Filho de pastor (Geraldo Marski), irmão de pastores (Davi e Artur Mars­ki), o Pastor Paulo Emílio Marski sempre estudou em instituições adventistas: es­cola da Igreja Central Paulistana, Iasp, e IAE, campus de São Paulo, onde formou-se em Teologia no ano de 1975. Em seguida, iniciou suas atividades ministeriais auxiliando séries de confe­rências dirigidas pelo Pastor Alcides Cam­polongo, e foi distrital na região de Suzano e Mogi das Cruzes, no Estado de São Paulo. Após seis anos nessa função, aceitou um chamado para a Capelania do Hospital Adventista de Belém, onde permaneceu também por seis anos, vindo posteriormente para o Hospital Adventista de São Paulo.

Parece que sou o mais antigo na função”, ele pondera.

Casado com a enfermeira Elci Stabenow Marski, possui três filhos: Éder (15 anos), Eser (13 anos) e Eber (cinco anos).

Em seu escritório de Capelania, no Hasp, o Pastor Paulo concedeu à revista MINISTÉRIO, a seguinte entrevista:

MINISTÉRIO: Quão decisiva foi a influência do seu pai e seus irmãos, para que o senhor se tornasse um pastor?

PAULO MARSKI: O mais importante foi o exemplo do meu pai. Daí, a convivência em família, com meus irmãos, e a educação cristã recebida prepararam o terreno para a decisão de servir a Deus em Sua Obra. Meu pai nunca me disse que eu deveria ser pastor. Não houve qualquer imposição.

MINISTÉRIO: Em algum momento de sua vida, pensou em ser capelão?

PAULO MARSKI: Não. Até receber o chamado para o Hospital de Belém, eu não pensara em ser capelão. Mas veio o convite e, simplesmente, minha esposa e eu aceitamos ir para o Norte, uma região que não conhecíamos.

MINISTÉRIO: Como recebeu esse chamado?

PAULO MARSKI: Na ocasião houve muitos prós e contras. Naquela época, os capelães eram geralmente pastores jubilados, e muitas pessoas nos aconselhavam no sentido de que não fôssemos. Éramos jovens, com apenas seis anos de ministério, parecia não ser um bom caminho a Capelania. Foi um desafio, mas, como disse antes, aceitamos e estamos contentes nesse ministério.

MINISTÉRIO: Se havia prós e contras, o que foi determinante para aceitar o chamado ?

PAULO MARSKI: A disposição de aceitar um chamado divino, independentemente dos desafios de uma região desconhecida, ou do próprio trabalho. Veja bem: eu não disse a ninguém que queria ser capelão; chegou o chamado às minhas mãos, depois de passar pela Divisão, União e Associação, entendi isso como um convite de Deus e aceitei prontamente, sem me preocupar com o que me esperava.

MINISTÉRIO: Parece que algumas pessoas, ainda hoje, consideram o ministério de Capelania como “fim de carreira”, ou solução para algum “problema”. Que acha disso?

PAULO MARSKI: Se há 14 anos eu não concordei com essa visão, muito menos concordaria agora, depois de tanto tempo vivendo as emoções desse ministério. Basta lembrar que temos, atualmente cerca de 50 capelães em todo o Brasil, incluindo muitos jovens e bons pastores. Isso indica que as pessoas de visão positiva são em número muito maior. A Capelania é um campo muito vasto para a pregação do evangelho, e também prazeroso. Cristo foi o capelão por excelência, empregando grande parte do Seu tempo em abrir as portas dos corações, buscando primeiro satisfazer as necessidades físicas e emocionais das pessoas. Só então ministrava-lhes o evangelho.

MINISTÉRIO: Qual é a abrangência do trabalho de um capelão?

PAULO MARSKI: É um ministério de tremendas possibilidades. Há os pacientes, que passam por momentos difíceis e de crise, aos quais o capelão pode ajudar confortando, animando, levando-os à aceitação de Cristo, ou a uma experiência de reconsagração a Deus. O capelão também vela pelo bem-estar espiritual dos funcionários e obreiros da instituição, promovendo um ambiente de bom relacionamento que também contribui para a recuperação do paciente. Finalmente, existe a comunidade que deve ser alcançada através de cursos, palestras, literatura, amizade; gerando assim oportunidades para evangelização.

