Conta-se que certo dia, na cidade de Londres, um jovem, tendo-se deparado numa encruzilhada vocacional, dirigiu-se ao grande pregador Charles Spurgeon em busca de orientação e aconselhamento. E perguntou-lhe: “O senhor acha que eu devo me tomar um pastor?” Ao que Spurgeon respondeu: “somente se não puder evitá-lo.”

Surpreendente e curiosa como possa ter parecido, a resposta foi sábia. As jóias mais caras do ministério pastoral são aqueles indivíduos que um dia sentiram que não mais podiam fazer outra coisa, atraídos que foram pelo chamado de Deus. Ne­nhuma outra alternativa para a vida lhes pareceu tão preciosa. E por isso hoje podem alegremente dizer com profundo senso de realização pessoal, fazendo coro com o profeta Jeremias: “Mas eu não me recusei a ser pastor, seguindo-Te” (Jer. 17:16).

Num outro episódio de sua vida, Jeremias rendeu-se novamente à realidade ir­ resistível do chamado divino. Eis seu testemunho: “Quando pensei: Não me lem­brarei dEle e já não falarei no Seu nome, então Sua palavra me foi no coração, como fogo ardente encerrado nos meus ossos; fiquei cansado de suportar e não consegui deter-me” (Jer. 20:9, versão inglesa). O sentimento de frustração e fra­casso diante de mais um revés levou o profeta a acreditar que a única alternati­va era recuar de sua missão. Mas a conscientização do chamado celestial nova­ mente aqueceu-lhe o ser, penetrando o interior “como fogo ardente”, impulsio­nando-o a avançar.

A atividade pastoral é santa e elevada. Para desempenhá-la, um homem precisa estar plenamente consciente do chamado divino. Este não é um privilégio que podemos usurpar. Ninguém escolhe ser um ministro. É Deus quem faz tal escolha. E quando alguém aceita essa indicação, já não pertence a si mesmo. Passa a viver sob ordens superiores. Qualquer pessoa pode escolher seguir uma profissão, abraçá-la ou abandoná-la, mantendo-se livre de qualquer prejuízo espiritual. No entanto, embora Deus não obrigue ninguém a ser um pastor, tampouco condicione a salvação de uma pessoa ao exercício dessa atividade, não será feliz o indivíduo que, ten­do consciência do chamado divino, lança mão do arado e olha para trás.

Que bênção é poder servir a Deus como um pastor do Seu rebanho! Que Ele nos mantenha humildes, fiéis e agradecidos, diante de tão grande manifestação de mi­ sericórdia para conosco.

Zinaldo A. Santos