Pergunta 39 (Continuação)

VIII. A Terra Como Desolado Cárcere de Satanás

As descrições da Bíblia, acerca do segundo advento de Cristo, não só pintam a destruição de todos os ímpios que vivem sobre a Terra, mas também a desolação do globo. Em Apoc. 6, os efeitos terrestres da vinda de Cristo são descritos concisa, mas vivamente: “Todos os montes e ilhas foram movidos dos seus lugares” (v. 14). Em Apoc. 11 descrevem-se de novo os acontecimentos finais: “Sobrevieram relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e grande saraiva” (v. 19). Em Apoc. 16, sob a sétima praga, os pormenores da destruição são delineados mais vividamente: “Derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, e saiu grande voz do santuário, do lado do trono, dizendo: Feito está. E sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a Terra; tal foi o terremoto, forte e grande. E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações. . . . Toda ilha fugiu, e os montes não foram achados; também desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento” (vv. 17-21).

Difícil é imaginar destruição mais completa de todos os aspectos físicos reconhecidos, da superfície da Terra. Terremoto de tão grandes proporções, capazes de abalar o globo todo e nivelar todas as montanhas, e inundar todas as ilhas mediante vasto maremoto, isso tudo dificilmente deixará intacta alguma coisa das obras do homem. Proporção considerável dos habitantes da Terra poderão perder a vida nesse cataclisma, pois diz Apoc. 19:21: “Os restantes [os assombrados sobreviventes que ficam depois de tudo isso haver transcorrido] foram mortos com a espada que saía da boca dAquele que estava montado no cavalo.” Evidentemente o terremoto e a saraivada ocorrem exatamente quando Cristo aparece nas nuvens do céu.

O confinamento de Satanás à Terra, nessa condição, é muito adequadamente descrito na linguagem simbólica da profecia: “Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o, e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos” (Apoc. 20:2 e 3). Não mais poderá “enganar as nações” porque os que não se salvaram estão todos mortos, e os justos já ressurgiram e foram trasladados para o Céu. Com os seus companheiros angélicos caídos, Satanás terá de esperar em meio dessa desolação, o ajuste final dos casos de todos os perdidos, no tribunal celeste. Em contraste com isso, vemos os santos no Céu — aqueles que Satanás pensava poder vencer e destruir — assentados em juízo (Apoc. 20:4) com seu Senhor.

Esta é a ocasião, assim cremos, em que se cumprirão as palavras do apóstolo Paulo: “Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos?” I Cor. 6:3.

Outra significação, ainda, acrescentam os adventistas do sétimo dia ao desolado encerramento milenial de Satanás. No simbolismo do Dia da Expiação celebrado outrora por Israel no serviço simbólico do santuário, depois que o bode “pelo Senhor” era imolado como sacrifício expiatório, cancelava-se a culpa do pecador arrependido, e seus pecados eram perdoados, simbolicamente, graças ao sangue derramado. Então, completada assim a expiação, o outro bode (“por Azazel”) — que cremos simbolizar Satanás, o maligno sedutor do homem — era declarado culpado de ter instigado todo o mal, e levado vivo para o deserto desabitado, arcando com o peso da responsabilidade por todos os pecados que levara Israel a cometer (Lev. 16: 20-22).

Assim a pena era primeiro perdoada ao pecador arrependido, mediante o Substituto de designação divina, simbolizando Cristo. Depois, a punição retribuitiva era imposta ao tipo do arquitentador e instigador ao pecado, que era deixado a perecer no deserto. Mesmo W. Robertson Nichol (The Expositor’s Greek Testament, Vol. 5, pág. 471), depois de comentar o encerramento de Satanás na prisão, mencionado em Apoc. 20, alude de modo assaz interessante ao “encerramento de Azazel,* e à “restrição divina” imposta por algum tempo àquele “espírito mau.”

