As boas-novas do amor de Deus ao homem, e a manifestação dêsse amor em sua criação e redenção, constituem o tema principal da Bíblia. Esta mensagem deve ser levada ao mundo, em harmonia com a ordem de Jesus Cristo aos Seus discículos (S. Mat. 28:18-20). As pessoas que sentiram o toque do amor divino têm a obrigação de levar aos que o não sentiram, o conhecimento dêsse amor e o exaltado propósito de Deus quanto ao homem.
O mundo jaz em trevas morais. A igreja cristã não tem sido fiel a sua missão de delegação divina, de proclamar as boas-novas da reconciliação do homem com Deus. Em resultado, tem-se privado de seu poder, e homens e mulheres têm perdido a fé nessas boas-novas. Tem havido um recuo da religião e conseqüente enfraquecimento da fôrça da moralidade sôbre os homens e mulheres. Muitos têm perdido o sentido do propósito de sua existência e não sabem onde encontrá-lo.
Deus colocou no íntimo de cada um de nós a intuição da necessidade que todos temos dÊle, e quer satisfazer essa necessidade, se tão-sòmente O deixarmos. O evangelho adapta-se eminentemente às necessidades do homem, em todos os séculos, inclusive o atual. Não somente está êle em condições de satisfazer às necessidades que o homem tem de Deus, mas é também a base de todos os legítimos progressos e realizações humanos.
Assim é que o evangelho ensina que o homem foi criado por Deus, a fim de Lhe ser filho, e ser Seu parceiro, em tôdas as Suas atividades. Apresenta ao homem uma moralidade profundamente dignificada, ensinando-lhe que foi criado à imagem de Deus e que, em resultado, sua vida deve moldar-se de acôrdo com a de Deus. Assim, o evangelho provê duas coisas desesperadamente precisadas pelo homem moderno: uma intuição de propósito e uma moralidade baseada nas sanções divinas — o fundamento mais sólido possível, do comportamento humano.
O evangelho, que acentua a paternidade de Deus, ensina que todos os homens são irmãos, e é assim a base da crença na fraternidade humana e na justiça social. Provê ao homem um impulso às realizações legítimas, submetendo as fôrças da natureza para a melhoria do homem. O evangelho apresenta base sólida para níveis avançados da felicidade humana, mostrando que a felicidade se deve buscar em Deus e nas relações de vida por Êle ordenadas. Por último, o evangelho promete ao homem a imortalidade e vida eterna, sob certas condições.
O evangelho é assim universal em seu escopo de satisfazer às necessidades humanas, e todos devem ser convidados, sim, com insistência, a participarem nos benefícios por êle conferidos.
Sublimando o Evangelho
O apêlo do evangelho pode ser grandemente sublimado, ou extremamente minimizado, segundo a maneira em que é apresentado. Não deve ser apresentado como simples teoria, ou de modo a dar a entender ser indiferente que seja aceito ou rejeitado. É eminentemente razoável, atraente e adaptado às necessidades humanas, e assim deve ser apresentado. Que Deus ama o homem; que Êle o criou com personalidade semelhante à dÊle mesmo; que pretende conceder-lhe, condicionalmente, a vida eterna, acompanhada de uma escala eternamente crescente de felicidade; que a comunhão com Êle é experiência muito compensadora; que o próprio Deus morreu pelo homem para lhe assegurar os plenos benefícios do Seu amor — tudo isso são verdades de interêsse imperativo e absorvente.
Pudesse o homem tão-sòmente compreender que estar na presença de Deus, experimentar todo o calor, brilho e graça da personalidade divina é experimentar a mais satisfatória sensação possível, e êle inevitàvelmente anelaria essa experiência.
