Ontem fizemos uma chamada telefônica para tratar de localizar uma senhorita por um assunto urgente. Sua mãe atendeu o telefonema e nos falou de quão difícil é encontrá-la, pois sai cedo pela manhã e regressa à noite. Aquela senhorita é uma instrutora bíblica. O lugar onde estava trabalhando era muito afastado, é uma zona difícil. .. e o frio é intenso nesta época do ano.

As instrutoras bíblicas! Um pequeno exército de sòmente 23 mulheres através de oito países da América do Sul. E entretanto, quanto significam estas 23 valentes para outros tantos pastores e para a igreja em geral! São a mão direita nas igrejas. E às vêzes são muito mais que isto.

Temos lido ùltimamente o que a irmã White diz acêrca da importância da obra pessoal, em comparação com a pregação do púlpito. Define ela a obra pessoal como “de origem celeste” — Evangelismo, pág. 456, e assevera que é tarefa formadora de “obreiros que se tornem poderosos homens de Deus” (Idem.), razão pela qual milhares “de todas as nações e línguas” chegaram a conhecer a verdade.

E fala também em forma clara da tarefa que cabe às mulheres consagradas na obra pessoal. “O Salvador fará refletir a luz de Seu rosto sobre essas abnegadas mulheres, e dar-lhes-á poder que ultrapassa ao dos homens. Elas podem fazer nas famílias uma obra que os homens não podem fazer, obra que alcança a vida íntima. Podem chegar bem perto do coração daqueles que estão além do alcance dos homens.” E conclui dizendo: “Seu trabalho é necessário” — Evangelismo, págs. 464 e 465.

O trabalho da instrutora bíblica não é fácil. Ê certo que proporciona satisfações como nenhum outro, mas se necessita para ele “mulheres de princípios firmes e caráter decidido” — Evangelismo, pág. 477, com “muita graça, muita paciência, e crescente provisão de sabedoria” — Carta 88 de 1885, Evangelismo, pág. 471.

Talvez esta seja a razão pela qual em um exército de 4.298 obreiros que a Divisão Sul-Americana tinha em 1969, sòmente 23 eram instrutoras bíblicas, ou que tenha havido na mesma data sòmente 16 em um grupo de 3.620 obreiros na Divisão Interamericana.

Talvez isso explica a razão porque na Divisão Norte-Americana enquanto o número de obreiros subiu de 18.911 a 28.287, entre 1961 1969, o número de instrutoras bíblicas tenha baixado de 108 a 99. . . . No mesmo períodopassaram a desfrutar da aposentadoria, mas pelo que parece não foram substituídas.

Pela qualidade do trabalho que fazem, o número de instrutoras bíblicas deveria aumentar ano após ano. São de valor incalculável, especialmente nas cidades. A irmã White diz que: “Se houvesse vinte mulheres onde há agora uma, as quais fizessem dessa santa missão seu trabalho apreciado, veriamos muitos mais conversos à verdade” — Review and Herald, 2 de janeiro de 1879. Evangelismo, págs. 271 e 272.

Faz alguns meses fizemos um pedido às instrutoras bíblicas da Divisão Sul-Americana. Escrevemo-lhes solicitando nos indicassem o que espera uma instrutora de um pastor. Recebemos muitas respostas, as quais estudamos a fundo para tirar conclusões. O resultado dêsse estudo está em outras páginas desta revista, e é um material que todo pastor deveria ler com cuidado e oração.

O que podemos fazer para que a carreira de instruir homens e mulheres no caminho da verdade possa ser mais atrativa e que vejamos mais e mais irmãs dedicadas a realizá-la?

Em primeiro lugar, deveriamos conservar as que temos, a maioria das quais tem uma ampla e profunda experiência na obra pessoal. Faremos isto reconhecendo os bons serviços prestados por elas. “Uma palavra de reconhecimento faz mais bem do que mil de repreensão” disse alguém por aí. Talvez seja certo. Algumas instrutoras manifestaram que sentem um vazio neste campo. Uma respondia à entrevista dizendo que seu chefe parecia considerá-la apenas como uma “fabricante de batismos.” Outra falava de que “somos humanos e que quando fazemos o melhor dentro de nossa capacidade, gostamos de ser alentados pessoalmente ou por escrito. . . . Isso dá coragem para a luta.”