Isto cremos ser parte do quadro apresentado pelo encerramento de Satanás, visto como é “preso,” não mais tendo oportunidade de enganar as nações, até que hajam passado os mil anos.

IX. Ressurreição Literal, o Fato Central do Evangelho

Os adventistas do sétimo dia mantêm que a doutrina cristã da vida futura se baseia na ressurreição (I Cor. 15:51-55; I Tess. 4:16). Os justos, redivivos mediante a primeira ressurreição, não têm parte na segunda morte, que só cabe aos ímpios. E depois da segunda morte não há para os ímpios outra ressurreição, ou vida futura. A ressurreição do segundo advento assinala o começo da imortalidade dos santos (I Cor. 15:51-57).

Apoc. 20 separa a primeira ressurreição daquela do restante dos mortos, colocando-a ao princípio dos mil anos. Sobre os que participam desta ressurreição, “a segunda morte não tem autoridade” (v. 6). E é-nos dito expressamente que os justos ressurgidos, chamados “bem-aventurados e santos” (v. 6), vivem e reinam (v. 4) com Cristo durante os mil anos. Não só ressurgem para a vida, como continuam a viver por toda a eternidade.

A primeira ressurreição (a dos justos), contrasta obviamente com a segunda (a dos ímpios), que ocorre no final dos mil anos. E “os restantes dos mortos” contrastam com o primeiro grupo dos mortos, mencionado anteriormente. O apóstolo Paulo diz que será vivificado “cada um por sua ordem” (I Cor. 15: 23). Primeiro veio a ressurreição de Cristo, as primícias. Então vem a dos santos, na segunda vinda. E afinal, transcorridos os mil anos (Apoc. 20), ressurgem os ímpios. Há positivamente uma ressurreição dos justos e outra dos injustos (Atos 24:15). Essas ressurreições estão separadas por um período de mil anos (Apoc. 20:4 e 5) — a primeira para vida e a segunda para condenação (S. João 5:29).

Com multidão de outros, cremos na literal primeira ressurreição (grego anastasis*), como a do corpo. Cremos firmemente que as duas ressurreições — a primeira assim como a segunda — são literais, físicas, corpóreas, e que a primeira resurreição se limita aos santos, e precede a dos pecadores — os “restantes dos mortos,”** que ressurgirão no fim do período milenial. Não poderia a linguagem ser mais clara, para dar idéia de duas ressurreições.

  • * Azazel é por muitos exegetas reconhecido como nome indicativo de Satanás. (Ver William Jenks, Comprehensive Commentary of the Holy Bible, Vol. 1, pág. 410); Charles Beecher, Redeemer and Redeemed, págs. 67 e 68; Jewish Encyclopedia, Vol. 2, pág. 366; Albert Whalley, The Red Letter Days of Israel, pág. 125; John Eadie, Biblical Encyclopedia, pág. 577.
  • **Anastasis é 39 vezes traduzido por “ressurreição” e três vezes por “erguer-se.”

Rejeitamos, pois, totalmente a hipótese de uma primeira ressurreição “espiritual” advogada pelo agostinianismo, assim como a do pós-milenismo e do amilenismo, por estarem inteiramente em desacordo com as declarações inspiradas. Cremos que ambas as ressurreições são dos que estiveram literalmente mortos, e as ressurreições são também literais.

Estamos de pleno acordo com o ponto sustentado pelo Deão Henry Alford (The Greek Testament, 1884, vol. 4, págs. 732 e 733), quando diz:

Se nessa passagem a primeira ressurreição ter o sentido de ressurgimento espiritual com Cristo, ao passo que a segunda signifique um ressurgimento literal da sepultura — então a linguagem deixa de ter qualquer sentido, e a Escritura é extinta como positivo testemunho ao que quer que seja. Se a primeira ressurreição é espiritual, então sê-lo-á também a segunda — o que espero que ninguém tenha a ousadia de afirmar. Mas se a segunda é literal, então a primeira também é. E isso mantenho, em comum com toda a igreja primitiva e muitos dos melhores exegetas modernos, e acolho como artigo de fé e esperança.

