SE o colportor não conseguir decisões, terá de abandonar o trabalho. Parece, porém, que alguns ministros podem continuar indefinidamente sem preocupar-se com obter decisões. Mas não vos enganeis — o principal dever do ministro é conseguir decisões para seu Senhor: decisões de entrega a Cristo por parte de pessoas não convertidas; decisões de mais íntima comunhão com Cristo por parte dos que já se converteram.
A ordem do Senhor a Seus ministros pode ser reduzida a quatro palavras: Ir, ensinar, fazer discípulos. Corremos’ o perigo de ocupar-nos com tantas outras coisas boas que percamos de vista a nossa principal ocupação — conseguir decisões para nosso Senhor.
Permanecei de Joelhos Para Obter a Resposta
Convém que o pregador dedique tempo, pelo menos uma vez por semana — ou melhor, uma vez por dia — para perguntar a si mesmo no silêncio de seu gabinete de estudos: “Por que sou um ministro?’’ Deve então permanecer de joelhos até obter a resposta do Senhor.
A resposta será semelhante àquilo que o Senhor disse a Paulo: “[Eu] te apareci para te constituir ministro e testemunha . . ., para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus.” Atos 26:16-18.
O Senhor disse que Paulo era Seu ministro com o único objetivo de conquistar homens e mulheres do lado de Satanás para o lado do Senhor — para conduzi-los do caminho da morte para o caminho da vida. É por isso que o Senhor torna certos homens ministros Seus.
Desde a ocasião em que recebeu êste chamado, Paulo dedicou-se completamente a essa incumbência divina. Êle prosseguiu através de tôdas as dificuldades, perseguições e sofrimentos. Não foi desobediente à visão celestial. Que o mesmo seja verdade a respeito de cada um de nós! É isto que constitui o melhor tempo da vida de um ministro.
Sòmente o Espírito Santo
A pergunta: “Como Conseguir Decisões Para Cristo?” exige uma resposta ampla e compreensiva, pois há muitos fatôres relacionados com ela. A resposta fundamental encontra-se em Zacarias 4:6: “Não por fôrça nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos.” Tôdas as decisões autênticas no evangelismo só podem realizar-se por meio da obra do Espírito Santo. Êste deve ser o princípio dominante — o volante de direção e a fôrça motriz do carro evangelístico.
A Fórmula de Barnabé
Foi por inspiração divina que o autor do livro de Atos relacionou a obtenção de muitas decisões com a pessoa que possui correta experiência individual e está repleta do Espírito Santo e de fé. Escreveu êle acêrca de Barnabé: “Porque era homem bom, cheio do Espírito San-to e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor.” Atos 11:24. Oxalá suceda isto com cada ministro! Quão depressa seria então concluída a obra!
Considerai o que o Espírito Santo faz com referência às decisões. Êle atrai para Cristo. Convence as pessoas das coisas erradas de que devem afastar-se. Convence também as pessoas das coisas corretas que precisam praticar — o verdadeiro dia de guarda, a maneira certa de serem batizadas, a igreja verdadeira a que devem pertencer.
O Espírito Santo guia a tôda a verdade. Proporciona adequada compreensão das Escrituras. Concede vitória sôbre o pecado. Cria o desejo de obedecer à verdade e supre o poder para isso. Possibilita que Cristo viva na vida do crente. Implanta no coração o amor de Deus — como a única fonte genuína de obediência. Êle cria um nôvo coração no crente a fim de que possa obedecer. Transforma o crente à semelhança de seu bendito Senhor — pronto para o Céu. Graças a Deus por esta maravilhosa obra do Espírito Santo na decisão!
Impregnai-os de Oração
É por isso que o Espírito Santo e a oração devem ocupar o primeiro lugar em tudo o que fazemos no evangelismo. Tomai vosso evangelismo — os sermões, os estudos bíblicos e as palestras pessoais — e impregnai-os o máximo possível da oração, do amor de Deus, da cruz de Cristo, da graça de Deus e do Espírito de Jesus. Algo ocorrerá então em vossas pregações e trabalho pessoal.
Além de dar a estas instrumentalidades divinas o seu lugar apropriado, Deus espera que lancemos mão de todos os princípios de persuasão e conquista de almas. A decisão, a persuasão ou a aceitação não sucedem por acaso ou acidente. São regidas por leis ordenadas por Deus, da mesma maneira que os processos que se verificam no mundo natural.
Eis aqui uma das principais chaves para abrir a porta da decisão. Lemos em Testimonies, Vol. 9, pág. 221:
“Existem grandiosas leis que governam o mundo da Natureza, e as coisas espirituais são controladas por princípios igualmente certos. Para alcançar os resultados desejados, é necessário empregar os meios que conduzem para isso.”