MINISTÉRIO: Como é o dia-a-dia de um capelão?

PAULO MARSKI: Isso pode variar de hospital para hospital. Em nosso caso, iniciamos o dia com um culto devocional. Depois, a distribuição de literatura nos vários locais de atendimento, recepção, quartos, etc. Visitamos todos os dias os pacientes, e também atendemos a funcionários e obreiros, que necessitam de algum aconselhamento ou orientação espiritual. Às vezes são dúvidas teológicas e doutrinárias que precisam ser esclarecidas, outras vezes são questões familiares. Alguns pacientes pedem a visita do capelão, em suas casas, para continuidade de estudos bíblicos. Hospitais não adventistas também solicitam a nossa presença, o que atendemos com muito prazer. Como temos nosso culto aqui no hospital, durante os sábados, uma vez mensalmente nos colocamos à disposição das igrejas, além dos domingos e quartas-feiras.

MINISTÉRIO: Como podem caminhar juntos, capelão e médico?

PAULO MARSKI: Em qualquer lugar, onde trabalhem muitas pessoas, serão encontrados temperamentos diferentes. Mas em geral, capelão e médico formam um dueto afinado. Alguns médicos chegam a solicitar ajuda ao capelão. Eles sabem que, ajudados espiritualmente, os enfermos podem muitas vezes acelerar a recuperação, devido ao estreito relacionamento entre a mente e o corpo.

MINISTÉRIO: Quais as maiores dificuldades que um capelão encontra no trabalho?

PAULO MARSKI: Bem, em qualquer setor sempre existem coisas que nós gostaríamos que fossem diferentes. No ministério de Capelania, embora muito raramente, encontramos um ou outro paciente mais radical que não aceita ser visitado nem que se faça oração. No aspecto burocrático, digamos as-sim, há o problema financeiro que às vezes dificulta a produção mais abundante de material. Na verdade, as dificuldades são poucas. Nada que não possa ser contornado ou administrado.

MINISTÉRIO: Como o capelão se sente ao acompanhar um caso e ver que seu desfecho trágico é inevitável?

PAULO MARSKI: Realmente não é muito fácil, mas o que falar, e o que não falar, depende de cada caso. Quando uma pessoa toma conhecimento da gravidade de sua situação, em geral a primeira reação tende a ser de revolta e questionamentos acerca de Deus. “Por que eu?”, “por que Deus permite isso?” ou “o que fiz para merecer este castigo?” Então, procuramos mostrar pelas Escrituras a questão do sofrimento, seu causador, e o amor constante de Deus por Seus filhos. Acima das argumentações, este é um mo-mento para ouvir bastante. Depois dessa reação, vem o período de barganha com Deus: “se eu for curado, prometo fazer isso ou aquilo, ir à igreja, ser melhor missionário, cumprir tal penitência”, etc. Finalmente, o indivíduo acaba aceitando a situação. Às vezes consegue sair do hospital, às vezes não. De qualquer forma, essa é uma oportunidade áurea para levar Cristo às pessoas.

Há momentos, no entanto, em que não se tem mesmo muito a dizer, como no caso de uma criança, por exemplo. Mas só a presença do capelão, como um homem de Deus, representa muito em termos de conforto e segurança, para o enfermo e seus familiares. É preciso não esquecer dos familiares. Eles sofrem muito também, com a perspectiva da perda de um ente querido.

Só a Palavra de Deus tem a mensagem própria para tais ocasiões.

MINISTÉRIO: Alguns conselheiros afirmam que há ocasiões em que argumentação de qualquer tipo é inútil, só restando a opção da solidariedade silenciosa. Já enfrentou situações assim?