Nós, como adventistas, cremos que o homem é candidato à imortalidade — que será recebida como dom gratuito, por meio de Cristo, quando de Seu segundo advento (I Cor. 15:51-57) — e igualmente cremos no sono inconsciente da morte, até à ressurreição. Esta é a razão de nossa esperança na ressurreição. Com o grande reformador inglês William Tyndale, tradutor da Bíblia e mártir, concordamos que: “Se suas almas estiverem no Céu, digam-me por que não estarão em tão boas condições como os anjos; e então, que otivo averá para a ressurreição?”

O Dr. William Temple, falecido arcebispo de Cantuária, em sua conferência sobre a imortalidade, pronunciada em outubro de 1931, no Sion College, em Londres, exarou o nosso ponto de vista, assim como o seu, quando asseverou :

O homem não é imortal, quer por natureza quer de direito; é-lhe, porém, oferecida a ressurreição e vida eterna, se a quiser receber de Deus, e segundo as condições por Ele especificadas. [A essência da doutrina da vida futura] é uma doutrina, não de Imortalidade [“natural”], mas de Ressurreição.

* Não deve haver incerteza aqui. Que os “restantes dos mortos” só podem significar os ímpios mortos, é mantido por Alford, Faussett, Elliott, Milligan, Petávio, Gaebelein, Scofield, Morgan, Torrey, Moorehead e muitos outros.

UM ENCONTRO FELIZ

Os remidos hão de encontrar e reconhecer aqueles cuja atenção encaminharam ao excelso Salvador. Que ditosas conversas hão de eles ter com essas almas! “Eu era pecador,” dir-se-á, “sem Deus e sem es-perança no mundo; e tu te aproximaste de mim, e atraíste minha atenção para o precioso Salvador, como minha única esperança. E eu cri nEle. Arrependi-me de meus pecados, e foi-me dado assentar juntamente com Seus santos nos lugares celestiais em Jesus Cristo.” Outros dirão: “Eu era pagão, em pagânicas terras. Tu deixaste teu lar conforfável e vieste ajudar-me a encontrar Jesus, e a crer nEle como único Deus verdadeiro. Destruí meus ídolos e adorei a Deus, e agora vejo-O face a face. Estou salvo, eternamente salvo, para ver perpetuamente Aquele a quem amo. Então eu O via apenas com os olhos da fé, mas agora vejo-O tal como Ele é. É-me dado agora exprimir Àquele que me amou, e me lavou dos pecados em Seu próprio sangue, minha gratidão por Sua redentora misericórdia.”

Outros exprimirão seu reconhecimento aos que alimentaram o faminto e vestiram o nu. “Quando o desespero acorrentava minha alma à descrença, o Senhor te enviou a mim,” dizendo eles, “para dizer-me palavras de esperança e conforto. Trouxeste-me alimento para as ne-cessidades físicas, e abriste-me a Palavra de Deus, despertando-me para minhas necessidades espirituais. Trataste-me como irmão. Tiveste compaixão de mim. Simpatizaste comigo em minhas dores, e restauraste-me a alma quebrantada e ferida, de maneira que me foi possível agarrar a mão de Cristo, estendida para me salvar. Em minha ignorância, ensinaste-me pacientemente que eu tinha no Céu um Pai que de mim cuidava. Leste-me as preciosas promessas da Palavra de Deus. Inspiraste-me fé em que Ele me havia de salvar. Meu coração foi abrandado, rendido, despedaçado, ao contemplar eu o sacrifício que Cristo fizera por mim. Tive fome do pão da vida, e a verdade foi preciosa à minha alma. Aqui estou, salvo, eternamente salvo, para viver eternamente em Sua presença, e louvar Aquele que deu a vida por mim.”

— Obreiros Evangélicos, págs. 518 e 519.