“Os analfabetos do século 21 não serão os que não sabem ler nem escrever, mas os que não sabem aprender, desaprender nem reaprender”
A informação que o livro do Êxodo nos fornece sobre os primeiros anos da vida de Moisés é simples e concisa. É-nos dito que Moisés foi um bebê formoso, nascido no lar de Anrão e Joquebede (Êx 6:20). De acordo com o relato bíblico, depois de passar os primeiros anos com a mãe, ele cresceu e foi educado na corte egípcia (Êx 2:9-11), porém, precisou experimentar novo processo educativo, durante longo tempo (Êx 2:15). Moisés é exemplo de um preparo obtido em etapas: no Egito, na terra de Midiã e no deserto.
Sua experiência consistiu em aprender, desaprender e reaprender, até se tornar o grande líder libertador de Israel. Em nossos dias, precisamos de líderes semelhantes a Moisés, pois como disse Alvin Toffler, “os analfabetos do século 21 não serão os que não sabem ler nem escrever, mas os que não sabem aprender, desaprender nem reaprender” (El Correo de la Unesco, março, 2000).
Quais foram as lições aprendidas por Moisés em seu processo de reeducação? Certamente, desaprendeu muitas coisas e reaprendeu o que era mais importante. Que espera o Senhor que Seus líderes aprendam neste tempo? Em busca de resposta para essas perguntas, será muito útil fazermos uma nova leitura do Êxodo. Tendo como base esse documento inspirado, percebemos pelo menos três marcas de aprendizado significativo na experiência de Moisés.
Sobre si mesmo
A primeira lição aprendida por Moisés foi a da humildade, embora isso não lhe tenha sido fácil. À semelhança de Moisés, também achamos difícil aprender a humildade e, em alguns casos, isso demora a vida inteira. Quando Deus o enviou a Faraó, com o propósito de libertar os israelitas do cativeiro egípcio, Moisés deu claras evidências de haver desenvolvido um conceito modesto a respeito de si mesmo: “Moisés, porém, respondeu a Deus: ‘Quem sou eu para apresentar-me ao faraó e tirar os israelitas do Egito?’” (Êx 3:11, NVI). Porém, o Senhor insistiu com ele e Moisés continuou se mostrando consciente das próprias limitações: “Disse, porém, Moisés ao Senhor: ‘Nunca tive facilidade para falar, nem no passado nem agora que falaste a Teu servo. Não consigo falar bem!’” (Êx 4:10). Mais adiante, ele perguntou: “Se os israelitas não me dão ouvidos, como me ouvirá o faraó? Ainda mais que não tenho facilidade para falar!” (Êx 6:12, 30).
Apesar disso, Deus não parece estar preocupado com nossas limitações, mas com nossa arrogância e autossuficiência. Ellen G. White escreveu: “Ao escolher homens e mulheres para Seu serviço, Deus não indaga se possuem saber, eloquência ou riquezas mundanas. Pergunta: ‘Andam eles com tanta humildade, que Eu lhes possa ensinar Meus caminhos? Posso pôr-lhes nos lábios as Minhas palavras? Eles Me representarão?’
“Deus pode usar cada pessoa na proporção exata em que Lhe é possível colocar Seu Espírito no templo da alma. A obra que Ele aceita é aquela que reflete Sua imagem. Seus seguidores devem apresentar, como credenciais perante o mundo, as indeléveis características de Seus princípios imortais” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 7, p. 144).
Moisés também aprendeu a lição da dependência de Deus, qualidade intimamente relacionada à humildade e ao reconhecimento das próprias limitações. Em um momento de grande crise diante do Mar Vermelho (Êx 14:13-15), ele clamou a Deus. Quando o povo sedento murmurou contra ele diante das águas amargas de Mara, novamente ele clamou a Deus (Êx 15:25). Os filhos de Israel reclamaram com Moisés por falta de água, então o grande líder outra vez clamou à fonte de toda solução (Êx 17:4). Depois da grande apostasia, no episódio do bezerro de ouro, Deus prometeu a Moisés que Sua presença estaria com ele (Êx 33:14). Ah, o notável líder, com palavras cheias de beleza, expressou a necessidade que tinha de Deus: “Se não fores conosco, não nos envies” (Êx 33:15, NIV).
