Desde a infinita eternidade, três são os que regem o Universo. Iguais em onipotência, onisciência, onipresença, em substância, em glória e em eternidade. São três santos, três grandes poderes, três pessoas, quer dizer três seres independentes um do outro. Cada um deles é chamado Deus. Como sempre se encontram unidos em obras e propósitos, a Bíblia os identifica, muitas vezes, em sentido coletivo como
Pedro Apolinário Professor de Português, Grego, Hebraico e Crítica Textual na Faculdade Adventista de Teologia, em São Paulo.
Deus, que seria igual à Trindade. Quando o nome de Deus é usado em sentido coletivo, aparece escrito no plural (hebraico Eloim = Deuses) e isto ocorre mais de 2.500 vezes no Velho Testamento. Outros defendem que Eloim seja apenas um plural majestático.
Afirmam as Testemunhas de Jeová com ares doutorais que não pode haver trindade porque este termo não se encontra na Bíblia. Se não há trindade porque a palavra não se encontra na Bíblia, também não deve haver “Salões do Reino”, “Reino Teocrático”, “Milênio”, “Bíblia”, pois estas expressões não se encontram nas Escrituras Sagradas.
Aliás, diga-se de passagem, que a seita que estamos analisando não aceita a palavra Bíblia (usada pela primeira vez por Crisóstomo para a Palavra de Deus). Parece-nos que a preocupação primordial deste povo é trazer discussão infindável a respeito de nomes, preocupando-se com o acessório em desprezo do fundamental.
No folheto, distribuído pela torre de Vigia, “A Trindade — Mistério Divino ou Mito Pagão”, defendem que a idéia de trindade procede de povos pagãos como os egípcios, hindus, babilônios e gregos. Entre estes povos não existe uma idéia de Trindade como encontrada na Bíblia, mas de uma tríade, formada de um deus, sua esposa e o filho. Neste mesmo folheto há ainda a afirmação de que a trindade se originou com Ninrode (Gên. 10:9) que se casou com a própria mãe.
A Palavra trindade, do latim “Trinitas”, foi formada por Tertuliano, na última década do segundo século AD. Significa a coexistência do Pai, do Filho e do Espírito Santo na unidade da Divindade. Embora não seja um termo bíblico, representa a cristalização do ensino da Bíblia que nos esclarece sobre seus componentes — Pai, Filho e Espírito Santo.
Outro problema que se nos apresenta neste estudo é o seguinte: sendo a mente humana finita, não alcança o infinito, portanto em muitos aspectos, Deus, Cristo e o Espírito Santo são mistérios. Quantos de nós podemos entender o que é a vida? Quantos são capazes de explicar a Teoria da Relatividade de Einstein? Quem entende exatamente o que é a eletricidade? Vamos negar a trindade, tão claramente revelada nos Escritos Sagrados, porque ela transcende a nossa limitada compreensão?
Não há cabimento em negar a trindade tão evidente dos textos bíblicos, por ser difícil harmonizar a coexistência de três pessoas distintas na Divindade Única. Fiquem conosco as palavras de Pascal: “Há uma infinidade de coisas que a razão não pode atingir. Resolvam-se todas as questões, expliquem-se todas as palavras da Bíblia, e ainda ficarão as maiores dificuldades para exercício da nossa fé: a origem do mal, o mistério da divina presciência e da livre ação, e muito ainda sobre o plano da redenção. E nesta consideração diremos sempre: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, co-mo da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inexcrutáveis os seus caminhos”. — História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, pág. 280.
A negação da trindade tem sido uma constante das religiões não cristãs. As Testemunhas de Jeová são os mais veementes, mais perigosos e mais fanáticos atacantes desta doutrina cristã. Para eles a trindade é antirracional, pois justificam: se aceitarmos que Jesus é Deus como podemos continuar dizendo que Deus é um? Creem como Ário — o ancestral de suas idéias heréticas — que a divindade de Cristo não pode coexistir com a unidade de Deus.
Os cristãos não crêem que há “três deuses em um”, como afirma o livro Seja Deus Verdadeiro, pág. 81; mas crêem na existência de três pessoas, todas da mesma substância, coeternas, coexistentes e coiguais.
Eles negam ainda a trindade por afirmarem que esta doutrina se choca com a “razão que é o critério usado por eles para a aceitação de doutrinas bíblicas. Em defesa desta ideia citam Isaías 1:18: “Vinde, pois, e arrazoemos;” para concluírem que o ensinamento da trindade é impenetrável à razão. O mesmo Isaías, capítulo 55:8 e 9, afirma: “Porque os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os Meus caminhos, diz o Senhor; porque, assim como os céus são mais altos do que a Terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos, caminhos, e os Meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.” Estas assertivas não significam que a razão e o pensamento devam ser abandonados, mas sim que o homem é incapaz de conhecer a mente, natureza ou pensamentos de Deus em toda a sua plenitude. Deus não convida o homem a questionar sobre problemas que a mente humana por ser finita não alcança. Seria a razão humana um elemento válido para determinar uma doutrina bíblica? Evidentemente, não.