A Aproximação Científica
A questão de conseguir decisões via de regra é confiada ao domínio do método de tentativas feitas ao acaso. A maioria dos pregadores parece desconhecer a aproximação científica. O pregador que não sabe como e por que as decisões são formuladas na mente, por certo se encontra em situação desfavorável nas suas pregações e em suas entrevistas evangelísticas com as pessoas interessadas. A perícia é indispensável para realizar algo em qualquer setor.
Saber Onde Dar a Batida
A História menciona que o Imperador Francisco José, da Áustria, viajava em sua carruagem certo dia quando o veículo enguiçou numa pequena aldeia. Alguns funcionários procuraram repará-lo, mas sem resultado, pois a dificuldade estava na parte de baixo. Um operário local ofereceu-se para ajudar.
— Estou em dificuldade — disse o monarca. — Pagarei qualquer preço se você puder consertar a carruagem.
O homem pegou um martelo e deitando-se debaixo da armação vibrou três pancadas violentas na estrutura. Quando tornou a aparecer, fêz a encorajadora observação:
— Está tudo em ordem agora, majestade.
— Quanto lhe devo? indagou o imperador.
— Quinhentos schillings — respondeu êle.
— Essa quantia é exorbitante! exclamou Francisco José. A carruagem tôda só vale 600 schillings. O senhor deve apresentar-me uma conta pormenorizada.
O operário pegou um lápis e um pedaço de papel, escreveu alguns algarismos e entregou a conta ao soberano.
— Pronto, majestade! disse êle.
A conta era a seguinte: “Três pancadas com o martelo — um schilling cada uma. Saber onde bater — 497 schillings.”
O dinheiro foi-lhe entregue imediatamente, sem qualquer comentário.
Se desejais que vossas pregações, vossos estudos bíblicos, vossas obra pessoal produzam decisões, tendes de saber onde e como desferir a batida naquilo que apresentais. Precisais saber quais são as leis mentais que regem as decisões, a fim de elaborar e dirigir os sermões e a obra pessoal da maneira mais favorável para influenciar a vontade a fazer a decisão que se almeja.
A mensageira do Senhor levou isto em conta? Sim. Lemos:
“Para conduzir a Jesus é preciso ter-se certo conhecimento da natureza humana e estudar a mente dos homens.” — Test. Seletos, Vol. 1, pág. 453.
Declara Roberto Oliver:
“Quem deseja influenciar as decisões das pessoas precisa conhecer primeiro, acima de tudo e finalmente os mais profundos recessos da mente dêles.” — Psychology of Persuasive Speech, pág. 6.
“Para que o orador persuasivo, portanto, seja bem sucedido em iniciar, ativar e orientar as reações de seus ouvintes, deve êle em primeiro lugar compreender as razões por que são formadas as decisões.” — Idem, pág. 14.
Disse Carlos Woolbert:
“Estudar intensamente a persuasão é estudar minuciosamente a natureza humana. Sem um roteiro para as probabilidades da ação humana, sem avaliar e compreender os sulcos habituais de suas ações, o orador ou escritor trabalha no vácuo e não tem possibilidade de alcançar êxito. .. . Mais do que a metade do êxito em conquistar homens reside em compreender como êles trabalham.” — Idem, pág. 3.
Efeito Recíproco do Desejo e da Convicção
Em primeiro lugar, precisamos compreender que tôda decisão que alguém faça em qualquer sentido provém do efeito recíproco do desejo e da convicção que ocorre em sua mente com referência a isso. Tal coisa sucede na decisão de comprar certas peças de roupa de preferência a outras, bem como na escolha de determinada marca de automóvel, do companheiro ou da companheira na vida, do sétimo dia em vez de qualquer outro dia de guarda, ou de pertencer ao Movimento Adventista de preferência a qualquer outra das centenas de corporações religiosas.
Em qualquer caso, são o desejo e a convicção que levam a mente a fazer a decisão. Naturalmente, sabemos que na decisão em favor de Cristo ou do sábado de Cristo, e outras decisões religiosas, o Espírito Santo opera através do desejo e da convicção a fim de produzir a decisão.
Alguém poderá pensar: “Por que não confiar o assunto da decisão inteiramente ao Espírito Santo?” Isto não está de acôrdo com o plano de Deus. Seu plano é que o Espírito Santo opere através dos esforços de Seus discípulos para conduzir as pessoas a se decidirem pela verdade.