Diante da adversidade, deserção e incompreensão, a lição mais importante que necessitamos aprender tem que ver com nossa dependência de Deus e de Sua presença.
Sobre o semelhante
Aprender a delegar tarefas também é uma consequência da humildade e da dependência de Deus. É entender que não podemos fazer tudo sozinhos, que outros também podem ser usados de maneira eficaz por Deus.
O relato da visita de Jetro a Moisés é fascinante e didático. Moisés trabalhava desde a manhã até à noite, porém seu sogro não estava favoravelmente impressionado com isso, e lhe disse: “Não é bom o que fazes”. Diante disso, seu conselho foi concreto e certeiro: Submeta seus assuntos a Deus, dedique-se a ensinar a vontade de Deus ao povo, escolha homens virtuosos e os estabeleça como chefes do povo. Então, dedique-se às coisas maiores e reparta sua carga.
Faz alguns anos, eu me encontrava empenhado em fazer o que era possível, em meu primeiro distrito pastoral. Por falta de recursos, andava de bicicleta, quando um ancião me encontrou na rua e me disse: “Eu queria ajudá-lo, mas não sei o que o senhor espera de mim”. São muitos os que poderíam fazer sua parte e multiplicar as ações, se apenas aprendêssemos a confiar e delegar tarefas.
Moisés aprendeu a interceder por outros diante de Deus. Orou em favor do povo no momento de maior apostasia (Êx 32:7-14); pediu que Deus não destruísse o povo, como planejava, e Deus o atendeu. Rogou pelo perdão divino com palavras comovedoras: “Ora, o povo cometeu grande pecado, fazendo para si um deus de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me peço-Te, do livro que escreveste” (Êx 32:31, 32).
Isso significa que Moisés aprendeu a confiar em outras pessoas e a amar seu povo. Aprender a delegar, confiar, amar as pessoas, e orar em favor delas, mesmo nos piores momentos, é uma lição difícil, mas imprescindível a todo líder espiritual.
Sobre Deus
Ao descer do monte, Moisés levava consigo as tábuas da lei, escrita com o dedo de Deus. Porém, o povo estava realizando uma festa idólatra diante de um bezerro de ouro. Ao ver o triste espetáculo, Moisés “arrojou das mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte” (Êx 32:19,20). Apesar disso, o servo de Deus não foi repreendido, pois expressou apenas a indignação do Senhor contra o pecado. Havia aprendido que o pecado não é menos significativo simplesmente pelo fato de os homens o ignorarem. Desse modo, Seus servos devem chamar o pecado pelo nome e repudiar o mal como Deus o faz.
Moisés aprendeu a admirar o caráter de Deus e expressou um desejo que foi atendido pelo Senhor. “Então ele disse: Rogo-Te que me mostres a Tua glória” (Êx 33:18). Deus o fez e Moisés entendeu mais profundamente que Deus é “compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado…” (Êx 34:6, 7). Não pode haver anelo maior que o de conhecer Deus, a fim de tomá-Lo conhecido de outros, sem distorções, exatamente como Ele é, em uma comunicação sem ruído.
Poderiamos dizer que houve um Gênesis e um Êxodo na vida de Moisés; um novo começo e uma nova saída. Semelhantemente, os líderes de nosso tempo necessitam retornar à escola da vida, para desaprender e reaprender. As lições aprendidas por Moisés o converteram em um dos maiores líderes da história. As mesmas lições potencializarão nossa vida de serviço ao Senhor e ao Seu povo.
Quanto a nós mesmos, necessitamos aprender a ser humildes e a depender de Deus. Quanto ao nosso semelhante, precisamos aprender a confiar nos outros e amá-los, de modo que possamos delegar e interceder. No que se refere a Deus, devemos nos lembrar de que o Senhor despreza o pecado, porém ama o pecador.