PAULO MARSKI: Há, de fato, situações assim. São momentos em que, ou porque o paciente não pode ouvir nada, nem raciocinar; ou porque o choque da perda é muito grande para um familiar, a única coisa que se tem a fazer é afagar a cabeça, colocar a mão no ombro, e orar. Permanecer ao lado do sofredor significa muito. Com o passar do tempo, as coisas vão ficando mais claras, normalizando-se, e vão surgindo condições para o plantio da semente da Palavra. O que não se pode fazer é deixar o necessitado ao léu da própria sorte.

MINISTÉRIO: É normal o capelão chorar?

PAULO MARSKI: Qualquer conselheiro deve ter controle sobre suas emoções. Mas chorar não é sinal de fraqueza. Portanto, eu diria que o capelão chora também, e isso é normal e positivo. Quando você, por exemplo, está diante de um jovem baluarte, uma criança, ou mesmo um adulto, numa situação irreversível, nem sempre pode resistir ao pranto. Jesus mesmo chorou, o que mostra que chorar não é fraqueza. Digo que isso é positivo, porque um pastor não pode tornar-se insensível à dor alheia. Nunca um pastor deve encontrar-se num estágio no qual, para ele, o sofrimento e dor alheios sejam coisas comuns do dia-a-dia. Ele deve ser caracterizado pela sensibilidade de Cristo. Se não chora com o rosto ou os olhos, pode chorar com o coração, embargar a voz, enfim, emocionar-se diante do sofrimento humano. A Sra. White falou de Jesus como tendo certa vez “lágrimas na voz”, ao repreender algumas pessoas.

MINISTÉRIO: Em que nível de importância o senhor coloca a Capelania, no contexto ministerial?

PAULO MARSKI: A Capelania é apenas uma área especializada, como existem outras na Obra. Mas sua importância é tão grande como a dessas áreas, como o ministério pastoral, departamentos, etc. Ainda não estamos aproveitando todas as oportunidades que existem na Capelania. Limitamo-nos aos nossos hospitais; mas poderiamos penetrar em corporações militares, presídios, e até empresas, levando orientação espiritual.

MINISTÉRIO: O senhor se sente, como capelão, devidamente assistido pela Associação Ministerial?

PAULO MARSKI: Aqui em São Paulo, pelo menos, onde somos aproximadamente dez capelães (incluindo os que servem a hospitais da Golden Cross e outras instituições), temos recebido o devido apoio, através dos Campos. As Associações daqui têm procurado integrar-nos às atividades ministeriais, convidando-nos para concílios e reuniões de planejamento de trabalho. Somos uma Igreja com uma missão, e precisamos caminhar unidos para cumpri-la. Em termos missionários, hospitais não podem andar por caminhos diferentes de outros setores e instituições da Obra. Sinto que aqui essa integração é muito positiva e acredito que aconteça a mesma coisa em outros lugares.

Além do apoio da Associação Ministerial, somos também assistidos pela Associação Brasileira de Capelães Adventistas, cujo presidente é o Pastor Walter Streithorst. Essa agremiação busca integrar o grupo e criar melhores condições de exercer nosso ministério.

MINISTÉRIO: O senhor concorda em que o capelão deva ter alvo de batismo estabelecido pelo Campo em cujo território ele se encontra?

PAULO MARSKI: Cada instituição tem suas metas. Nossos alvos são sugeridos pela administração da instituição, inclusive o de batismos. Mas o funcionamento não é como uma igreja ou distrito. As pessoas que chegam aqui e começam a receber estudos, são encaminhadas ao distrital ou igreja mais próxima da região onde elas residem. Se se batizam, pertencem àquela determinada igreja. Na verdade, ajudamos os distritais. Temos recebido aqui pessoas vindas de Manaus, Campo Grande, MT, etc. Ao retornarem às suas respectivas cidades, são colocadas em contato com algum pastor ou igreja. E freqüentemente recebemos informações de que alguém foi batizado.

MINISTÉRIO: Há condições de se quantificar os batismos de um ano, por exemplo?