As Testemunhas de Jeová em seu livro Seja Deus Verdadeiro afirmam:
“Seria um mistério mesmo a exemplo do surgimento do pecado no Céu e de muitas coisas relacionadas com o plano da salvação.” Eles sentenciam peremptoriamente: “A Bíblia não contém mistérios divinos, mas sim sagrados segredos. Há uma vasta diferença entre um segredo e um mistério. Um segredo é meramente o que não foi feito conhecido, mas um mistério é aquilo que não pode ser conhecido. ”
Qualquer dicionário nos comprovará que esta afirmação é improcedente.
Eis o que nos diz o Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa:
Mistério — objeto de fé religiosa, e que é impenetrável à razão humana, segredo, enigma, tudo o que é incompreensível.
Segredo — aquilo que não está divulgado, mistério, coisa misteriosa, impenetrável.
Como bem conclui Walter R. Martin, no livro The Kingdom of the Cults, pág. 57: “A verdade é que a Torre de Vigia refuta a doutrina da Trindade e outras doutrinas fundamentais do Cristianismo não porque elas sejam misteriosas, mas porque as Testemunhas de Jeová estão determinadas a reduzir Jesus, o Filho de Deus, a uma criatura ou ‘um segundo deus’ a despeito de todas as evidências bíblicas. ”
Os unitaristas afirmam que a fé na Divindade de Cristo põe em jogo o monoteísmo da Bíblia. O Comentário Adventista, pág. 911, afirma: “A Igreja cristã se defronta com o paradoxo de um monoteísmo triúno e o mistério de um Deus encarnado, conceitos que transcendem a compreensão finita e desafiam definição e análise conclusivas.”
Eis o que dizem os russelitas sobre a Trindade:
“Tal doutrina não é de Deus.” — Seja Deus Verdadeiro, pág. 100. “A evidente conclusão é que Satanás é o originador da doutrina da trindade. ” — Idem, pág. 101.
Os russelitas não foram os primeiros antitrinitaristas, porque estudando a História Eclesiástica encontramos muitos pródromos que não souberam harmonizar a unicidade de Deus, defendida nas Escrituras, com a multiplicidade de passagens, que nos provam a existência de três seres. Por provar a existência destes três estará a Bíblia defendendo o politeísmo? De modo nenhum.
Evidentemente a Bíblia nos prova que há um só Deus, como podemos ver em: Deut. 6:4; Isa. 44:6; S. Mar. 12:29; Rom. 3:20; 16:27; I Cor. 8:4-6; Gál. 3:20; S. Tia. 2:19; Efés. 4:6; I Tim. 1:17; S. Jud. 25.
Como nenhum deles é maior, a Bíblia os apresenta em uma ordem determinada: … O Espírito… o Senhor . . . Deus — Isaías 12:4-6; Senhor Jesus Cristo … Deus … Espírito Santo — II Cor. 13:13; Espírito … Deus … o Santo — Isaías 40; um Espírito . .. um Senhor . . . um Deus — Efésios 4:4-6; Santo, Santo, Santo … Isaías 6:3; Apoc. 4:8.
Os nomes — Pai1, Filho2, Espírito3 Santo designam a obra que cada um deles fez quando o plano da redenção foi posto em ação.
Jesus é Deus
As Escrituras Sagradas nos provam que Cristo é Deus. Estas provas, já estudadas ao vermos a Sua divindade, se encontram, especialmente, nas seguintes passagens: S. João 1:1; 5:18; 10:28-33; 20:28; Atos 20:38; Rom. 9:5; Fil. 2:6; Col. 2:9; I S. Ped. 1:1; I S. João 5:20.
O Espírito Santo é Deus
Entre as muitas afirmações desta seita sobre o Espírito Santo, as duas mais destacáveis são estas:
1º) “O Espírito Santo é a força ativa e invisível de Deus, que move Seus servos a fazerem a Sua Vontade.” — Seja Deus Verdadeiro, pág. 108.
2?) “O Espírito Santo não é um Deus, nem o membro de uma trindade, não é coigual, nem é mesmo um ser pessoal. ” — Jeovah of the Watch Tower, pág. 432.
O Espírito Santo é “outro” Deus, porque possui os atributos de Deus, tais como:
Santidade — Efésios 4:30;
Eternidade — Heb. 9:14 e 88 vezes nos livros do VT;
Onipotência — Atos 1:8 (virtude e poder);
Onisciência — I Cor. 2:10, 11;
Onipresença — S. João 14:16; Sal. 139:1-10;
Doador da vida (Junto com Jesus) S. João 6:63; SDABC, vol. 1, pág. 209;
Pode blasfemar-se contra ele — S. Mat. 12:31 (Blasfêmia é um pecado contra Deus);
O Espírito Santo é Deus Verdadeiro — Atos 5:3, 4; II Cor. 3:17; Efés. 2:22.
“Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é uma pessoa, como o próprio Deus está andando por estes terrenos.” — Manuscrito 66, 1899, citado em Evangelismo, pág. 616.
“O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com nosso espírito que somos filhos de Deus.
“Deve ser também uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de Deus.” — Manuscrito 20, 1906 — Evangelismo, pág. 617.
Os atributos que a Bíblia atribui ao Espírito Santo são de um ser, e não de “um poder ativo”, de uma influência.
O Espírito Santo fala — I Tim. 4:1.
ensina — S. João 14:26
convence — S. João 16:8
consola — Atos 9:31
intercede — Rom. 8:28
comissiona — Atos 13:4
ama — Rom. 15:25
Kant outorga três atributos a uma personalidade: Inteligência, Vontade e Emoção. Estes três atributos são encontrados no Espírito Santo.
Inteligência — I Cor. 2:10, 11; Atos 15:28;
Vontade — I Cor. 12:11; Efés. 4:30; S. João 15:26; 16:8;
Emoção — Rom. 15:30; Efés. 4:30; Isaías 63:10.
Ainda um ponderável argumento para provar que o Espírito Santo é da mesma natureza de Deus se encontra no conhecimento das palavras gregas — álos e— héteros. Em português traduziremos as duas palavras por outro, mas álos é outro da mesma qualidade, enquanto héteros é outro de natureza diferente, contrária. Na expressão: outro consolador de S. João 14:16, temos indicando que o Espírito Santo é da mesma qualidade de Deus. Em Gál. 1:6 Paulo afirma: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho.”O vocábulo grego neste caso é— outro, diferente.
Há passagens na Bíblia onde as três pessoas da trindade aparecem juntas, comprovando a existência de três pessoas distintas. Dentre estas passagens as duas mais significativas são:
1ª) A fórmula batismal em nome do Deus triúno, colocada nos lábios dos apóstolos pelo próprio Cristo — S. Mat. 28:19.
“Há três pessoas viventes no trio celestial; no nome destes três poderes (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) aqueles que por uma fé viva recebem a Cristo são batizados. … Os três grandes poderes do Céu são testemunhas, são invisíveis, mas presentes.” — Manuscrito 57, 1900, SDABC, vol. 6, pág. 1074.
2a) A bênção apostólica de II Cor. 13:13, onde graças diferentes são atribuídas a cada pessoa da Divindade.
Além destas a trindade é evidente nas seguintes passagens: I Cor. 14:4-6; II Cor. 13:13; S. João 14:16; Col. 2:9; Efés. 4:4-6; II Tess. 2:13, 14; I S. Ped. 1:1; S. Judas 20, 21.
A citação de Deut. 6:4 — “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” como prova do unitarismo divino ou contra a Trindade requer uma explicação.
Devemos fazer distinção entre duas palavras hebraicas: echâd que significa união, do verbo yachâd = unir; e yachid, que quer dizer — solitário, só um, unicamente. Em Deut. 6:4 se encontra ‘ — echâd, mas em Gên. 22:2, 12, 16 a palavra usada é yachid.
Uma tradução de Deut. 6:4 mais consentânea com o original hebraico seria: — Deus, Jeová é unido, ou os Deuses Jeová são unidos.
Em Gên. 2:24 temos a afirmação tomando-se os dois uma só carne — bosor echâd. Será que os dois são um quantitativamente? Não. Eles são um na unidade de propósito, de ideal. . ..
A passagem de I S. João 5:7, que aparece em algumas traduções: “Porque três são os que testificam no Céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo, e estes três são um” não deve ser usada para provar a Trindade, porque todas as evidências textuais nos provam que não aparece nos manuscritos anteriores ao século XII. A Crítica Textual tem chegado a algumas conclusões sobre esta passagem. Dentre estas a mais viável para mim seria a seguinte: Considerando que não se encontra nos manuscritos unciais e na quase totalidade dos cursivos; considerando que não aparece em todas as versões antigas, com exceção da latina; considerando que nunca foi citada pelos Pais da Igreja, em seus escritos, em defesa da doutrina da Trindade, conclui-se que, inegavelmente, foi uma interpolação posterior.
“As Três testemunhas celestiais” ou Comma Joanina, como é conhecida pela Crítica Textual, surgiu segundo tudo indica de um comentário exegético que um copista colocou, à margem, do texto que estava copiando. Um copista posterior, achando que eram palavras próprias para o contexto, as inseriu na cópia que estava fazendo, mas por legítimo direito não pertencem ao texto sagrado.
A negação da Trindade tem sido uma constante das religiões não cristãs.
Os unitaristas afirmam que a fé na Divindade de Cristo põe em jogo o monoteísmo da Bíblia.
O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com nosso espírito que somos filhos de Deus.