No dia de Pentecostes o Espírito Santo levou três mil pessoas à decisão. Mas será que isto teria acontecido se Pedro e os demais apóstolos tivessem entrado em férias nesse dia? Não! O Espírito Santo os usou para suscitar o desejo e a Convicção na mente dos que tomaram sua decisão.
Examinai o que é relatado sôbre o sermão de Pedro naquele dia. Analisai-o sob o ponto de vista dos fatôres de desejo e convicção que êle fêz incidir sôbre suas mentes. Descobrireis que seu sermão foi um entrelaçamento muito eficaz e apropriado de desejo e convicção para produzir decisão em sua correlação com seus ouvintes. Isto mostra como o Espírito Santo age de acordo com as leis mentais ao conduzir as pessoas à decisão. Êle opera através do ministro na escolha do conteúdo apropriado para o sermão, e na devida seqüência do material, para que seja eficaz em criar o desejo e implantar a convicção que produzam a decisão almejada. Que repto nos é lançado para escolher o conteúdo do sermão e dispor sua seqüência de maneira a despertar desejo e convicção! Com efeito, precisamos saber “onde dar a batida.”
A idéia fundamental é que devemos fazer uso do desejo e da convicção. Isto não quer dizer que se seguirmos esta orientação sempre nos será assegurada alguma decisão. O espírito humano muitas vêzes resiste à decisão de seguir a verdade mesmo quando a apresentação consiste no entrelaçamento apropriado dos fatôres do desejo e da convicção.
Mas se a decisão não é obtida, dá-se isto porque êstes dois elementos não foram intensificados nessa pessoa ao ponto essencial e ideal em que se transformam em decisão e ação. A mais elevada arte na conquista de almas é a habilidade, com a ajuda divina, de avivar as centelhas do desejo e da convicção até se transformarem na chama da decisão.
Se não praticarmos esta orientação, estaremos andando às cegas sem qualquer objetivo. Mas se a adotarmos, contaremos com as mais favoráveis perspectivas de conseguir a decisão almejada.
Os Métodos de Cristo São Insuperáveis
Não existe melhor maneira de aprender como conseguir decisões do que estudar os métodos de Cristo. Êles não podem ser superados. Em nenhum lugar são os métodos de Cristo para alcançar decisões revelados de modo mais cabal do que em S. João 4 — na conversão da samaritana junto ao poço de Jacó.
Como Êle o fêz? Prendendo-lhe a atenção, despertando seu interêsse, criando desejo pelo que Êle tinha a oferecer e implantando a convicção de seu supremo valor e da necessidade de possuí-lo. Depois, no momento oportuno, Êle intensificou o desejo e a convicção da samaritana, transformando-os em decisão e ação em favor da verdade. Esta era a “técnica” de Jesus para ganhar almas. Todo sermão autêntico conduzirá os ouvintes através dêsses cinco passos, e temos o dever de elaborar tais sermões com o auxílio divino. Para consegui-lo, alguns precisarão dedicar mais estudo e reflexão a seus sermões do que costumam fazer. Isto produzirá abundantes resultados.
Provar Alguma Coisa Não é Suficiente
A evidência de nossas doutrinas é tão convincente que qualquer ministro adventista, com a ajuda de Deus, pode despertar convicção na mente de seus ouvintes quanto à veracidade dessas doutrinas. Quão poucos, porém, sabem como despertar o desejo de obedecer. Êste é um ponto do evangelismo adventista que requer mais estudo. É aí que nossa pregação se mostra deficiente.
Jesus salientou que a decisão em favor do reino de Deus pode ser comparada a um homem que procura boas pérolas, e tendo achado uma pérola de grande valor, vendeu tudo o que possuía, para adquiri-la. Êste homem foi incentivado por uma convicção tão profunda e um desejo tão forte e dominante, que prazerosa e imediatamente, sem qualquer relutância ou hesitação, desfêz-se de tudo o que possuía, para adquirir a pérola.
O desejo de salvação e de um lar eterno no Céu deve ser a “pérola,” ou o principal fator, em levar as almas a se entregar a Cristo. Se realmente fôr suscitado êste desejo predominante, nada poderá deter a pessoa de avançar em direção à obediência à verdade. E não é isto que desejamos ver em nosso evangelismo?
Admirar, Desejar, Adquirir
A parábola da Pérola de Grande Valor reduz a fórmula para decisões a três palavras — admirar, desejar, adquirir. Ao ver a pérola, o homem a achou tão bela que a admirou. Admirou-a então até o ponto de desejá-la. E depois de desejá-la grandemente êle resolveu adquiri-la, mesmo que lhe custasse tudo o que possuía.
