Resposta de R. H. Pierson à Carta de J. R. Spangler
Caro Irmão Spangler:
Sua carta aberta a mim dirigida, publicada no número de Dezembro de Ministry [p. 7 deste número], foi por mim lida com interesse e preocupação. Partilho com o irmão o fardo de ver a obra de Deus terminada em nossos dias! Poucas pessoas sentem mais profunda preocupação pelo bem-estar e o triunfo da igreja remanescente do que a pessoa que se assenta na minha cadeira. Conseqüentemente eu sinto do modo mais profundo com o irmão tudo que escreveu em sua carta.
Os Concílios Anuais de 1973 e 1974 foram memoráveis reuniões espirituais — como realmente deviam ser nesta fase final da história da Terra. Como líderes do campo mundial não ousamos reunir-nos simplesmente para votar orçamentos, solucionar problemas e estabelecer planos. O Senhor a quem servimos chama-nos para oração, para estudo da Bíblia, e para vivermos em Sua companhia em tais ocasiões. Cada um dos dois passados Concílios Anuais foi uma bela experiência, e ao nos aproximarmos do fim, o aprofundamento de tal associação com o Senhor devia aumentar quando quer que os líderes se reúnem.
Conquanto não devamos jamais sentir-nos satisfeitos, meu coração se alegra muitíssimo ao ver as mensagens desses concílios abrindo caminho e fazendo impressão no coração de nossos pastores e leigos! Com base em minha correspondência e contatos pessoais com a igreja ao redor do mundo em todos os níveis, é visível que Deus está sem dúvida falando a Seu povo não apenas em Washington e Loma Linda, mas além nos remotos lugares da Terra. Ele nos está falando que a hora vai sem dúvida avançada, e é preciso que um povo esteja preparado para Seu retorno à Terra.
O Senhor Está Trabalhando
Tenho despendido muitas horas com os líderes em várias de nossas divisões desde o Concilio Anual de 1973. Ao associar-me em oração com esses homens e mulheres de diferentes nacionalidades, línguas e formação cultural, meu coração tem sido cheio de fé e esperança. Sei que muitos dos líderes de Deus estão investigando o seu coração mais fervorosamente do que nunca. Mais de um líder veio a mim durante o último Concilio Anual em Loma Linda, dizendo em substância: “Pastor Pierson, jamais examinei meu próprio coração como tenho feito durante este concilio. Desejo estar em retidão com Deus e com o meu próximo. Quero ver este trabalho terminado e contemplar a vinda de Jesus”!
Talvez eu não necessitasse falar muito das reações aos concílios anuais, mas sinto que isto é pertinente às questões que o irmão suscitou em sua carta aberta. Quando os líderes desta igreja, desde a igreja local até a Associação Geral, se puserem de joelhos em verdadeiro arrependimento e procurarem estar seguros de que estão bem com Deus, creio que teremos andado uma boa parte do caminho na solução dos problemas referidos em sua carta.
Eu gostaria de ser o primeiro a reconhecer que a igreja não é tudo que devia ser — não é tudo que nosso Senhor deseja que fosse. Na avaliação deste ponto eu poderia dizer “nós” e não “vós”. Eu gostaria de ser o tipo de líder que o Senhor pode usar na rápida promoção de Sua obra! Mas eu seria infiel ao que vejo se deixasse de reconhecer o Espírito de Deus em operação entre nós como obreiros e leigos de hoje. Em vez de crispar as mãos e proferir jeremiadas, creio que devíamos agradecer a Deus e tomar coragem quando vemos o que Deus está fazendo por Seu povo.
Alvos e Objetivos de Vital Importância
O irmão colocou o dedo no lugar certo quando dá ênfase à necessidade de mantermos diante de nós nossos alvos e objetivos como um povo. Desde o início de minha administração em Washington procurei compreender esta necessidade. Todos os departamentos da igreja têm recebido apelos, não uma apenas mas diversas vezes, para que mostrem claramente sua raisson d’être [razão de ser] como encontrada no Espírito de Profecia. Pediu-se-lhes que seus planos fossem feitos em consonância com os objetivos. Creio que a maioria de nossos departamentos têm feito isto.
