisa” está sempre desejosa que outros se sintam bem, desde que não haja para si mesma nenhum inconveniente. É sempre afável. Não tem estômago para supor ar alguma inconveniência emocional. Os “lisos” hesitariam, por exemplo, em sentar-se e conversar com pessoas que estivessem envolvidas em pesados problemas de relações humanas. Isto poderia ser lhes penoso e embaraçoso. É mais fácil evitar o problema e “queimar” a pessoa, se ela não se enquadra no seu padrão. Mas o homem íntegro enfrentará a situação honestamente, e ambos, o que tem o problema e o que aconselha, se edificam. Lutero é citado como tendo dito: “A paz se possível, mas a verdade a qualquer preço.”