É privilégio e obrigação dos que conhecem a Deus, quer sejam ministros do evangelho, quer membros leigos, apresentá-Lo aos que O não conhecem. Bem disse uma autora, Ellen G. White: “Em Cristo resumem-se a ternura do pastor, a afeição do pai e a incomparável graça do compassivo Salvador. Apresenta Suas bênçãos nos mais fascinantes têrmos. Não Se contenta apenas em anunciar essas bênçãos: oferece-as da maneira mais atrativa, para excitar o desejo de as possuir. Assim devem Seus servos apresentar as riquezas da glória do inexprimível Dom. O maravilhoso amor de Cristo abrandará e subjugará os corações, quando a simples reiteração de doutrinas nada conseguiría.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 826.
O evangelho não só é atraente ao homem, é também extremamente razoável, baseado como é na suprema racionalidade de Deus. É assim possível apresentar a verdade divina de modo que apele ao espírito assim como ao coração.
As necessidades humanas variam, de pessoa para pessoa. Alguns estão descontentes com o vazio da religião formal, e anelam uma experiência religiosa mais profunda. Outros se confundem com dúvidas intelectuais, talvez com a fé que professavam outrora, tendo sido trabalhados por sugestões céticas e incrédulas. Muitos estão desapercebidos das realidades da vida espiritual. Alguns são escravos do vício e não sabem como livrar-se. Outros, ainda, são esmagados por um estado de depreciação própria, que os torna quase incapazes de apreciar o amor de Deus e Seu interêsse quanto a sua melhoria.
Adaptado às Necessidades de Todos
Tentar alcançar todos êsses com o evangelho, pelo mesmo método, é atrair o fracasso. Êles, porém, não devem ser passados por alto, limitando-se a proclamação do evangelho aos tidos como sinceros de coração, ou aos que, aceitando-o, trariam honra à igreja. O prudente servo do Senhor apresentará mensagens adaptadas às necessidades de todos. Ao sincero indagador da verdade, a apresentação do evangelho em sua formosura e simplicidade é por certo adequada. Às pessoas confundidas por dúvidas intelectuais, aquêles cuja fé foi enfraquecida pelo contato com incrédulos, tem de ser dirigida uma mensagem diferente. Deve-se-lhes mostrar que o evangelho é um plano de verdade razoável, coerente, uno. Os que se acham escravizados pelo vício devem ser levados a ver a natureza degradante do pecado, e que é unicamente em Deus que se encontra a felicidade suprema, visto como Êle pode romper as cadeias que os agrilhoam. Muitos existem que só podem ser ganhos para Deus por uma demonstração, na vida, dos princípios do amor divino. Êsses são incapazes de reconhecer a realidade do amor divino a menos que seja para êles mostrado no amor humano. Os discípulos de Jesus são representantes Seus entre os homens, e uma das mais eficazes maneiras de ganhar almas para Êle é exemplificar o Seu caráter em nossa vida diária.
O evangelho não é só universal em seu apêlo; é também de facêtas múltiplas, tem muitos aspectos. É importante que seja apresentada uma mensagem evangélica completa, polarizada em Deus e Cristo, em vez de um aspecto só. Acentuar uma face do evangelho a expensas de outras, é apresentar uma visão apenas parcial da verdade, e isso é inadequado como base da experiência religiosa. Alguns aspectos do evangelho não são tão adaptados como outros, para satisfazer a necessidade que o homem tem de Deus. Logo, a menos que seja apresentado um evangelho total, existe o perigo de não ser essa necessidade satisfeita completamente. O sistema cristão de crenças polariza-se em Deus e Cristo, e uma mensagem dessa espécie é o de que o homem carece. Mas a crença cristã se presta fàcilmente à sistematização, num plano de doutrinas e crenças. Há o perigo de apresentar o evangelho como tal sistema, em vez de uma mensagem centrada em Deus. Deve ser lembrado que o propósito das doutrinas não é servir de base da experiência religiosa, mas proporcionar-nos idéias corretas acêrca de Deus, de modo que nosso relacionamento com Êle esteja no nível devido.