A menos que nossas instituições mantenham claramente diante de si seus alvos e objetivos, trabalhando incansavelmente para alcançar o objetivo e propósito de sua existência, Satanás poderá desviar o curso. Somente quando uma porcentagem bem alta, pelo menos, dos obreiros dessas instituições é composta de homens e mulheres adventistas que partilhem nossa preocupação por ver a obra terminada em nossos dias, somente assim podemos esperar trabalhar com o máximo de eficácia adventista na promoção da obra que o Senhor nos entregou para levar a cabo. Obviamente obreiros que não sejam de nossa fé não podem guiar pessoas através da conversão, ensinar-lhes as doutrinas que sustentamos, e introduzi-las na igreja remanescente.
Como o irmão indica, reavivamento e reforma precisam modelar nossos métodos, guiar no preparo de orçamentos, e motivar as atividades de nossos administradores e de nossas comissões. Isto só se tomará plena realidade quando nós mesmos, na qualidade de líderes e corpo administrativo ou membros de comissões, tivermos experimentado o verdadeiro arrependimento, reavivamento e reforma. Mesas administrativas e Comissões constituem-se de homens e mulheres. Seus atos refletem a experiência de seus membros.
Pressionamentos Táticos
O irmão mencionou pressionamentos táticos nas fileiras dos obreiros da igreja. É certo que todo líder está sujeito a algum pressionamento. Isto é particularmente assim por vivermos como vivemos num mundo dividido. Há diversidade de grupos com especiais interesses, e naturalmente eles estão ansiosos por manter essas necessidades constantemente diante daqueles que, eles sentem, estão habilitados a ajudar ao máximo a sua causa.
Eu gostaria de fazer uma ou duas observações em relação com grupos de pressão e pressionamentos táticos. Em primeiro lugar creio que devemos ser cristãos — cristãos adventistas do sétimo dia. Seja “pressionando” ou “sendo pressionados”, devemos ter em mente este fato. Isto nos levará a nos assentarmos com calma e calmamente falarmos de nossas necessidades e problemas em espírito de oração. Então devemos ser guiados pelo Espírito Santo. Às vezes os pedidos de “grupos de pressão” são legítimos. Se são, devem ser ouvidos e apoiados. Outras vezes tais pedidos não são razoáveis, ou por alguma razão não podem ser apoiados. Então o “outro lado” precisa exercer compreensão e tolerância cristãs e não pressionar.
Temos comissões destinadas a tratar com o que poderiamos chamar “pedidos de pressão”, e agradeço a Deus por essas comissões. Sempre há sabedoria quando mais de uma pessoa está envolvida ao se tomarem importantes decisões. Quando a comissão fala sobre tais itens, a questão deve ser considerada definida, e devemos trabalhar juntos em amor e união.
Como o irmão, eu lamento a falta de uma obra terminada, e sinto que sua análise de crescimento de membros pode ser aberta para crítica justa. Naturalmente, 5 por cento de aumento anual não chega a ser “espetacular” e está muito longe de seu hipotético número de 275.458.110 membros que podíamos ter tido.
Por outro lado, há dois pontos básicos que creio devemos ter em mente. Primeiro, segundo minha compreensão da Bíblia e do Espírito de Profecia, embora grande número de pessoas aceite a mensagem, esse grande número pode não representar a alta porcentagem da população existente. “Estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos há que o encontrem”. S. Mat. 7:14.
Segundo, embora a mensagem do advento requeira mudança no estilo de vida, ajustamentos no trabalho, algumas vezes o sacrifício de entes amados e de amigos, mudanças radicais na vida social, este movimento como o vemos hoje, cresceu a partir de um país e se espalhou para cerca de 192 países durante a existência de adventistas do sétimo dia ainda vivos hoje! Isto é em si, para mim, uma evidência da bênção e direção de Deus! Por isto, eu agradeço a Deus e tomo coragem! Creio que esta mensagem tem ido para além dos números de nossas estatísticas de hoje!
