Assistindo a um programa de televisão numa emissora católica, vi quando o apresentador respondeu a uma telespectadora cuja pergunta dizia respeito a Maria: “Por que a igreja católica exalta a mãe de Jesus, colocando-a em um pedestal quase divino, se não há fundamento bíblico para tanto?” A consulente esclareceu que havia pesquisado a Bíblia e nada encontrara nesse sentido. Em tom enfático, o apresentador explicou que não havia necessidade da Bíblia para fundamentar a ideia em discussão, assim como não há necessidade dela para o estabelecimento de muitos outros conceitos. Estando alguém diante de um impasse doutrinário ou prática eclesiástica para os quais, aparentemente, a Bíblia não tenha respostas, mas tenham o aval da tradição da igreja, esse alguém deve seguir a tradição. Nesse caso, ela é superior às Escrituras, decretou o apresentador, com argumentos cujos detalhes este espaço não permite analisar.

Evidentemente, o fato não se constitui novidade. Esse conceito esteve no âmago do conflito entre o monge Martinho Lutero e sua antiga denominação, e foi combatido pelo princípio Sola Scriptura, que exalta a suprema autoridade da Escritura, enfatizando-a com sua própria intérprete, à parte da autoridade humana. Graças a Deus, para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, somente as Escrituras são a “norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência religiosa” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 7).

A propósito disso, nesta edição de Ministério, o doutor Kwabena Donkor analisa interessantes aspectos do caminho trilhado por Lutero em direção ao estabelecimento dessa divisa. Além desse artigo, outros, a exemplo dos de Stephane Beaulieu, Nancy Vyhmeister, Humberto Rasi e Jack Blanco, oferecem subsídios bíblicos para enriquecimento da nossa pregação, além de ampliar a visão sobre questões teólogicas, sociais e doutrinárias.

Louvamos a Deus pelo privilégio de, como igreja, podermos nos identificar com esta afirmação: “Mas Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas. As opiniões de homens ilustrados, as deduções da ciência, os credos ou decisões dos concílios eclesiásticos, tão numerosos e discordantes como são as igrejas que representam, a voz da maioria – nenhuma dessas coisas, nem todas em conjunto, deveriam considerar-se como prova em favor ou contra qualquer ponto de fé religiosa. Antes de aceitar qualquer doutrina ou preceito, devemos pedir em seu apoio um claro – ‘assim diz o Senhor’” (Ibid., p. 595).

Contudo, não é exaustivo afirmar que esse privilégio nos impõe a sagrada responsabilidade pela manutenção do fundamento de nossa fé, repelindo firmemente toda e qualquer ideia que o ameace. 

Zinaldo A. Santos