Existe também a possibilidade de que ou os deveres ou os privilégios sejam acentuados, uns em detrimento dos outros; e que a lei de Deus seja acentuada em demasia em comparação com o amor de Deus, ou vice-versa. O inevitável resultado dessas apresentações unilaterais é faltar profundidade de experiência religiosa às pessoas atraídas para a igreja. Dar preeminência às doutrinas em vez de a Deus, quer dizer atrair para a igreja aquêles cuja experiência religiosa será doutrino-cêntrica e que tenderão a considerar a religião como o assentimento a um credo em vez de uma entrega a uma Pessoa. “O maior dos enganos do espírito humano nos dias de Cristo, era que um mero assentimento à verdade constituísse justiça. … O mesmo perigo existe ainda.” — Idem, pág. 309.
Pôr a Ênfase no Lugar Devido
Parece que nós, Adventistas do Sétimo Dia, temos, em nossos empenhos evangelísticos, acentuado desproporcionadamente certos aspectos da verdade, deixando de acentuar outros. Temos salientado a lei de Deus, sem acentuar devidamente o amor de Deus. Temos frisado certos aspectos da verdade que nos são mais ou menos peculiares, ao passo que deixamos de prevalecer-nos das doutrinas tidas pelos cristãos em geral. Temos interpretado a religião como aceitação de um sistema de doutrinas, em vez de uma entrega relacionai a Jesus Cristo. Temos interpretado Deus como Pessoa a ser sobretudo obedecida, em vez de apresentá-Lo como Alguém que deve primeiro que tudo ser amado, e depois obedecido. Temos admitido pessoas como membros da igreja, não na base de sua conversão, mas antes por sua boa vontade em aceitar nossas doutrinas e, até certo ponto, nossa maneira de vida.
A maior necessidade dos homens e mulheres hoje é a convicção de que existe um Deus que os ama, que os ama a ponto de Se preocupar com o seu bem-estar e felicidade, sim, a ponto de Se prontificar a morrer para alcançar sua salvação eterna; um Deus cuja vida é tocada pela tragédia do sofrimento humano, que sente o sofrimento humano tão profundamente como o próprio homem; um Deus que acolhe de braços abertos, e sem recriminações, os pecadores mais flagrantemente desobedientes e obstinados que a Êle se chegam, restaurando-lhes todos os privilégios de filiação divina; um Deus que, por isso que Êle é amor, anela ser constante companheiro do homem, anseia por extasiar-lhe o coração com o Seu amor, almeja conceder-lhe felicidade suprema. Os homens e mulheres devem saber que existe um Deus que lhes pode incutir propósito e sentido à vida, sentido profundo e rico.
O de que carecemos mais que outra coisa qualquer é uma reafirmação, nos ensinos e na vida, do caráter de Deus como um Deus de amor. É isto, tão-sòmente, que descerra o coração de muitos. “A contemplação de Seu amor, manifestado em Seu Filho, comoverá o coração. . . como nenhuma outra coisa o poderia fazer.” — Idem, 478. Sim, o mundo carece de uma revelação do amor divino. O deixar a igreja de dar essa revelação ao homem é, como acima se notou, a causa da treva moral e espiritual que cobre a Terra. É, pois, imperativo que a igreja se mova. “A escuridão do falso conceito acêrca de Deus é que está envolvendo o mundo. Os homens estão perdendo o conhecimento do Seu caráter. Êste tem sido mal compreendido e mal-interpretado. Neste tempo deve ser proclamada uma mensagem de Deus, uma mensagem de influência iluminante e capacidade salvadora. O caráter de Deus deve tornar-se notório. Deve ser difundida nas trevas do mundo a luz de Sua glória, a luz de Sua benignidade, misericórdia e verdade. … Os últimos raios da luz misericordiosa, a última mensagem de graça a ser dada ao mundo, é uma revelação do caráter do amor divino. Os filhos de Deus devem manifestar a Sua glória. Devem revelar em Sua vida e caráter o que a graça de Deus por êles tem feito.” — Parábolas de Jesus, 415 e 416.