A Igreja Apostólica
A igreja apostólica, é certo, “não se deixou envolver por multiplicidade de conceitos quanto à natureza de sua missão”. Todavia, eles não tiveram de enfrentar os sofisticados pecados e a complexidade da sociedade moderna, com todos os problemas disto resultantes, os quais nós enfrentamos continuamente. É meu sentimento pessoal que o Senhor jamais pretendeu enfrentássemos os tremendos problemas que a igreja enfrenta hoje. Seu trabalho já devia ter sido concluído e os santos já deviam estar no reino!
Desafortunadamente, problemas terrenos tais como filmes departamentais, o lugar da próxima sessão da Associação Geral, escala de salários, os custos cada vez mais altos da educação, pressões de associações sancionadas, de uniões de trabalho, e probantes instrumentalidades governamentais, têm de ser levados em conta. São parte dos próprios fatos reais da vida atual. A igreja ainda está aqui. Não existe um vácuo. Temos de tratar com o mundo, e alguém tem de enfrentar esses problemas. Embora muitos de nós como administradores pudéssemos fazer muito como evangelistas em campanhas, bem como na promoção de outros aspectos da obra de salvar almas, precisamos fazer aquilo para que a igreja nos elegeu, e cuidar de alguns desses problemas desagradáveis, quase insolúveis, que a igreja enfrenta nestes dias difíceis.
As Primeiras Coisas Primeiro
Conhecendo o lado realístico da moeda, apresso-me em concordar que as primeiras coisas devem vir primeiro. O irmão tem ouvido este slogan, num constante crescendo, dos escritórios da Associação Geral em anos recentes. Creio firmemente que devemos procurar “primeiro o reino de Deus e sua justiça”, recebendo então a solução para os outros problemas! A ênfase espiritual deve ser posta — e é, eu creio inteiramente — na ascendência!
As comissões e mesas com as quais tenho-me reunido em anos recentes, dão prova de nova ênfase! Os líderes desta igreja estão dando cada vez mais atenção às necessidades espirituais da igreja como corporação e dos obreiros e membros individualmente. Conquanto haja muito lugar, muito mesmo, para melhoramentos, creio na liderança desta igreja em todos os níveis, e creio que há fervente desejo da parte da maioria desses homens e mulheres em dar prioridade às “primeiras coisas”.
Um dos passos mais significativos dados em termos de orçamento nos últimos anos o foi no recente Concilio Anual, quando pusemos de lado cerca de meio milhão de dólares como fundo de “oportunidade” a ser usado em providências que forem abertas por Deus, como já temos testemunhado no Zaire, no Sul da Índia e em alguns poucos lugares mais do mundo.
Quando surgiu a oportunidade no Zaire um par de anos atrás, a Associação Geral agiu sem hesitar na ajuda à Divisão Transafricana, com quase um quarto de milhão de dólares para proceder a uma colheita que o Senhor havia preparado. Não houve hesitação em consignar fundos para onde o Senhor abrira o caminho. Esta continuará a ser nossa política.
No momento há uma comissão especial empenhada num estudo em profundidade da distribuição dos fundos da igreja. Queremos estar certos de que cada centavo encontre o seu caminho certo para as bases onde a maioria do trabalho está sendo feita. Queremos estar certos também de que nossas instituições estão operando tão eficientemente quanto possível, gerando o máximo de seus próprios fundos, de modo que os fundos da igreja possam ser canalizados para agressivo esforço na salvação de almas ao redor do mundo. Concordo com o irmão que a salvação de almas — cada departamento, cada instituição, cada obreiro, cada membro empenhado em evangelismo — deve ter precedência sobre qualquer outra consideração diante da igreja hoje.