PAULO MARSKI: Com toda essa diversificação, não é muito fácil. Mas no ano passado, temos informações de que aproximadamente doze pessoas foram batizadas em São Paulo.

MINISTÉRIO: Que acha de um hospital investir no evangelismo, designando o capelão e sua equipe para uma determinada região?

PAULO MARSKI: Isso já existe. O Hospital Adventista de Belém, por exemplo, enviou o capelão, junto com sua equipe e alguns médicos, para evangelizar a cidade de Salinas, no interior paraense. Financiou a campanha, e o resultado foi muito bom. Batizaram mais de 300 pessoas e um dos capelães teve de permanecer lá para continuidade e consolidação do trabalho. Acho válida tal iniciativa. O hospital tem de se fazer presente na comunidade, como um instrumento missionário. Além de tudo, os próprios funcionários e obreiros serão incentivados a um maior envolvimento com a missão da Igreja.

MINISTÉRIO: Qual é a estratégia evangelística de seu trabalho como capelão?

PAULO MARSKI: Bem, tudo começa como contato pessoal, oferecimento de literatura. Algumas pessoas mostram interesse no estudo da Bíblia e, ao receberem alta, nós vamos em suas casas. Aos que moram muito distante, em outras cidades, por exemplo, oferecemos cursos por correspondência. Apesar das dificuldades encontradas numa cidade como São Paulo, onde as pessoas vivem correndo sem tempo praticamente para nada, temos 120 pessoas matriculadas nos cursos por correspondência. Contamos com o auxílio de uma obreira bíblica que, além de cuidar desse material, também realiza visitas aos lares. Aqui no hospital, o objetivo não é fazer proselitismo. O primeiro passo é levar a pessoa a Cristo. Se quiséssemos aproveitar o momento de crise, muitos pacientes se agarrariam a qualquer coisa, inclusive à denominação. Mas uma decisão assim, possivelmente não seria duradoura. Passada a dificuldade, eles poderiam voltar à velha vida. Inicialmente fazemos amizade, mostramos a Cristo, apresentamos um modelo de vida diferente, e, somente quando recebem alta, efetivamos o estudo bíblico, se houver interesse.

MINISTÉRIO: De certa forma, cada pastor é um capelão. Como o senhor acha que cada um poderia tornar mais efetivo esse trabalho?

PAULO MARSKI: Alguns colegas capelães aqui em São Paulo já estão indo às igrejas orientar os irmãos, no sentido de realizarem o trabalho de visitação a hospitais nas respectivas regiões. Os pastores devem estar engajados nisso, formando equipes, treinando-as e orientando-as devidamente. Há muita gente necessitada de conforto e esperança, aguardando uma visita desprovida de intenções proselitistas. Ninguém precisa ficar desesperado para fazer um doente aceitar, na hora da morte, determinadas doutrinas específicas. Cristo, Seu amor e poder, Sua graça e misericórdia, é que deve ser levantado. Precisamos cuidar para não termos a postura adotada por alguns movimentos populares, cujos membros em seu radicalismo contestam as orientações médicas, atribuem a doença a algum castigo, dificultando a vida do paciente e fechando temporariamente as portas de alguns hospitais. Já aconteceram casos assim, aqui em São Paulo. Nossa linha é outra, e os administradores de instituições hospitalares devem saber distinguir.

MINISTÉRIO: Agora, um conselho do capelão aos pastores e anciãos.

PAULO MARSKI: No fundo, cada um de nós é um capelão. Todos nós visitamos pessoas carentes de conforto, esperança e ânimo, em hospitais ou nas casas. Então devemos estar unidos, fortalecendo-nos mutuamente, e realizar eficientemente o minis-tério de visitação. A Bíblia diz que quando Cristo voltar, identificará aquele que esteve com o doente, vestiu o nu, alimentou o faminto e confortou o prisioneiro. Onde quer que estejamos atuando, não devemos descuidar esse aspecto do ministério. Precisamos trabalhar diligentemente e unidos, para apressar o dia em que o sofrimento e a dor deixarão de existir.