última frase é especialmente significativa. Na obra pessoal há satisfações enormes, há momentos de verdadeira euforia. Mas há momentos de tristeza e pesar. Um instrutor bíblico que conhecemos era o símbolo do otimismo. Estava sempre animado acontecesse o que acontecesse e contagiava a outros com seu entusiasmo. Mas um dia o vimos chegar abatido e decaído. . . . __ O que aconteceu? — lhe perguntamos. — Lembra-se daquelas três jovens que assistiam a todas as conferências e que se sentavam na primeira fila? Hoje me devolveram as Bíblias dizendo ‘que não assistiríam mais nem continuariam os estudos. – Qual é a causa? — perguntamos.— Visitaram o sacerdote e êste as proibiu continuar assistindo. — Mas — acrescentamos, — não estavam tão animadas? “Sim, elas me disseram que jamais haviam aprendido tanto de religião como nestes últimos dias, que estavam encantadas, mas que não queriam contrariar o sacerdote. . . .” E aquêle instrutor, que tinha suportado todos os temporais, agora se sentia abatido.

Êste não é o único caso. As instrutoras enfrentam-no amiúde. Quantas vêzes elas vêem que as “aves” arrebatam a semente, ou que os “espinhos” afogam a plantinha já viçosa, ou que “o sol” a queima. E nesses casos, necessita-se coragem mais que humana. Por isso a serva do Senhor aconselhava a um pastor, sob cuja direção trabalhava uma instrutora: “Irmão ……………., espero que sejais bastante cuidadoso com a saúde da irmã………….

Não lhe permitais trabalhar excessivamente numa fatigante tensão nervosa. Entendereis o que quero dizer. …” — Evangelismo, pág. 494.

Uma carta recebida faz algumas semanas revelava essa necessidade: “Senti-me feliz ao notar o interêsse em ajudar as obreiras bíblicas. Confesso que faz muito tempo vinha acariciando no fundo do coração o anelo de encontrar alguém a quem pudesse exteriorizar algo da vida ministerial, não tanto para obter uma palavra de alento mas para ajudar os colegas que lutam na espinhosa e sublime senda da vida missionária. Mas necessita encontrar um coração compreensivo, cheio de simpatia e de amor cristão. Dou graças a Deus pela oportunidade que o irmão me concede.”

Estimadas irmãs instrutoras, êste número da revista dos pastores adventistas latino-americanos lhes está dedicado. É uma simples homenagem que rendemos em vossa honra e como reconhecimento do que as irmãs significam para a terminação da obra. Somos conscientes das alegrias que experimentais quando as portas de um batistério se abrem para que um grupo de pessoas que haveis guiado passo a passo pela senda cristã, sele seu pacto de fé e de dedicação ao Senhor. Sabemos dos abraços emocionados e às vêzes umedecidos pelas lágrimas de alegria, que recebeis ao final do batismo, por parte de almas agradecidas. Sabemos também da ânsia com que muitos vos esperam com suas Bíblias abertas, para que lhes deis o alimento que anelam e necessitam. “Quando ela se vai, é como que se um anjo se houvera ido,” dizia uma senhora agradecida. Somos conscientes disso. Mas também sabemos de vossas lutas, das caminhadas em noites escuras e de frio, à procura de interessados na verdade. Sabemos que às vêzes vos sentis sozinhas e relegadas. Que não vos alenta, acreditando talvez que porque estais em contato permanente com a Palavra não necessitais do apoio ou reconhecimento humano. Sabemos dos pensamentos que às vêzes embargam vossa alma, quando em um dia de festa, enquanto os escritórios e as casas comerciais estão fechados, e todos passeiam livre e despreocupadamente pelas ruas, continuais trabalhando e que às vêzes um pensamento de desânimo vos embarga.

Mas “a voz de Deus fala claramente: ‘Avante!’” (Patriarcas e Profetas, pág. 294). Ainda existem almas a serem alcançadas, há milhões que ainda não sabem que a cruz se levantou para êles e que há um mediador entre Deus e os homens que não cobra nada por seus serviços. Vós também sois “Ministros da Reconciliação” e o Príncipe dos pastores é também vosso Príncipe.

Se alguma vez um pensamento de frustração ou de desânimo vos embarga, que a grandeza da obra a vós encomendada vos ponha de nôvo um fogo no coração e faça fugir os maus pensamentos, pensai que estais edificando para a eternidade e que quando os milhões de cartas escritas pelas secretárias tenham sido consumidas pelo fogo, e os edifícios, automóveis e tudo quanto existe tenha passado como estôpa, os frutos de vossos labores ficarão em pé e desfrutareis durante tôda a eternidade do reconhecimento e da gratidão dos que puderam fugir da destruição porque vós os levastes aos pés da cruz. Não há no mundo tarefa mais elevada e digna que a de ser um Ministro de Cristo. Vós o sois. “Porque êste é para Mim um instrumento escolhido para levar o Meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel.” Esta é vossa obra. “Pois Eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo Meu nome.” Esta é às vêzes a taça que deveis beber. Mas aqui está a ordem e a gloriosa promessa: “Não to mandei Eu? Sê forte e corajoso.” “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.”