Evitar Obras Suntuárias
Há lições que ainda temos de aprender — aqui na Associação Geral e em outros níveis da administração — quando se trata da espécie de edifícios que devemos erigir. Temos sido todos demasiado pródigos e extravagantes na construção de igrejas, escolas, hospitais, escritórios e outras edificações. Aceito minha parte de responsabilidade neste mau uso do dinheiro do Senhor, e apelo a meus irmãos que experimentemos real reavivamento e reforma neste sentido. Façamos nossos edifícios funcionais e confortáveis, mas economizemos milhares de dólares para a causa de Deus na omissão de grande parte do luxo e exageros que têm acompanhado nossas construções. Isto se aplica a extravagantes órgãos de tubos e outros equipamentos que estamos instalando. Este dinheiro deve ir para a obra de salvar almas e preparar um povo para a vinda de Jesus! Apelo aos líderes, meus companheiros em todo o mundo a que façam por assegurar o alcance desses objetivos e o adequado uso desses fundos.
Reexaminando Todo o Nosso Programa
Sua sugestão de um reexame de todo programa da igreja à luz da comissão evangélica é uma boa sugestão. Demos alguns passos nesta direção quando a Comissão Wernick estudou todos os programas departamentais da Associação Geral. Em resposta a suas recomendações, muitos programas foram ou dispensados ou consolidados com programas similares de outros departamentos.
Devemos, podemos, e faremos muito mais ainda a este respeito. Os planos já estão em ação e no devido tempo os resultados serão visíveis. Eu gostaria de desafiar a Associação Ministerial a dar o exemplo na avaliação fria e franca de seu programa, cortando sem misericórdia qualquer desnecessidade nele constante, reduzindo-o ao que seja essencialmente básico para a terminação da obra. Aos nossos líderes de departamentos e aos meus próprios oficiais eu dirijo o mesmo desafio! Coloquemos de lado todo peso que tão facilmente nos estorva, e reduzamos tudo a uma tarefa de salvação de almas, procurando a terminação da obra. Fora com o excesso de bagagem!
Estamos constantemente apelando aos membros da igreja para que dêem mais dinheiro para ajudar na terminação da obra. Agora quero apelar aos obreiros denominacionais — a todos nós, incluindo-se os da Associação Geral — a mudar alguns de seus padrões de despesa e a economizar algo mais do dinheiro do Senhor.
Que podemos fazer? Aqui estão sugestões práticas que podemos implementar sem malogro pessoal e sem prejuízo para a obra de Deus:
- 1. Evitar grandes reuniões para as quais teríamos de levar tantas pessoas para consultar departamentais e administrativas.
- 2. Assegurarmo-nos de só fazer viagens estritamente necessárias. Muitas destas viagens podem perfeitamente ser evitadas sem prejuízo para o trabalho. De fato, se grande número de nossos líderes permanecessem mais em seus escritórios, em suas classes e em seus lares, estariam menos nos aviões, automóveis, etc., e poderiamos não somente economizar milhões de dólares para a obra de salvar almas, mas tornaríamos nosso trabalho mais eficiente.
- 3. Hospedar em hotéis e motéis de preços módicos. Hotéis e motéis novos, de preços moderados, surgem cada dia em maior número. Podemos usá-los não só para nossa hospedagem pessoal como também para algumas de nossas reuniões, e assim estaríamos economizando milhares de dólares.
- 4. Podemos imaginar outros meios de economizar e ainda assim promover a obra do Senhor nos campos e nos departamentos.
As quatro sugestões acima, somadas aos pensamentos os tipos de construções que devemos erigir e equipar, se realmente levássemos a sério, poderiam adicionar milhões de dólares anualmente ao nosso orçamento mundial. Apelo aos meus companheiros em toda parte: Economizemos o dinheiro do Senhor, bem assim peçamos aos nossos membros que dêem mais!
Estou certo, irmão Spangler, não tenho respondido a todas as suas indagações, mas honestamente procurei considerar a maioria dos pontos que o irmão suscitou, acrescentando alguns por minha conta. Esteja certo de que tudo que escrevi o fiz com grande amor por nossos líderes em todo mundo, e em manifestação de fé neles. Procuremos de joelhos, com a ajuda do Senhor, melhorar nosso trabalho para Ele e concluir a obra nesta geração!
Acolheremos com prazer futuras observações sobre problemas definidos na obra do Senhor.
Deus o guarde e abençoe.
Cordialmente,
Robert H. Pierson
Presidente da Associação Geral