Na tentativa de alcançar decisões, apresentemos cada aspecto da verdade da maneira mais atrativa para que as pessoas a admirem ao ouvi-la. Convém então empregar todos os ele-mentos do desejo na apresentação de cada assunto, a fim de que os ouvintes queiram obedecer a cada ponto da verdade. Em seguida deve-se ajudá-los a ter tanto desejo de obedecer que resolvam adquirir a verdade, custe o que custar. Em outras palavras, tomai o desejo o principal fator em tôdas as vossas pregações, estudos bíblicos e palestras pessoais.
É Necessário Dar Ênfase ao Desejo
Temos seguido êste método? A pregação das doutrinas adventistas em geral é deficiente no tocante aos fatôres do desejo. Damos excessiva ênfase à convicção e muito pouca ao desejo. Nossa pregação evangelística salienta especialmente a obrigação e o dever para alcançar decisões. Existe um caminho mais excelente. Tornai o desejo o fator preponderante e vereis melhores resultados.
Em última análise, as pessoas só podem ser induzidas a fazer o que desejam. Devemos ter isto em mente ao inspirar outros a se tornarem adventistas do sétimo dia. Em tôdas as nossas pregações, juntamente com as provas da veracidade das doutrinas, procuremos criar e incentivar o desejo de seguir o plano proposto no sermão.
Lembrai-vos de que os métodos de Cristo não podem ser superados. Estudai as seis declarações que êle usou junto ao poço de Jacó, sob o ponto de vista dos fatôres referentes ao desejo e a convicção. Notareis que há duas vêzes mais elementos de desejo do que de convicção. Ao fazer uma lista dos pontos tirados de Suas declarações, descobri 27 incentivos ao desejo e 12 convicções.
Antes ou Depois?
Precisamos fazer mais do que temos feito para estabelecer êste desejo dominante de possuir a Jesus e o Céu antes de a pessoa defrontar-se com o que precisa renunciar a fim de unir-se ao Movimento Adventista. Temos perdido muitos conversos em perspectiva devido a instar sôbre a observância do sábado, sôbre o abandono do fumo, das jóias e das diversões mundanas antes de manifestar-se nêles o forte desejo de obedecer a Jesus.
Pode uma pessoa não convertida observar realmente o sábado? Não! “O pendor da carne .. . não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar.” Rom. 8:7. Será que adotamos a orientação correta quando instamos com as pessoas não convertidas a fazer isto?
Ezequiel 11:19 e 20 revela que Deus converte as pessoas. Dá-lhes um coração nôvo para que obedeçam a Suas leis. Isto significa que precisamos orientar nossos esforços para conseguir que se convertam antes de apresentarmos a verdade do sábado. Conseguiremos mais decisões em prol da observância do sábado se procedermos assim.
Declara a serva do Senhor: “Se a par da teoria da verdade, nossos ministros se demorassem mais sôbre a piedade prática, . . . veriamos muito mais almas se arrebanharem em torno do estandarte da verdade.” — Test. Seletos, Vol. 1, pág. 516. (Grifo nosso.)
A Moldura Certa
A esta altura é mister fazer uma advertência. Alguns têm pensado que a pregação cristocêntrica fora da moldura do evangelho eterno é tudo o que é necessário. Se isto fôsse verdade, a pregação de notáveis evangelistas, como Billy Graham, é plenamente apropriada para êstes dias. Mas existe apenas uma espécie de pregação que corresponde aos reclamos da Palavra de Deus para a importante hora atual, e é a pregação cristocêntrica sob a moldura do evangelho eterno da tríplice mensagem angélica.
Nunca olvideis que Deus nos outorgou uma gloriosa roda de verdade com que podemos percorrer longas distâncias para Êle. O eixo dessa roda é a justificação pela fé e a cruz. Os raios são tôdas as doutrinas, como o Segundo Advento, A Proximidade do Fim, o Santuário, o Juízo Investigativo, Os Dez Mandamentos, o Sábado, Cristo Como Criador, Restaurador e Nosso Único Salvador, Imortalidade Condicional, o Dízimo, o Viver Saudável, Separação do Mundo etc. Elas devem ser apresentadas como procedentes do eixo — a cruz e a justificação — e firmadas na outra extremidade pelo aro da tríplice mensagem angélica ou do evangelho eterno. É isto que as une num completo e harmonioso sistema de verdade, a fim de preparar um povo para o Senhor. Tomai esta roda da verdade e sob a orientação divina percorrei longas distâncias para Deus até que Êle diga: “Muito bem, servo bom e fiel; . . . entra no gôzo do teu Senhor.”